O LAGAR DE CERA DE S. MARCOS
DA ATABUEIRA
Recentemente
foram encontradas várias referências a lagares de cera na região. De facto,
para além de haver situações de lagares que eram simultaneamente de azeite e de
cera, havia nesta região lagares que só trabalhavam a cera.
Um desses
lagares situava-se em S. Marcos da Atabueira. A referência mais antiga
encontra-se no Annuario Commercial de 1902 onde está, na parte relativa a S.
Marcos da Atabueira, na página 1099, a entrada: “Cera com lagar e branqueio (Fabrica de): Bartholomeu Jaldon y
Jaldon.” A mesma referência encontra-se ainda na edição de 1906 da mesma
publicação, na página 1384, e na página 1909 da edição de 1911. Só tivemos
acesso a estas três edições.
O edifício
do lagar ainda existe, embora já não tenha qualquer vestígio da sua actividade
relacionada com a cera. Encontra-se no limite Noroeste da aldeia e ainda é
referido localmente como lagar de cera. Não foi possível encontrar na memória
local referências ao seu funcionamento. O edifício, de grandes dimensões e em
banda, divide-se em três áreas independentes: uma área central de residência e,
no seguimento desta, um casão de arrumos da actividade agrícola.
Adossado e mais baixo, outro casão onde funcionou o lagar de cera. Note-se que, enquanto o casão agrícola tem acesso posterior pela cerca das traseiras, este último casão tem acesso directo da rua, o que parece pressupor uma utilização com entrada e saída frequente de pessoas estranhas ao grupo familiar. Como se disse atrás não tem já qualquer vestígio de estruturas que indiciem a actividade relacionada com a cera, que terá terminado algures nos anos 20 ou 30 do século passado. Foi-nos referido que, numa cerca que se encontra nas traseiras do edifício, haveria umas ruínas de estruturas que estariam relacionadas com o lagar de cera, mas de que já não restam vestígios nem foi possível confirmar.
Adossado e mais baixo, outro casão onde funcionou o lagar de cera. Note-se que, enquanto o casão agrícola tem acesso posterior pela cerca das traseiras, este último casão tem acesso directo da rua, o que parece pressupor uma utilização com entrada e saída frequente de pessoas estranhas ao grupo familiar. Como se disse atrás não tem já qualquer vestígio de estruturas que indiciem a actividade relacionada com a cera, que terá terminado algures nos anos 20 ou 30 do século passado. Foi-nos referido que, numa cerca que se encontra nas traseiras do edifício, haveria umas ruínas de estruturas que estariam relacionadas com o lagar de cera, mas de que já não restam vestígios nem foi possível confirmar.
Salvo
algumas raras excepções localizadas no Norte do país, os lagares de cera foram
declinando durante a primeira metade do século passado em virtude da diminuição
do interesse económico da cera de abelhas.
A zona de
Aracelis e de S. Marcos da Atabueira foi, até inícios do século XX e à
semelhança de grande parte do Alentejo, uma zona essencialmente de matos,
denominados em documentos da época como charneca. Essa charneca era constituída
sobretudo por arbustos, de que se destacariam a esteva e outros de menor porte
como o rosmaninho.
Estas zonas
de mato eram aproveitadas pelas populações locais para um conjunto de
actividades como a recolecção de plantas comestíveis, medicinais e aromáticas,
de cogumelos e túberas, a caça (bastante abundante, quer de aves quer de
mamíferos), a lenha para cozinhar e aquecimento. E também para a apicultura
actividade, antes como agora, importante nesta região. Num livro de 1747 refere-se,
ao enumerar o conjunto de riquezas naturais da zona de Aracelis: “(…) e muitas
cilhas de colmeias, de que recebem grande lucro os moradores”. De facto a
apicultura, que já era uma actividade económica importante nessa altura,
continuou a sê-lo durante muito tempo: a região baixo-alentejana foi, até
finais do séc. XIX – inícios do séc. XX, grande produtora de mel e cera, de que
exportava grande quantidade. A água-mel, em contrapartida, destinava-se
sobretudo ao consumo local. A apicultura seria uma actividade muito divulgada,
em que quase todas as famílias tinham uma pequena quantidade de cortiços,
encontrando-se, por isso, a produção pulverizada pelo território.
Enquanto o
mel era utilizado sobretudo como adoçante, a cera era um produto bastante valorizado
pelas suas utilizações que iam desde a iluminação até ao tratamento e/ou
impermeabilização de um conjunto de materiais, nomeadamente tecidos, couros e
madeiras. A sua comercialização era feita por indivíduos, sobretudo espanhóis,
que percorriam o território comprando a pouca cera que cada apicultor produzia.
1 comentário:
Mais um tesouro perdido. É uma pena deixar perder este património.
Enviar um comentário