30 janeiro, 2011

Nucléolos de Fecundação de Rainhas adaptados de Colmeia Reversível

A ideia não é nova, mas interessa sobretudo do ponto de vista prático e económico.
Para transformar uma colmeia reversível, ou outro modelo qualquer, em nucléolos de fecundação de rainhas, bastam duas tábuas, réguas para os quadros e uma prancheta com quatro orifícios. Esta colmeia foi feita por um associado da ADERAVIS há uns anos atrás.

O mais difícil terá sido decerto a concepção dos mini - quadros, principalmente a forma de os encaixar num quadro de dimensões normais para que a cera fosse “puxada” numa colmeia activa.

Neste caso utilizou-se uma pequena tábua embutida entre os dois quadros e fixa com arame, para evitar que as abelhas os unissem com favos. Não parece ser o método ideal, mas “desenrascou” muito bem.

Os quadros, tal como as saídas/entradas de cada divisão (nucléolo) estão orientadas para direcções diferentes para evitar que as rainhas sofram desvios com as consequentes lutas e mortes. Para o mesmo efeito, também a parede exterior correspondente a cada entrada/saída tem uma cor diferente. As cores aqui apresentadas poderão não ser as melhores em termos de contraste visual das abelhas, mas também se pode fazer a distinção com sinais e outros desenhos.

Este pormenor faz com que as colmeias/nucléolos não possam obviamente ser dispostas num apiário linear, pois criaria uma grande confusão e acabava por originar desvios. O ideal é colocar as colmeias desordenadamente num local abrigado e soalheiro.

Creio ser essa a principal desvantagem do método, pois para uns ficarem com uma exposição óptima, as do lado oposto ficam com as piores orientações: Norte e Oeste…

A utilização de uma prancheta modificada com quatro orifícios de alimentação só trás vantagens, na medida em que permite alimentar cada colónia separadamente evitando pilhagens e outros conflitos.

Quem quiser evitar os custos, trabalhos e problemas de armazenamento dos nucléolos de fecundação pode valer-se deste sistema. E se a habilidade permitir fazer todas estas alterações de uma forma reversível, fazendo jus ao modelo da colmeia utilizada, será mesmo o ideal.

Mais publicações sobre Nucléolos de Fecundação no montedomel:

Nucléolos de Fecundação e Estágio de abelhas rainhas
http://montedomel.blogspot.com/2009/02/nucleolos-de-fecundacao-e-estagio-de.html

Construção de um Nucléolo de Estágio/Fecundação de abelhas rainhas
http://montedomel.blogspot.com/2009/02/construcao-de-um-nucleolo-de.html

Nucléolos de Fecundação para Quadros de Alça
http://montedomel.blogspot.com/2009/03/nucleolo-de-fecundacao-para-quadro-de.html

Quadros Articulados para Nucléolos de Fecundação
http://montedomel.blogspot.com/2009/08/criacao-de-rainhas-quadros-articulados.html

Alimentadores para Nucléolos de Fecundação
http://montedomel.blogspot.com/2009/09/novos-alimentadores-para-nucleolos-de.html

27 janeiro, 2011

24 janeiro, 2011

Própolis no BRASIL

A propósito do último post, não podia ficar indiferente a uma curiosa forma de produção de própolis no Brasil. Os esquemas foram retirados dos seguintes vídeos (já publicados no montedomel):
http://www.apiariobicodocce.com.br/?p=335 e http://www.apiariobicodocce.com.br/?p=342

Pelas imagens percebe-se que o utensílio de recolha de própolis é um caixilho de madeira, formado por duas ripas horizontais e três pequenos pilares a uni-las.

O conjunto é encaixado numa fenda lateral da alça e posteriormente preenchido com própolis pelas abelhas, que apenas deixam uns pequenos orifícios de acesso.

Não posso negar que a ideia é no mínimo excelente e de investimento muito barato, para não falar na extrema facilidade de recolha do própolis. Basta retirar do orifício o pequeno caixilho de madeira com a ajuda de um formão e extrair o própolis em bloco com uma faca ou espátula.


Ficam-me no entanto algumas dúvidas: a enorme fenda aberta na alça para embutir o caixilho não irá provocar alguma pilhagem por parte das outras colónias?
Será possível colocar mais que um caixilho na mesma alça (aumentando a fenda) sem que com isso se promova a pilhagem?

A alça onde se localiza o caixilho também serve para armazenar mel?

Para quem pense que o espaço a "propolizar" é demasiado grande, já tenho observado cortiços, cuja "boca" inferior (com mais de 25 ou 30 cm de diâmetro) se encontra completamente tapada com própolis...

Situação semelhante, encontrada numa colmeia da minha região. O objectivo não foi produzir própolis, apenas as abelhas reduziram a entrada numa zona com muita actividade e pilhagem de vespas.

Estou com muita vontade de experimentar esta estratégia para a produção de própolis, parece-me ser um método muito mais rápido, barato e eficaz que o convencional…

Só por curiosidade, a planta Baccharis dracunculifolia (Vassourinha), onde no Brasil as abelhas extraem a matéria prima para o conhecido própolis verde.

20 janeiro, 2011

17 janeiro, 2011

Própolis

Segundo a definição encontrada na Enciclopédia Ilustrada de Apicultura, Vol. 2, de Roger Morse e Ted Hooper:

Trata-se de uma substância resinosa, de cor castanho-alaranjado a vermelho, obtida pelas abelhas de mel a partir de certas árvores como o amieiro, o choupo e castanheiro da Índia, e de várias exsudações e feridas de qualquer planta lenhosa. O própolis é formado por um número indeterminado de substâncias, não tendo, portanto, uma fórmula química específica. (…)
O nome Própolis deriva de “pró” que significa “antes” e “polis”, a cidade ou fortaleza, porque as abelhas recolhem essa substância para construir barreiras em todas entradas dos ninhos naturais, a fim de impedir a entrada de inimigos. Serve ainda para impedir a entrada de correntes de ar e da chuva na colmeia.
Todas as células são envernizadas com própolis antes de a rainha colocar nelas os seus ovos. (…)

Têm-se descoberto numerosas aplicações para o própolis fora da colmeia. Em tempos foi muito usado na medicina, especialmente na confecção de pensos para ferimentos, e, devido à sua maleabilidade, é usado como massa de vidraceiro, especialmente quando misturado com cera. Também fez parte de um verniz especial usado por Stradivarius, o fabricante de violinos. Recentemente o própolis tornou-se novamente objecto de pesquisas e experiências em medicina e no campo dos cosméticos. (…)”


Em Portugal o própolis não tem sido devidamente valorizado, são poucos os apicultores que se dedicam à sua produção. Situação no mínimo estranha, na medida em que tal actividade necessita de um investimento muito baixo (2,00 a 3,00€/colmeia ou menos que isso), fácil e rapidamente amortizável. Por outro lado porque consome muito pouco tempo em termos de maneio e pouco ou nada interfere nas outras produções da colmeia, como o mel ou o pólen.

Além do excelente trabalho de há décadas levado a cabo pelo Sr. Rosa Agostinho (Europropolis), cujo ânimo e facilidade de comunicação muito têm feito para divulgar este produto e respectivas aplicações, pouco mais se tem feito pelo própolis no nosso país.

No entanto a procura existe e o escoamento continua a ser possível, em pequena escala, claro, a produção é mínima, mas todo o que se recolhe é facilmente vendável a preços que já vi oscilar entre os 25,00€ e os 60,00€, dependendo da cor/qualidade e modo de obtenção.

Esta relação entre a cor, a qualidade e consequentemente o preço, tem a ver com as origens vegetais das resinas recolhidas pelas abelhas: o própolis negro e muito pegajoso é sobretudo proveniente das Estevas, sendo pouco valorizado. As variedades que atingem preços mais altos têm sobretudo uma cor amarelo esverdeada, acastanhada e até vermelho (lembra o lacre), estes provenientes da vegetação arbórea junto a linhas de água: choupos, salgueiros e até faias e bétulas.

Algumas variedades de eucalipto também poderão constituir importante fonte de resina em termos de qualidade.

As resinas que originam o Própolis

São produzidas por inúmeras plantas, destinando-se sobretudo para protecção dos gomos, rebentos, folhas e raminhos novos.

Estas estruturas, extremamente apetecíveis para toda uma sorte de predadores como insectos, bactérias, fungos e até mamíferos, necessitam de uma protecção extra por parte da planta. Sendo então sintetizadas no local substâncias com actividade bactericida, tóxicas, que conferem ao própolis as características propriedades antibióticas muito apreciadas para fins terapêuticos.

Materiais, equipamentos e produção

Para a obtenção do própolis é demais sabido por todos que bastam as grelhas em plástico flexível, colocadas sob a prancheta, onde as abelhas preenchem os interstícios com a resina colectada nas já referidas espécies.

As grelhas não interferem minimamente com os demais trabalhos de inspecção e manuseio da colmeia, visto tratar-se de uma “segunda prancheta” que tal como a principal se retira e coloca quando se pretende aceder ao interior da caixa. Ao cabo de poucos meses, dependendo da disponibilidade de resinas no local, da capacidade propolizadora das abelhas (genética), das temperaturas, etc, conseguem-se cerca de 300 g desta substância por cada colónia.

Na última imagem, segundo alguns apicultores, a introdução de uma pedra ou cunha de madeira para manter a (grelha + prancheta) levantadas, permite a entrada de luz e estimula as abelhas a colectarem mais própolis. Pessoalmente fiz a experiência e não notei grande diferença...

Tal como em muitas outras situações, a produção de própolis exige do apicultor um conhecimento razoável da região onde é feita a colheita. Em locais onde as resinas escasseiam as abelhas recorrem a substâncias “semelhantes” para as mesmas utilizações, valendo-se de tintas, vernizes e até alcatrão das estradas para calafetar as frinchas, e revestir ceras e todas as superfícies internas da colmeia.
Obviamente que estas substâncias, caso sejam recolhidas nas grelhas, irão subverter todas as boas características do própolis, tornando-o inclusivamente numa substância tóxica e imprópria…

A colheita é feita quando as grelhas estão totalmente preenchidas ou no fim da estação, à remoção das alças para o Inverno. Quando é retirado da colmeia o própolis está a temperaturas relativamente altas (temperatura interna da colmeia), pelo que se encontra muito pegajoso. Para evitar que apanhe impurezas convém colocar as grelhas num saco ou caixa de plástico limpos para o transporte.

Também é possível raspar o própolis que se encontra sobre os quadros e no topo das paredes da colmeia com uma espátula. É um própolis menos comercial, se não houver cuidado pode arrastar tintas ou pedaços de madeira.



Extracção

Já em casa, as grelhas são colocadas no congelador, onde permanecem algumas horas, preferencialmente em sacos separados, sacos esses que podem ser reutilizados para várias extracções. Uma vez congelado, o própolis deixa de ser pegajoso e maleável, passando a ficar muito duro e quebradiço.
Basta então apertar as grelhas em vários sentidos, amolgando-as manualmente até que todo o própolis caia para o fundo do saco. Quando se refere a opção por colocar cada grelha em sacos separados consegue-se uma extracção mais fácil, dado que o simples manuseio fora do congelador rapidamente sobe a temperatura do própolis tornando-o de novo pegajoso e impossibilitando a separação.

Esta tarefa deve ser o mais rápida possível, enquanto as restantes grelhas aguardam no congelador. Terminado este trabalho, o própolis junta-se num único recipiente (p. ex. saco de plástico) e guardado preferencialmente a baixas temperaturas.
As grelhas são armazenadas em caixa ou saco de plástico num local limpo, ou recolocadas nas colmeias se for tempo de produção.

Importa aqui comparar alguns dos materiais disponíveis para o efeito:

(A)Recentemente a Thomas passou a disponibilizar grelhas em plástico mais flexível, lembram a rede mosquiteira mas com a malha mais larga (cerca de 4 mm), em rolo, resolvendo muito bem o problema do manuseio a baixas temperaturas visto que não quebram. São portanto reutilizáveis para muitas mais sessões, sendo também mais baratas (cerca de 2,00€/colmeia):

(B) As grelhas tradicionais, em plástico grosso mas maleável, com ranhuras, são muito úteis, de boa utilização e maneio no campo, mas tornam-se demasiado quebradiças quando manuseadas a baixas temperaturas (na extracção) impossibilitando muitas vezes a sua reutilização. Parecem ser mais indicadas para a extracção química do própolis com solventes orgânicos (álcoois, etc):

Também há quem improvise as grelhas com outros materiais, nomeadamente a própria rede mosquiteira, tecidos, etc, cuja eficácia ou rendimento desconheço.
Em termos de produção convém ainda alertar para o facto de tal como as alças, as grelhas de própolis não devem permanecer na colmeia durante os tratamentos sanitários.

Muito cuidado durante a extracção pois podem cair pedaços de própolis para o chão, sendo este depois muito difícil de limpar.

O própolis é mais um dos produtos da colmeia que quase sempre os apicultores se propõem a explorar, mas que por causa da falta de tradição e hábitos, raros são os que o concretizam, infelizmente.
Será muito interessante que os apicultores ponderem sobre esta possível mais-valia, e fonte de rendimentos das explorações apícolas, sabendo desde já que tem um investimento mínimo, o trabalho de maneio é praticamente nulo e a extracção e conservação muito fáceis e baratas.
A comercialização do própolis, tal como a dos outros produtos, tem toda a conveniência em ser concentrada por uma associação de produtores e comercializada conjuntamente, atingindo preços mais interessantes.