07 junho, 2011

Desdobramentos e Produção de Mel em Núcleos II

Outra abordagem ao tema do dia 01/06/2011

Três modalidades possíveis de desdobramentos:

As diversas formas de desdobrar colónias de abelhas, dependem obviamente da disponibilidade e do tipo de equipamentos que o apicultor dispõe, tal como dos objectivos da exploração e dos métodos preferidos de quem o faz.

A) Desdobrar para duas colmeias móveis:

Pessoalmente desdobro quase sempre uma colónia para duas colmeias móveis. Tal se deve ao facto de ter poucos núcleos e bastantes colmeias de 10 quadros, uma vez que a minha exploração sempre se vocacionou para a produção de mel. Limito-me a dar uso aos equipamentos que já possuo, sem qualquer necessidade de custos adicionais.

Caso apostasse mais na venda de enxames/colónias, justificar-se-ia um maior investimento em núcleos de 5 quadros.

Desta feita, procuro encontrar a rainha, e coloco-a na nova colmeia. Deixo na original os quadros e a quantidade de abelhas necessárias para fazerem uma nova rainha. Os quatro quadros restantes, independentemente da composição, são colocados na caixa com a rainha “velha”.

Na colónia que fica com a rainha velha procuro deixar os cinco quadros originais ao centro e as lâminas de cera nova nas extremidades. Este procedimento visa sobretudo que a colónia se possa expandir para ambos os lados, aproveitando melhor a zona de calor.

Na semi-colónia órfã, opto por colocar os cinco quadros originais numa das extremidades, por duas razões: Esta colónia não tem necessidade (nem possibilidade) de ampliar a área de criação e por outro fica mais abrigada. De imediato lhe coloco também dois ou três quadros com lâminas de cera na outra extremidade, para que o “excesso” de abelhas possam puxar essa cera em vez de construírem favos naturais na prancheta.

Em pouco tempo (uma ou duas semanas, depende da floração, da rainha e do clima), a colmeia com a rainha original tem o ninho cheio (toda a cera puxada e ocupada) e está pronta a receber a primeira alça (ou sofrer novo desdobramento).

Entretanto também posso adicionar novos quadros com lâminas de cera à semi-colónia órfã, já puxaram as que lhe adicionei durante o desdobramento. Nesta fase a nova rainha já nasceu e poderá ou não ter iniciado a postura.

Se eu levar estas colónias com a nova rainha para o girassol/cardo/melada de Azinho, ainda produzem pelo menos uma alça de mel. Ironicamente eu vou colher mel de baixo valor (girassol) e as abelhas ficam com mel gourmet (rosmaninho na minha região) como reserva no ninho…

B) Desdobrar para dois (ou mais) núcleos:

Resolve-se o problema da semi-colónia órfã, mas restringe-se o normal desenvolvimento à parte que fica com a rainha, deixando-a confinada a cinco quadros.
Há muito quem o faça, desdobram as colmeias de dez quadros para dois (ou mais) núcleos de cinco. Certo que os problemas de espaço, temperatura, etc, da semi-colónia órfã ficam resolvidos, mas a colónia com rainha não se pode desenvolver.

Esta abordagem só é válida para a venda imediata ou a curto prazo de núcleos, sobretudo quando o comprador só quer mesmo comprar núcleos e não colmeias de 10 quadros.

De qualquer forma, o novo proprietário deve fazer a transferência para colmeia de dez quadros o mais rápido possível.

Por outro lado, há sempre a possibilidade de colocar as ditas alças nos núcleos, onde a colónia com rainha entra de imediato em produção, conseguindo armazenar algum mel até as semi-colónias órfãs estarem prontas para vender.

Outra justificação válida poderá dever-se a não haver mais floração que permita às colónias puxarem cera e dimensionarem o ninho. Nestas condições é de todo preferível deixarmo-las em núcleos.

C) Desdobrar para uma colmeia de 10 quadros (colónia com rainha) e para um núcleo de 5 quadros (semi-colónia órfã):

É o método que me parece mais ajustado, resolve os problemas das duas hipóteses anteriores e mantém as vantagens. Este processo funciona melhor quando deslocamos os núcleos (sem rainha) para um apiário específico onde possam ser alimentados sem risco de pilhagens.

Amplia-nos as opções de venda, se for esse o caso: colónias de dez e de cinco quadros.

Mais uma vez se justificam a utilização das ditas alças de cinco quadros para os núcleos. Até porque a semi-colónia órfã pode levar a alça logo após o desdobramento, como no caso anterior...

Não terão evidentemente de ser alças de boa construção, a sua utilização é muito específica e durante pouco tempo, pelo que o recurso a materiais reciclados deverá ser considerado.

Reforçando o que disse no post anterior, esta “proposta” não visa a produção de mel em núcleos como um fim ou um objectivo. Serve apenas para quem tenha encomendas de núcleos de abelhas, ou que se proponha a fazê-los para venda em colónias de cinco quadros, pode aproveitar as abelhas que durante o intervalo de tempo antes do nascimento da rainha não têm grande utilidade, para produzir mais algum mel…

Observações acerca dos desdobramentos

Quando faço desdobramentos, uma das curiosidades que me traz alguma ansiedade é confirmar o nascimento da nova rainha.

Será que nasceu?

Já foi fecundada?

Já iniciou a postura?


Estas três questões levam-nos a incontáveis visitas aos apiários e a abrir inúmeras vezes as colmeias, o que é contra indicado:

- Podemos danificar o alvéolo real antes do nascimento da rainha. Esta situação resolve-se abrindo a colmeia apenas quinze dias após o desdobramento.
- Podemos perder, matar, danificar a rainha virgem. Trata-se de uma rainha cujo comportamento é muito diferente de uma rainha fecundada e já estabelecida.
Extremamente nervosa, desloca-se com grande rapidez e insegurança pelos favos e podemos matá-la quando colocamos o quadro na colmeia. Também não são raras as vezes em que levanta voo enquanto a observamos sobre os quadros, podendo não conseguir regressar.

Para evitar estas situações podemos monitorizar o sucesso dos desdobramentos procurando outros indícios da presença e estado da rainha.

Se é certo que o ideal seria a sua visualização directa já com postura, esses indícios muito fáceis de encontrar e identificar são uma prova muito segura do sucesso do nosso trabalho.

Como foi dito inúmeras vezes atrás, logo no pós-desdobramento e à medida que as abelhas jovens vão emergindo dos alvéolos, as obreiras mais velhas rapidamente bloqueiam todos os quadros com néctar.

Quando a nova rainha nasce, se fecunda e antes de iniciar a postura, as obreiras apressam-se a desbloquear a zona de criação nos quadros, mobilizando esse néctar para que haja espaço para a postura e para a criação.

Na imagem anterior, as abelhas foram propositadamente sacudidas do quadro para se ver a área em questão.

Pormenor dos favos ainda com néctar.

Pormenor dos favos desimpedidos para a postura.Quando estes sinais surgem, regra geral e dentro de uma a duas semanas já há postura da nova rainha.

São esses os indícios que procuro, na zona central dos quadros, começa por surgir um pequeno círculo com poucos centímetros de diâmetro que depois vai alargando. Os alvéolos desse círculo surgem-nos vazios e polidos, chegam a ser brilhantes devido à propolização, e estão prontos para receber a postura da rainha.

Nas duas imagens anteriores, onde as abelhas não foram sacudidas, também podemos ver com muita facilidade o disco central de alvéolos já limpos: como me encontrava a inspeccionar a colónia, as abelhas tendencialmente começam logo a retirar o néctar, (para evitar a minha "pilhagem"), denunciando a zona central, sem interesse para elas porque já não tem qualquer nectar.

Novo quadro com os mesmos indícios, desta vez a área de alvéolos limpos é já muito grande.

Se assumisse-mos que a área de alvéolos limpos fosse inversamente proporcional ao tempo que falta para a rainha iniciar a postura, tinhamos aqui uma prova excelente. Pois se na imagem anterior ainda não há postura, observemos o outro lado do mesmo quadro:

Não confundir com a imagem seguinte, onde também surge um disco central desimpedido. As larvas operculadas em redor indicam que a rainha já está em postura há muito tempo e não se trata por isso de uma rainha nova que vai iniciar a postura.

Quando isto nos sucede num desdobramento, apenas confundimos o núcleo da rainha original com o órfão, também acontece...

Voltaremos a este assunto...

14 comentários:

octávio disse...

Grato pelo ensinamento. Como "uma imagem vale mais que mil palavras", a parte final deste artigo é, deveras elucidativa. Não creio que subsistam dúvidas, poderá faltar coragem a alguns para iniciarem esta aventura, mas vale a pena. Depois de obtido o resultado final, ainda ficamos a gostar mais deste "bichinho".

Anónimo disse...

Olá.
Excelentes imagens.
Qual das colónias resultantes do desdobramento fica no assento da colmeia original? A colmeia com raínha ou o desdobramento órfão?
Pelos desenhos parece ser a colónia com raínha.
É que em função disso o resultado é completamente diferente, principalmente se ficarem ambas no mesmo apiário.
Interessantes as cetónias!
Um abraço.
Abelhasah.

Alien disse...

Olá Abelhasah

Pessoalmente deixo sempre a colmeia com rainha no assento original.
Desloco então todos os desdobramentos órfãos para um apiário mais próximo de casa por motivos económicos uma vez que o visito bastantes vezes: monitorização, alimentação artificial.

Outras vezes há em que deixo as duas colmeias resultantes (com e sem rainha) no local da original, sem grande alteração nos resultados quando há muito néctar e sobretudo pólen disponíveis.
Neste caso tenho o cuidado de deixar a semi-colónia órfã na caixa da colónia original, para que receba mais abelhas de campo.

Quando tenho mais tempo e ajuda, desdobro para duas colmeias (caixas) novas, a que albergava a colónia original vai para o armazém para higienizar.

Um abraço
Pifano

Alien disse...

...só para completar o meu anterior comentário devo dizer que o transporte da semi-colónia órfã para o novo apiário, é sempre feita ao fim do dia (noite) do desdobramento.

Nunca espero mais tempo pois poderia causar prejuizos aos alvéolos reais que irão ser iniciados muito em breve.

Apesar de poder fazer o transporte sem grande risco, na noite do 2º dia, nunca o faço.

Pifano

Miguel Costa disse...

Caro Engº Pifano
Os meus sinceros parabéns pelo blog, é uma fonte de conhecimento e de inspiração para esta actividade tão interessante.
Esta semana vou fazer pela 1ª vez desdobramentos. Estou um pouco apreensivo, mas ao mesmo tempo ansioso. Dado que na zona onde tenho o apiário existe neste momento uma grande flora, árvores de fruto, acácias, urze, carqueija, outras flores silvestres e como tenho 4 colmeias cheias de abelhas com 4 quadros cada de criação, acho que será uma boa altura para fazer o desdobramento. A minha questão é, posso deixar a colmeia semi-orfã no local original e levar para uma distância de +- 100 metros a colmeia com a abelha original?

Alien disse...

Olá Miguel,

Pode e deve deslocar uma das colmeias resultantes do desdobramento, e não há qualquer inconveniente em ser a da rainha original. Mas não para 100 metros, é demasiado próximo, tente pelo menos 2 ou 3 km.
Se quizer deslocar a semi-colónia orfã, faça-o preferencialmente ao fim do dia em que desdobrou.
Quanto aos quadros de criação, 4, parece-me pouco, mas...

o meu mail:

montedomel@gmail.com

diga-me qq coisa

abraços
Pifano

Jose Ferreira disse...

Deveras impressionante esta arte e a sua sabedoria Sr. Pífano.

Muito obrigado por nos encher dos seus conhecimentos.

Eduardo Barroso disse...

Caro Pifano,

Tenho duas colmeias que contêm dois enxames adquiridos recentemente e os quais foram retirados de núcleos de 5 quadros. Estou neste momento a alimentá-los para que a colónia cresça o suficiente para "encher" a colmeia e passar o inverno.
No próxima primavera quero desdobrar as minhas colónias. Alimentando convenientemente e mesmo com muita flora disponível quantos enxames acha que se consegue fazer +- de apenas um (bom) enxame durante a floração?

Cumprimentos,
Eduardo Barroso

Alien disse...

Caro Eduardo Barroso,

Se as condições climatéricas forem boas, não houver problemas sanitários e o néctar e o pólen não forem factores limitantes, durante a Primavera e o Verão poderá conseguir desdobrar cada colónia umas três vezes (talvez até mais).
Mesmo o primeiro desdobramento que fizer, ainda o poderá desdobrar nesse mesmo ano.
Se tiver rainhas fecundadas (ou até alvéolos reais disponíveis à data de desdobrar) poderá poupar imenso tempo e conseguir mais uma ou duas gerações.
Se não fizer crestas ou retirar pólen e dedicar apenas essas colmeias à reprodução conseguirá decerto melhores resultados.
Mas como vê, a resposta que lhe dei está muito condicionada às circunstâncias óptimas, assim a realidade se aproxime desses valores.
Depois há outros imponderáveis como acidentes com as rainhas no voo nupcial...
Pessoalmente e sem deixar de produzir mel já fiz dois desdobramentos consecutivos na Primavera com bons resultados.
O último desdobramento foi feito no inicio de Maio.
Mas também já desdobrei em meados de Agosto, pelo que é possivel fazer 3 (ou mais) desdobramentos na mesma colónia...

abraço
Joaquim Pifano

Eduardo Barroso disse...

Caro Pífano,

Desde já um obrigado por esta excelente informação e espero que continue a partilhar esse imenso conhecimento com aqueles que menos sabem e querem aprender. Excelente Blog.

De facto no próximo ano vou-me dedicar exclusivamente ao desdobramento das minhas colónias pois tenciono aumentar bastante o meu efetivo e não quero comprar muitos enxames que são caríssimos, apenas vou adquirir mais 4 enxames antes do outono.

Consigo arranjar rainhas não fecundadas durante boa parte do ano e como tal só tenho que as "introduzir". Penso que se pode poupar algum tempo com esta técnica.

De referir que sou um amador e iniciante nestas lides mas já me apaixonei por este animal!

Abraço,
Eduardo Barroso

Eduardo Barroso disse...

Caro Pífano,

Desde já um obrigado por esta excelente informação e espero que continue a partilhar esse imenso conhecimento com aqueles que menos sabem e querem aprender. Excelente Blog.

De facto no próximo ano vou-me dedicar exclusivamente ao desdobramento das minhas colónias pois tenciono aumentar bastante o meu efetivo e não quero comprar muitos enxames que são caríssimos, apenas vou adquirir mais 4 enxames antes do outono.

Consigo arranjar rainhas não fecundadas durante boa parte do ano e como tal só tenho que as "introduzir".

Abraço,
Eduardo Barroso

Alien disse...

Desejo-lhe um bom trabalho e se durante os desdobramentos tiver alguma dificuldade pode contactar-me pelo mail: montedomel@gmail.com

abraço
Joaquim Pifano

Paulo Pereira disse...

boa noite SºEng:
da experiência que tem métodos acha melhor
fazer as rainhas e depois fazer os núcleos com a introdução das rainhas virgem ou
deixar que as abelhas criem as suas próprias rainhas e que escolham a melhor indo la ao 5 dia matar todos os alvéolos que já estejam fechados e so deixar os que estão abertos

e um mito ou e verdade

as rainhas feitas pelos apicultores ao fim de um ano são substitui-das pelas abelhas, verdade ou mito!!

Comprimentos
Paulo Pereira

Alien disse...

Caro Paulo Pereira,

Qualquer um dos métodos funciona bem, apenas se fizer a criação prévia de rainhas ganhará algum tempo com isso.
As rainhas criadas "artificialmente", sobretudo as inseminadas artificialmente
poderão não ter a mesma longevidade ou capacidade de postura que as concebidas
naturalmente, mas o tempo de postura útil pode chegar aos 2 anos

Abraço
Joaquim Pifano