31 março, 2009

MelToon - 32

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Beesiness - Novidades

Vendem-se colónias de Abelhas: Ver Beesiness (Pag. inicial)

30 março, 2009

Dois conselhos para vender mel...

O último apicultor que tive na família, terá sido sensivelmente há 200 anos.
No fim do Verão de 1998 fiz a minha primeira cresta, dentro de um alguidar. Fiquei pacientemente a ver escorrer o mel de nove quadros de uma alça (corpo igual ao ninho). Creio que enchi oito ou nove frascos da “Tofina” com a minha primeira produção.
Entre a minha casa, família e alguns amigos, terei despachado seis ou sete. Vendi os dois que sobraram... Vendi toda a produção numa assentada: 2.000$00! Ainda pensei numa offshore qualquer, mas acho que investi tudo em luvas novas.
No segundo ano, já ultrapassei a mítica barreira dos 100kg, ainda pensei que por minha causa iria haver uma baixa nos preços.
Consegui vender uns 50 ou 60kg, às tias, vizinhas, amigos e outro pessoal conhecido. Fiquei à espera que os clientes anónimos me batessem à porta e comprassem o resto. Mas ninguém veio...
De facto, os meus pais não foram nem são apicultores, nem os meus avós, bisavós, etc, ninguém me associava a um produtor de tal substância. Nem sequer conheceram o meu primo Martinho que terá vivido em mil oitocentos e pouco, a minha última referência apícola...
Ao terceiro ano as pessoas, além de mim, passaram a palavra, contaram uns aos outros que eu vendia mel. Ainda assim, as vendas eram difíceis, os clientes de mel são muito fiéis ao produtor. Até às embalagens, os frascos da “Tofina” eram reciclados até à exaustão.

Surge então a oportunidade de ouro: um mau ano de mel!
Os apicultores locais, com pequenos efectivos, uma vez esgotados os stocks insuficientes para toda a clientela, nada fazem para satisfazer a restante. “Mel? Só para o ano, a estação foi má e já o vendi todo...” Muitas vezes ouvi esta conversa. Face a este panorama, os clientes faziam o circuito dos apicultores para ver se abasteciam antes do tempo das gripes.
Foi assim que consegui os primeiros clientes além – família, pois eu tinha mel. Quando acabei as reservas comprei mais a um grande produtor, mas nunca disse que não a um cliente. Sempre pensei que no ano seguinte a maioria voltasse ao antigo produtor, mas foram poucos os que o fizeram.
A justificação é simples, boa parte da clientela são pessoas que vivem em Lisboa, noutros centros urbanos ou emigrantes. Quando vêm passar o fim de semana ou as férias à terra, todo o tempo é pouco para estarem com a família ou os amigos. Convém que o período dedicado à compra de “mimos” como o mel, queijos, vinhos, enchidos, etc, lhes tome o mínimo tempo possível, e acreditem que uns míseros dez minutos já pesam na decisão. Desta feita preferem ir a um local onde têm a certeza que compram do que arriscarem no fornecedor habitual.

É extremamente importante a existência de um stock permanente de mel. Se não houver produção compra-se a um apicultor de confiança, com mel de características semelhantes, e informa-se a clientela. Mesmo que o lucro seja reduzido, é de todo mais importante que perder um cliente.
Pessoalmente, desanimo bastante quando vou comprar seja o que for e não o consigo por ruptura de stocks. Dá muito má imagem de quem vende.

Lembro-me de ter ainda quinze ou dezasseis anos e ter ido comprar mel lá para casa. Tinha a perfeita noção que à data em que o fui comprar já não devia haver, quase nunca havia e era sempre racionado. Chegado a casa do apicultor deparei-me com cerca de 20 frascos, foi um espanto, nunca tinha visto tanto mel junto. À pergunta se podia levar mais que um, respondeu-me que levasse os que quisesse, estavam lá era para vender...

O segundo conselho refere-se ao criar hábitos de consumo nos possíveis futuros clientes.
Durante uma formação de apicultura, no intervalo, fomos tomar café a um bar ali próximo. Um dos formandos lembrou-se de pedir mel para adoçar a bica. A resposta já era esperada: não havia, e o argumento enferrujado: “não há porque ninguém pede, por isso não tenho!”. Ninguém o pedia porque ele não estava lá, ninguém o via... e ficamos sem saber se o ovo ou a galinha...
Se houvesse um frasco de mel sobre o balcão decerto alguém quereria experimentar, a ASAE por exemplo... (esta saiu sem querer).
Resolvemos montar uma experiência, no dia seguinte fomos a um novo bar, o último já sabia da “coisa” e o resultado era viciado. Durante uns dias, cada formando, à vez, pediria para adoçar o café com mel. Finalmente, o dono do café, sabendo-nos apicultores pediu ao grupo se alguém lhe podia vender tal produto.
Não acompanhamos o desenvolvimento da experiência, mas seria interessante saber se a “ocasião teria feito um novo ladrão”...

24 março, 2009

Caixa para colocar alvéolos reais na incubadora

Trata-se de uma caixa de madeira com um número variável de divisões, onde se podem colocar os alvéolos reais saídos da colmeia criadora para colocar na incubadora. Desta feita, as rainhas nascem num ambiente controlado e sem possibilidade de causarem danos umas às outras.
O equipamento é mais indicado para quem use o cupularve, uma vez que as rainhas são geradas a partir de ovos da mesma idade, o que sincroniza os nascimentos quase para a mesma hora.

A caixa tem as paredes laterais e o fundo salientes, e com uma ranhura para encaixar o vidro de monitorização do interior:

Na parte parte superior encontram-se os orifícios onde vão encaixar as cúpulas com os alvéolos reais. A parte de trás é tapada com rede para circulação do ar.

É uma “engenhoca” fácil de construir, e para quem use a incubadora para criar as rainhas poderá ser um utensílio de grande aplicação.

Em vez de um bloco com várias divisões pode optar-se por caixinhas individuais, com o mesmo efeito:

23 março, 2009

A “Caixinha” da Cresta...

“A Apicultura é uma Actividade Lucrativa”


A frase publicitária da empresa Alberto da Silva Duarte & Filhos Lda.
Desde a primeira vez que a li, a achei enigmática. Nesse regresso de Coimbra vim a matutar nela até Abrantes. São quase 150 km...
Pensei no primeiro, no segundo e até no terceiro sentido, à espera de “gato escondido com o rabo de fora” e... nada.
A mensagem era, e é claríssima, a apicultura pode ser de facto uma actividade muito lucrativa. Infelizmente não o terá sido para a dita empresa que a ostentava na publicidade. Soube que a Alberto da Silva Duarte & Filhos Lda. aparentemente já encerrou.
Nunca fui um grande cliente, não eram o tipo de materiais com que trabalho, mas estive lá algumas vezes, mostraram-me as instalações e confesso que me senti muito bem. Era um local agradável. Entretanto até chegaram outros apicultores, e com eles chegaram as conversas sobre a apicultura, o mel e as abelhas. Mais que um espaço comercial era também um lugar de convívio, troca de experiências, e porque não de aprendizagem?
A Alberto da Silva Duarte & Filhos Lda., agora é mais um número estatístico, mais uma das centenas, desculpem, milhares de empresas que já fecharam recentemente no nosso país. Mas esta toca-nos em especial, trabalhava connosco, fazia parte do “nosso” mundo...

Mas a apicultura continua e continuará a ser uma actividade lucrativa, não digo a apicultura do mel, do pólen e das ferroadas, mas a outra mais comercial. A que se aproveita dos incautos e lhes vende toda a espécie de bugigangas, sejam úteis ou não.

A semana passada fui visitar um apicultor, jovem e recém apicultor, estivemos no apiário, na melaria e no armazém, onde nos detivemos à conversa.
Às tantas, orgulhoso, mostrou-me a sua última aquisição: quatro caixas para transportar os quadros na cresta... Feitas em platex reforçado com barras de madeira interiores, onde encaixavam os cerca de doze ou catorze quadros carregados de mel. Tinham uma tampa do mesmo material e duas pegas para transporte. Já me esquecia, também servem para transportar os quadros vazios no regresso ao apiário, uma vez extraído o mel...


Perguntei-lhe o preço (identificado o problema gosto sempre de saber a sua extensão), cerca de 21 ou 22,00 €, quase o preço de uma colmeia completa. Disse-lhe que na pior das hipóteses uma alça era bem mais barata, e curiosamente os quadros também cabiam lá dentro. Isto para não falar da alça de onde saíram os quadros, que ficou vazia e inútil sobre o ninho, até ao regresso daqueles.


Ainda argumentou que as alças não tinham tampa nem fundo...

Havia outro apicultor que crestava para dentro de caixas das bananas. Para quem ande arredado do mel e das bananas, as caixas desta fruta parecem ter sido estratégicamente concebidas para receberem cerca de 20 quadros Reversíveis ou Lusitanos. Só me falta saber se os Langstrooth encaixarão no comprimento...
Este é outro dos grandes mitos da apicultura. Porque razão há apicultores que deixam as alças sobre o ninho após a cresta e transportam os quadros em caixas recicladas ou concebidas para o efeito?

Porque já vi coisas piores, bem piores até.
Há um amigo meu cuja cresta parece um funeral, com caixão e tudo. Tem um jipe comprido, para ajudar à festa, e na parte de trás coloca aquele caixão imenso revestido por dentro a chapa metálica.
Carrega os quadros de três ou quatro alças de uma vez e são necessárias duas pessoas para o transportar... por enquanto ainda dispensa o padre, mas não sei até quando.

Arrisco-me a contar a maior “treta” do mundo, mas eu quando vou crestar levo uma ou duas alças sem quadros e cada uma que fica vazia recebe os quadros da próxima. A opção pela segunda alça vazia a levar para o apiário, justifica-se quando há criação nas alças. Caso isto se verifique em mais que uma colónia junto os quadros com criação de várias colmeias na mesma alça.

20 março, 2009

Apontamentos: Diário de um Apicultor Transumante

30 dias antes:
Ainda estamos em plena floração de Primavera, mas convém desde já começar a prospectar os locais de transumância para o Verão.
As florações que mais interessam nesta região são o Girassol, a Melada de Azinho e o Cardo. Podemos arranjar locais fixos para as últimas duas, mas a primeira, uma cultura anual, nem sempre a encontramos no mesmo local.

Costumo falar com agricultores conhecidos, ou dar umas voltas de carro pelos locais de regadio, para ver se já há girassol nascido. Nos últimos anos não tem havido muita escolha, esta cultura foi quase abandonada, se bem que pareça querer recuperar.
De qualquer forma, quando encontro um desses locais começo por pedir autorização ao proprietário para colocar lá as colmeias. Alguns até agradecem, mas há outros que colocam uma série de condições, parece que estão a fazer um favor gigantesco. De facto até estão, mas sem qualquer custo beneficiam bastante mais.
Feitas estas diligências costumo ir ao local verificar:
- Os acessos
- Um local com muita sombra para as colmeias

- A proximidade de água (limpa)
- Existência de outros apiários próximos
- Existência de outras culturas de regadio sujeitas a muitos tratamentos químicos
- Proximidade de Azinheiras ou zonas com Cardo
- Confirmar o perímetro de acção do pivot, as colmeias dispensam a rega...

- Já que é só pedir... o ideal seria mesmo encontrar um sítio central onde houvessem várias folhas de Girassol e em diversas fases de desenvolvimento, o que faria com se prolongasse a floração no tempo.

Este último aspecto tem consequências curiosas: antigamente o Girassol era de ciclo longo, a floração durava quase um mês. Desta feita, o encabeçamento aconselhado apontava para uma colmeia para dois hectares. Com a descoberta de novas cultivares, mais rápidas, a floração quase não chega aos quinze dias, pelo que chego a fazer encabeçamentos de duas colmeias/hectare com bons resultados. Até porque uma vez instaladas pode-se estimar a densidade de abelhas, contando o número destas em cada flor.
Não sei muito sobre esse aspecto, o ano passado, os espanhóis, numa polinização paga, queriam cerca de 10 abelhas em cada 100 flores de Girassol (num encabeçamento exigido, de três colmeias/hectare). Já houve um ano, quase sem Girassol em que cheguei a contar 3, 4 e até 6 abelhas/flor...

Todas estas circunstâncias acabam por influenciar a localização do apiário transumante ou até por inviabilizar esta decisão.
Se encontrar um bom local costumo limpá-lo de matos e pastos, junto às áreas de regadio também há incêndios, e o uso do fumigador dá uma grande ajuda...

Curiosamente, uma das observações que me é mais difícil é a previsão da deslocação da sombra das árvores, para que as colmeias apanhem o mínimo de Sol directo. Há quem tenha imensa prática, mas eu acabo por me deslocar ao local a uma série de horas diferentes. Por vezes até procuro um grupo de árvores juntas, uma espécie de telheiro natural.

Uma semana antes:
Normalmente nos primeiros dias de Junho, é feita a cresta, onde aproveito para avaliar as colónias em termos de população.
Nesta fase há que tomar uma série de decisões, pouco lineares, e por vezes até pouco correctas. Vamos começar pela menos pacífica, a questão da sanidade apícola.
Após uma Primavera muito produtiva, com muitos ciclos de criação nas colmeias, é natural que a população de ácaros de Varroa se encontre também desenvolvida. Para o saber, nada como efectuar o “Teste da Varroose”, o que por vezes nem é necessário, ou seja, quando se encontram muitos ácaros sobre as abelhas e ou abelhas jovens com as asas atrofiadas no exterior e sobre os quadros.
De qualquer forma, é arriscado prolongar o período de actividade (e sem tratamento) por mais três ou quatro meses:
- A aplicação de medicamentos quando há alças sobre o ninho é impensável, uma opção que nem sequer considero.
- A não colocação de alças sobre as colmeias, para fazer um tratamento correcto, também é arriscado, pois a colecta de néctares é imediata no local de destino.
- O adiamento da transumância, mantendo as colmeias no local de Primavera, ainda é pior, pois a falta de estímulos externos levam `inibição da postura e à redução da população. De modo que depois precisariam de demasiado tempo para atingirem os níveis necessários à produção.
Só me resta uma alternativa, mas contrariando o meu despudor em “dizer o que me vai na alma”, não me sinto à vontade em “escrever” como resolvo o problema. De uma forma correcta, creio, mas que pode dar azo a más interpretações. Se a curiosidade for muita... telemóvel ou E. mail...
Certo é que a população de Varroas acaba muito diminuída, sem riscos para as abelhas e menos ainda para o mel.

Cinco dias antes (pelo menos):
Preencher e entregar o Modelo da DGV para deslocação de apiários, poderá fazê-lo na sua associação de apicultores ou na Zona Agrária. Original para a DGV, duplicado para o apicultor e triplicado para a entidade receptora...

Um dia antes:
Passagem pelo apiário original para retirar todas as tábuas de voo, só atrapalham durante o transporte.
Tempo também para outra decisão, esta mais pacífica, a colocação ou não de alças vazias antes do transporte. Pessoalmente nunca o fiz, mas há quem defenda que é uma óptima estratégia para evitar perdas no excesso de abelhas que mal cabem no ninho após a cresta, e também morrem menos na viagem. Uma opção válida e a considerar.
A revisão ao veículo a utilizar para o transporte. Um dos aspectos fundamentais para esta actividade. Já fiz transumância de colmeias num percurso em que atravessava sete povoações. A ocorrência de imprevistos dentro de uma localidade: avaria, pneu roto, carro imobilizado, falta de combustível, nunca me sucederam e nem quero pensar nas consequências...
Quem quiser perder tempo, ou ficar mal disposto, ainda pode aproveitar para ir a uma agência de seguros e pedir um seguro contra terceiros... A única vez que tentei a gracinha, só me faziam um contra incêndios, mas tinha de limpar os matos um km em volta do apiário. Ainda estive para perguntar se essa apólice dava direito a um serviço de catering para o caso das abelhas terem fome...

Mais coisas de última hora:
Contactar o proprietário ou o guarda da propriedade, avisando-os que nessa noite vamos circular no local, não nos vão confundir com caçadores furtivos.
- Verificar o estado das cintas para aperto da carga.
- Providenciar uma lanterna.
- Não esquecer as esponjas, ou réguas reguladoras de entrada que impeçam a saída de abelhas.

- Garantir um ou dois ajudantes, a apicultura em geral e a transumância em particular são muito perigosas quando praticadas por uma única pessoa.
- O telemóvel, já evitou que eu passasse uma noite com a carrinha imóvel e com as rodas da frente quase sobre um precipício. A existência de um amigo com um pronto-socorro, que seja apicultor e com paciência para um frete destes às três da manhã são muita coincidência. Mas eu tenho um, segue um grande abraço para o Sr. Calado de Alpalhão...

Dia “D”, ou Hora “H”...
Nesta data, é suposto o Girassol ter aproximadamente 50 cm de altura. É a fase ideal para a colocação das colmeias. O néctar extra floral disponibilizado pela planta antes da floração, servirá como estímulo à postura da rainha e consequente dimensionamento da colónia para a fase de produção. Dá a sensação que é a própria planta (Girassol) que cuida das abelhas, preparando-as em quantidade para a sua própria polinização.
Quando fazer o transporte? À noite ou de madrugada?
Os “defensores” da madrugada só argumentam com as temperaturas mais baixas...
O meu carro não tem ar condicionado, ainda assim prefiro ir ao cair da noite. Se alguma coisa correr mal, falta muito para o Sol nascer e tenho cerca de oito horas para resolver o problema.

Por falar em “problema”, já tenho o Luís à minha espera para a “estiva”. Uma jóia de rapaz, mas tem com cada ideia sobre a arte apícola...
Entre o “ahhhh, eu não preciso disso (polainitos)” e vê-lo dançar um “fandango” acompanhado com gritos de dor foi uma questão de minutos. O Luís enfrenta esta actividade com um estoicismo digno de registo.
Chegados ao apiário, devemos deixar o motor a trabalhar e os faróis desligados. A vibração do motor acaba por “acalmar” as abelhas evitando que saiam das colmeias, ou pelo menos em quantidade.
O “sexo dos anjos”: quadros paralelos ao deslocamento do veículo ou transversais? O manual de condução do João Catatau é omisso, ainda assim prefiro a opção “paralelos”, sou dos que creio que há mais oscilações frente-atrás do que laterais...

Nunca sobreponho três fiadas de colmeias, o peso e as temperaturas altas poderão causar estragos em mim e nas abelhas, respectivamente.
Terminada a carga, há que imobilizá-la com cintas de aperto compradas para o efeito. Muita atenção nesta etapa, um ressalto no caminho pode aliviar a pressão e soltar algum gancho, costumo fazer paragens frequentes para verificar a carga. Por outro lado só tenho colmeias Lusitanas e algumas Reversíveis, o que ajuda muito no acomodar da carrada.

Já no caminho do Girassol, o Luís iniciou um estranho relato acerca de uma peripécia das suas abelhas, que passo a contar:
Estava mesmo indignado, tinha acabado de chegar ao apiário quando se lhe deparou este estranho fenómeno. Abriu uma colmeia e num ápice todas as abelhas fugiram para outra caixa ali ao lado.
Todas Luís? “Todas, até a p... da rainha fugiu”.
Antes de lhe dizer que decerto se tratava de um caso de pilhagem a uma colmeia “morta”, ainda tentei “tirar uns nabos da púcara”, quando ele me disse: “... e depois, já dentro da outra caixa, mataram-se todas”. Creio eu que a p... da rainha também terá posto termo à vida, mas agora já não encontrei razões para o sucedido.
O que se terá passado Luís? Não demorou muito até sair um “Sei lá pá, acho que não gostaram do cheiro do mel da outra colmeia...” E se isto não é razão para um suicídio colectivo não sei que outras razões o justifiquem...
Íamos nesta “desconversa” quando sou convidado a encostar pela brigada da GNR. Boa noite Sr. Agente, se não se importar eu paro o carro mais à frente (onde não havia luzes) e venho aqui trazer-lhe os documentos.
Então porquê?” Perguntou ele intrigado. Foi quando fiz um gesto com o polegar para ele olhar para a carga da carrinha. “Mas pode seguir, pode seguir, deixe lá isso...”. O último “pode seguir” já me pareceu um “desaparece daqui depressa”, mas acatei o conselho e fomos andando. O Luís já tinha esquecido a p... da rainha suicida e ria a bandeiras despregadas.
Já perto do destino, acontece-me sempre o mesmo, por mais vezes que lá vá durante o dia, à noite a paisagem muda completamente. E a entrada para o apiário, essa nunca está no mesmo local, daí a importância da lanterna.
Encontrado o sítio, desligar os faróis mas nunca o motor, pelas mesmas razões apresentadas lá atrás. Confesso que preferia carregar 100 colmeias do que descarregar dez, fisicamente é muito mais penoso. Novo arraial de “dança” protagonizado pelo Luís que dispensou os polainitos...
A disposição das colmeias, nestas circunstâncias, não tem muito a ver com a instalação habitual de um apiário. A orientação e exposição das caixas deve ser feita em função da sombra disponível, entre outros factores apontados no início do escrito, sendo os pontos cardeais pouco importantes, até porque a estação e as temperaturas são outras.
Está feito, tudo no respectivo local, uma última revisão para ver se está tudo em ordem e... caminho de regresso.
Vá, voltem lá atrás e destapem as colmeias, retirem as esponjas ou as réguas reguladoras de entrada... já ouvi relatos demasiado dramáticos acerca destes esquecimentos.
Não conheço sensação como a do regresso de uma transumância, amanhã voltamos ao mesmo sítio para confirmar se está tudo bem, deixar uma ou duas alças, conforme a população de cada colmeia e deixá-las em paz nos próximos quinze dias.
Já perto de casa, o Luís apresentava-me um projecto de semear favas frente ao seu apiário no próximo Inverno. Mesmo entre as Estevas e Sargaços, a terra era a indicada, “vai ver, vai ver a produção que vão tirar da flor das favas...”
De facto não há sensação como a do regresso de uma transumância, graças ao cansaço a nossa paciência é de tal forma dessensibilizada que nos permite ouvir tudo...

19 março, 2009

MelToon - 31

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18 março, 2009

Mais muros apiários...

Mais alguns muros apiários, do distrito de Portalegre, cujas fotos foram retiradas de: "Contributo para o Estudo dos Muros Apiários do Parque Natural da Serra de S. Mamede", da autoria de Joana S. C. Rodrigues (2001-2002 PNSSM - ICN.
As diversas arquitecturas e materiais usados, dependem obviamente das características e relevo do terreno, tal como das tradições de cada local.

Os Comentários no Montedomel...

16 março, 2009

Desdobramentos, mais práticos que teóricos...


Já lá vão dois fins de semana de desdobramentos. Actividade extremamente cansativa, e não só fisicamente, pois além de se carregarem com as colmeias (vazias e cheias), a visualização de cada quadro e respectiva interpretação, a busca da rainha, a tomada de decisões e as “agulhadas” que se levam quando menos se espera... é muito....
Até agora pareceu-me ter corrido tudo bem, mas vamos aguardar pelos resultados.

Descrição sumária da actividade, com alguns pormenores que observei:

As primeiras decisões a tomar incidem sobre quais as colmeias que estão em condições de desdobrar. Não descurando de uma observação minuciosa de todo o apiário, tenho o hábito de observar o fluxo de abelhas à entrada de cada colmeia, tal como a quantidade delas que carregam pólen:


Daqui podemos tirar duas ilações muito importantes, a população da colónia e a quantidade de criação, assumindo que é proporcional ao fluxo de pólen que entra.
Se as condições agradarem, retira-se o tampo e a prancheta para nova avaliação da quantidade de população, observando duas coisas: o número de quadros ocupados e a quantidade de abelhas que “fervilham” à superfície:


Das imagens anteriores, obviamente que nunca desdobraria a primeira colónia (colmeia verde clara), a não ser em circunstâncias especiais, não só tem poucos quadros ocupados, como poucas abelhas. Quanto à colmeia azul, passou todos os “testes”, até agora, vamos ver se “se aguenta até ao fim”...

A partir de então é necessária uma inspecção mais cuidada a todos os quadros para avaliar a quantidade de criação e abelhas jovens, tal como as suas quantidades relativas (equilíbrio) e a distribuição em cada quadro. Para não falar nesse passo tão “solene” que é o de encontrar a rainha...
Conseguimos encontrar uma série delas, a maioria, e acreditem que com um óptimo aspecto e muita postura.


Ficam no entanto algumas dúvidas. Apesar da grande quantidade de criação disponível, não são raros os quadros com interrupções nos alvéolos. Refiro-me à característica criação em “pimenteiro”, mais visível onde já está operculada, ou como lhe chama o Eng.º Carlos Teixeira, comparação que acho muito curiosa: “criação em tiro de espingarda”.
Este facto pode ser observado na última imagem, onde assinalei as falhas com um “X”.
As causas podem ser muitas, até inocentes, mas deixam-nos sempre apreensivos quando à decisão de multiplicar ou não tais colónias:


Consanguinidade?
Doença?
Problemas com o alimento artificial/néctares naturais?
...
Vamos em frente, desdobra-se...

Mais aspectos a observar:

Após encontrarmos a rainha, e a “isolarmos” numa das novas caixas, procuramos os “quadros ideais” para a segunda colmeia (a que fica sem rainha):


O quadro da imagem anterior parece ter excelentes condições para a criação de uma nova rainha. Uma zona central com ovos e larvas de um ou dois dias e em volta muita criação operculada prestes a nascer, originando amas para alimentar a nova “princesa”. O ideal seria a presença de dois ou três alvéolos reais (já operculados) neste mesmo quadro, mas quem não os tem, caça com ovos...
De um lado e doutro do referido quadro, colocar mais dois com pólen e criação operculada prestes a emergir.


A disponibilidade de pólen (pão de abelha) é determinante nos desdobramentos.
Para as extremidades, convém igualmente providenciar mais dois quadros com mel e pólen, não nos livrando com isto à alimentação artificial estimulante, que trará mais celeridade e “confiança” ao processo...

Finalmente, é tempo de mobilizar abelhas para as novas colónias:

Abelhas jovens, amas ou nodrizas, como lhes chamam os espanhóis. São determinantes na confecção e distribuição do alimento (geleia real) às larvas de rainha, tal como às rainhas que emergirem:


Encontram-se muito facilmente nos quadros com criação aberta (larvas por opercular), uma vez que é aí que são mais necessárias. Poderíamos facilitar o nosso trabalho adicionando um quadro destes ao desdobramento, carregado com as ditas amas, no entanto corremos o risco de se fazer uma nova rainha com larvas demasiado velhas (DESDOBRAMENTOS DE COLMEIAS: OS CASOS BICUDOS 12/02/2009).
Para evitar tal situação, recorre-se a um velho truque: Coloca-se o quadro sobre a colmeia original (de onde o retiramos) e dá-se uma pancada seca (com a mão no topo do quadro), as abelhas mais velhas vão cair. De seguida coloca-se o quadro sobre a nova colmeia e “batem-se” então as amas.


Na imagem anterior podem ver-se duas abelhas, com pouco pudor... 'tou a brincar, a trocarem alimentos (trofalaxia).


Nesta imagem encontramos uma série de alvéolos numerados, que correspondem a:
1.Larva prestes a ser operculada.
2.Larva já com inícios do opérculo no alvéolo.
3.Larva já operculada.
4.Larva escurecida, morta, com sintomas de alguma doença: provavelmente uma micose.
Há que ter muita atenção a estes sinais, a existência de anomalias sanitárias, mesmo que incipientes, poderão comprometer todo o trabalho.

Ainda faltam os zangãos, que apesar de os rotularmos sempre como “desnecessários”, são de importância fundamental nos desdobramentos, nomeadamente para acasalarem com a nova rainha.
Não me refiro a mobilizá-los em quantidade para a nova colónia, até porque convém que eles já existam em quantidade à data desta tarefa.
Para maiores certezas poderíamos ter colocado quadros com “alvéolos de zangão” sensivelmente um mês antes. Como não o fizemos, só devemos desdobrar com garantias de os haver disponíveis para a sua função.


Na imagem anterior, é notória a divisão (até porque a assinalei a amarelo), entre os alvéolos com larvas de zangão (cúpulas mais altas – parte de baixo da imagem) e os de obreira (alvéolos mais baixos – parte de cima da imagem).

Finalmente, já com o desdobramento feito, tudo dividido, ainda nos sobram um ou dois kg de abelhas dentro da caixa original, que eu costumo despejar para dentro de uma ou das duas colmeias resultantes. Há quem quem bata a caixa à entrada e as abelhas que escolham a nova casa, mas assim é mais rápido.
Nesta fase convém observar cada uma das caixas, não vá alguma ficar com demasiada população em detrimento da outra, e se a que não tem rainha ficar muito despovoada pode ser comprometedor. Se tal acontecer pode optar-se por trocar a posição das colmeias para que se equilibrem com as abelhas que andam no campo.

12 março, 2009

Nucléolo de Fecundação para quadro de alça

Quando escrevi acerca dos mini-nucléolos de fecundação levantei a hipótese de poderem ser adaptados para quadros normalizados.

Tal prática seria desejável, na medida em que o material poderia ser sempre reutilizado fora da época de produção de rainhas. Por outro lado seria mais fácil a mobilização do favo, abelhas adultas e criação para receber a rainha ou o alvéolo real.

Enquanto dava uma “volta” pelos álbuns de fotografias digitais “desencantei” a imagem que está publicada acima, onde se pode ver o dito nucléolo já construído. Não devo ter sido eu a fazer a fotografia, no entanto já a vi umas dúzias de vezes, mas “processava-a” sempre como um quadro alimentador, pelas aparências...
Como é óbvio, a obra de arte é made in Vicente Furtado – Lagos – Algarve, não posso por enquanto confirmar se ele já a experimentou/testou e quais os resultados.

A construção parece simples, para quem domina a carpintaria, o nucléolo lembra um quadro alimentador, cujo reservatório do alimento se encontra por cima.
O acesso das abelhas (ao alimento) é feito por uma porta que pode ser fechada com a ajuda de uma esponja. A tampa superior, em acrílico, é facilmente removida para adicionar mais alimento, tem também um orifício com rolha, para introdução das rainhas e cujo acesso é comum ao do alimentador.

Mais uma vez as paredes de vidro, para uma monitorização mais fácil do interior, vidros que encaixam na madeira e presos por molas rotativas.
Os quadros têm um encaixe próprio no interior do nucléolo e ainda são fixos por um par de grampos de cada lado, colocados pelo exterior. Ficam no entanto algumas reservas à mobilidade do quadro no caso de abelhas muito propolizadoras.
Na base do nucléolo encontra-se o habitual respirador em rede. Não devemos também esquecer que as câmaras do alimentador devem ser impermeabilizadas com cera ou parafina, no caso de alimentos mais líquidos.

Importante:
O nucléolo a que me reporto neste escrito ainda estava em construção e não lhe vi a porta ou orifício de saída. Desta feita resolvi “inventar-lhe” tal apetrecho, numa parede lateral, à semelhança dos nucléolos originais...
Não faria qualquer sentido se a entrada/saída de abelhas se fizesse pelo orifício da tampa de acrílico (em cima), porta que creio, serve apenas para introduzir a rainha.
Finalmente, este módulo deverá ser colocado numa caixa (para dois) também à semelhança dos outros módulos, cada um com uma saída para lados opostos. A caixa deverá ser construída de modo a que este equipamento caiba lá dentro com alguma folga.

Fica o pedido do costume:
Na altura em que a fotografia foi feita, não medi a caixa.
Caso alguém se prontifique a construi-la, para quadros de alça Lusitana/Reversível, Langstrooth, ou outro modelo, que me envie as dimensões para que as possa publicar e todos beneficiem com isso...