18 outubro, 2013

Avis mellífera - 6 anos


A primeira sessão de esclarecimento/divulgação da ADERAVIS ocorreu em Santo António do Alcorrego, uma freguesia do Concelho de Avis, numa noite fria do Inverno de 2005. Tratava-se de um workshop sobre a confecção de alimento artificial para abelhas.

Levei uma panela grande de alumínio, um fogão de campismo, mel, pólen, açúcar e dei largas à imaginação… Na semana seguinte havia pessoas a queixarem-se do esgotamento dos stocks de farinha de soja nas lojas de Avis.

Depois desta sessão muitas outras se seguiram, onde eram abordados pelos técnicos e dirigentes associativos da ADERAVIS os mais variados temas sobre a apicultura.

Mais tarde a direcção pensou em organizar um evento que englobasse diversas actividades como os concursos de mel, colóquios, workshops e outras atracções que preenchessem um dia completo, sendo mais vantajoso para os apicultores participantes, nomeadamente para os que se deslocavam grandes distâncias.

Assim nasceram as Jornadas Técnicas Apícolas Avis mellífera, conjugando o nome da localidade ao nome científico da abelha.

Desde a primeira edição que contamos com o forte apoio do Município de Avis, só assim foi possível fazer face a tantas despesas, utilização de instalações e equipamentos, sem que isso trouxesse custos aos visitantes e participantes das jornadas.

As primeiras cinco edições ocorreram no primeiro fim-de-semana de Dezembro. Se por um lado o espírito da quadra Natalícia ajudava ao clima da festa, por outro condições climatéricas adversas impediam-nos de fazer workshops de carácter mais prático, nomeadamente nos apiários.

Desta feita optou-se por alterar a data das jornadas para o final do mês de Julho, coincidindo com a tradicional Feira Franca de Avis, resolvia-se o problema dos trabalhos práticos e os dois eventos em simultâneo decerto resultariam em sinergias benéficas para ambos.

Desde Dezembro de 2008 até Julho de 2013 foram já várias as centenas de apicultores oriundos de todo o território nacional, que nos visitaram participando nas jornadas. Desde essa data foram também várias as dezenas de oradores e provadores de mel que vieram às jornadas apícolas para partilharem os conhecimentos com os apicultores participantes.

Palestras/Workshops

Moderador - Eng.º José Gardete

1. Dr.ª Helena Cosinha (DRAPAL) Programa Apícola Nacional

2. Dr. Filipe Nunes (HIFARMAX) Sanidade Apícola

3. Eng.º Paulo Varela (MONTEMORMEL) Unidades de Produção Primária

4. Eng.º Vitor Morgado (COOP LISBOA) Comercialização do Mel

5. Eng.º Henrique Passão (APISET) Workshop: Medicamentos Homeopáticos - Timol

6. Eng.º Rosa Agostinho (EUROPROPOLIS) Tecnologia do Própolis

7. Eng.º Miguel Maia (APISMAIA) Preparação das Ceras

8. Eng.º Paul RudakevychProdução de Veneno de Abelha

9. Sr. Francisco Rogão (MACMEL) Produção de Pólen

10. Sr. Domingos Serrano (SAP) Produção de Geleia Real

11. Eng.º José Gardete – Workshop: Provadores de Mel

12. Sr. Francisco Rogão (MACMEL) – Workshop: Medicamentos homeopáticos – Ácido Fórmico

13. Dr. Joaquim Pifano (ADERAVIS) HACCP para Associações de Apicultores

14. Eng.º Júlio Ricardo (TERRA CHÃ) Associativismo

15. Sr. Ruben Rogão (MACMEL) Eficácia dos Acaricidas contra a Varroose

16. Eng.º Alexandre Pirata (TECNIMONTEMOR) Workshop: Investimentos no Sector Apícola

17. Eng.º João Caldeira (FERTIPRADO) Polinização Apícola da Flora Cultivada

18. Eng.º Ricardo Marques (QUERCUS) Apicultura e Biodiversidade

19. Dr.ª Maria do Carmo Caetano (DGV) Resíduos no Mel

20. Cabo João Paio (SEPNA) Legislação Apícola

21. Dr. António Hermenegildo (SAP) Workshop: Produção de Hidromel

22. Dr. Joaquim Pifano (ADERAVIS) Flora Apícola, Abordagem Passiva/Activa do Apicultor

23. Eng.º Pedro Santos (CNA) A Apicultura e a Nova PAC

24. Eng.º Paulo Varela (MONTEMORMEL) Melarias Colectivas, Vantagens e Desvantagens

25. Eng.º José Serranito (QALIAN) Sanidade Apícola, Produtos Químicos vs Homeopáticos

26. Eng.º Paulo Ventura (TERRA QUENTE) Construção de Núcleos em Roofmate

27. Sr. Joaquim DomingosSistema Anti-roubo de Colmeias

28. Eng.º Osvaldo Silva – (APIGUADIANA) Eu Fiz um Projecto de Apicultura

29. Eng.º Paulo Ventura (TERRA QUENTE) Produção e Processamento de Pólen e Própolis

30. Eng.º João ToméColmeias Estrangeiras e o Esgotamento dos Recursos Apícolas

31. Dr. José Valdez (BIOAROMA) Apiterapia


Júris dos Concursos de Mel:

1 – Eng.º José Gardete
2 – Eng.º Paulo Varela
3 – Dr. Pedro Branco
4 – Sr. Francisco Rogão
5 – Dr. Emílio Sabido
6 – Eng.º Jorge Rocha
7 – Sr. Sérgio Franco

A todos o nosso OBRIGADO!!!

08 outubro, 2013

04 outubro, 2013

Eventos Apícolas no Alentejo: Montemor-o-Novo e Moura


Há já vários anos que no fim do Verão, juntamente com a Luísa e o Gardete, rumamos a Montemor-o-Novo e a Moura, para participarmos como júris nos respectivos Concursos de Mel.

Desde há muitas décadas que os apicultores do Alentejo produzem alguns dos melhores méis de rosmaninho, meladas e multiflorais, sem que o produto do seu labor chegasse à luz da ribalta. Só recentemente com as parcerias entre municípios e associações de apicultores se tem reconhecido e promovido o mel destas regiões.

Começaram com modestos concursos de mel, poucos participantes, poucos apicultores e respectivas amostras, seguiram-se as feiras e exposições, os colóquios e tantas outras iniciativas que culminaram em autênticas festas em redor do mel, das abelhas e da apicultura. Hoje contam-se em largas dezenas o número de lotes de mel que concorrem aos primeiros lugares, cada vez mais apurados, cada vez mais difíceis de distinguir tal não é o estado de perfeição a que os apicultores têm levado estes produtos gourmet.

Foram inúmeras as vezes em que se nos depararam na mesa de provas mais de uma dezena de méis em que todos mereciam a nota máxima, impossíveis de distinguir, onde foi preciso recorrer a imperceptíveis nuances de aroma, cor ou sabor, autênticos preciosismos, para escolher os vencedores.

Mas é esse o principal objectivo dos concursos de mel e das entidades que os organizam, estimular os apicultores a melhorarem até ao limite as técnicas e condições de produção de modo a que embalem autênticas maravilhas gastronómicas.

Actualmente os méis do Alentejo já figuram entre os principais pólos de desenvolvimento e motivos de orgulho desta região. Os apicultores e as abelhas já são reconhecidos com carinho pelo desenvolvimento económico, social e ambiental incrementado pela sua actividade. Vale a pena calcorrear tantos quilómetros para reencontrar cores, aromas e sabores que sempre nos surpreendem, ouvir novas e velhas histórias com que os apicultores nos brindam acerca das suas actividades solitárias nas encostas, vales e planícies desta região.

XV Concurso de Mel de Montemor-o-Novo – Feira da Luz, Expomor 31/08/2013

De louvar esta iniciativa partilhada entre a Montemormel e o Município de Montemor-o-Novo e que já viu cumprida a sua 15ª edição. 24 amostras de Mel de Rosmaninho e 38 de Mel Multifloral, sendo os primeiros lugares de cada categoria:

Mel de Rosmaninho
1º Lugar: José Mendes Caeiro - Monsaraz (Reguengos de Monsaraz)
2º Lugar: Maria de Fátima Trejeira - Santa Susana (Alcácer do Sal)
3º Lugar: Paulo Pirata - Montemor-o-Novo (Montemor-o-Novo)

Mel Multifloral
1º Lugar: Jacinto Rodrigo - Coruche (Coruche)
2º Lugar: João Santos - Mora (Mora)
3º Lugar: Mihai Marcel Zai - Canha (Montemor-o-Novo)

De referir ainda o colóquio que sempre ocorre a seguir ao concurso de mel e ao almoço convívio, onde os oradores abordaram temas como: Conservação de Ceras, Contabilidade na Apicultura, Créditos à Agricultura e Mel e Apicultura.


XX Concurso de Méis da Região de Moura 14/09/2013


Iniciativa do Município de Moura em parceria com a associação de apicultores local, a Apivale, e que viu este ano cumprida a 20ª edição. Sem duvida um evento que demonstra o carinho com que esta autarquia tem brindado a apicultura e os apicultores da região.
22 amostras de Mel Multifloral, mais 27 de Mel de Rosmaninho, cujos primeiros lugares couberam a:

Mel de Rosmaninho
1º Lugar: Mel Serra de Portel - Portel (Portel)
2º Lugar: Apiserpa - Serpa (Serpa)
3º Lugar: José Maria Lacão - Santana (Portel)

Mel Multifloral
1º Lugar: António Monteiro Tereno - Amareleja (Moura)
2º Lugar: Torcato José Bento - Moura (Moura)
3º Lugar: José Quitéria Mestre - Safara (Moura)

Expositor de méis da região, patente no stand da Apivale.

Também em Moura um dos pontos altos da “festa da apicultura” é o almoço convívio oferecido pela autarquia aos apicultores, onde os petiscos regionais, mesmo depois das dezenas de colheradas de mel que ingerimos no concurso, se insinuam de tal forma que muito haveria para contar sobre o tema. E contarei mesmo, ficam também os parabéns ao restaurante “O Celeiro”, e em particular a uma conserva de pedaços de queijo de ovelha em azeite, aromatizado com especiarias…
Na parte da tarde ainda houve uma palestra sobre a Criação de Rainhas, apresentada pela Eng.ª Dulce Alves.

Apicultores da Serra de Portel, com muitos prémios no palmarés, uma grande variedade de produtos da colmeia, com o destaque especial para o Pão de Abelha que já provei e gostei bastante.

Produtos da colmeia no stand da Apivale.

03 outubro, 2013

Filatelia Apícola em Portugal Continental

Depois da emissão de selos apícolas das regiões autónomas da Madeira e dos Açores, surgem finalmente os selos de Portugal Continental.
É um orgulho para os apicultores portugueses verem a sua actividade homenageada pelos CTT.
Imagens enviadas pelo amigo Hélder Luís Lucas.


01 outubro, 2013

Secador Solar de Pólen?

Talvez o título seja ambicioso, por isso lhe coloquei a interrogação. Mas também é possível que resulte e do que me lembro das leis da Física talvez possa mesmo funcionar e ser útil.

A ideia ocorreu-me há uns anos atrás, só não a coloquei em prática graças à minha destreza manual demasiado sofrível para a marcenaria. Mais tarde acabei por encontrar uns quantos utensílios semelhantes na net, vocacionados para secar ervas, frutos e vegetais. Se por um lado perdi o pioneirismo da ideia, por outro regozijei-me com o facto de ela não ser assim tão destituída de sentido.

Para isso baseei-me nas leis da Física que dizem que quando um determinado fluido é aquecido, essa porção de ar ou água tende a subir, perdendo calor, até ficar suficientemente fria e densa tornando a descer. Temos então um fluxo de ar ou água a deslocar-se em dois sentidos (ascendente, quando aquecido e descendente quando arrefece).
Veja-se por exemplo o que sucede quando colocamos um recipiente com água sobre uma fonte de calor:

A água aquecida vai subir sobre o ponto onde é aplicada fonte de calor (neste caso ao centro), vai até à superfície onde arrefece e volta a descer nas extremidades.

Com o ar (atmosfera) sucede exactamente a mesma coisa, ou seja, se aquecermos uma câmara inclinada, o ar quente vai dirigir-se para o ponto mais alto e se tiver uma abertura escapa-se continuando a subir. É precisamente este aspecto que nos interessa, a corrente ascendente de ar quente e seco, onde podemos aproveitar trabalho útil deste fenómeno.

Basta-nos para tal construir uma estrutura cuja base seja uma caixa coberta de vidro, inclinada, e na parte superior uma passagem do ar quente para uma torre (em madeira?) onde se coloquem os tabuleiros de pólen.


O pólen da nossa produção é colocado no percurso dessa corrente ascendente de ar quente, para que lhe seja removida a humidade em excesso tornando-o armazenável sem riscos de se deteriorar.

A base deste equipamento poderá ser algo muito semelhante a um cerificador solar, também inclinado, com uma entrada de ar na parte inferior e uma saída na parte superior. Desenhei uma base rectangular e outra trapezoidal que me parece ser mais estável, não sei se tal se justifica:


A corrente de ar aquecida pode assim ser direccionada da base para uma torre onde se sobreponham vários tabuleiros (gavetas) com fundo em rede e que permitam a passagem do ar aquecido entre os grãos de pólen.
Esse fluxo de ar quente vai gradualmente removendo a atmosfera humedecida, desidratando o pólen até este ficar armazenável.


As dúvidas…
Se por um lado tenho quase a certeza que o ar aquecido pelo Sol vai subir pela torre onde se encontra o pólen, por outro não sei se devido à torre ser bastante larga (para colocar os tabuleiros) o fluxo de ar não tenha intensidade suficiente para que o seu efeito seja notório. 
Tenho essa dúvida porque há outra lei da Física (será do Arquímedes?) relacionada com a passagem de um fluido por um espaço com uma determinada secção e que acontece a uma determinada velocidade. Se diminuirmos a secção, para passar a mesma quantidade de fluido por unidade de tempo, a velocidade do mesmo terá de aumentar. Sendo o recíproco também verdade.

De qualquer forma também não é possível fazer uma torre muito estreita onde não caibam os tabuleiros…

De qualquer forma, as dimensões (que não assinalei), poderão ser calculadas como se a “torre” fosse feita por uma pilha de 5 ou 6 alças, até porque a ideia inicial partiu de algo semelhante, aproveitando-se esses equipamentos da apicultura.

A vantagem deste método face à simples exposição dos tabuleiros com pólen à atmosfera, é que o processo é francamente acelerado e com muito mais rendimento mesmo em estações menos quentes, como na Primavera. Também este processo não traz quaisquer custos em termos energéticos.


Gostava que alguém com destreza manual suficiente construísse um destes secadores solares e partilhasse connosco a experiência. Afasto desde já a (i)responsabilidade para o caso do equipamento não funcionar (depois do dinheiro e tempo investido), pois como disse no início não passa de uma ideia que me ocorreu e que complementei com outros casos que encontrei na net, apesar de nunca ter visto nenhum ao vivo.

Curiosamente o nosso amigo Ricardo Pinto, ele sim com uma habilidade invejável para a marcenaria, construiu algo semelhante, é certo que de uma forma muito rudimentar, com objectivos meramente experimentais e que segundo o próprio terá resultado, necessitando no entanto de alguns ajustes e melhoramentos.
Como podem ver nas próximas imagens, a abordagem algo minimalista do Ricardo Pinto contou com uma base pequena, um tabuleiro de madeira, que cobriu com plástico para formar a câmara de ar e aplicou-lhe um corpo de colmeia a um dos cantos, que funcionou como torre onde se coloca o pólen a secar.

Também esta base tem uma entrada de ar (assinalada na imagem).

10 setembro, 2013

Secagem Natural do Pólen

Ainda me recordo da primeira vez que fui com o meu pai à pesca, teria uns seis ou sete anos nesse tempo. Uma cana-da-índia, com um molinete rudimentar e minutos depois tinha o meu primeiro peixe na extremidade do fio. Enquanto accionava o molinete com um ruído ensurdecedor o pequeno peixe teve tempo de se soltar e fugir para bem longe, hoje deve ter uma descendência numerosa. 
Ocorreu-me na altura que um bom equipamento teria feito toda a diferença. Anos mais tarde, ainda assim há muitos anos, resolvi comprar um equipamento à altura, apesar do meu rendimento piscatório não ter sofrido grandes melhorias. 

Apesar disso pouco importar para o tema que hoje trago, lembro-me que nesse tempo qualquer loja de pesca desportiva disponibilizava uma tremenda parafernália de utensílios para o bom sucesso do pescador. Tornei-me um adepto dessas tecnologias e só as coloquei em causa no dia que me tentaram impingir um spray para que o fio afundasse mais depressa.

A apicultura atravessa agora uma fase semelhante. 
Há muito que aguardo o surgimento de tábuas de voo antiderrapantes que refreiem a aterragem das abelhas de modo a reduzirem os riscos para o insecto e produtos por ele transportados. Mas já não deve faltar muito...

Já perdi a conta aos novos apicultores que se abeiraram de mim com listagens de equipamentos que lhe foram aconselhados/impingidos e onde uma boa parte, além de muito caros são completamente inúteis ou desnecessários. 

 Não quero com isto dizer que um secador de pólen seja inútil ou desnecessário, mas: 

- São muito caros, talvez dos equipamentos mais caros para a apicultura. 
- Consomem muita energia, também ela muito cara. 
- Desidratam e secam de tal forma o pólen que acabam por destruir boa parte dos elementos nutricionais mais interessantes. 

 Recordo-me de ouvir o Sr. Rosa Agostinho (Europrópolis) dizer mais que uma vez (ao comparar o pólen fresco ao seco artificialmente) que este último pouco mais era que “palha” em comparação com o primeiro. 

É certo que temos de desidratar o pólen para o armazenar. Caso contrário aumentamos os custos ao conservá-lo a baixas temperaturas, o que também não é isento de lhe afectar a qualidade, mas temos outras alternativas económicas e com resultados muito satisfatórios. 

Há cerca dois anos experimentei o melhor pólen que alguma vez me foi dado a provar e nem sequer teria a melhor origem floral, segundo me disse o produtor, o meu amigo Paulo Ventura.

Tinha no entanto uma diferença fundamental em termos de processamento, relativamente ao pólen corrente: tinha sido desidratado ao ar livre e sem recurso a fontes de calor artificiais. Recordo-me que o dito pólen era bem mais doce quando comparado com o gosto algo farinado que caracteriza o pólen corrente. Tal como a própria textura era muito mais macia e suave relativamente ao granuloso duro a que estamos habituados. 
Cheguei a por em causa a conservação de tal pólen (que me pareceu algo húmido) quando o Paulo me asseverou que guardava essa amostra há cerca de dois anos. 

Ocorreu-me que continuamos a gastar imenso dinheiro com preciosismos caros, quando o nosso país tem características climáticas completamente gratuitas, que nos permitem realizar determinadas acções de forma a sermos altamente competitivos em termos de qualidade/preço e não as aproveitamos. 

Continuamos a importar toneladas de pólen espanhol, produzido em Portugal, muito caro e sem lhe aproveitarmos as mais-valias que tanto jeito nos davam. E o argumento que habitualmente acompanha tal facto prende-se sobretudo com o investimento necessário à adaptação das nossas explorações apícolas para este produto. 

Resolvi fazer essa experiência, a secagem natural de pólen, não ao ar livre mas no interior de uma casa arejada, um sótão. Optei por não sujeitar tal produto ao Sol directo, uma vez que o pólen tal como a maioria das substâncias naturais para fins alimentares são fotossensíveis. 

Para o efeito construi dois tabuleiros em madeira com cerca de 90 x 40 x 8 cm, utilizando rede mosquiteira para o fundo. Cada tabuleiro custou-me menos de 10,00€.

Esses tabuleiros são então colocados numa estrutura metálica, concebida também para o efeito, que permite ainda a utilização de um terceiro tabuleiro (este em inox e que já possuía) na parte de baixo, para aparar os resíduos de polén, nomeadamente os grãos muito pequenos que serão destinados mais tarde para a alimentação das abelhas. 


As primeiras colheitas que fiz, durante o mês de Abril, foram colocadas nos tabuleiros de rede mosquiteira onde se retiraram os lixos e detritos que habitualmente acompanham esta produção: abelhas mortas, asas e patas de abelhas, opérculos dos alvéolos de criação e algumas larvas com ascosferiose.

Pólen de refugo, para alimentação das abelhas

Após a primeira semana de secagem, verifiquei que o pólen apesar de mais seco ainda não estaria suficientemente desidratado que permitisse o seu armazenamento sem risco de fermentar. Após a segunda semana, muito chuvosa e com a atmosfera saturada de humidade, a secagem do pólen regrediu bastante e cheguei a recear que este se estragasse nos tabuleiros. 
Retirei tudo e resolvi armazena-lo no congelador. Foi já durante os meses de Junho/Julho, com temperaturas superiores a 30ºC, que voltei a colocar o pólen nos tabuleiros. Abri as janelas do sótão e ao fim de 30 horas estava suficientemente desidratado pronto a ser ensacado. 

Para saber do grau de humidade, que deve rondar os 6 a 7%, pressionei os grãos de pólen entre o polegar e o indicador, como os grãos não se desagregavam tinham atingido o ponto correcto para serem armazenados. Curiosamente, tinham-me oferecido um higrómetro, da marca SAMAP, para aferir o grau de humidade de uma forma mais acertada e científica, mas a minha “aversão” às tecnologias não me permitiram decifrar o modo de funcionamento a tempo e este ano ficou assim mesmo. 

De qualquer forma, esta modalidade de desidratação valeu bem a pena, o pólen fica com uma textura e um sabor francamente superior à maioria dos pólens que se encontram no mercado, beneficiando de uma longevidade igual e com custos de processamento muito reduzidos.
Argumentos como a ineficácia deste método para grandes produções não fazem muito sentido, visto que cerca de 20 kg de pólen (em dois tabuleiros de 10,00€) não chegaram a dois dias de secagem, ficando os dois tabuleiros libertos para receber nova produção.

Estamos em crise (estamos sempre), a somar à especulação dos preços que já se verifica nos equipamentos/materiais apícolas, motivada pelo grande acréscimo de novas explorações, tornam este género de iniciativas numa boa alternativa económica para o sector.