Miguel Maia*; Fernando Nunes**, Ana Barros**
*Engº Zootécnico (apismaia@sapo.pt)
** Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Centro de Investigação em Química do Departamento de Química
Generalidades
O sucesso económico da apicultura passa, inevitavelmente, pela qualidade da cera de abelha. Desde a produção de cera virgem até à sua fundição e moldagem existem muitos factores que podem influenciar a sua qualidade. Quando a qualidade da cera é alterada (adulteração, ceras velhas, aquecimento exagerado) tem um reflexo negativo na quantidade e qualidade do mel. Por exemplo, quando a cera apresenta percentagens significativas de parafina as abelhas não “puxam” a cera, tendo como consequência um atraso na evolução da colónia e como tal, na produção de mel. Poder-se-ia dar outros exemplos, mas fulcral é que a qualidade da cera é de elevada importância para uma valorização em si mesma como também para o mel.
As abelhas necessitam da cera para o desenvolvimento da colónia e armazenamento do mel e pólen. É estimado que para produzir 1 kg de cera é necessário o consumo de 7 a 8 kg de mel pelas obreiras. A cera é segregada por oito glândulas cerígenas, situadas duas a duas nos quatro últimos esternos da parte ventral do abdómen da obreira. As obreiras com idades compreendidas entre os 12 e os 18 dias são as principais responsáveis pela produção da cera. A maior parte das substâncias químicas que constituem as ceras são hidrófobas. Estas características permitem controlar a humidade no interior da colmeia e absorver grande parte dos acaricidas utilizados para a varroose.
As ceras são ésteres formados pela condensação de um álcool de cadeia longa com um ácido gordo. A cera pura das abelhas (Apis mellifera) consiste pelo menos em 284 componentes diferentes, sendo os principais componentes, entre outros; o ácido palmítico, o esteárico, o cerótico, o lignocérico e o melísico. Segundo este autor, a maior parte dos componentes da cera de abelha são os monoésteres saturados e insaturados, diésteres, hidrocarbonetos saturados e não saturados e ácidos livres. Os monoésteres, os ésteres e os ácidos gordos são os responsáveis pela estrutura do favo. Os hidrocarbonetos de cadeia longa são os encarregados da regulação da humidade da colmeia. Os triglicerídeos e diglicerídeos, típicos das gorduras, estão ausentes da composição da cera.
Purificação da cera
A purificação da cera consiste na sua decantação e fusão como também filtração. A utilização da temperatura para fusão da cera deve ser da ordem de 75 a 90 ºC (no máximo) para que esta não perca as suas propriedades químicas. O período de tempo da decantação da cera deve ser no mínimo de 8 horas a uma temperatura de 70 a 80ºC (se possível utilizar termóstatos) e em inox para evitar a acumulação de matérias estranhas que diminuem a qualidade da cera. Por outro lado, a decantação permite em grande parte a remoção de matéria orgânica, onde se inclui o esporo da loque americana. As temperaturas elevadas, na ordem dos 120 ºC, durante 2 horas também permitem a destruição do esporo da loque. No entanto, alguns compostos da cera são destruídos. A utilização de filtros é aconselhada para retirar impurezas orgânicas da cera.
Adulteração das ceras
Alguns parâmetros físico-químicos são comummente utilizados para avaliar a qualidade da cera e detectar possíveis adulterações. Entre estes encontram-se o ponto de fusão, o índice de acidez, o índice de saponificação, o índice de éster e a razão índice de éster/índice de acidez. Além destes também o índice de iodo e o índice de peróxidos têm sido por vezes utilizados. O intervalo de valores propostos para estes índices para a cera pura diferem entre países, estando estas diferenças relacionadas com o facto dos factores geográficos e ambientais influenciarem significativamente a adaptação das abelhas, resultando em alterações na composição da cera por elas produzida.
O preço relativamente elevado da cera de abelha quando comparado com outras ceras vegetais e industriais, tais como a parafina, sebo, a esteraina/ácido esteárico. A adulteração da cera de abelha com estas substâncias, dada a sua diferente composição química, afecta os seus parâmetros físico-químicos, podendo ser estes parâmetros utilizados para a determinação da qualidade da cera e para a detecção de sua adulteração. O problema da adulteração da cera de abelha com estes adulterantes não é somente um problema de autenticidade, mas mais importante é o facto de estas adulterações provocarem a rejeição das ceras por parte das abelhas.
Acaricidas nas ceras
Ao longo dos tratamentos contra a varroa, os acaricidas armazenam-se nas ceras. Geralmente, são os acaricidas lipofilicos (= amigos de gordura) tais como o fluvalinato (Apistan, Klartan), flumetrina (Bayvarol) que se “agarram” mais à cera. O amitraz (Apivar, Acadrex, Mitac) é rapidamente degradado e os seus metabolitos também se “agarram” à cera. O clorvenfinvos (Supona) também se agarra à cera, mas comparativamente aos outros acaricidas tem mais facilidade em se deslocar à posteriori para o mel.. Devido à acumulação dos acaricidas é muito importante a substituição regular dos quadros. Embora na fusão da cera, os acaricidas não sejam destruídos, a abelha encarrega-se de “diluir” os acaricidas quando “puxa” a cera laminada. O paradiclorobenzeno (utilizado contra a traça ou tinha) também acumula-se nas ceras e, posteriormente, é difundido para o mel.
Armazenamento das ceras
Quando obtemos a broa ou queijo de cera é importante obter boas condições de armazenamento (ausência de humidades) para evitar o desenvolvimento de fungos. As ceras laminadas devem ser bem conservadas e, se utilizarmos no ano seguinte, naturalmente já perderam alguma humidade (essencial para que a abelha a molde) podemos colocar em água morna por breve segundos.
As ceras deverão ser substituídas quando são velhas (mais de 2 anos). Outras ceras deverão ser eliminadas quando apresentem sinas de loques e micoses.
As ceras de uma campanha deverão ser armazenadas em locais limpos e arejados. Deveremos ter em atenção os tratamentos para a traça (“mechas” de enxofre) e remover os quadros com pólen e mel. Os quadros de cera também poderão ser “tratados” com o frio (-15 ºC / 2 h.)
Projecto das ceras
A Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) está neste momento a realizar um projecto sobre as ceras nacionais. Neste estudo são investigadas as propriedades químicas das ceras virgens, das ceras laminadas e blocos de cera. Também são estudadas as alterações na cera devido às temperaturas de fusão como também o tipo de adulterações no mercado nacional.
04 janeiro, 2010
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15 comentários:
Mais uma demonstração de disponibilidade do Eng. Miguel Maia a dar a conhecer que em Portugal a universidade, nomeadamente a UTAD, também já está ao serviço da apicultura. Sem dúvida que lucraremos todos com isto e, quiça, num curto espaço de tempo poderemos ter surpresas, por exemplo relativamente aos nuestros hermanos que nos "despejam" muitos dos seus produtos, incluindo a cera.
Parabéns Monte do Mel pela notícia.
É sempre bom relembrar os cuidados que devemos ter no tratamento da cera.
Ficamos a aguardar os V. resultados.
Grato,
Porto/Octávio
Acho que é um grande problema este das ceras adulteradas e também das ceras com resíduos de acaricidas, sabe-se lá que consequências isto pode ter! Pergunto-me se para além dos mencionados no blog, os "acaricidas naturais" como o timol também se armazenam na cera.
Estudos destes são importantes pelo menos para saber o que anda por aí na cera.
Continuem o bom trabalho Eng. Miguel Maia, UTAD, e Monte do mel por divulgar.
Ricardo
Estou precisando de vossa ajuda .Gostaria de saber como faço para aumentar a acidez da cera de abelha.Preciso que a mesma mantenha indice de acidez entre 17-24 mg/KOH mas só obtenho ceras com acidez em torno de 15mg/KOH. Podem me ajudar?
Fico no aguardo de sua resposta
Grata,
Maya
Muitos trabalhos como este e que deviam ser feitos para bem da nossa apicultura pois esta tem andado ambandonada por parte das nossas autoridades
ola, estou procurando fornecedores de cera de abelha, se souber de algum ou algum lugar em que encontro uma listagem de fornecedores pode me passar?
obrigado
Olá Roger,
envie-me um mail para montedomel@gmail.com e posso dar-lhe alguns contactos,
cumprimentos
Gostaria de saber onde posso comprar placas de cera de abelha em favos.
Se souber, agradecia que mandasse um mail para joaninhakraisy_14_scp@hotmail.com
Obrigado
Onde se pode comprar cera de abelha?
radiovelha@gmail.com
Olá bom dia
Gostaria de saber como devo aproveitar, as ceras dos quadros quando os tenho de substituir.
Se souber algum sítio onde possa aprender, gostaria que me indicassem.
Obrigado
Olá Paulo Pereira
Para aproveitar a cera dos quadros que vai substituir deverá primeiro separá-la do mel (caso o tenha).
Pode fazê-lo por prensagem, escorrimento ou centrifugação.
Depois deverá fundir e filtrar a cera do favo num cerificador solar ou num recipiente aquecido no fogão ou na lareira.
abraços
Joaquim Pifano
Boa noite,
Gostaria de saber onde compro Laminados de Cera e valor aproximado.
Grato,
Edson - Rio de Janeiro
Olá Edson Cabral
Os locais de fabrico de cera reportados neste blog localizam-se em Portugal.
Aconselhava-o a contactar o Dr. Ozório Gonçalves (Blog Duzoo) na barra lateral de links deste blog.
Os meus cumprimentos
Joaquim Pifano
Boa tarde!
Pode informar-me onde posso comprar cera de abela purificada?
O meu contacto é ego.explica@gmail.com
Sou de Vila Nova de Gaia
Boa Tarde,
Estou á procura de alguém que forneça cera em broa, precisava de cerca de 30 quilos, se me puderem indicar quem venda ficaria muito agradecido
O meu email de contacto é ericomq@gmail.com
Abraço
Boa Tarde, estou procurando um fornecedor de cera de abelha. 100 Kg por mes.
dalvacosta99@googlemail.com
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