29 outubro, 2014

II Encontro - Mel do Campo Branco - Castro Verde


2º ENCONTRO | MEL DO CAMPO BRANCO

CASTRO VERDE | SÁBADO, 1 DE NOVEMBRO
CENTRO DE PROMOÇÃO DO PATRIMÓNIO E DO TURISMO

A apicultura é uma actividade económica tradicional e importante na região e em Castro Verde.
Numa altura em que, a nível internacional, se receiam as consequências da diminuição do número de colónias de abelhas, em Portugal aumenta o número de colmeias e de apicultores.

Por isto é importante a continuidade deste evento como forma de contribuir para o incremento e rentabilidade desta atividade, e a melhoria e diversificação da produção de mel e derivados.

A organização desta iniciativa resulta de um processo partilhado com alguns apicultores do concelho através da realização de reuniões de trabalho onde se evidenciou a importância desta iniciativa como ponto de encontro anual dos apicultores do concelho e não só, com vista à divulgação dos produtos da colmeia, ao aumento dos conhecimentos e à melhoria do inter-relacionamento entre os apicultores da zona, com vista ao desenvolvimento da actividade, da cooperação e do associativismo.

Assim, e com o objetivo de um maior envolvimento e participação dos apicultores, foram definidas mesas-redondas subordinadas a dois temas distintos considerados pertinentes:

. A água-mel, produto regional com grande interesse nutricional e económico e que importa
revitalizar e dar visibilidade;
. O associativismo, as vantagens e as dificuldades na especificidade da atividade apícola.
Pretende-se um Encontro participado, enriquecedor e que aprofunde as relações entre os apicultores e que isto se reflita no desenvolvimento da atividade apícola no concelho e na região.

2º ENCONTRO | MEL DO CAMPO BRANCO

Posto de Turismo / Centro de Promoção do Património e do Turismo
Sábado, 1 de novembro de 2014

PROGRAMA

10h00 – ABERTURA DA MOSTRA / VENDA DE PRODUTOS DA COLMEIA
aberto até às 18h00 horas

10h30 – 12h30 – MESA-REDONDA A ÁGUA-MEL

Participação de:
Fernando Duarte (apicultor)
Nuno Marques (apicultor)
12h30 – 14h00 – ALMOÇO LIVRE
14h30 – 16h30 – MESA-REDONDA

ASSOCIATIVISMO APÍCOLA

Associação de Apicultores da Serra do Caldeirão e Planície Alentejana
APIGUADIANA – Associação de Apicultores do Parque Natural do Vale do Guadiana

17h00 – VISIONAMENTO DE DOCUMENTÁRIO SOBRE APICULTURA

19h30 – JANTAR – CONVÍVIO de apicultores e amigos (custo parcialmente suportado pelos

participantes. Inscrições durante o dia do Encontro, até às 12.30 horas, no Posto de Turismo).

22 outubro, 2014

... ainda a Vespa crabro

Este assunto nunca está encerrado.

Agora foi porque recebi uma série de fotos enviadas pelo meu amigo Jorge Tiago, fotos essas que registam alguns aspectos comportamentais menos conhecidos destas estranhas vespas.

Começa logo pelo facto do ninho ter sido construído no exterior, no tronco de um Sobreiro, quando sabemos que é habitual fazerem-no em tocos ou buracos mais protegidos da intempérie.

Pouco conheço da biologia/ecologia da espécie, mas os únicos ninhos completos que vi, retirados um de um toco de árvore e outro do interior de um cortiço, não tinham a protecção exterior em fibra vegetal como a da imagem acima. Apenas constroem os discos de alvéolos sobrepostos e ligados por pilares.

Talvez quando optem por construir no exterior, ou não tenham alternativa (?), envolvam os alvéolos com essa protecção extra. Não deixa de ser fascinante como elas avaliam as condições disponíveis e alteram a sua rotina para um comportamento mais elaborado. Basicamente são conhecimentos, habilitações, que possuem mas não utilizam, reservando-os apenas para quando necessários.
Ou então, o que é bem provável, essa capa de celulose exterior terá sido removida acidentalmente nos ninhos retirados de buracos que observei.

Na imagem anterior é bem notória a diferença entre os indivíduos da colónia, nomeadamente nas dimensões e na pigmentação dos anéis. Já tinha percebido essa diferença quando fotografei as Vespas crabro para o último post.

Os insectos de menor dimensão não têm os anéis negros até à extremidade do abdómen, como os maiores, mas mantêm no entanto as manchas em forma de gota. Se observarem a primeira imagem do post anterior (O Ataque da Vespa crabro) nota-se que essa vespa também tem poucos anéis negros mas apresenta manchas acinzentadas e sem forma padronizada na faixa amarela dos anéis.

Não sei se tais diferenças se devem a diversas castas ou funções dentro da colónia, as castas com diferente morfologia são mais comuns nas formigas, talvez até dimorfismo sexual, possivelmente as menores serão obreiras e as maiores as fêmeas férteis que irão sobreviver ao Inverno para fundarem novas colónias no próximo ano…

As referências apontam para várias raças geográficas ou subespécies de Vespa crabro, talvez isso justifique as diferenças na pigmentação de colónia para colónia.

Larvas de Vespa crabro nos alvéolos

Na imagem anterior uma enorme larva que poderá ter caído acidentalmente do ninho, o que parece pouco provável, ou talvez expulsa pelas adultas por qualquer razão sanitária. Tal também se poderá dever à proximidade do período frio e as vespas eliminem todos os indivíduos poupando apenas as fêmeas e machos férteis. As abelhas fazem o mesmo com os zangãos nesta estação, por motivos de economia de reservas face à inutilidade daqueles no período que se avizinha.

O Jorge Tiago chamou-me a atenção para o facto de o solo debaixo do ninho apresentar uma mancha escurecida, possivelmente devido à enorme quantidade de dejectos líquidos que as vespas expulsavam com alguma frequência:

Mérito e paciência do Jorge que conseguiu fotografar as vespas no preciso momento em que uma delas expulsou um abundante esguicho.

Já fotografei abelhas rainhas com um ovo na extremidade do abdómen, outra vez consegui uma que regressava do voo nupcial onde se via perfeitamente os ganchos do pênis do zangão na parte terminal do abdómen. Fotografar uma vespa em plena evacuação de líquidos fisiológicos foi mesmo uma grande façanha do Jorge Tiago!

Há uma árvore pimenteira no jardim frente à sede da ADERAVIS, sob a qual eu estaciono o meu carro. Todos os dias nesta estação eu vejo imensos polinizadores a visitarem as flores e bagas dessa árvore, abelhas do mel, abelhas solitárias e várias espécies de vespas entre as quais a Vespa crabro. Percorrem toda a copa num voo ruidoso, por vezes arremetem contra um cacho de flores, não sei se para caçar outro insecto, mas já vi uma delas partir com outra vespa menor nas patas. Suponho que também colectam néctar para a sua própria alimentação.


Que pena não conhecermos suficientemente a espécie, decerto que poderiam ter muita utilidade no combate a insectos nocivos nas lutas biológicas. Volto a frisar que se trata de uma animal formidável!

09 outubro, 2014

O Ataque da Vespa crabro

Todas as manhãs a gazela acorda sabendo que tem que correr mais veloz que o leão ou será morta. Todas as manhãs o leão acorda sabendo que deve correr mais rápido que a gazela ou morrerá de fome. 
Não importa se és um leão ou uma gazela: quando o Sol desponta o melhor é começares a correr.

Provérbio africano, retirado de “A confissão da leoa”, de Mia Couto

Poucas imagens da vida selvagem suscitam tanto dramatismo como um leão a caçar uma gazela nas pradarias africanas. São presas e predadores de grandes dimensões, à nossa escala, as vidas em jogo, os ruídos da luta, o sangue a escorrer e a carne a rasgar ferem a nossa humana sensibilidade.

No entanto, mesmo a escalas mais reduzidas como ao nível dos insectos, as relações presa-predador revelam momentos tão pungentes como os do exemplo anterior. Apenas a maior parte da acção nos escapa ao olhar e por isso somos levados a supor que tudo decorre com mais suavidade e recato.

Há poucas semanas encontrava-me no campo com um amigo que tinha instalado o seu primeiro apiário com três colmeias. Observava-mos numeroso grupo de abelhas que regressavam à colmeia carregadas de pólen, quando um ruidoso voo de insecto nos chamou a atenção. Cedo identificamos a Vespa crabro de grandes dimensões que circundava o local atraído pelas abelhas recém-chegadas.

É curioso como a maior parte das abelhas que voavam nas proximidades depressa se refugiaram na colmeia e passaram a guardar a entrada, atentas a tudo o que se desenrolava no exterior.

Não imaginava que tais vespas tivessem no apiário um efeito semelhante ao provocado pela presença e pelo canto dos abelharucos: manter a maior parte das abelhas em sentido à entrada e com uma notória redução do fluxo de insectos.

Baldadas as tentativas de capturar as abelhas que partiam ou regressavam por parte da enorme vespa, uma vez que esse movimento cessou quase por completo, o predador iniciou então uma série de voos e aproximações provocatórias à entrada das colmeias. Pretendia com isso estimular o ataque de alguma abelha mais temerária, isolá-la do grupo e lançar-se sobre ela.

Vimo-la passar em voo rasante frente à entrada das colmeias e toda a guarda avançada das abelhas acompanhava o movimento da vespa mudando de posição. Noutras vezes aproximava-se a escassos centímetros das abelhas ficando a pairar uns instantes no local, o que fazia com que as potenciais presas avançassem ligeiramente na sua direcção.

Setas amarelas - Posição da Vespa crabro a pairar frente às abelhas.
Setas vermelhas - Posição de uma abelha que seguia nervosamente todas as movimentações da vespa, reparem como ela altera a sua posição consoante o movimento da vespa.

Essas vespas surgiam com a frequência de um ataque a cada dez ou quinze minutos e todas as tentativas eram bem-sucedidas.

Quase se sente a tremenda tensão que paira nesta selva em miniatura, o voo frio e calculista da vespa, os avanços e recuos a medo da defesa das abelhas, o inimigo mortífero ali tão perto. Dava qualquer coisa para saber se ambos, presas e predadores, têm alguma consciência do sucesso de tais ataques e por isso da inevitabilidade de a todo o instante uma das abelhas perecer na defesa de uma causa que face às evidências parece perdida. Mesmo assim não desistem do sacrifício individual pela causa comum.

Logo que o predador conseguia isolar uma abelha, rapidamente a alcançava em voo agarrando-a com as patas e as mandíbulas. De seguida pousava num ramo da árvore mais próxima e despedaçava-a. 

Na imagem do canto inferior esquerdo a abelha já não tem a cabeça.

Desembaraçava-se das asas e da cabeça e segundo as referências mastiga toda a parte muscular cuja massa é levada para o ninho onde alimenta as vespas em estado larvar. Segundo as mesmas referências apenas os insectos em estado larvar são carnívoros, as vespas adultas alimentam-se de néctar.

Numa dessas vezes vimos como a enorme Vespa crabro capturou uma abelha em voo, perdendo altitude e quase se estatelando as duas no solo. Recuperava de novo altitude quando outra pequena abelha, talvez injectada de coragem por ver a situação crítica em que se encontrava a irmã, se lança a tremenda velocidade sobre os dois insectos e os derruba por terra. Foi uma imagem alucinante, parecia um autêntico míssil lançado contra uma aeronave.

Foi nessa altura que uma providencial ramalhada de esteva pôs fim à contenda. Não foi lá muito ético nem científico, mas precisávamos de imobilizar uma vespa para a fotografar.

Por outro lado tinha ficado algo intrigado com o comportamento extremamente defensivo das abelhas à entrada da colmeia por causa da proximidade da vespa, pelo que resolvi coloca-la quase morta na tábua de voo e o ataque das abelhas não se fez esperar. Rapidamente a atacaram e expulsaram para longe quando se certificaram que já não constituía qualquer ameaça.

É visível o ferrão da abelha no canto superior direito.

Na imagem superior vêem-se as abelhas a bater as asas para dispersarem alguma hormona de alarme.

Enquanto umas abelhas atacam o intruso, as restantes fazem a defesa do perímetro com uma curiosa formação em semi-circulo. 

Já com a vespa expulsa da tábua de voo, as abelhas deixaram de atacar mas mantiveram-se nas proximidades...

Noutro dia o Paulo seguiu o voo dessas vespas e conseguiu encontrar o ninho num buraco de numa pernada de Sobreiro, estava a cerca de quatro metros de altura e a uns 400 a 500 metros distante do apiário.

Aproximamo-nos bastante e as vespas pouca ou nenhuma agressividade demonstraram, creio, mas não me responsabilizo, que deve ser a espécie de vespas menos agressiva que conheço.

Entretanto víamos chegar ao local dezenas de vespas vindas de todas as direcções, pousavam nas árvores e arbustos em redor trazendo abelhas, vespas de espécies menores e outros insectos. 

Algumas Vespa crabro circulavam pelo tronco recém-descortiçado do Sobreiro onde tinham o ninho e pareciam estar a arrancar pedaços de fibras com as enormes mandíbulas. Talvez usem essa matéria-prima depois de bem mascada e misturada com saliva para erigirem os alvéolos de celulose com que constroem o ninho.

São animais fantásticos, são com certeza uma peça chave no equilíbrio ecológico dos ecossistemas em que se encontram. Decerto que os apicultores não apreciam a sua actividade predadora de abelhas, mas estas serão sem dúvida uma percentagem mínima da imensa quantidade de insectos que as vespas capturam.

Nunca tinha registado um desequilíbrio nas populações de Vespa crabro como no ano passado, 2013, pelo menos segundo os apicultores com quem falei. Por qualquer razão nesse ano as fêmeas férteis terão sobrevivido e tido sucesso em tal quantidade que na maioria dos apiários da região se registaram ataques desse predador. Podemos afirmar com muita certeza que se tratou de um caso isolado, pois durante todo o mês de Setembro deste ano e até à data, raros são os casos registados de ataques dessas vespas a apiários. Mesmo em anos anteriores essas ocorrências foram sempre muito raras.

Por outro lado estas vespas são de tal forma ariscas e discretas, evitando áreas urbanas, que não passam de meras desconhecidas para maioria das pessoas, mesmo para trabalhadores rurais que passaram a vida nos campos. Trata-se no entanto de animais que pertencem à nossa fauna autóctone, convivendo connosco à distância mas há milhares de anos.

Os ataques por elas perpetrados são sem sombra de dúvida um caso clássico de “ocasião que faz o ladrão” e quem proporciona essas ocasiões é o péssimo ordenamento que temos na nossa apicultura. As circunstâncias que potenciam o ataque destas vespas são exactamente as mesmas que facilitam o ataque dos abelharucos, do ácaro Varroa destructor e de tantos outros inimigos das abelhas.

Já regressávamos a casa por um caminho ermo de terra batida quando encontramos uma das mais simpáticas e curiosas aves nocturnas da região – o Noitibó, pousado no meio da estrada.

Encetamos uma série de tentativas para a fotografar de longe, não fosse a ave fugir com a nossa presença. Consegui depois aproximar-me lentamente, cheguei a rastejar no chão até me aproximar o suficiente para conseguir as imagens que agora partilho convosco.

Eu a uns escassos centímetros de um Noitibó, eu sou o que está com calças de ganga...

Para um final em apoteose ainda tentei fazer o que seria sem dúvida a primeira selfie com um Noitibó. Cheguei suficientemente perto para o efeito, mas quando tentei passar-lhe o braço com a máquina fotográfica pela frente a esquiva ave terá achado um abuso de confiança e fugiu no seu característico voo vertical.