29 julho, 2009

Favos de Colmeia e de Cortiço

Em resposta ao pedido que fiz em 18/07/2009, sobre o envio de imagens/textos/assuntos interessantes sobre a apicultura de cada lugar, recebi as seguintes fotografias do amigo António Fernandes:

Quadro de Criação, Local: Espinho

Um excelente quadro de criação, não há mais espaço para reservas de mel ou pólen, decerto se trata de rainhas e ceras novas.
É curiosa a forma como a rainha evitou a linha de alvéolos onde se encontram os arames do quadro. É uma situação muito comum. Este ano observei algumas situações semelhantes (em quadros de mel), onde as abelhas não usaram tais alvéolos e mais tarde talvez por falta de espaço, preencheram essas “linhas” com um néctar mais escuro, ficando os quadros com um aspecto “riscado”.

A segunda imagem, quando a vi pela primeira vez pensei: e ainda dizem que as abelhas constroem os favos segundo um determinado ângulo com o Norte Magnético! Estas construíram-no em várias direcções, à revelia das regras naturais.
Só depois o António Fernandes me disse que o cortiço onde tirou a fotografia estava numa determinada posição, tendo sido posteriormente deslocado...

Favos de Cortiço, Local: Arouca

É um assunto em que penso muitas vezes. Quando se instala um apiário de cortiços, independentemente da orientação, as abelhas constroem os favos como querem. Mas quando se trata de colmeias móveis, os quadros e a cera já condicionam a orientação dos favos...

Mesmo que cumpramos todas as regras da correcta instalação de um apiário, este facto não causará distúrbios nas produções / sanidade / comportamento da colmeia ? por muito subtis que sejam...
(VER: UMA EXPERIÊNCIA APÍCOLA MUITO CURIOSA - 16/02/2009)

28 julho, 2009

Monte do Mel na Roménia

Hoje encontrei este blog, da Roménia, onde faziam referências ao montedomel e ao vídeo do António Sérgio sobre as melarias.
Parece ter notícias interessantes sobre apicultura, o pior é mesmo a língua, mas com os tradutores digitais fica tudo mais fácil.
Eu gostei principalmente da imagem sobre as "abelhas rainhas" romenas, é pena nós por cá não termos...

Se quiserem visitar vão a http://drone69.blogspot.com
... obviamente que me refiro ao blog,

27 julho, 2009

Colmeias Diferentes - 11

Colmeia de palha entrançada, oriunda da Suécia e pertença do Sr. Vicente Furtado.
É a colmeia típica e muito iconográfica do Norte da Europa...

24 julho, 2009

Vespa crabro, cuidado mas não tanto ...

Há um ditado antigo acerca desta vespa que diz que: “Sete picadas matam um cavalo, três um adulto e duas uma criança”.
Esta crença fez com que em muitas regiões da Europa Central a Vespa crabro fosse perseguida e quase levada à extinção.
No entanto, e segundo estudos efectuados, a vespa é extremamente tímida e só se torna agressiva nas imediações do ninho (num raio de 2 a 3m), onde defende a rainha e o resto da colónia, à semelhança das abelhas.
Quanto à toxicidade do veneno, parece que os apicultores “vivem a paredes meias” com insectos bem mais perigosos que a Vespa crabro: a Apis mellifera, cujo veneno é 1,7 a 15 vezes mais eficaz que o da vespa. Não devemos esquecer que o sistema de defesa da nossa abelha visa sobretudo o ataque a mamíferos, os seus principais “pilhadores”, enquanto que as vespas “desenvolveram” um veneno para neutralizar as suas presas, ou seja, outros insectos.
Em resumo, a picada desta vespa poderá levar à sintomatologia da picada da abelha, incluindo as situações extremas como o choque anafilático e a morte em caso de hipersensibilidade.

Pensa-se que a antiga crença acerca da toxicidade do seu veneno venha já de tempos Bíblicos, onde uma vespa semelhante a esta, a (Vespa orientalis) em tempos de guerra eram colocadas em potes de barro e lançadas por catapultas sobre as linhas inimigas provocando o pânico.
A maioria das populações dos Vespões expandiram-se inicialmente no Leste da Ásia, sendo habitantes típicos das zonas Subtropicais. Dos 23 tipos de Vespões conhecidos mundialmente, só a nossa Vespa crabro e a Vespa orientalis avançaram até às zonas do Norte e Oeste da Eurasia. Em 1840 foi introduzida artificialmente nos EUA e Canadá.
Actualmente existem cerca de dez variedades geográficas ou raças de V. crabro espalhadas por todo o mundo.

Durante o mês de maio, as fêmeas nascidas e fertilizadas no Outono anterior (rainhas), acordam da hibernação e começam à procura de um local para iniciar a nova colónia, pois passaram o Inverno escondidas em buracos nas árvores ou no solo.
Normalmente, o ninho é construído no tronco oco de uma árvore, em casas, ninhos de madeira para aves e em cortiços ou colmeias, raramente o fazem no solo ao contrário de outras vespas.
Os primeiros alvéolos de papel (madeira putrefacta amassada), cerca de 50, são erigidos pela jovem rainha ainda solitária. Coloca aí os primeiros ovos, cujas larvas ela própria alimenta com insectos capturados. É um período bastante crítico onde a rainha se expõe demasiado com as saídas para o exterior, se é morta termina aí a colónia.

Ao fim de cinco a oito dias nascem as primeiras larvas, que em doze a catorze dias atravessam os cinco estádios de desenvolvimento. A larva produz uma espécie de ceda com que “opercula” o alvéolo e passa à fase de ninfa ou crisálida.

Finalmente, os insectos adultos rompem as tampas dos alvéolos e emergem as primeira obreiras que à semelhança das abelhas passam por várias funções ao longo da vida. Uma das primeiras tarefas consiste em aquecer as larvas adjacentes, bastando-lhe para tal manterem-se nos alvéolos o que provoca um aumento de temperatura de 21 para 31ºC. Ainda antes de saírem para o campo, as jovens obreiras participam na construção de novos alvéolos e ampliação do ninho.

Quando saem para o campo as obreiras (18 – 25mm) carregam para o ninho água, néctares e proteínas sob a forma de insectos capturados.
Os insectos capturados, entre os quais a Apis mellifera, são decapitados e desmembrados, ficando apenas a massa muscular mais desenvolvida (a do tórax) correspondente aos músculos das asas. A V. crabro pendura-se de um ramo por uma pata, e com as restantes realiza aquela tarefa, finalmente a massa muscular resultante é amassada numa pequena bola e transportada para o ninho para alimentar as larvas.
Logo que hajam cinco a dez obreiras disponíveis, a rainha (35 mm) sai cada vez menos do ninho, diminuindo os riscos para a colónia. À medida que o número de vespas aumenta, a rainha acaba por ficar apenas no ninho onde só põe ovos até ao fim da vida.
Só por curiosidade, e já que achamos estas vespas demasiado grandes, ainda existe outra do mesmo género (a V. mandarina) que têm o dobro do tamanho.
Até aqui conseguimos identificar algumas semelhanças em termos de biologia com a Apis mellifera, mas as diferença são notórias, senão veja-se, a V. crabro continua a voar e a recolectar materiais mesmo durante a noite, conseguem ver com intensidades luminosas de 0,01 Lux, onde o olho humano já não vê nada.

Seria curioso “transplantar” o gene responsável por isto para as nossas abelhas !
Os materiais de construção dos ninhos, a madeira apodrecida, é retirada de árvores em decomposição nas proximidades. Elas vão arrancando pedaços que mastigam e misturam com saliva, fazendo pequenas bolas que moldam com as patas. Estas bolas são depois reamassadas e moldadas às paredes do ninho em crescimento, conferindo-lhe diversas tonalidades consoante a origem da madeira, o que faz lembrar a superfície de uma chapa de zinco.
A V. crabro, não terá necessidade de armazenar grandes quantidades de nutrientes como a abelha, uma vez que nos períodos mais difíceis as suas larvas funcionam como armazéns vivos segregando gotas nutritivas para as obreiras adultas.
A colónia das vespas atinge o desenvolvimento máximo durante o Verão, onde chegam a ter largas centenas de indivíduos (400 a 700 no Norte da Europa, e provavelmente muitos mais no clima quente do nosso país). O ninho atinge nesta fase umas dimensões record de 60 cm de alto por 20 a 30 cm de diâmetro, dependendo também do espaço disponível.

No Outono, dos óvulos fecundados nascem as novas rainhas, e dos não fecundados nascem os zangãos (21 a 28mm). É neste período que a colónia se desarticula completamente, a ordem e disciplina que reinaram durante o período quente termina nesta fase. Logo que nascem as primeiras formas sexuadas (zangãos e rainhas) as obreiras deixam de cuidar da velha rainha , cada ovo que é posto é comido imediatamente pelas obreiras “amotinadas”. A rainha velha, esgotada, abandona a colónia e morre com aproximadamente um ano de vida.
Algumas obreiras em estado larvar que ainda subsistam, deixam de ser alimentadas, definham e caiem dos alvéolos. Outras mais desenvolvidas que tentam tecer o casulo, não conseguem pois os zangãos e obreiras adultas comem-no de imediato uma vez tecido. Outras larvas são expulsas do ninho, outras ainda são seccionadas pelas obreiras e dadas como alimento às formas sexuadas.
As obreiras preocupam-se agora em nutrir bastante as jovens rainhas e zangãos, uma vez que as primeiras necessitam de muitas reservas para a hibernação após a fecundação.
Nos dias mais quentes de Outono, as rainhas e zangãos formam pequenos enxames e juntam-se em torno de uma árvore ou próximo do ninho para acasalarem. Tal como nas abelhas, cada jovem rainha acasala com diversos zangãos, e estes, de vida curta, morrem algum tempo depois.
Uma vez acasaladas, as rainhas procuram abrigos para se livrarem aos rigores do Inverno, acabando mesmo assim por morrerem em grandes quantidades. Finalmente, no início de Novembro, morrem as últimas obreiras completando-se assim o ciclo.


Pelo exposto, espero que se tenha desmistificado um pouco a crença acerca da má fama destes animais, não servirão decerto para mandar-mos um pauzinho lá para longe e esperar que eles o tragam à nossa mão a abanar a cauda, mas podemos perfeitamente (enquanto apicultores) conviver pacificamente com eles.

“Avispones”
Kosmeier, D.; Billig, E.; Rickinger, T.; Buchner, A.
www. vespa-crabro.com

22 julho, 2009

Colmeias Diferentes - 10

Antiga colmeia "fixista", oriunda da Suécia e pertença do Sr. Vicente Furtado.
O "cortiço" em madeira, foi escavado no tronco de qualquer árvore típica de climas temperados a frios.
De notar a curiosa semelhança das "trancas" interiores aos cortiços utilizados em Portugal...

20 julho, 2009

Cuidado com as Vespas Gigantes...

Vespa crabro conservada em álcool.

Outono de 2004, alguns dias depois do Congresso dos Açores e do susto com a “alegada” Aethinose no Alentejo, quando a almejada bonança que vem depois das tempestades era esperada, entra-me um apicultor pela porta dentro a queixar-se de um ataque de vespas às colmeias.
Situação bastante normal, no fim do verão estes ataques são frequentes, lá lhe dei a ensaboadela do costume: se a colmeia estivesse saudável, forte e bem povoada, as vespas não constituiriam problema, etc. etc. etc.
É então que ele me interrompe e coloca um frasco em cima de secretária com as ditas vespas conservadas em álcool. Bem, de vespas aquelas só tinham as cores e a forma, pois quanto ao tamanho não vos conto nada, eram mesmo “gigantes”.

Segundo o relato do apicultor, estes vespões esperavam as abelhas na tábua de voo da colmeia, agarravam-nas sem qualquer luta, dada a desproporção e carregavam-nas em voo para longe. Estes raptos decorriam com grande frequência, dado o vaivém de vespas junto às colmeias.
Mais tarde, outro apicultor da mesma localidade, Torre das Vargens – Ponte de Sor, telefona-me com um relato semelhante, viu abelhas a beberem água na margem de um regato, ouviu um voo ruidoso, surge a vespa gigante e desaparece com uma abelha. Logo surge outro vespão e captura uma vespa de tamanho normal que bebia junto às abelhas (nem estas se escapam...).
Este segundo apicultor encontrou o vespeiro das gigantes, alojado no tronco oco de um Choupo e via-as entrar e sair em grande quantidade, num fluxo tal que era equivalente “a uma colmeia bem povoada em plena Primavera” segundo as palavras dele.

Contaram-me também que um indivíduo dessa localidade foi picado por uma vespa na cabeça, o ferrão perfurou através do chapéu e andou dois dias com dores.
Tendo ficado bastante intrigado com esta série de acontecimentos liguei para um amigo meu, apicultor no Algarve, que me confirmou a existência destes estranhos insectos também naquela região. Segundo ele, as Vespas Gigantes chegavam a capturar as abelhas em pleno voo, pousavam num arbusto decepavam-nas e posteriormente comiam-nas.
Segundo consegui saber mais tarde assim é, de facto, as vespas adultas alimentam-se do néctar transportado no estômago do mel das abelhas, e a parte muscular rica em proteínas é dada como alimento às larvas das vespas, estas sim carnívoras.
No entanto, durante muitos anos com a presença destas vespas, nunca tinha visto tantas e tantos ataques como no ano de 2004, segundo os relatos de diversos apicultores algarvios.
Já no início deste ano recebo uma chamada de um apicultor de Benavila – Avis a queixar-se de um alegado ataque de Vespas anormalmente grandes, que desalojaram as abelhas de um cortiço e aí instalaram o seu ninho.

A “coisa” prometia, pensei eu, deve vir aí uma bronca das grandes.
Resolvi ir visitar o apiário de Benavila para ver o dito vespeiro alojado no cortiço. Mas como era de esperar, em pleno Inverno as vespas coloniais não estão activas, nem sequer formam uma colónia. Durante o Outono morrem, sobrevivendo apenas as fêmeas fecundadas que se escondem em locais abrigados para no fim da Primavera iniciarem nova colónia cada uma.

No cortiço apenas restava o vespeiro, igual a todos os vespeiros das vespas “normais” só que cada alvéolo tinha aproximadamente um centímetro de diâmetro, cabia um dedo lá dentro.

Esta estrutura do tamanho de uma bola de futebol, era feita de “papel”, restos vegetais amassados (madeira podre) e encontrava-se em andares ou camadas interligadas por pilares feitos com a mesma substância. Estes “favos” tal como os das restantes vespas coloniais tinham alvéolos apenas numa das faces e com as aberturas viradas para baixo.

Já não havia qualquer vespa viva ou morta no cortiço.
Já tinha visto outro vespeiro igual a este encontrado por um apicultor da Cunheira – Alter do Chão há três ou quatro anos atrás.
Um amigo meu, a viver na Serra de Portalegre teve também um ninho com estas “simpatias” alojado no interior da casa, mais precisamente dentro da chaminé, quando o vespeiro foi destruído despertou-lhe a atenção o tamanho descomunal da rainha da colónia. Felizmente ninguém da casa foi picado, aparte um susto por outro.
Muitos apicultores, confrontados com a amostra de vespas em álcool alegaram desconhecer estes insectos, apesar de um por outro já as terem visto no passado, afirmando que eram bastante raras.

Ao que parece, o ano de 2004 pode ter reunido diversas condições que potenciaram um bom desenvolvimento e expansão desta espécie, o que não é de modo algum indicativo de que daqui para a frente estas se tornem mais uma praga para a apicultura e provoquem estragos notáveis.
No entanto, e em caso de ataques graves poderemos consultar qualquer “cartilha da apicultura” e montar o ataque:
A saber ...
Carne envenenada próxima das colmeias, mas dentro de uma gaiola onde possam passar as vespas e inacessível aos outros animais. As abelhas também cabem mas são “vegetarianas”. Tenham mesmo muito cuidado com este método, os EUA já têm invadido países por coisas menores...
Se não quiserem usar veneno sempre podem cortar uma garrafa plástica de refrigerante, a dois terços de altura, e encaixarem a parte afunilada com a boca para baixo sobre o “copo” ou seja sobre a base da garrafa. Coloca-se também um atractivo lá dentro, as vespas entram e já não saem.

Há semelhança de tantos outros animais menos queridos pelos apicultores, como os Abelharucos, Ratos, Lagartos, Texugos, Formigas e outros, a Vespa crabro, terá decerto uma importância determinante no equilíbrio ambiental, esse assunto ainda tão obscuro para nós e cujas reacções às acções Humanas por vezes se fazem sentir da forma mais brutal e inesperada.
Importa pois estarmos atentos a tudo o que se passa no apiário e só então agir se tal se tornar necessário, ao invés de avançarmos já com as nossas costumeiras profilaxias exageradas com pesticidas e outros venenos do género, não vá o tiro sair-nos pela culatra.
Não devemos esquecer que as abelhas e os apicultores gozam de muito boa reputação como guardiões da Natureza e do ambiente, convém não perder de vista este sentimento, pelo que respeitar seres vivos que de alguma forma colidam com os nossos interesses ou das nossas explorações só reforçará essa fama que tanto nos tem evidenciado.

A título de curiosidade, esta vespa é alvo de grande admiração e protecção na Alemanha, chegando até a haver quem coloque ninhos artificiais (caixas de madeira) para lhe providenciar alojamentos.

18 julho, 2009

Monte do Mel no MUNDO...

Volvido um ano sobre o “nascimento” do http://montedomel.blogspot.com é com imenso prazer que vejo aumentar muito o número de visitas, tal como os diferentes locais do planeta de onde acedem ao blog.
É meu objectivo continuar com o montedomel no mesmo formato a que já nos habituamos: com notícias; reportagens; artigos técnicos; opinião; cartoons; etc...
No entanto, creio (tenho a certeza) que este trabalho pode/deve melhorar muito com a vontade e a participação de todos. Já devo ter dito há tempos que não quero que o montedomel seja “o meu blog”, penso que todos ficaremos a ganhar quando nos referirmos a ele como “o nosso blog”, nosso, dos apicultores e demais visitantes.
É nesse sentido que PEÇO a todos os interessados em PORTUGAL, no BRASIL, AMÉRICA LATINA, EUROPA e no MUNDO que contribuam com pequenos (ou grandes) artigos, reportagens, textos e sobretudo fotografias sobre a apicultura de cada local.
Qualquer situação ou realidade apícola no ponto mais inesperado do planeta, que para os locais possa parecer sem importância, pode revelar-se no assunto ou na AJUDA mais interessante para quem viva noutro local.
Aproveitando o facto da quantidade de visitantes dos locais mais diversos, tenho a certeza que esta poderia ser uma grande oportunidade de conhecermos a apicultura de cada país ou região e sobretudo de unir e fortalecer ainda mais os apicultores e a apicultura.

Ao contrário do que se dizia, o segredo nunca foi a alma do negócio, creio até que “os segredos” nem alma devem ter...

Muito Obrigado

o meu E. mail para envio de informação: montedomel@gmail.com

16 julho, 2009

Substituição de Ceras: uma experiência

Desta vez apresento-vos uma curiosa observação feita pelo apicultor Carlos Correa, do estado de S. Paulo Brasil.
O Carlos conta-me que fora da época de entrada de néctares, nas suas colmeias, as abelhas roem as laterais dos quadros de cera alveolada diminuindo a área de criação e o depósito de mel. Elas comportam-se desta forma para mobilizarem cera para a construção dos alvéolos, não utilizando as suas próprias reservas para fabricar cera.

Ele resolveu testá-las trocando os quadros de cera velha por outros com cera alveolada (moldada) no início da floração, no momento em que as abelhas abandonam a alimentação artificial e passam a recolher néctar natural.
Dois dias após a troca foi inspeccionar as ceras novas e foi surpreendido ao ver os alvéolos apenas iniciados e já com postura em toda a sua área (situação com que eu já me deparei diversas vezes). Até junto à régua de apoio do quadro havia criação, uma área habitualmente ocupada por mel. Não haviam muitos alvéolos para zangãos, o que ainda mais agradou ao Carlos Correa.
Ficou tão satisfeito com tais observações que resolveu proceder da seguinte forma em todos os apiários que possui:

No momento em que termina a fase da alimentação artificial e se inicia a floração natural, retira de cada colmeia os quadros números (1) e (10), que se encontram nessas posições por estarem mais velhos e com a cera mais escura. Retira também dois quadros com mel e criação operculada (que estavam noutras posições da colmeia) e transfere os quatro para um sobre-ninho (alça ou corpo igual ao ninho) sobre a própria colmeia:


No ninho, seleccionam-se os quadros cuja cera está mais velha e colocam-se nas posições (1) e (10), mesmo que tenham criação, irão sofrer o mesmo processo na próxima temporada. Os restantes quadros do ninho são todos colocados numa das extremidades, completando-se os espaços vazios com quatro quadros de cera alveolada (puxada).
O sobre-ninho (corpo igual ao ninho) é também completado com novos quadros e é “separado” do ninho por uma tela excluidora (grade excluidora de rainhas):

A população que irá nascer dos quatro novos quadros do ninho aproxima-se da população antiga, quase dobra. Já na segunda postura a situação normaliza, com depósitos de mel junto à régua de suporte do quadro, e a população da situação anterior com a vantagem da lâmina de cera já estar soldada na régua inferior e laterais.
A criação nascida no sobre-ninho irá nascer, descer para o ninho e os respectivos alvéolos preenchidos com mel. Esta população adicional auxiliará muito o aumento da produção.
Esta situação só resulta na totalidade em presença de rainhas novas...
O Carlos aconselha também que para maximizar esta técnica convém ter disponíveis quadros com cera puxada para colocar no sobre-ninho.

15 julho, 2009

Melaria



O primeiro video do montedomel, realizado e apresentado pelo António Sérgio, que todos conhecemos pela dedicação à "causa apícola", durante uma viagem que fez pela Europa.

14 julho, 2009

Apiário: Girassol de Regadio

Podia haver apicultura sem o Girassol no Verão?
Podia, mas não era a mesma coisa...

Desta vez apresento-vos as imagens e algumas “observações” que fiz no fim de semana, aquando da visita a um apiário de 40 colmeias que tenho no girassol de regadio.
Tal como disse na última mensagem sobre o tema, este ano tenho uma óptima oportunidade de testar a produção de mel de girassol em três situações distintas:
Girassol de sequeiro numa única folha.
Girassol de regadio (o tema de hoje)
Girassol de regadio sem água, perdoem-me a graça, mas apesar das estruturas de rega este girassol não foi regado (ver: O MELHOR APIÁRIO DO MUNDO). É semelhante ao primeiro mas com a vantagem de ter três folhas distintas em diferentes fases vegetativas, o que poderá prolongar a floração no tempo.

À data desta mensagem, as colmeias já estão neste assentamento há cerca de um mês, apesar da floração só ter sido iniciada há uma semana. O período de interregno entre a instalação do apiário e a floração foi pouco produtivo, apesar da abundância de silvas em flor, o que de certa forma animou as colónias...

Um dos objectivos da visita ao girassol foi a tentativa de ver e fotografar as gotículas de néctar que se acumulam na zona central da flor. Estas gotas de néctar surgem numa fase muito precoce da flor, e pela forma como estão expostas, parecem ser de fácil mobilização pelo aparelho bucal sugador das abelhas.
Foi fácil encontrar e fotografar as ditas gotas, procurando o ângulo correcto dos raios solares os reflexos luminosos depressa traem a sua posição. Umas formam verdadeiras esferas de néctar transparentes, e outras, aparentemente com menos humidade, fazem lembrar secreções resinosas.
Ambas são mais visíveis na parte central da flor, já a região exterior do disco encontra-se repleta de pequenas flores que exibem as partes sexuais femininas e masculinas, onde abunda o pólen.
Para meu espanto não encontrei uma única abelha na parte central das flores, todas as que vi, e não foram poucas, encontravam-se na orla sobre a zona com pólen e completamente “empoeiradas” desta substância.
Ou o “meu alegado néctar” era de pouca importância para a economia das abelhas, ou então a colecta de pólen era muito mais atractiva. Faltando ainda a hipótese que nessa região da flor também houvessem nectários mais discretos:


Outro aspecto que me chamou a atenção foi o número de abelhas por flor de girassol. Na última mensagem sobre o tema (ver: MAIS GIRASSOL...), escrevi que era raro observar-se mais que uma abelha em cada flor.
Até porque a densidade de colmeias foi “calculada” para evitar competição entre os insectos: 40 colmeias - 35 ha de girassol. O ano passado coloquei 65 colmeias nos mesmos 35 ha, ainda por cima numa densidade de sementeira mais baixa que a actual. Ainda assim consegui uma produtividade muito boa.
Quando me abeirei do girassol fiquei surpreendido por contar quatro, cinco, seis e até oito ou nove abelhas/flor. O meu primeiro pensamento, um pensamento muito “luso-egoísta”, foi logo para “quem teria vindo colocar mais colmeias neste local?”.
Obviamente que ninguém, não foi necessário muito tempo para perceber que boa parte da flor já estava em declínio, restando fortes e viçosas as plantas das bordaduras (onde eu me encontrava) e com a falta de flores a densidade de abelhas subiu para o triplo ou o quadruplo.
É uma pena que esta floração seja tão breve, apesar de regada esta folha de girassol só floriu há uma semana e não vai durar muito mais. Arrependi-me de não ter adensado mais a carga apícola do local, fica para o ano...

Reparem como as abelhas "evitam" a parte central da flor, onde se encontram as alegadas gotas de néctar. Em contrapartida abundam na região do pólen...

Na inspecção propriamente dita às colmeias encontrava-se de tudo um pouco:
Alças com poucas reservas de mel, grupos de 20 ou 30 alvéolos de néctar aqui, mais 30 ou 40 acolá, e a péssima sensação que não a conseguirão encher até ao fim da floração. Estas colmeias (apesar da população) parecem ter dificuldade até em “puxar” e nivelar os cortes feitos na cera durante a extracção do mel...

Alças com reservas medianas de mel, com a maioria dos alvéolos cheios mas ainda por opercular (e quase sempre com algum espaço livre para encher).

Alças cheias de mel, já operculado e prontas para a cresta.
O mel de Verão, tal como o do girassol, do cardo ou melada de azinho não necessita de estar operculado para poder ser crestado. Os níveis de humidade face às temperaturas estivais não constituem qualquer entrave ao armazenamento seguro do mel.

Um aspecto comum a todas as alças e colmeias neste local: a dificuldade em descolar as pranchetas tal como os quadros, aliada a grandes reservas de própolis muito pegajoso por todo o lado... Não são raros os quadros ou pranchetas quebradas sempre que os tentamos retirar à força.

Outros polinizadores:
Não sei que “bicho” era mas pelo aspecto e pela forma ocupada com que “chafurdava” na flor, tratava-se decerto de um polinizador.
Em largas dezenas de flores que passei a pente fino foi o único insecto que encontrei além das abelhas. Isto chamou-me a atenção, como é possível que outros polinizadores não se sintam atraídos para tamanha concentração de pólen e néctar? A princípio até me agradou a falta de concorrência à colecta das minhas abelhas, o mel recolhido parece-nos sempre pouco.
Foi já a caminho de casa quando reflecti sobre o assunto do polinizador isolado:
E se as ditas ameaças que todos os dias pairam sobre as abelhas, a apicultura (e sobre os apicultores) se venham de facto a realizar, o que vai ser da flora espontânea ou das culturas?
A melhor resposta tinha-a encontrado momentos antes, um único insecto (e bem pequeno) como alternativa às centenas de abelhas para polinizar uma área relativamente vasta...

As mal amadas Cetónias... parecem autênticos buldozers a abrir estradas ao longo dos favos. Encontram-se às dúzias nestes locais tal como na tábua de voo, no fundo da colmeia ou entre o tampo e a colmeia. Chegam a acasalar dentro das colmeias e cortiços...
Num acesso de fúria desferimos-lhe um golpe com a ponta do alicate levanta quadros, é quando descobrimos perplexos a forma como a Natureza protege os seus filhos: a forma arredondada do coleóptero, aliada à extrema dureza e polimento da casca faz com que no embate da ponta metálica o insecto seja projectado a grande distância, onde levanta voo e parte ainda com mais saúde...




Um casamento entre vizinhos: o pão com mel...
Ninguém consegue ficar indiferente aos contrastes nesta zona do Alentejo: Um campo verde e amarelo (lembra a bandeira do Brasil) de onde irão resultar litros e litros de óleo e de mel. Muito próximo um campo de trigo cujos grãos já foram para a moagem, de onde resultará mais tarde o pão para barrar com os outros dois produtos nascidos ali ao lado...