Este assunto nunca está
encerrado.
Agora foi porque recebi uma série
de fotos enviadas pelo meu amigo Jorge Tiago, fotos essas que registam alguns
aspectos comportamentais menos conhecidos destas estranhas vespas.
Começa logo pelo facto do ninho
ter sido construído no exterior, no tronco de um Sobreiro, quando sabemos que é
habitual fazerem-no em tocos ou buracos mais protegidos da intempérie.
Pouco conheço da
biologia/ecologia da espécie, mas os únicos ninhos completos que vi, retirados
um de um toco de árvore e outro do interior de um cortiço, não tinham a
protecção exterior em fibra vegetal como a da imagem acima. Apenas constroem os
discos de alvéolos sobrepostos e ligados por pilares.
Talvez quando optem por construir
no exterior, ou não tenham alternativa (?), envolvam os alvéolos com essa
protecção extra. Não deixa de ser fascinante como elas avaliam as condições
disponíveis e alteram a sua rotina para um comportamento mais elaborado.
Basicamente são conhecimentos, habilitações, que possuem mas não utilizam,
reservando-os apenas para quando necessários.
Ou então, o que é bem provável, essa capa de celulose exterior terá sido removida acidentalmente nos ninhos retirados de buracos que observei.
Ou então, o que é bem provável, essa capa de celulose exterior terá sido removida acidentalmente nos ninhos retirados de buracos que observei.
Na imagem anterior é bem notória
a diferença entre os indivíduos da colónia, nomeadamente nas dimensões e na
pigmentação dos anéis. Já tinha percebido essa diferença quando fotografei as Vespas crabro para o último post.
Os insectos de menor dimensão não
têm os anéis negros até à extremidade do abdómen, como os maiores, mas mantêm
no entanto as manchas em forma de gota. Se observarem a primeira imagem do post
anterior (O Ataque da Vespa crabro)
nota-se que essa vespa também tem poucos anéis negros mas apresenta manchas
acinzentadas e sem forma padronizada na faixa amarela dos anéis.
Não sei se tais diferenças se
devem a diversas castas ou funções dentro da colónia, as castas com diferente
morfologia são mais comuns nas formigas, talvez até dimorfismo sexual,
possivelmente as menores serão obreiras e as maiores as fêmeas férteis que irão
sobreviver ao Inverno para fundarem novas colónias no próximo ano…
As referências apontam para várias
raças geográficas ou subespécies de Vespa
crabro, talvez isso justifique as diferenças na pigmentação de colónia para
colónia.
Larvas de Vespa crabro nos alvéolos
Na imagem anterior uma enorme
larva que poderá ter caído acidentalmente do ninho, o que parece pouco
provável, ou talvez expulsa pelas adultas por qualquer razão sanitária. Tal
também se poderá dever à proximidade do período frio e as vespas eliminem todos
os indivíduos poupando apenas as fêmeas e machos férteis. As abelhas fazem o
mesmo com os zangãos nesta estação, por motivos de economia de reservas face à
inutilidade daqueles no período que se avizinha.
O Jorge Tiago chamou-me a atenção
para o facto de o solo debaixo do ninho apresentar uma mancha escurecida,
possivelmente devido à enorme quantidade de dejectos líquidos que as vespas
expulsavam com alguma frequência:
Mérito e paciência do Jorge que
conseguiu fotografar as vespas no preciso momento em que uma delas expulsou um
abundante esguicho.
Já fotografei abelhas rainhas com
um ovo na extremidade do abdómen, outra vez consegui uma que regressava do voo
nupcial onde se via perfeitamente os ganchos do pênis do zangão na parte
terminal do abdómen. Fotografar uma vespa em plena evacuação de líquidos
fisiológicos foi mesmo uma grande façanha do Jorge Tiago!
Há uma árvore pimenteira no
jardim frente à sede da ADERAVIS, sob a qual eu estaciono o meu carro. Todos os
dias nesta estação eu vejo imensos polinizadores a visitarem as flores e bagas
dessa árvore, abelhas do mel, abelhas solitárias e várias espécies de vespas
entre as quais a Vespa crabro.
Percorrem toda a copa num voo ruidoso, por vezes arremetem contra um cacho de
flores, não sei se para caçar outro insecto, mas já vi uma delas partir com
outra vespa menor nas patas. Suponho que também colectam néctar para a sua
própria alimentação.
Que pena não conhecermos
suficientemente a espécie, decerto que poderiam ter muita utilidade no combate
a insectos nocivos nas lutas biológicas. Volto a frisar que se trata de uma
animal formidável!
2 comentários:
Boa noite
Como dizes, também suponho que colectem néctar ou outra secreção de algumas plantas, pois na procura pelo ninho deparei-me com muitas destas vespas junto a plantas e a pousar aqui a ali sem que outros insectos lá estivessem, também as vi a comerem figos dias a fio incessantemente, por isso, suponho que o açúcar fará parte da sua alimentação.
Um forte abraço
Jorge Tiago
Olá Joaquim
Concordo contigo. São um insecto magnífico, extremante adaptado ao seu meio ambiente. Infelizmente a crabro corre o risco de ver os seus habitats seriamente afectados pela velutina. É o que está a acontecer na Coreia, onde a velutina, que também lá é uma espécie exótica/invasora, está aumentar as suas populações, aparentemente à custa da crabro e da mandarina.
Julgo que a diferença de tamanhos e cores entre as crabro se devem ao facto de umas serem fêmeas e outras machos.
Um bom 2015 para ti e para todos os leitores do teu blogue.
Também me parece que o néctar/mel fazem parte da sua dieta dado que as vi várias vezes em cima de opérculos resultantes da cresta. Foi pena não ter possibilidade de fotografar a cena. Esses opérculos estavam a ser limpos por abelhas, vespas, abelhões e várias crabro, lado a lado, sem sinais de temor, na mais completa tranquilidade.
Eduardo Gomes
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