14 janeiro, 2014

PAN PAN Queimá Vunvú !!!

E por falar em Queimá Vunvú*, aí temos o tão ansiado PAN 2014 – 16.

A ansiedade que nos causou a sua chegada só teve paralelo na repugnância que nos causou ler o Despacho Normativo. Nem há uma semana foi publicado e as ondas de frustração, incredulidade e repulsa que transparecem nas redes sociais já sobram para fazer retroceder até um Orçamento de Estado.

Estranhas ajudas essas tão recheadas de inovação, dinheiro e boa vontade, que abrangem tanta gente e ninguém está satisfeito.

Mais estranhos ainda são os desígnios que movem mais de duas dezenas de milhares de apicultores, num país democrático, senhores das suas decisões e que estóica ou estupidamente (?) decidem sempre pela opção que mais os prejudica.

Ajudem-me a compreendê-los: então a maior parte dos apicultores não estão associados ou fazem parte de associações, agrupamentos ou cooperativas?

Nessas organizações não têm por hábito realizar com a frequência que a lei ou que as circunstâncias o exigem, assembleias-gerais, reuniões e outros tipos de encontros onde fazem chegar os respectivos anseios aos órgãos de direcção?

A maioria (senão a quase totalidade) dessas organizações não está associada numa plataforma central designada por Federação Nacional dos Apicultores de Portugal?

Não realiza essa mesma federação reuniões suficientes (e decisivas) onde as direcções das associações, cooperativas e agrupamentos devidamente mandatadas pelos respectivos apicultores associados se fazem representar?

Nas reuniões do GAPA (Grupo de Apoio ao Programa Apícola, onde a federação é um dos componentes), as reivindicações e anseios dos apicultores não chegam através de toda essa cadeia associativa?

Acredito piamente que as melhores intenções dos apicultores chegaram á direcção da respectiva associação, que por sua vez os levou à federação e que finalmente os fez ouvir no GAPA. Mas o resultado é que toda a comunidade apícola está insatisfeita, para não dizer irada.

Assumindo que não se perdeu informação pelo caminho, o mais certo é que os representantes dos apicultores, dada a eventual desproporcionalidade de forças, não consiga ou naturalmente e por outras razões maiores não possam ombrear com o IFAP/GPP/DGAV/DRAs, etc. Por isso as reivindicações/anseios dos apicultores, (vulgo legítimos beneficiários do Programa Apícola Nacional, da fama não se livram) não tiveram reflexos no referido programa.

Ou pelo menos os milhentos comentários que correm nas redes sociais, mails e demais comunicações apontam para isso.

Não levando a água ao moinho ou o barco a bom porto, seria suposto a federação protestar junto das entidades competentes, quanto mais não seja porque os legítimos beneficiários do PAN, seus representados, aparentemente em nada vão beneficiar.

Se de facto protesta, fá-lo tão discreta e silenciosamente que nada transparece para o exterior, sobretudo os resultados que os apicultores anseiam… tal como não protestam as associações nem tão pouco os associados.

O que é que falhou ao longo deste percurso?

Há poucos dias recebi um comentário no montedomel onde um dos visitantes me confessou ser um assíduo frequentador do blog, manifestando tristeza pelo facto de há muito tempo não ser actualizado. Já não tenho idade nem disponibilidade para esses luxos, mas confesso que fiquei comovido, desinteressadamente esta nova forma de comunicar acaba por criar laços entre muita gente. Tentei dar a resposta politicamente mais correcta e saiu-me qualquer coisa relacionada com a minha preguiça.

Mas a verdade, para a pessoa que fez o comentário, para quem mo perguntou pessoalmente, por mail ou outra forma qualquer, para os demais apicultores que me visitam na Web, por todo o carinho, respeito e amizade que tenho por todos, os Senhores Apicultores conseguem tirar a paciência até ao Papa Francisco! Parece não valer a pena continuar a actualizar o blog, partilhar e até incomodar os apicultores com tudo o que aqui se publica porque pouco ou nada altera o que está incorrecto. Tudo continua na mesma ano atrás de ano, o único aspecto que parece actualizado é mesmo a insatisfação dos apicultores que nada fazem para mudar o rumo das coisas.

Nem há uma ano apresentei nesse espaço as reivindicações e propostas elaboradas pela equipa técnica e demais apicultores da ADERAVIS, bem como de outras associações que connosco colaboraram:


Há cerca de um ano que a mesma equipa técnica advertiu para as injustiças relacionadas com a sanidade apícola, nomeadamente as desigualdades de direitos entre os apicultores nacionais e o resto da Europa:


Alguém ou alguma entidade envidou esforços de uma forma concertada no sentido de prevenir os problemas que se preconizavam nesses documentos e que mais cedo ou mais tarde iriam afectar TODOS os apicultores?

Alguém ou alguma entidade questionou ou de alguma forma se fez ouvir junto dos serviços oficiais no sentido de manifestar o descontentamento para as injustiças aí apontadas, assumindo que as acharam legítimas?

A ADERAVIS, enquanto entidade com personalidade jurídica e evidentemente com direitos, remeteu as questões mais pertinentes deste último documento à Direcção Geral de Alimentação e Veterinária, vulgo entidade pública paga com os impostos de todos nós e que volvido um ano ainda não recebemos qualquer resposta.

Dado o desinteresse e até o desprezo que a DGAV nos votou, informamos o Ministério da Agricultura do ocorrido, a quem colocamos as mesmas questões e com um resultado igual: sem qualquer resposta até à data e já lá vai um ano.

Face ao exposto, este é o Programa Apícola que escolhemos (ou pior ainda, que deixamos que escolhessem por nós) e por assim dizer: o Programa Apícola que merecemos, talhado à nossa medida!!!

* Queimá vunvú – expressão do dialecto forro (crioulo de S.Tomé e Príncipe) que designa aqueles que queimam as abelhas para lhes retirar o mel.

4 comentários:

Anónimo disse...

Escutei que temos de tratar com productos homologados ou nao teremos tecnico apicola..? Se for verdade o cumulo da estupidez aterrou em Portugal...
Sendo tal verdade, como poderemos seleccionar abelhas resistentes? ou utilizar apenas tecnicas amigas do ambiente(controle em zangao,sumo de limao, etc)?
Seremos obrigados a envenenar mel, ceras e pessoas por inerencia para sermos considerados gente e respeitados pelo PAN!?
Como poderemos ser inovadores?
Que tal em Maio aquele encontro e pescaria de apicultores de que falamos algum tempo atras?

Eu sou apicultor... Senhores governantes nao me obriguem a ser assassino!!! Combater a varroa SIM...cegueira oao ritmo de lei Nao!

Abelhasdoagreste

Eco-Escolas disse...

Sei que o facto de algumas ilhas dos Açores serem indemnes à Varroa é uma questão que pouco conta no seio de toda esta polémica. Mas não deixa de ser surrealista obrigar alguém a comprar um fármaco para uma doença que não tem, ou estarei enganado?
Alguém me poderá informar, no nosso caso, o que colocar no campo "Montante Total do Medicamento" no formulário de candidatura à medida 2?

Boa sorte para todos

António Marques
Frutercoop

Pedro Mendonça disse...

Com este PAN é para esquecer o que alguns vinham a tentar aos poucos: tratamentos menos tóxicos e passíveis de deixar resíduos perigosos. A não ser que a compra dos homologados seja para ingês ver (quem gasta dinheiro claro que depois usa) e se façam tratamentos alternativos.

Essa dos Açores ainda é mais ridícula dás várias que poderiam ter saído neste novo PAN.
Vai-se tratar para o que não existe como medida de precaução, não vão elas decidir aparecer por lá?
Vão os açoreanos passar a "revender" os fármacos para o continente!?
Esta e várias outras dúvidas ainda não estão esclarecidas e o IFAP e GPP já deveriam ter tratado disto. Já saíram os formulários para a candidatura mas não saíram os esclarecimentos às dúvidas de todos.
Entretanto os prazos vão passando.

Pedro Mendonça

Anónimo disse...

No que toca à minha associação, já nos borrifámos no PAN. Estamos fartos do stress permanente, vem, não vem, declarações e resmas de papel para ontem, coimas e multas das finanças e segurança social.
Basta!
Não precisamos do PAN. Continuamos a dar assistência técnica aos apicultores, uma vez que temos técnicos na direcção. Quanto ao medicamento, andámos todos estes anos a correr atrás dele, para termos acesso só uma vez...
Gostava de saber o nome da pessoa, que deu os pareceres técnicos para as homologações e quais as suas habilitações académicas e profissionais.
Não sei se fez o curso na faculdade do outro, mas gostava que me explicasse porque razão, deu homologação para um medicamento, que só actua no varroa jacobsoni, quando nós , o que cá temos é varroa destructor...
Das duas uma , ou o tipo faltou a essa aula, ou anda a gozar conosco.
Abelhasah.