03 setembro, 2008

Muros Apiários em Casa Branca

Casa Branca foi uma localidade com marcada tradição apícola em tempos idos. Haviam inclusivamente várias famílias que não vivendo exclusivamente da produção de mel, este seria um dos principais sustentos, senão o principal.
Tinham na ordem dos 200 ou 300 cortiços, que albergavam em pequenos muros apiários. Estes muros localizavam-se em encostas com mato, nomeadamente a Esteva e o Rosmaninho, os mais abundantes.
Os apiários encontravam-se sempre perto dos terrenos de cultivo onde as famílias passavam largas temporadas na lavoura e noutras ocupações agrícolas.
Nesses tempos abundavam a caça e os predadores, os cortiços eram muitas vezes pilhados por animais selvagens. Entre os mais citados encontravam-se os Javalis e os Texugos, que pela sua voracidade causavam grandes danos quer na produção de mel, quer nos próprios cortiços que acabavam destruídos com estas visitas. Para proteger os apiários destes ataques construíam-se pequenas fortificações em taipa que não teriam mais de metro e meio de altura.
Como nem sempre havia disponibilidade de pedras para construções mais sólidas, usava-se o barro muito abundante nestas paragens e faziam-se as paredes em taipa. Para o efeito limpava-se o local, normalmente uma encosta pouco inclinada, fazia-se um pequeno alicerce e colocavam-se moldes de madeira (taipais) para segurar a “lama” enquanto estava fresca.


A terra era escavada ali mesmo ao lado, era misturada com pequenas pedras para dar estrutura, e com água claro, mas em quantidades mínimas, ao contrário do que possa parecer. Ás vezes pouco mais era que humedecida, o mais importante era o aperto que se lhe dava com os paus, conforme referem os mais velhos. Iam adicionando mais material e batendo lentamente como se se tratasse de um pilão.

O muro tinha sempre uma forma quadrada ou rectangular, com cerca de 20 x 20m ou 25 x 25m e uma altura de 1,5m.

Deixavam-lhe uma abertura mais ou menos estreita para acesso ao interior e que tapavam com uma porta rudimentar, normalmente feita de ramalhos de azinho e mato.
Um dos aspectos mais curiosos tinha a ver com a protecção das paredes de taipa contra a chuva. Como estes materiais eram muito friáveis, depois de um Inverno as paredes desprotegidas por cima muito rapidamente se desgastavam, o que obrigaria a frequentes trabalhos de reparo. Para evitar esta situação arrancavam-se Estevas verdes, abria-se-lhe a ramagem e eram colocadas sobre o muro com as raízes para cima, de modo que a água da chuva escorresse pelo arbusto e não danificasse a parede. Isto era feito a toda a extensão da parede de taipa, desta forma duravam muitos anos sem precisarem de concertos importantes. Essas Estevas que eram substituídas anualmente.

Estes recintos, por vezes tinham três ou quatro socalcos baixos e pouco nítidos onde o apicultor dispunha filas paralelas de lajes de xisto, sobre as quais assentavam então os cortiços.
As visitas aos apiários eram mais frequentes consoante os trabalhos agrícolas sazonais obrigavam a estadias mais ou menos prolongadas na proximidade das colmeias. Fora isso, os apicultores poucas mais vezes lá iam que as necessárias para capturar novos enxames e fazerem a cresta. Até porque a sanidade apícola nunca tinha grandes novidades, as colónias só pereciam com fome ou sem rainha, e nessa altura a traça tomava conta do resto. Era ainda cedo para se ouvir falar em Loque Americana ou na Varroose.
De qualquer forma, quando os cortiços “morriam” infestado de traça, era normal o apicultor colocá-los nos fornos onde cozia o pão e dar-lhes o calor necessário para destruir esta moléstia.
Era uma vida pacata a de “apicultor da antiguidade”, ouvi falar de um caso nesta localidade, onde o apicultor tinha um certo receio das abelhas e pouco se aproximava do muro, era antes a esposa que desempenhava as funções de “abelheira”. Ao que parece, as vezes que o marido lá ia, era para retirar umas garrafas de aguardente que escondia nos troncos das árvores, pois com a proximidade das abelhas não tinha de recear que alguém lhas roubasse...
Dos muros em taipa, pouco mais resta que pequenas saliências de terra em forma quadrangular, a falta de protecção e reparos levou á sua quase total erosão. Até há cerca de três anos, um deles ainda estava activo, albergava um apiário com mais de 50 cortiços, no entanto, também este já foi desactivado.

1 comentário:

PM disse...

Por acaso sabe quais as medidas do muro apiário com 50 cortiços?

Só para saber qual a área que usavam para os apiários antigamente.