Primeira visita ao apiário de um “recém-apicultor” muito entusiasta, quase noite, ainda assim com luz suficiente para registar uns quantos fenómenos dignos do Entroncamento. Desde quadros com arame zincado de 2 mm de diâmetro para segurar a cera a outras novidades que um dia havemos de debater…
Mas o mais enigmático ainda estava para vir.
Abrimos uma colmeia, enxame recente, a falta de um quadro e um pequeno favo (10 x 15 cm) pendurado da prancheta nesse local, uma pequena “seta”, como já lhe tenho ouvido chamar. Até aqui tudo muito normal. Retiramos o favo para colocar um quadro nesse sítio e à luz da lanterna resolvi inspeccioná-lo para ver se já havia postura.
Foi quando me ocorreu que no excelente workshop sobre as ceras, apresentado pelo Ruben e Francisco Rogão, no segundo aniversário do Forumeiros em Seia, houve uma conversa relacionada com a posição dos alvéolos.
Isto acontece em condições naturais, nos favos construídos exclusivamente pelas abelhas. Tal “desencontro” nas paredes do fundo dos alvéolos faz com que estas estruturas sejam muito mais resistentes:
Se fizermos uma rotação de 180º à lâmina de cera os (YY) ficam virados para cima e isso não altera nada a posição correcta (natural) dos favos. Ou seja, cada hexágono deverá ficar com um vértice para cima e outro para baixo:
Veja-se na imagem seguinte a lâmina na posição natural e na posição incorrecta:
Nunca tinha visto nada assim…
FACTO: Numa observação mais atenta consegui perceber que os alvéolos de um dos lados do favo se encontravam na posição correcta (natural) e no outro lado com os hexágonos de vértices na horizontal:
Reparem que cada “flor de seis pétalas” tem como centro (ou botão) o “encontro geométrico” ou justaposição de dois alvéolos de ambos os lados do favo, o que nunca sucede em condições naturais:

O que “passaria pela cabeça” destas abelhas quando resolveram alterar completamente o padrão habitual de construção dos alvéolos de cera?
Ainda por cima fazendo-o apenas num dos lados do favo, uma vez que do outro se encontram na posição natural…
Regressava a casa e pensava em tudo isto sem lhe encontrar qualquer solução. Não imagino que estímulo natural ou artificial possa ter induzido as abelhas a alterar completamente um dos seus comportamentos básicos. E não havia qualquer anomalia a condicionar a construção do favo. E se houvesse? Faziam-no apenas numa das faces ???
Mistério!!!
Entretanto lembrei-me de uma aula de Ecologia, dos tempos de Escola Secundária, qualquer coisa sobre o efeito das drogas, produtos químicos e substâncias relacionadas. Tratava-se de uma imagem muito apelativa com uma teia de aranha, cuja arquitectura tinha um desenho impecável.
Os investigadores destruíram a teia e a aranha reconstruiu-a exactamente igual à primeira, como as imagens comprovavam. Voltaram a destrui-la mas desta vez administraram qualquer substância tóxica ao “bichinho”.
Ela voltou a tecer a sua armadilha, desta vez com um resultado menos perfeito.
Repetiram a experiência umas quantas vezes e a teia era refeita cada vez com mais imperfeições, à medida que aumentavam a dose de drogas na aranha. Finalmente, na última imagem dessa lição, surgia-nos uma teia de aranha com dois ou três fiapos de seda entrelaçados que lembravam vagamente a teia original. Como legenda uma elucidativa mensagem que dizia que para tais dosagens de químicos tóxicos a teia de aranha era completamente disfuncional, não poderia capturar qualquer presa e a aranha não sobreviveria…
Pensem o que quiserem, eu não conclui nada… ou será que conclui ???