Após uma viagem de perto de 2000km (só para lá) subi finalmente a montanha… ou melhor, comecei a subir, pois como achei que ia enganado no caminho resolvi encostar para me reorientar.
Não podia ter parado em melhor lugar pois a menos de três metros do carro deparei com a “comissão de boas vindas” sob a forma de um apiário tradicional com as respectivas colmeias. Tratava-se de uma construção de madeira, com chapas onduladas no telhado e um estrado onde assentavam as caixas do modelo Dadant.
A coisa prometia, pensei eu, desta vez não vou ter de procurar muito…
A segunda surpresa veio logo a seguir, quando eu pensava que já tinha subido demais para um ser vivo sem asas... ainda me faltavam cinco quilómetros encosta acima para chegar a Les Bottiéres, onde iria ficar.
Não foi o fim do mundo, mas quando as bermas da estrada se encontram desniveladas a pique uns 300 ou 400 metros, por vezes sem rails ou barreiras de protecção, fora a vista panorâmica do vale alguns quilómetros mais abaixo, já dá que pensar a um rapaz do Alentejo onde os desníveis raramente vão além dos dois ou três metros…
Mais cuidado quando escolher o próximo destino de férias…
Chegado então à aldeola de montanha, a confirmação que me encontrava numa região fortemente apícola, as colmeias faziam mesmo parte da paisagem: o Bar – Restaurante “Le Grenier”, não só tinha uma colmeia ornamental na fachada, como ainda usava os artigos apícolas como componentes principais da decoração interior:
Já na sala de jantar:
Chegamos finalmente a casa, descarregar as malas, duche quente e uma soneca numa “cama de verdade” para recuperar das vinte e tal horas de condução. Entretanto caiu um dos maiores nevões que já assisti, mesmo depois de me garantirem que nessa semana a queda de neve ser pouco provável…
Na manhã seguinte, além da neve que já cobria os picos e encostas mais altas, toda a paisagem estava branca, ainda assim resolvemos ir dar um passeio pelo campo nevado. Estávamos a 1350 m de altitude, e devemos ter subido acima dos 1500, não imaginava que nestas condições a atmosfera provocasse tal cansaço.
Depressa nos recompusemos quando num atalho encontramos um gigantesco apiário, com mais de 20 colmeias e núcleos, uma placa com o respectivo número de apicultor e uma enorme construção de madeira a proteger as colmeias.
Achei curioso o facto de quase todas as colmeias terem uma protecção de madeira sobre a entrada/saída das abelhas, algum costume daquela região:
Numa prateleira, sobre outras colmeias, encontravam-se três colmeias tradicionais em palha entrançada:
Pareceu-me um apiário “muito português”, pois sob o mesmo telheiro e na parte de trás das colmeias encontrava-se uma verdadeira oficina/armazém onde o apicultor devia proceder aos consertos e guardava vários materiais e equipamentos, pois encontravam-se aí vários armários e um frigorífico…
Outro dos aspectos que me chamou a atenção foi o facto de não só neste apiário como noutros que vi depois, a construção se encontrar imediatamente atrás de um grupo de árvores e respectivos rebentos, dando a sensação que tal barreira vegetal na frente das colmeias seria um estorvo ao voo das abelhas. Na volta, e dadas as condições climatéricas da região, talvez isto funcionasse como uma protecção ao temporal e aos ventos frios.
De facto, apesar do Sol brilhar nessa altura, não vi uma única abelha a entrar ou a sair.
Uma parte do grande apiário parecia destinada apenas à reprodução de colónias, uma vez que se encontravam nesse sítio alguns núcleos de pequenas dimensões, tal como algumas colmeias muito “avantajadas” com duas saídas independentes e talvez destinadas à criação de rainhas.
Infelizmente não cheguei a conhecer o respectivo “rucher”, uma vez que ele habitava longe dali.
Já no regresso a casa, e bem no meio da aldeia, encontramos um novo apiário muito semelhante ao anterior, mas que infelizmente estava desactivado. Tinha apenas duas ou três colmeias tombadas, mas as mesmas características de construção, tal como as respectivas árvores e rebentos a crescer na frente.
Para o primeiro dia não estava nada mal, só lamentei a dificuldade (impossibilidade?) de encontrar os apicultores, mas era mesmo difícil encontrar pessoas naqueles locais, apesar do aparente bom tempo.
Os apiários tradicionais desta zona da Sabóia francesa, têm quase todos um padrão arquitectónico semelhante e que se poderá resumir a um telhado quase sempre em chapa ondulada, uma parede de madeira na parte de trás, por vezes também com paredes de madeira laterais e as colmeias assentes sobre um estrado.
A grande disponibilidade de madeira, tal como o número de serrações e carpintarias familiares, associados ao clima rigoroso permitem e obrigam a este género de protecção das colmeias:
agora eu, e a abelha que a Luísa me ofereceu...
12 abril, 2010
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4 comentários:
Primeiro capítulo excepcional! Uma amostragem completa, aqui no quentinho do sofã!
Confesso que bem gostaria de estar numa paisagem bucólica dessas onde o frio é seco e a ver essas maravilhas!
Na verdade lá diz o ditado "...cada terra tem seu uso..." tem de haver toda uma adaptação quer das abelhas em si ao clima, quer do homem na confecção da melhor "casa" para elas.
Admiro, relevo e dou os meus parabéns a um maravilhoso casal que faz turismo apícola. Não consigo descrever o meu sentimento quando li a V. apaixonada descrição.
Bem hajam pela partilha.
Ficar-Vos-ei eternamente grato.
Aguardo mais detalhes com ansiedade.
Um Abraço a Ambos,
Olá Octávio,
Muito obrigado pelo comentário encorajador.
De facto não tem preço, para quem vive numa terra tão quente, caminhar por percursos gelados numa terra desconhecida em que a cada curva nos deparamos com uma maravilha qualquer. Melhor ainda quando a surpresa se trata do nosso passatempo preferido - as abelhas!!!
Um grande abraço
JPifano
Meus Amigos
Li atentamente e fiquei sem palavras, gostei imenso da descrição, as fotos são lindas e com muita " inveja" de não ter feito essa viagem! Só o frio é que me arrepiou um bocadinho!Obrigado pela partilha!
Boa noite!
É engraçado, este tipo de colmeias!
Tem muitos pormenores.
Já vi um vídeo apícola também sobre França e também em região de montanha, com o mesmo tipo de colmeias com a excepção de que eram todas negras (tipo madeira queimada) e apenas os telhados eram de cores diferentes. Mas aí não existia essa estrutura de madeira e telhado zincado para proteger, não sei porquê!
Reparo em algumas fotos numa tábua ou chapa que serve de extensão à rampa de entrada e acho que já vi isto num outro link do MontedoMel!
Deve ser para as abelhas mais cansadas! :)
Um abraço
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