20 julho, 2012

Colmeias Diferentes - 18

Construida e pintada por um apicultor de Benavila - Avis.
A pintura "camuflada" pretende despistar os "amigos do alheio",
estratégia que complementa com a dispersão das colmeias por grandes
áreas, tornando assim o roubo menos compensador.

Esperemos que resulte...


18 julho, 2012

Alimentadores Internos para Colmeias


Desde o advento do SDC (Síndroma do Despovoamento de Colmeias), que opto por ministrar alimento complementar às colónias de abelhas durante todo o Inverno.

A hipótese das alterações climáticas enquanto factor responsável pela diminuição da quantidade e da diversidade das fontes de néctar e pólen e consequentemente dos problemas nutricionais que daí resultam, é cada vez mais remota, em detrimento dos pesticidas.
Apesar disso, continuo a alimentar as abelhas com uma periodicidade quinzenal nos meses de Outubro a Fevereiro, Março, o que entre os componentes do xarope e combustíveis fica bastante caro.

Nesse sentido e numa tentativa economizar nos custos procurei utilizar alimentadores (internos) de maior capacidade e que não obriguem a tantas visitas ao apiário. De qualquer forma é importante não esquecer que o alimento também não deve durar tanto tempo que possa fermentar…

Um dos entraves que surgiram foi o espaço exíguo, sobretudo muito baixo, entre a prancheta e o tampo, o que limitava muito os materiais baratos a utilizar. Os pratos de plástico alimentares, muito baratos e que se encontram com muita facilidade, cabem perfeitamente entre o tampo e a prancheta, mas têm uma capacidade muito reduzida, sobretudo quando a colmeia não está nivelada.

Por outro lado, os referidos pratos não são um material muito reciclável, são bastante quebradiços e difíceis de higienizar.

Este ano ocorreu-me a utilização de outro tipo de pratos de plástico: os utilizados para receber o excesso de água sob os vasos de flores. Suportam um volume muito maior de alimento, são recicláveis, facilmente higienizáveis e… apenas custaram 0,40€ a unidade.

Relativamente aos alimentadores convencionais, muito caros, utilizados na apicultura, ainda têm as vantagens da facilidade de armazenamento e de higienização:


O único inconveniente destes pratos são mesmo as dimensões, cabem entre a prancheta e o tampo mas não sobra espaço para o acesso das abelhas. Para ultrapassar esta situação socorri-me de aros de madeira, com as dimensões esquematizadas abaixo e com um custo de 1,67 € a unidade.

Imagem acima: alimentadores entre o tampo e a prancheta, sem e com o aro de madeira.

Cada um dos aros, aplicado numa colmeia, permite a utilização de dois ou três pratos alimentadores e com fácil acesso para as abelhas. De qualquer forma, um único prato comporta mais de meio litro de alimento o que é suficiente.


Mesmo nas colmeias desniveladas, estes alimentadores suportam grande quantidade de alimento e sem perigo de transbordar.

Os aros de madeira têm outra utilidade que não devemos desprezar: colocando-os sob a prancheta criamos uma câmara-de-ar sobre o ninho, muito vantajosa para a aplicação de acaricidas homeopáticos, evitando prejuízos à colónia.



Câmara de ar sobre os quadros para colocar acaricidas.

A utilização dos aros de madeira para aumentar o espaço dos alimentadores faz com que o tampo não encaixe no ninho, havendo o perigo do conjunto se deslocar e a colmeia ficar aberta acidentalmente. Para o evitar utilizei parafusos para prender o aro à prancheta e as tradicionais pedras para anularem os efeitos do vento.


Em cima: colmeia sem aro de madeira, em baixo a colmeia com o aro, onde se pode observar o tampo sobreelevado e mal assente no ninho.


Em resumo, a utilização deste equipamento deveu-se à procura de alimentadores económicos (pelo custo e pela grande capacidade de alimento que suportam), tal como facilmente armazenáveis, higienizáveis e resistentes. Com os referidos pratos dos vasos e os aros de madeira cumpriram-se todos esses requisitos.

Mas… apesar da capacidade de acomodar grande quantidade de alimento artificial não devemos evidentemente exagerar nas dosagens, dado o risco do alimento fermentar. Este pormenor faz ainda mais sentido quando utilizamos xaropes estimulantes, com muita humidade e por isso mais susceptíveis a decomporem-se.

A questão que sempre se nos depara no momento de alimentar as colónias de abelhas é: que quantidade de alimento devo disponibilizar a cada colónia?

A resposta mais óbvia, ou pelo menos a mais comum é o que o alimentador suporta ou depende da quantidade de alimento que confeccionamos e geralmente igual para todas as colmeias.

No entanto, nem todas as colónias têm as mesmas necessidades nutricionais, sobretudo porque  nem todas têm a mesma população.
Se o objectivo é economizar o alimento, evitando que se deteriore em colónias pouco populosas ou que falte em colónias maiores, convém adequar a quantidade de xarope em função da dimensão da colónia.

Ajudaria bastante sabermos o número de quadros ocupados pelas abelhas, desta informação poderíamos inferir da população de cada colmeia e aferir as respectivas quantidades de alimento. Tarefa fácil com o tempo quente, mas uma acção a ponderar com baixas temperaturas.

Podemos e devemos esperar por uma tarde quente para retirar tampo e prancheta e muito rapidamente contar o número de quadros ocupados no Inverno.

Habitualmente desenho esquemas simples como o que se seguem, onde pouco mais anoto que o número de quadros ocupados.

Até 4 quadros ocupados………… 100g a 200g de alimento
4 a 7 quadros ocupados …………200 a 300g de alimento

Mais de 7 quadros ocupados …300 a 500g de alimento

Claro que estes números não são rígidos, nem resultam de aturado estudo científico, mas ajudam-me a dosear as quantidades de xarope em função da dimensão da colónia. Por outro lado e se fizermos tal avaliação mensalmente, podemos monitorizar o desenvolvimento da colónia.

As outras regras a não descurar

- Ministrar o alimento à noite ou ao fim do dia, sobretudo o estimulante.
- Também para evitar pilhagens, reduzir a entrada da colmeia para uma defesa mais eficaz.
- Higienizar os alimentadores antes de cada utilização.
- Utilizar aditivos que impeçam ou atrasem a fermentação.
- Apostar sobretudo nos alimentos proteicos, ou pelo menos não adicionar apenas os energéticos (mel, açúcar…).
- Colocar sobre o alimento materiais que impeçam o afogamento das abelhas, palha, cortiça, vegetação…

- Dosear o alimento para que não dure mais de três ou quatro dias, sobretudo o estimulante, muito húmido e susceptível de fermentar.
- Não esquecer o equipamento básico de inspecção de colmeias. Recordo-me de uma noite gélida, chuvosa e com vento em que as abelhas saíam e nos perseguiam como numa tarde quente de Verão.

Este ano, entre o início de Outubro e finais de Fevereiro confeccionei sobretudo xaropes ou pastas constituídos por:
- 70% de Mel + 30% de Pólen

- 70% de Mel + 15% de Pólen + 15% de Farinha de Soja

- 70% de Mel + 15% de Pólen + 15% de Levedura de Cerveja

A partir de Fevereiro e com as mesmas quantidades dos nutrientes referidos, adicionei 2 a 3 litros de água para cada 5kg de alimento sólido, até aos 5 litros de água para 5kg de alimento sólido, tendo constatado um crescimento notório em mais de 90% das colónias.
Creio que ainda nunca usei mais que um ano os mesmos equipamentos e estratégias de alimentação artificial de abelhas e tenho a certeza que esta ainda não será a última.

… e por falar nisso, estive esta semana à conversa com um amigo apicultor, desses apicultores da “velha escola”, que sempre têm tanto para nos ensinar e combinamos uma visita à exploração dele para uma reportagem sobre os estranhos, baratos e muito eficazes alimentadores que há muito ele faz uso.

16 julho, 2012

Produção de Hidromel (Parte IV)


A Saga dos Abacaxis (parte IV)

17 de Novembro de 2011
Hoje foram verificadas as densidades do mosto nos garrafões.
Pelo andar da carruagem, até atingir a densidade final (à volta de 990) , o processo leva , no total ,cerca de seis a oito semanas para os garrafões que estão a 20 - 21ºC e cerca de menos quinze dias para os que estão em incubação a 28ºC. Bem mais do que o confrade me confidenciou !!


Houve um período inicial de fermentação intenso e depois, ao fim de cerca de uma semana, acalmou e entrou na velocidade de cruzeiro que tem agora.

Parece que alguns dos garrafões não se vão despachar até ao Natal.

 11 de Abril de 2012
O dia tinha começado a clarear e o  chilreio dos pássaros fê-lo despertar do torpor em que estava mergulhado.

Lentamente rodou na cama, evitando todos os movimentos que lhe despertavam aquela maldita dor nas costas. Lá estava ela outra vez lembrando-lhe cruelmente que já ultrapassara a idade média da vida.
Mais um pouco e levantou-se. Ia começar mais um dia de esforço para as suas costas e já nem os analgésicos resolviam grande coisa. Aquelas meias alças eram um inferno. Devia arranjar umas mais pequenas.

Já de pé, o Apicultor lembrou-se que nesse dia talvez não fosse tão mau assim. Ia fazer a primeira trasfega do primeiro garrafão de hidromel que tinha terminado a fermentação.

A densidade tinha descido abaixo de 1000 e o sedimento estava completamente assente. O líquido estava límpido e cristalino. Agora faltavam as pequenas e subtis transformações químicas, que se iriam desenrolar lentamente, reacções de oxidação que iriam dar o toque final àquele néctar.

03 de Maio de 2012
Numa encosta moderadamente pronunciada, voltada a Sul, que se espraia sobre um vale onde evolui um braço do rio Trancão, onde os vestígios da ocupação humana recuam ao Paleolítico Médio, a uma altitude média de cerca de 350 metros, em terrenos basálticos e calcários, evolui a flora específica desta região, onde as abelhas irão colher o néctar que numa perfeita alquimia vão transformar no mel que está no cerne desta transformação única que é o processo de fermentação etílica.

 De cor âmbar claro, cristalino, límpido e espelhando bem, este hidromel é o resultado de uma lenta e controlada fermentação, em que as transformações que se foram operando, transformaram o mel no que será um delicioso néctar, alimento de deuses nesta terra.
De aroma pronunciado, ligeiramente frutado, com um toque das espécies florísticas que estiveram na sua origem, seco, de corpo suave e denotando notas de juventude, prepara este hidromel a sua maturação, atingindo então um patamar superior das suas características organolépticas, que farão as delícias de requintadas papilas.

15 de Junho de 2012

O tempo tem escasseado, mas hoje aproveito para referir que há cerca de uma semana, fiz a trasfega de mais um garrafão (1) da fase I. A cor é um pouco mais carregada e, embora seja da mesma "fornada" do (3) e (4) , não me espantou, porque estes tinham levado metabissulfito de potássio, que é anti-oxidante e estabiliza a cor e aquele não.
No entanto o cheiro ácido, que não do anidrido carbónico, deixou-me desconfiado.

A prova foi esclarecedora. Se conseguir convencer o resto do pessoal cá em casa, devo ter um excelente produto para consumirmos este ano na ceia de Natal, com o bacalhau. A temperar os grelos.
O "air-lock" da garrafinha não funcionou. O ponto fraco é a entrada do tubo no garrafão. Mesmo com a cola da pistola, detectei fugas por diversas vezes. É incrível. A entrada de ar é mínima mas, mesmo assim suficiente para o acetobacter se desenvolver !


*Acetobacter – Microorganismo responsável pela fermentação alcoólica, cuja acção sobre os substratos açucarados resulta na produção de vinagre e neste caso corrompendo os resultados esperados.
Também o açúcar não desdobrou completamente, como prova a fotografia da densidade que ficou nos 1034. Curiosamente o gosto ácido é tão forte que não se nota o adocicado.


Da série I já só falta o garrafão (2). Também algo de errado se passa, porque está límpido, mas as cascas de ananás ainda flutuam, o que significa que a densidade não é muito baixa. Estranhamente, no garrafão (1), com a densidade de 1034 as cascas tinham afundado.

 De referir que nem o garrafão (1) nem o garrafão (2) estiveram no banho-maria, portanto foram durante o Inverno sujeitos a temperaturas abaixo do 19º.

Os garrafões da fase II que estão no banho-maria , ainda fermentam.

10 julho, 2012

Meliponário Modelo - ACAM - Manaus - AM

Fotos enviadas pelo meu amigo Sérgio Souza, Presidente da ACAM - Associação dos Criadores de Abelhas de Manaus - AM - BRASIL

O evento foi a inauguração de um Meliponário Modelo

 As comidas da Amazónia, que saudades.
Inesquecível o Tambaqui, o Pirarucu, Tucunaré, o Cupuaçú a Tucumã... foi uma pena não poder estar presente, mas 10.000 km é muito longe...

 A cobertura televisiva da inauguração do Meliponário Modelo, com as palavras sábias do amigo Sérgio de Souza

 Agora as explicações em directo do amigo João Fernandes, um dos mais jovens e mais entusiastas apicultores.


Aldenora Lima, investigadora responsável pelo estudo da polinização da floresta Amazónica, levada a cabo pelas abelhas nativas, com o João Fernandes e o Sérgio de Souza.

 Os parabéns à ACAM por mais um fantástico trabalho.
Decerto que o Meliponário Modelo será uma referência para as futuras gerações de
meliponicultores na região tal como de todo o Brasil!!!

06 julho, 2012

Produção de Hidromel (Parte III)

A SAGA DOS ABACAXIS
(Parte III – 10 Novembro de 2011)
Procedimento Técnico

Começou por se diluir 4,050 quilogramas de mel em cerca de 12,5 litros de água mineral de baixa mineralização (mineralização total 40,7+ - 6,5 mg/l e pH 6,1) com o objectivo de obter uma solução de densidade próxima de 1.090, o que equivaleria a um grau alcoólico provável de 12,3º, o que corresponde aproximadamente a 1.350 gramas de mel por cada 5 litros de mosto.

Destes 12,5 litros de água retiraram-se 200 ml, que se destinaram à diluição dos aditivos, que se puseram de parte.

A leitura da densidade obtida foi de 1.088 para uma temperatura da mistura de 22ºC, pelo que, após a respectiva correcção se obteve uma densidade final aproximada de 1.089.

Obtiveram-se um total de cerca de 15 litros de mosto, que irá ser dividido por quatro partes iguais ( em que cada uma conterá cerca de 3,1 litros de água).

Escolheu-se um abacaxi no limite máximo de amadurecimento, que foi descascado, sendo a casca também dividida em quatro partes iguais.



Disponibilizaram-se quatro garrafões vazios que foram numerados de 1 a 4.

No garrafão 1 foram colocados 50 ml de água dos 200 ml que estavam separados, + 1/4 do total de mosto, + 1/4 da casca do abacaxi.

No garrafão 2 foram colocados 50 ml de água (também retirada aos 200 ml que estavam separados) e à qual foram adicionados e dissolvidos 3,1 gramas de ácido tartárico, + 1/4  do total de mosto, + 1/4  da casca do abacaxi.

No garrafão 3 procedeu-se como no garrafão1.         

No garrafão 4 procedeu-se como no garrafão 2.

Foram encerrados com tampas não perfuradas e fortemente agitados.

Após uns minutos de repouso foram colocadas as tampas perfuradas com tubos.

Não foram colocadas ainda as garrafas de drenagem.

Temperatura no local 22ºC.


Comentários

O confrade que me confidenciou usar o abacaxi como fermento não fazia qualquer tipo de correcção.

No entanto, tratando-se de uma fermentação de açúcares com leveduras idênticas às da vinificação, sendo o pH da água praticamente neutro, há um grande desequilíbrio no mosto, favorecendo, à semelhança do que se passa naquela, as fermentações indesejáveis. Assim , à semelhança do que se passa em enologia, decidi fazer correcção ácida em relação à quantidade de água utilizada na proporção de 1 grama de ácido tartárico por litro de água.

Cada garrafão leva no mosto cerca de 3,1 litros de água, daí os 3,1 gramas de ácido.

Aos garrafões 3 e 4  pensei adicionar também metabissulfito de potássio como desinfectante ( há enólogos que consideram que o seu efeito não é propriamente desinfectante mas sim de agente redutor ).

No entanto a dose para o volume do garrafão era tão pequeno que hesitei e não o fiz neste primeiro dia. Fá-lo-ia no dia seguinte.

05 julho, 2012

Produção de Hidromel (Parte II)


A SAGA DOS ABACAXIS (Parte II – 06 de Novembro de 2011)

Materiais e Métodos

Para o ensaio foi utilizado mel multifloral da colheita de 2011, obtido por centrifugação e decantação, ainda não cristalizado e não submetido a qualquer tipo de tratamento térmico.

Foi diluído em água mineral de nascente, evitando as cloragens e químicos da água da rede pública, de baixo teor mineral (o que contraria alguma bibliografia que refere a necessidade de alguns aditivos minerais, em virtude dos baixos teores destes no mel).

Como fermento foi usada casca de abacaxi, no limite máximo de maturação e no limiar do apodrecimento, mas antes que este ocorresse.
A fermentação ocorreu em recipientes separados com a capacidade de 5 litros – garrafões, não completamente cheios, hermeticamente fechados e unidos por um tubo de descarga a um pequeno recipiente em que o tubo fica mergulhado numa solução de metabissulfito de potássio.

Cada garrafão contém a mesma quantidade de “mosto” e em todos com a mesma diluição, com vista a obter um hidromel seco.

Cada garrafão difere entre si pela adição de substâncias correctivas e redutoras, havendo um sem qualquer aditivo.
Estes aditivos são simplesmente o ácido tartárico e o metabissulfito de potássio.
Todos estão numerados, procedendo-se diariamente a observações, colheita e registo de dados.

O processamento de cada garrafão foi feito individualmente em função das alterações que se foram verificando no decorrer do ensaio.

Para cada garrafão foi feita uma tampa hermética com drenagem através de um tubo, segundo esquema do confrade e amigo Ricardo Pinto, mergulhado numa solução de metabissulfito de potássio, colocado numa pequena garrafa.