02 outubro, 2008

"ESTÓRIAS" DA APICULTURA II, para rir e sorrir...

6. ALIMENTAÇÃO ARTIFICIAL I
A alimentação artificial é um dos assuntos mais controversos entre os apicultores mais idosos (para não falar dos mais novos...). Têm sempre umas ideias muito próprias, com segredos e mesinhas já de várias gerações e dos quais raramente abdicam. O vinho e outras bebidas alcoólicas são sempre as preferidas para a alimentação das abelhas.
Uma vez visitei um apicultor idoso, uma visita de rotina só para avaliar o desenvolvimento das colónias. Correu tudo dentro da normalidade até eu lhe chamar a atenção para um aspecto curioso do seu apiário. Tratava-se de um canal comprido feito com telhas e que estava frente ás colmeias. Respondeu-me que era onde colocava o alimento para as abelhas. Expliquei-lhe o inconveniente dos alimentadores artificiais face á possibilidade de fomentarem a pilhagem, o que ele percebeu.
Contou-me o segredo da sua alimentação artificial, uma panela ao lume, cervejas fora da validade, açúcar, vinho quando o há, maçãs; pêras; figos e laranjas. Ia eu tomando nota da receita quando o apicultor muito atrapalhado, me chamou a atenção, “_ está a escrever isso? Então diga aí que as laranjas devem ir sem casca, primeiro eu não a tirava e o xarope amargava muito...”
Uma vez recebi a visita deste apicultor que queria á viva força uma licença de “espancamento” abelharucos... percebi mais tarde que o ICN em tempos passava licenças para espantar as ditas aves, foi um problema de dislexia.

7. ALIMENTAÇÃO ARTIFICIAL II

Desta vez foi um formando que me confessou que alimentava as abelhas com gelados fora da validade, caixas de Cornettos e Pernas de Pau da Olá... Ele tinha uma pequena loja onde vendia estes artigos. E a vida sorri ...

8. ALIMENTAÇÃO ARTIFICIAL III

O Inverno de 2003 foi extremamente duro nesta parte do Alentejo, morreram muitas colmeias com falta de reservas, doenças e nalguns casos por falta de rainha. Os apicultores queixavam-se pelas mais variadas razões. Uma tarde, estava eu num desses grupos de apicultores a tentar encontrar forma para minimizar os danos causados por essa invernada. Quando acabou a reunião, todos foram saindo, acabando por ficar para o fim um apicultor recente, rapaz reservado mas muito interessado nas abelhas.
Percebi logo que vinha aí uma confissão importante, e não me enganei..., disse-me então, que ouvira atentamente os relatos dos demais presentes, mas tinha ficado calado para não ferir susceptibilidades. “_ Olhe, pois cá a mim não me morreu uma única colmeia durante o Inverno, dei-lhe um alimento que não admite falhas”. Conte-me lá então a receita milagrosa, se não for segredo _ pedi-lhe eu. "É simples, cozi um pouco de feijão branco com açúcar amarelo, vinho tinto e feijão preto” achei graça à referência das cores dos alimentos, “finalmente coloquei a massa no apiário em pequenas manjedouras feitas de canas rachadas, em cima de forcas de Esteva". Fiquei maravilhado com tal revelação. “Graças a esse alimento, não me morreu uma colmeia".


Não é incorrecto o facto de se dar massa de feijão às abelhas, no fundo é uma fonte proteica tal como a soja ou o pólen, mas gracejei com ele pelo facto de as abelhas “comerem” tanto feijão. Espero que não faça muito uso do fumigador ou qualquer dia o apiário vai pelos ares com uma explosão.

9. PARA ESPANTAR ABELHARUCOS

Esta “etapa do maneio apícola” apela sempre à capacidade inventiva e à imaginação dos apicultores. Uma estratégia relativamente desconhecida e pouco usada consiste em encontrar a colónia das referidas aves e enfiar-lhe pinhas verdes nos buracos. De seguida aquecem a pinha com um maçarico e as brácteas vão abrir, impossibilitando a sua remoção e a saída dos pobres abelharucos...
Outros há, menos atrozes, que se limitam a afugentá-los. Fazem recurso de tudo e mais alguma coisa, desde os tiros de pólvora seca ao pendurar de espelhos nos apiários, garrafões vazios e sacos com água. Uma vez um apicultor já velho disse-me para nunca pendurar abelharucos mortos no apiário para afugentar os outros, pois “...as abelhas têm-lhes tanto ódio que os enchem de ferrões, acabando por morrer elas em grandes quantidades”.


10. PARA CAPTURAR ENXAMES II

Tal como já foi dito, os episódios da captura de enxames são os mais ricos em fantasia de todo o folclore apícola.
Uma vez deparei com uma decoração no mínimo estranha, frente a um grupo de colmeias, paus com cerca de dois metros espetados no chão e ligados por fios. Parecia um estendal da roupa. Só que em vez da “barrela” semanal, estavam pendurados pelas raízes vários arbustos de carqueja. Explicou-me então o apicultor que tinha por hábito esse procedimento nos apiários onde não havia árvores próximas. Os enxames quando saíam penduravam-se na carqueja, e ele colhia-os como fruta madura.

Na minha terra, tal como em muitos outros locais, havia o hábito de atirar terra ou areia ao ar sempre que passava um enxame a voar. Tal artifício destinava-se a obrigá-lo a pousar para ser capturado. Conta um amigo meu, que numa bela tarde foi sobrevoado por um enxame de grandes dimensões. Estava no campo e não lhe foi difícil encontrar terra para atirar ás abelhas.
Era suposto existir uma árvore ou arbusto por perto para as abelhas pousarem, (ou um estendal de carquejas). Mas como descurou este pormenor viu-se em poucos segundos coberto com largos milhares de abelhas, que não encontrando pouso mais conveniente em redor o usaram como “poleiro”. Foi o cabo dos trabalhos para se ver livre de tal carga, mas tudo acabou em bem e lá aumentou o efectivo apícola.

Contou-me um apicultor a forma curiosa como há muitas décadas atrás um familiar seu capturou e transportou dois enxames.
O seu bisavô, capataz numa grande herdade, regressava a casa montado num soberbo cavalo. A determinada altura o cavaleiro encontra um grande enxame pousado num arbusto. Como apicultor aficcionado que era não quis perder a almejada presa, apesar de não ter uma caixa, cortiço ou saco para transportar as abelhas. Resolveu na mesma o problema, com muito cuidado quebrou o ramo do arbusto, e transportou o enxame aí pousado.
Uns quilómetros mais adiante novo enxame o aguardava, como ainda tinha um braço disponível trouxe-o também.
E assim ia ele, montado no cavalo de rédeas livres , os dois braços abertos e com um pau carregado de abelhas em cada um. Já perto de casa, nova peripécia surgiu, cansado de levar os braços abertos deixa-os descair e as abelhas com as oscilações da montada, começam a subir pela vara e pelo braço acima.
Umas horas depois deu entrada no portão do monte montado no cavalo e com um enxame de abelhas debaixo de cada braço...

2 comentários:

Anónimo disse...

eu tenho um problema tenho 5 colmeias no alto alentejo e os abelharucos estão a devora-las há alguma coisa que possa fazer em defeza das abelhas obrigado pereira

Alien disse...

Olá Pereira

Há uns anos atrás era possível obter
uma licença para espantar os abelharucos junto do ICNB, não sei se tal ainda é possível

Cumprimentos
JPifano