18 julho, 2012

Alimentadores Internos para Colmeias


Desde o advento do SDC (Síndroma do Despovoamento de Colmeias), que opto por ministrar alimento complementar às colónias de abelhas durante todo o Inverno.

A hipótese das alterações climáticas enquanto factor responsável pela diminuição da quantidade e da diversidade das fontes de néctar e pólen e consequentemente dos problemas nutricionais que daí resultam, é cada vez mais remota, em detrimento dos pesticidas.
Apesar disso, continuo a alimentar as abelhas com uma periodicidade quinzenal nos meses de Outubro a Fevereiro, Março, o que entre os componentes do xarope e combustíveis fica bastante caro.

Nesse sentido e numa tentativa economizar nos custos procurei utilizar alimentadores (internos) de maior capacidade e que não obriguem a tantas visitas ao apiário. De qualquer forma é importante não esquecer que o alimento também não deve durar tanto tempo que possa fermentar…

Um dos entraves que surgiram foi o espaço exíguo, sobretudo muito baixo, entre a prancheta e o tampo, o que limitava muito os materiais baratos a utilizar. Os pratos de plástico alimentares, muito baratos e que se encontram com muita facilidade, cabem perfeitamente entre o tampo e a prancheta, mas têm uma capacidade muito reduzida, sobretudo quando a colmeia não está nivelada.

Por outro lado, os referidos pratos não são um material muito reciclável, são bastante quebradiços e difíceis de higienizar.

Este ano ocorreu-me a utilização de outro tipo de pratos de plástico: os utilizados para receber o excesso de água sob os vasos de flores. Suportam um volume muito maior de alimento, são recicláveis, facilmente higienizáveis e… apenas custaram 0,40€ a unidade.

Relativamente aos alimentadores convencionais, muito caros, utilizados na apicultura, ainda têm as vantagens da facilidade de armazenamento e de higienização:


O único inconveniente destes pratos são mesmo as dimensões, cabem entre a prancheta e o tampo mas não sobra espaço para o acesso das abelhas. Para ultrapassar esta situação socorri-me de aros de madeira, com as dimensões esquematizadas abaixo e com um custo de 1,67 € a unidade.

Imagem acima: alimentadores entre o tampo e a prancheta, sem e com o aro de madeira.

Cada um dos aros, aplicado numa colmeia, permite a utilização de dois ou três pratos alimentadores e com fácil acesso para as abelhas. De qualquer forma, um único prato comporta mais de meio litro de alimento o que é suficiente.


Mesmo nas colmeias desniveladas, estes alimentadores suportam grande quantidade de alimento e sem perigo de transbordar.

Os aros de madeira têm outra utilidade que não devemos desprezar: colocando-os sob a prancheta criamos uma câmara-de-ar sobre o ninho, muito vantajosa para a aplicação de acaricidas homeopáticos, evitando prejuízos à colónia.



Câmara de ar sobre os quadros para colocar acaricidas.

A utilização dos aros de madeira para aumentar o espaço dos alimentadores faz com que o tampo não encaixe no ninho, havendo o perigo do conjunto se deslocar e a colmeia ficar aberta acidentalmente. Para o evitar utilizei parafusos para prender o aro à prancheta e as tradicionais pedras para anularem os efeitos do vento.


Em cima: colmeia sem aro de madeira, em baixo a colmeia com o aro, onde se pode observar o tampo sobreelevado e mal assente no ninho.


Em resumo, a utilização deste equipamento deveu-se à procura de alimentadores económicos (pelo custo e pela grande capacidade de alimento que suportam), tal como facilmente armazenáveis, higienizáveis e resistentes. Com os referidos pratos dos vasos e os aros de madeira cumpriram-se todos esses requisitos.

Mas… apesar da capacidade de acomodar grande quantidade de alimento artificial não devemos evidentemente exagerar nas dosagens, dado o risco do alimento fermentar. Este pormenor faz ainda mais sentido quando utilizamos xaropes estimulantes, com muita humidade e por isso mais susceptíveis a decomporem-se.

A questão que sempre se nos depara no momento de alimentar as colónias de abelhas é: que quantidade de alimento devo disponibilizar a cada colónia?

A resposta mais óbvia, ou pelo menos a mais comum é o que o alimentador suporta ou depende da quantidade de alimento que confeccionamos e geralmente igual para todas as colmeias.

No entanto, nem todas as colónias têm as mesmas necessidades nutricionais, sobretudo porque  nem todas têm a mesma população.
Se o objectivo é economizar o alimento, evitando que se deteriore em colónias pouco populosas ou que falte em colónias maiores, convém adequar a quantidade de xarope em função da dimensão da colónia.

Ajudaria bastante sabermos o número de quadros ocupados pelas abelhas, desta informação poderíamos inferir da população de cada colmeia e aferir as respectivas quantidades de alimento. Tarefa fácil com o tempo quente, mas uma acção a ponderar com baixas temperaturas.

Podemos e devemos esperar por uma tarde quente para retirar tampo e prancheta e muito rapidamente contar o número de quadros ocupados no Inverno.

Habitualmente desenho esquemas simples como o que se seguem, onde pouco mais anoto que o número de quadros ocupados.

Até 4 quadros ocupados………… 100g a 200g de alimento
4 a 7 quadros ocupados …………200 a 300g de alimento

Mais de 7 quadros ocupados …300 a 500g de alimento

Claro que estes números não são rígidos, nem resultam de aturado estudo científico, mas ajudam-me a dosear as quantidades de xarope em função da dimensão da colónia. Por outro lado e se fizermos tal avaliação mensalmente, podemos monitorizar o desenvolvimento da colónia.

As outras regras a não descurar

- Ministrar o alimento à noite ou ao fim do dia, sobretudo o estimulante.
- Também para evitar pilhagens, reduzir a entrada da colmeia para uma defesa mais eficaz.
- Higienizar os alimentadores antes de cada utilização.
- Utilizar aditivos que impeçam ou atrasem a fermentação.
- Apostar sobretudo nos alimentos proteicos, ou pelo menos não adicionar apenas os energéticos (mel, açúcar…).
- Colocar sobre o alimento materiais que impeçam o afogamento das abelhas, palha, cortiça, vegetação…

- Dosear o alimento para que não dure mais de três ou quatro dias, sobretudo o estimulante, muito húmido e susceptível de fermentar.
- Não esquecer o equipamento básico de inspecção de colmeias. Recordo-me de uma noite gélida, chuvosa e com vento em que as abelhas saíam e nos perseguiam como numa tarde quente de Verão.

Este ano, entre o início de Outubro e finais de Fevereiro confeccionei sobretudo xaropes ou pastas constituídos por:
- 70% de Mel + 30% de Pólen

- 70% de Mel + 15% de Pólen + 15% de Farinha de Soja

- 70% de Mel + 15% de Pólen + 15% de Levedura de Cerveja

A partir de Fevereiro e com as mesmas quantidades dos nutrientes referidos, adicionei 2 a 3 litros de água para cada 5kg de alimento sólido, até aos 5 litros de água para 5kg de alimento sólido, tendo constatado um crescimento notório em mais de 90% das colónias.
Creio que ainda nunca usei mais que um ano os mesmos equipamentos e estratégias de alimentação artificial de abelhas e tenho a certeza que esta ainda não será a última.

… e por falar nisso, estive esta semana à conversa com um amigo apicultor, desses apicultores da “velha escola”, que sempre têm tanto para nos ensinar e combinamos uma visita à exploração dele para uma reportagem sobre os estranhos, baratos e muito eficazes alimentadores que há muito ele faz uso.

10 comentários:

Abelha Preguiçosa disse...

A Saga dos Alimentadores!!!
:-))))))))))))))))

Alien disse...

... e tanto que há ainda para dizer sobre os alimentadores! :)
Um dia vou concluir que o ideal será mesmo dar 0,50€ a cada uma e desenrasquem-se :D

abraços

Anónimo disse...

Boa noite
eu não possuo secador de polen, se eu o recolher e congelar, será que ele se mantém em bom estado para alimentar as abelhas?
cumps
Carlos santos

Alien disse...

Olá Carlos Santos,

O pólen dito "fresco", que não foi seco, é muito mais interessante do ponto de vista nutritivo quer para as abelhas quer para nós.
Trata-se sem duvida de um alimento muito mais completo do que o que refiro no texto. O processo de secagem, na maior parte das vezes acaba por destruir alguns componentes.
Pode perfeitamente apostar nessa modalidade de conservação do pólen, aconselho-o inclusivamente a congelá-lo em doses individuais para que as possa descongelar à medida que vai necessitando.

abraços
Pifano

Anónimo disse...

Boa noite senhor Pifano
Eu também estava a pensar que seria mais vantajoso..
Não sei é quanto tempo é que o polen pode ficar na arca, sem perder qualidades, ou pior se estragar.
Eu como tenho poucas colmeias estava a pensar guardar algum colhido na primavera, para usar como alimentaçao de inverno.

cumps
Carlos Santos

Anónimo disse...

Alguém sabe se o polen pode estar 5 ou 6 meses na arca frigorifica sem se estragar?
cumps

Carlos Santos

Alien disse...

Olá Carlos Santos

Não convem ficar lá mais de um ano ou dois, mas nesse período à partida não há qq problema

Joaquim Pifano

AnaPCarvalho disse...

Grande ajuda esta! Li com atenção e agora vou ter que imprimir! Gosto de ler em papel! ler, sublinhar, tomar notas!

Alien disse...

Olá Ana

Fico muito satisfeito por ter ajudado!!! :)
Bjos

Osvaldo disse...

Boas.

Só vejo um inconveniente na utilização dos mesmos aros de madeira para os dois fins descritos (alimento e medicamento).
O própolis vai colar-se á tampa se não for bem raspado.
Eu, há tempos comprei umas colmeias velhas e 2 pranchetas estavam ao contrário e voltei-as. Na visita seguinte que fiz quase não consegui retirar a tampa dessas 2 colmeias, depois de finalmente as retirar tive o cuidado de raspar o própolis e mesmo assim nas visitas seguintes aquilo colava.
Em Mértola encontrei um apicultor que tem alimentadores exteriores feitos de materiais reciclados por outro apicultor que já deixou a actividade. Logo tiro umas fotos e envio.
Abraço