27 junho, 2012

Produção de Hidromel, um produto apícola…

Se há momentos de magia na apicultura, alguns deles acontecem quando o apicultor se encontra na intimidade da oficina, rodeado de colmeias, alças empilhadas, formões embotados, alicates sem mola e toda uma parafernália de utensílios que só ele sabe para que serve, quando sabe…
                  
É nestes momentos que a capacidade criativa dos apicultores lançando mão aos materiais e equipamentos que o rodeiam, não esquecendo evidentemente as matérias primas, resultam nos mais curiosos inventos, técnicas e receitas que nem sempre chegam a conhecer a luz do dia.

Recordo o episódio em que um apicultor, finda a lavagem da tina de desoperculação, obteve um depósito de água açucarada, ou antes: “melada”, que armazenou para mais tarde o dar às abelhas. Perdeu-se o depósito nos meandros da tralha apícola e meses mais tarde quando o abriu, deparou-se-lhe um licor que rivalizava com os melhores néctares desse género. Claro que tudo foi obra do acaso, não se registaram as proporções, temperaturas, tempos e demais variáveis e assim se perdeu a informação que tanto poderia beneficiar a produção de licores de mel.

Mas desta vez não foi assim.
O amigo António Hermenegildo, resolveu acompanhar e controlar todas as etapas e condições que o levaram a começar com mel e abacaxis terminando com hidromel, numa crónica que partilhou connosco e que carinhosamente apelidou de A SAGA DOS ABACAXIS


A SAGA DOS ABACAXIS

(Parte I – 04 de Novembro de 2011)

Embora quase todos os apicultores se dediquem à produção de mel, tanto quanto sei, raramente se dispõem a destinar, mesmo que apenas uma pequena porção, à fermentação deste produto para a produção de hidromel.

Sendo o nosso país de grande tradição vitivinícola, parece um absurdo que assim seja, uma vez que grande parte dos apicultores estarão certamente familiarizados com a vinificação.
Talvez esta situação tenha origem em duas causas. Por um lado a tradição da produção de vinho está de tal forma enraizada, que dificilmente se aceita outra origem para um produto similar e por outro lado, a confusão existente na bibliografia sobre o fabrico do hidromel e os percalços e inconvenientes que se sugerem no seu processo, desmotivam rapidamente os mais audazes.

A maior parte do que se lê sobre o hidromel vem de países do centro e Norte da Europa, precisamente aqueles onde, por estarem climaticamente pouco adaptados à cultura da vinha, a produção de hidromel quase sempre a nível artesanal, foi persistindo. Somos levados a pensar que no Sul, a introdução da vinha pelos romanos, relegou para segundo plano a fermentação do mel, acabando esta por cair em desuso.

Este pequeno ensaio tem por objectivo encontrar um método acessível a todos, de resultados fiáveis e facilmente reprodutível, pelo que se procurou uma padronização de todos os passos, tendo perfeitamente presente, logo à partida, que um dos elementos chave do método não está padronizado – o tipo de fermento – que apenas o estaria se fossem usadas culturas de leveduras seleccionadas para o efeito.

Embora estas se encontrem com facilidade em alguns países, como nos EUA, entre nós isso não acontece. Mesmo as leveduras usadas em vinicultura dificilmente se encontrarão no mercado nas pequenas quantidades usadas na produção caseira.
E mesmo que fosse fácil, qual delas usar? Qual seria o resultado de vinificar um Borgonha com fermentos seleccionados de uvas do Cartaxo? E há no Cartaxo excelentes vinhos.

Já o abacaxi, rico em enzimas, se encontra facilmente por todo o lado, de Moledo a Vila Real de Santo António.
Fácil de obter, de utilizar e com bons resultados já obtidos por um nosso confrade. Foi assim que o escolhemos, como fermento activo para desdobrar os açúcares contidos no mel.

(fim da Parte I)