10 setembro, 2013

Secagem Natural do Pólen

Ainda me recordo da primeira vez que fui com o meu pai à pesca, teria uns seis ou sete anos nesse tempo. Uma cana-da-índia, com um molinete rudimentar e minutos depois tinha o meu primeiro peixe na extremidade do fio. Enquanto accionava o molinete com um ruído ensurdecedor o pequeno peixe teve tempo de se soltar e fugir para bem longe, hoje deve ter uma descendência numerosa. 
Ocorreu-me na altura que um bom equipamento teria feito toda a diferença. Anos mais tarde, ainda assim há muitos anos, resolvi comprar um equipamento à altura, apesar do meu rendimento piscatório não ter sofrido grandes melhorias. 

Apesar disso pouco importar para o tema que hoje trago, lembro-me que nesse tempo qualquer loja de pesca desportiva disponibilizava uma tremenda parafernália de utensílios para o bom sucesso do pescador. Tornei-me um adepto dessas tecnologias e só as coloquei em causa no dia que me tentaram impingir um spray para que o fio afundasse mais depressa.

A apicultura atravessa agora uma fase semelhante. 
Há muito que aguardo o surgimento de tábuas de voo antiderrapantes que refreiem a aterragem das abelhas de modo a reduzirem os riscos para o insecto e produtos por ele transportados. Mas já não deve faltar muito...

Já perdi a conta aos novos apicultores que se abeiraram de mim com listagens de equipamentos que lhe foram aconselhados/impingidos e onde uma boa parte, além de muito caros são completamente inúteis ou desnecessários. 

 Não quero com isto dizer que um secador de pólen seja inútil ou desnecessário, mas: 

- São muito caros, talvez dos equipamentos mais caros para a apicultura. 
- Consomem muita energia, também ela muito cara. 
- Desidratam e secam de tal forma o pólen que acabam por destruir boa parte dos elementos nutricionais mais interessantes. 

 Recordo-me de ouvir o Sr. Rosa Agostinho (Europrópolis) dizer mais que uma vez (ao comparar o pólen fresco ao seco artificialmente) que este último pouco mais era que “palha” em comparação com o primeiro. 

É certo que temos de desidratar o pólen para o armazenar. Caso contrário aumentamos os custos ao conservá-lo a baixas temperaturas, o que também não é isento de lhe afectar a qualidade, mas temos outras alternativas económicas e com resultados muito satisfatórios. 

Há cerca dois anos experimentei o melhor pólen que alguma vez me foi dado a provar e nem sequer teria a melhor origem floral, segundo me disse o produtor, o meu amigo Paulo Ventura.

Tinha no entanto uma diferença fundamental em termos de processamento, relativamente ao pólen corrente: tinha sido desidratado ao ar livre e sem recurso a fontes de calor artificiais. Recordo-me que o dito pólen era bem mais doce quando comparado com o gosto algo farinado que caracteriza o pólen corrente. Tal como a própria textura era muito mais macia e suave relativamente ao granuloso duro a que estamos habituados. 
Cheguei a por em causa a conservação de tal pólen (que me pareceu algo húmido) quando o Paulo me asseverou que guardava essa amostra há cerca de dois anos. 

Ocorreu-me que continuamos a gastar imenso dinheiro com preciosismos caros, quando o nosso país tem características climáticas completamente gratuitas, que nos permitem realizar determinadas acções de forma a sermos altamente competitivos em termos de qualidade/preço e não as aproveitamos. 

Continuamos a importar toneladas de pólen espanhol, produzido em Portugal, muito caro e sem lhe aproveitarmos as mais-valias que tanto jeito nos davam. E o argumento que habitualmente acompanha tal facto prende-se sobretudo com o investimento necessário à adaptação das nossas explorações apícolas para este produto. 

Resolvi fazer essa experiência, a secagem natural de pólen, não ao ar livre mas no interior de uma casa arejada, um sótão. Optei por não sujeitar tal produto ao Sol directo, uma vez que o pólen tal como a maioria das substâncias naturais para fins alimentares são fotossensíveis. 

Para o efeito construi dois tabuleiros em madeira com cerca de 90 x 40 x 8 cm, utilizando rede mosquiteira para o fundo. Cada tabuleiro custou-me menos de 10,00€.

Esses tabuleiros são então colocados numa estrutura metálica, concebida também para o efeito, que permite ainda a utilização de um terceiro tabuleiro (este em inox e que já possuía) na parte de baixo, para aparar os resíduos de polén, nomeadamente os grãos muito pequenos que serão destinados mais tarde para a alimentação das abelhas. 


As primeiras colheitas que fiz, durante o mês de Abril, foram colocadas nos tabuleiros de rede mosquiteira onde se retiraram os lixos e detritos que habitualmente acompanham esta produção: abelhas mortas, asas e patas de abelhas, opérculos dos alvéolos de criação e algumas larvas com ascosferiose.

Pólen de refugo, para alimentação das abelhas

Após a primeira semana de secagem, verifiquei que o pólen apesar de mais seco ainda não estaria suficientemente desidratado que permitisse o seu armazenamento sem risco de fermentar. Após a segunda semana, muito chuvosa e com a atmosfera saturada de humidade, a secagem do pólen regrediu bastante e cheguei a recear que este se estragasse nos tabuleiros. 
Retirei tudo e resolvi armazena-lo no congelador. Foi já durante os meses de Junho/Julho, com temperaturas superiores a 30ºC, que voltei a colocar o pólen nos tabuleiros. Abri as janelas do sótão e ao fim de 30 horas estava suficientemente desidratado pronto a ser ensacado. 

Para saber do grau de humidade, que deve rondar os 6 a 7%, pressionei os grãos de pólen entre o polegar e o indicador, como os grãos não se desagregavam tinham atingido o ponto correcto para serem armazenados. Curiosamente, tinham-me oferecido um higrómetro, da marca SAMAP, para aferir o grau de humidade de uma forma mais acertada e científica, mas a minha “aversão” às tecnologias não me permitiram decifrar o modo de funcionamento a tempo e este ano ficou assim mesmo. 

De qualquer forma, esta modalidade de desidratação valeu bem a pena, o pólen fica com uma textura e um sabor francamente superior à maioria dos pólens que se encontram no mercado, beneficiando de uma longevidade igual e com custos de processamento muito reduzidos.
Argumentos como a ineficácia deste método para grandes produções não fazem muito sentido, visto que cerca de 20 kg de pólen (em dois tabuleiros de 10,00€) não chegaram a dois dias de secagem, ficando os dois tabuleiros libertos para receber nova produção.

Estamos em crise (estamos sempre), a somar à especulação dos preços que já se verifica nos equipamentos/materiais apícolas, motivada pelo grande acréscimo de novas explorações, tornam este género de iniciativas numa boa alternativa económica para o sector.

03 setembro, 2013

Filatelia Apícola em Portugal - Açores


Conforme já esperávamos vai ser lançada em breve a edição de selos referentes à apicultura numa das mais bonitas regiões de Portugal: os Açores.
As imagens foram enviadas pelo nosso amigo Hélder Lucas, apicultor e grande aficionado da filatelia, recordo que uma das pessoas que mais força fez para que a nossa apicultura fosse homenageada nas edições filatélicas dos CTT.
Obrigado ao Hélder Lucas e um forte abraço aos apicultores açorianos.