27 março, 2012

Postura irregular da Rainha ???

Sempre que faço desdobramentos costumo adicionar cinco quadros com lâminas de cera moldada à semicolónia que fica com a rainha.

Como esta se encontra activa e a desdobrei para dentro de uma caixa de dez quadros, convém que as abelhas tenham “substrato” para continuarem a trabalhar e a rainha agradece a cera nova “puxada” para continuar com a postura.

Esta acção até faz mais sentido quando lhes forneço alimento artificial estimulante em grande quantidade, o que tem acontecido.

É habitual também, nestas circunstâncias, encontrar quadros do ninho Lusitanos (enormes) cheios de criação. Por vezes só com ovos, o que indicia uma rainha nova, biologicamente activa e evidentemente com grande capacidade de postura. Chegam a deparar-se-me imagens semelhantes à próxima:

No entanto, este ano, várias foram as vezes em que encontrei quadros desses cheios de criação aproximadamente da mesma idade, mas com vários ovos dentro do mesmo alvéolo. Até vi casos com duas larvas.

É sabido que tal fenómeno é mais comum com rainhas em início de postura, recém-fecundadas ou em rainhas já velhas, no fim da vida útil.
Mas as rainhas com estas condições não têm por hábito, ou por possibilidade, encher quadros Lusitanos inteiros com criação da mesma idade…

Não só me surgiram alvéolos com mais de um ovo como ainda outros fenómenos menos comuns: O padrão da postura ser muito irregular, ou seja, os ovos não estão todos colocados no centro do alvéolo, surgindo alguns mais lateralmente. O padrão de disposição dos ovos mais comum assemelha-se mais à segunda imagem deste post.

A disposição dos ovos na imagem anterior é mais compatível com rainhas velhas ou obreiras poedeiras, mas como já foi dito, estas não têm por hábito posturas tão numerosas e contemporâneas.

E ainda uma terceira anomalia: o aspecto débil dos ovos, cuja extremidade basal aparenta ser afilada, como se o ovo estivesse a degenerar ou a secar.

Marquei alguns quadros onde isto acontece e tentarei acompanhar o desenvolvimento desta postura.

Se as colmeias estivessem fracas de população, sem reservas nutricionais, rainhas velhas ou com anomalias sanitárias, qualquer um destes factores podia justificar tais observações. No entanto nada disso se parece verificar… mistério.

Caso alguém tenha observado situações semelhantes agradeço desde já a partilha de experiências!!!

21 março, 2012

APIOCASIÃO 2012

Texto: Ruben Rogão
Fotos: Manuela Miguel - Macmel

03/03/2012
APIOCASIÃO e JORNADAS DE APICULTURA DA TERRA QUENTE


A Macmel e a Cooperativa de Produtores de Mel da Terra Quente e Frutos Secos voltaram a carimbar com sucesso a organização do II Apiocasião e do VI Seminário Apícola da Terra Quente.

A abertura oficial da feira e das VI Jornadas de Apicultura da Terra Quente, com a presença do Ex.º Sr.º Director Regional da Agricultura, Dr. Manuel Cardoso e pelo Ex.º Sr.º Presidente do Município de Macedo de Cavaleiros, Eng. Beraldino Pinto, acompanhados pelo Presidente da Cooperativa de Produtores de Mel da Terra Quente Sr. Domingos Carneiro, pelo Presidente da FNAP Sr. Manuel Gonçalves e pelo Gerente da empresa Macmel, Francisco Rogão.

Mais uma vez se dirigiram a Macedo de Cavaleiros mais de duas centenas de apicultores oriundos de todo o país e estrangeiro, onde a troca de experiências e a participação activa nas Jornadas de Apicultura da Terra Quente, organizadas em parceria com a Cooperativa de Apicultores de Mirandela, foram a tónica dominante.

A temática das jornadas abordou assuntos como os produtos da colmeia, pólen, própolis e cera, higiene e segurança no trabalho, associativismo, alimento artificial, classificação e certificação de méis.

De assinalar a participação dos apicultores presentes, cuja avidez por novos conhecimentos demonstra perfeitamente o espírito de um sector que se procura modernizar e estar à altura dos maiores desafios, apesar das circunstâncias menos propícias da conjuntura actual. Por outro lado, este é também um dos eventos privilegiados para reencontrar os amigos e encetar novas amizades.

A par das palestras de apicultura, a Apiocasião, exposição e venda de equipamentos apícolas, bem como de artesanato, produtos regionais, tasquinhas e muitos outros atractivos, esteve sempre bastante “povoada” ou não fosse o número crescente de visitantes que se tem registado.

A animação, a cargo da Rádio Onda Livre, foi uma constante no recinto do evento, não só pelas razões já apresentadas como também pela presença de um palco com karaoke e insufláveis para os “apicultores” mais novos.


Este ano houve mais uma novidade que foi o concurso de fotografia, com a participação de 43 fotos excelentes vindas de todo o país.

O júri foi o público em geral, e as fotos mais votadas foram a n.º 28, a n.º 22 e a n.º 13, pertencentes a:

1º Lugar foto n.º 28 – Sr. Adriano Alves

2º Lugar foto n.º 22 – Sr. Vitor Ferreira

3º Lugar foto n.º 13 – Sr. Filipe Dionisio

Os prémios: 1º Lugar fato de apicultor; 2º Lugar casaco c/ macara quadrada e o 3º lugar um par de luvas de cabedal.


JANTAR APÍCOLA MULTISSABORES

O sempre esperado convívio gastronómico contou mais uma vez com algumas dezenas de apicultores que degustaram as magníficas especialidades oferecidas pela Macmel: os já tradicionais caldo verde e cabidela de galinha, e diga-se que mais uma vez estavam “de se lhe tirar o chapéu…”.

Tal como no ano passado, os participantes fizeram-se acompanhar de produtos regionais das respectivas origens, o que conferiu um saboroso colorido ao já animado banquete.

E a conversa…, claro está, nada identifica ou anima mais um apicultor que a troca de impressões sobre o seu tema predilecto: as abelhas, o mel, a sanidade apícola e os medicamentos, os enxames, as rainhas… o costume, ainda por cima aquecidos pelos excelentes vinhos que por lá apareceram.

04/03/2012
INAUGURAÇÃO DO MUSEU DO MEL E DA APICULTURA


Aconteceu nas instalações da Macmel, Em Macedo de Cavaleiros, onde se demarcou uma das divisões para exposição permanente e evolutiva de materiais e equipamentos que foram usados na apicultura ao longo dos tempos.

O espaço magnificamente decorado com apiários e colmeias tradicionais, entre outros materiais, conta também com livros antigos de apicultura, curiosidades apícolas e outras surpresas. Está vocacionado para receber visitantes cuja vontade de desvendar “O Segredo da Abelha” encontrará aqui a resposta a todas as questões.

Segundo a Macmel são já várias as escolas que demonstraram interesse em visitar o museu, o que decerto será motivo de grande alegria para as crianças da região.

INAUGURAÇÃO DO MUSEU VIVO DA APICULTURA

Outra das surpresas do fim-de-semana: Na Serra de Bornes, numa bonita paisagem desta localidade, a Macmel reabilitou um apiário desactivado e transformou-o no Museu Vivo da Apicultura, onde os visitantes podem assistir (sem riscos) ao desenrolar das principais etapas do maneio apícola.

Para tal foi construída uma colmeia gigante onde através da segurança de um vidro, miúdos e graúdos podem assistir em primeira mão à magia do “Mundo das Abelhas”, dispondo inclusivamente de uma enorme colmeia de observação no interior das instalações.

Colmeia gigante? Afinal parece ser uma colmeia igual a todas as outras... ou não?

Ou há um erro de perspectiva ou a colmeia não é tão normal assim...

Afinal a colmeia é mesmo GIGANTE!!! é enorme!!!

Para completar o quadro ainda há um muro apiário em pedra, com cortiços povoados, colmeias de diversas origens, um palco para palestras e formações de apicultura e um sem número de surpresas que já disponíveis, em construção ou planeadas, irão decerto satisfazer da melhor forma possível a curiosidade que todos temos por esses magníficos insectos – as abelhas!!!

À noite, no museu...

Fica também o convite para a visita do museu à noite, as estruturas que estamos habituados a ver durante o dia ganham outra dimensão, outra magia.

Desde o passado dia 04 de Março, que o Museu do Mel e da Apicultura, tem as portas abertas na cidade de Macedo de Cavaleiros, onde aguardamos a vossa visita !!!

16 março, 2012

DuZoo - Alimentação Estimulante para Apis mellífera

Um post muito interessante sobre Alimentação Estimulante para Abelhas, no blog de apicultura DuZoo, de Ozorio Gonçalves Jr.

http://duzoo.blogspot.com/2012/03/alimentacao-estimulante-para-apis.html

08 março, 2012

8 de Março - Dia da Mulher, apicultora

Atrás dos montes e para lá do tempo, num dos locais mais ermos que já visitei, até de carro é difícil a aproximação à remota mas bonita aldeia transmontana.

O relevo caprichoso dobra a paisagem em vales e colinas pontilhadas de oliveiras, blocos de granito e amendoeiras em flor. O mato também abunda, local privilegiado para a apicultura onde a mancha de rosmaninho é garante de boas produções.

À nossa espera, Bernardete de Lurdes Valente, septuagenária de sorriso sincero, cujos traços deixam adivinhar uma coragem e ousadia de que poucos jovens se podem gabar.
Estava na melaria, provavelmente a divisão da casa onde passa mais tempo, ou não fosse ela um dos maiores produtores de mel da região. Curiosa a presença de pequeno aparelho de televisão em tal dependência, companhia de excelência para as longas horas que passa na extracção do doce néctar.

Conheci-a na véspera, nas Jornadas de Apicultura da Terra Quente. Participante assídua em tais eventos, “só não vou quando não tenho transporte”, Bernardete Valente anseia, procura e partilha novos conhecimentos, possuindo um espírito aberto e sem preconceitos para assimilar as novidades do sector e que lhe permitem uma actualização constante da exploração.

Surpreendem tais características numa idade conotada com actividades mais resguardadas no conforto do lar, talvez a tricotar junto à lareira com um gato a dormitar aos pés.

Trocou no entanto as agulhas pelo formão de apicultor, o gato pelas abelhas e fez-se à estrada em direcção aos apiários. E fê-lo literalmente, sem outro modo de locomoção calcorreia a pé vários quilómetros por dia, subindo e descendo por caminhos íngremes de terra batida cortados entre as penedias. Mochila às costas, onde carrega o equipamento e demais utensílios, vai de apiário em apiário onde trata as abelhas com o mesmo carinho com que uma mãe vela o sono de um filho.

Talvez o “pormenor” mais insólito na vida apícola de Dª Bernardete é o facto de se deslocar em tais caminhos pelo seu próprio pé e sem outra companhia que não seja a sua sombra.
Valem-lhe os sobrinhos que a ajudam nos dias de cresta ou na limpeza dos apiários, trabalhos mais duros e de todo impossíveis de realizar por uma septuagenária.
Desta vez, como os sobrinhos estão longe, pagou o frete de uma carrinha para que lhe transportassem o alimento das abelhas e lho depositassem num local estratégico de onde depois o distribuiu pelos apiários.

No entanto, na época dos enxames em que as visitas são diárias, ou noutras tarefas do maneio apícola, é vê-la sozinha nas labutas do apiário.

Não pude deixar de lhe dizer que nas associações de apicultores onde exerço ou já exerci assistência técnica, o que mais aconselhava aos apicultores, homens, é a necessidade e quase obrigação de se fazerem acompanhar por outra pessoa quando visitam as colmeias.

Os acidentes de trabalho são muito comuns entre os apicultores, trata-se de uma das regras mais básicas, ainda por cima a actividade é praticada em locais isolados no campo.

Respondeu-me com um “… pois, mas eu não tenho companhia”.

Confrontei-a com o facto de ser uma mulher numa actividade principalmente praticada por homens, questionando-a sobre como reagiam as pessoas da aldeia. Riu-se com a pergunta e disse-me que já estavam habituadas, ainda outro dia uma vizinha gracejava dizendo “lá vai a Bernardete para o seu emprego…” e na aldeia os clientes procuram-na como “a senhora do mel”.

Perguntei-lhe se em tais deambulações solitárias alguma vez apanhara um grande susto, o que não me parece destituído de sentido, tratando-se de locais tão pouco frequentados.
Lembrava-se de um episódio, não muito antigo, com um lobo que lhe apareceu no caminho. Sim, um lobo, pouco selvagem diga-se em abono da verdade, mas era uma dessas feras que ilustram os contos infantis de outros tempos. Tinha sido ali colocado pelos serviços oficiais nalguma tentativa de repovoamento.

A “fera” afastou-se sem qualquer prejuízo para a nossa anfitriã, nunca mais o viu e contou-se mais tarde que fora abatido por caçadores, “fiquei com pena, eu gostava de ver o lobo”.

Iniciou-se nesta actividade com o pai, há mais de trinta anos, quando regressaram de Angola. Antes eram quase só cortiços, poucos e um só apiário que herdou. Depressa percebeu as vantagens da colmeia móvel e não só substituiu os equipamentos como ainda aumentou bastante os efectivos, hoje conta com 210 colmeias, tendo já tido mais de 300.

Contou-me que um dos episódios mais tristes da sua vida se deu quando encontrou grande número de abelhas mortas frente às colmeias, tratou-se de um envenenamento acidental, alguém usou pesticidas nas culturas e resultou em tal prejuízo para os insectos.
Nunca soube quem foi o culpado, mas nunca mais esqueceu a imagem das suas queridas amigas mortas ou sem conseguir voar no chão do apiário.

Também me disse que nem sempre está na aldeia, tem uma casa em Felgueiras onde se radica em curtos períodos para visitar a família, mas “quando estou na cidade, um dia dói-me a cabeça, no outro uma perna, por vezes dói-me o corpo todo, há sempre uma doença, dores que só passam no regresso e à vista das minhas abelhas…”

E se isto não chega para definir um apicultor, decerto que mais nada o fará.

Tanto na conservação das colmeias, impecavelmente pintadas, como na arrumação do apiário sem ervas, lixos ou outros trastes, em que o terreno parece ser sido varrido, adivinha-se o frequente e assíduo toque feminino.

Infelizmente não tivemos muito tempo para conversar, mas mesmo assim facilmente percebi que a minha interlocutora tinha muitos e desenvolvidos conhecimentos de apicultura. À minha pergunta revelou-me a sua estratégia para capturar enxames, assunto que enche de orgulho qualquer apicultor e a Dª Bernardete não foi excepção:

Tenho em cada colmeal, coisas da minha cabeça, (riu-se), um arame com uma pégazinha na ponta, meto-lhe um saco de plástico que é cosido à volta, e deixo aberto com um fiozinho. Subo à escada, coloco o saco por baixo e com a mão amarro-o por cima (do enxame) sacudindo depois as abelhas na colmeia”, “além mais à frente tive de subir três vezes a uma oliveira

Quanto ao uso do mel em casa “quase há dois meses que não pego no açúcar, o leite adoço com mel, gosto da torrada com mel, ponho-lhe um pouco de canela…” e quem sabe não seja este o segredo para tanta energia?

Nunca procurei saber se tinha medo das ferroadas, isso sim uma pergunta sem qualquer sentido, até porque já sabia a resposta que aí vinha…

À despedida pedi-lhe que deixasse um conselho, uma mensagem para as mulheres apicultoras, sobretudo para as que agora iniciam a actividade e que decerto muito têm a aprender com o seu exemplo:

Que elas andem para a frente, porque isto é uma coisa linda! Linda mesmo! Isto é a melhor terapia. Na Primavera a gente senta-se ao lado da colmeia a vê-las entrar carregadas de pólen, é maravilhoso…”

Quando estou a falar das abelhas esqueço-me que o mundo existe

No regresso destas andanças, enquanto faço a habitual digestão das surpresas e novidades que se me depararam, procuro sempre contextualizá-las com essoutra realidade mais dura e triste de quem vive num país em crise. Não foi difícil decalcar a “figura” da Dª Bernardete numa dessas formiguinhas laboriosas, a quem as brincadeiras tolas e irresponsáveis de uma criança lhe levantam barreiras e dificuldades, mas onde ela estoicamente e não sem sofrimento, continua o seu caminho, passa-lhe ao lado ou mesmo por cima, mas continua o seu caminho…

Obrigado Dª Bernardete

Joaquim Pifano
Paulo Ventura
Luís Lourenço