08 agosto, 2012

Um Apicultor Idoso


Há poucos dias visitei um amigo apicultor.
Já idoso, era um dos que mais gostava de visitar quando trabalhava no programa apícola.
Detentor de muitas colmeias e sobretudo de uma sabedoria daquelas que já vem de tempos antigos. Tem uma maneira muito própria de trabalhar, sem que com isso não acate as instruções técnicas ou demais novidades pelas quais tem muita avidez.
Até há poucos anos, o “Ti João” tinha uma das ocupações mais interessantes e sobretudo mais difíceis de conceber numa Europa do Sec. XXI: vivia quase que exclusivamente do que a Natureza lhe dava, uma actividade recolectora.
Vivia então da apicultura, da pesca, da colecta de pinhas e cogumelos. Mas fazia-o de uma forma sustentável, respeitando os recursos e o ambiente, tema pelo qual sempre demonstrava a maior das sensibilidades.
Gosto particularmente de visitar o seu “armazém apícola”, um misto de oficina e atelier de magia, onde opera os restauros ao equipamento e onde se podem admirar as invenções e instrumentos mais estranhos que a sua imaginação pode conceber. Certo é que tudo é apícola, seja na finalidade ou na origem.

Colmeias, cortiços, alças e uma lista infindável de equipamentos já sem uso não são considerados lixo.
Há sempre uma utilidade destinada a cada peça, fica a sensação que a dignidade de cada objecto é respeitada até ao limite: já não servem para a função original mas alguma utilidade ainda hão-de ter.
Veja-se o exemplo destes cortiços, núcleo e alças, entre ninhos para pombos, protecção para árvores e outras serventias que não consegui perceber, tudo manteve a actividade e a importância, assim sucedesse com as pessoas reformadas…
É caso para se dizer que “na apicultura nada se cria, nada se perde, tudo se transforma…


Ali perto, a caldeira da cera descansava dos dias mais activos, do tempo em que transformava milhares de bolas pegajosas da prensagem dos favos de cortiço em lingotes de cera dourada. Nesta região eram muito utilizados os bidons cortados ao meio para esta função, o apuramento da cera é bem mais trabalhoso mas o baixo investimento compensa.

Numa pilha de alças expostas ao Sol, algumas abelhas reciclavam o própolis pegajoso  que as temperaturas altas fluidificaram e tornaram mais acessível. São notórias as pelotas pouco homogéneas que transportam nas patas, contrastando bastante com as bolas quase perfeitas do pólen ou do própolis novo.
Um exemplo claro de como a economia natural, a única dita sustentável e digna desse nome, aposta bastante na reciclagem como estratégia de desenvolvimento.




Já no apiário deparava-se-me outra surpresa: uma forma alternativa de acender o fumigador. Quem veja as imagens há-de pensar que a protecção civil daria pulos de contentamento ao saber de tal prática. E não é para menos… acender fogueiras no matagal e em pleno Verão é no mínimo um absurdo, mas tem uma explicação e o risco não foi tão grande assim.
Boa parte dos apicultores desta região é apologista de um fumigador alimentado com combustíveis mais substanciais: ramos e pequenos troncos que originem brasas. O cartão canelado, as folhas ou o pasto só por sim não bastam, convém que haja lenha mais grossa para garantir que não se apague.

Dessa forma optam por acender uma pequena fogueira num espaço limpo de folhagem ou pasto e que uma vez formadas os carvões incandescentes os “varrem” para dentro do fumigador recorrendo ao formão ou a outra ferramenta. Seguidamente adicionam os materiais “mais ligeiros” como o pasto ou arbustos secos, nunca esquecendo um “tampão” de rosmaninho verde, em cima de tudo, para arrefecer e aromatizar o fumo…
Finda esta operação o apicultor derrama água sobre a fogueira, eliminando assim qualquer possibilidade de incêndio.

Admirável também o facto de numa região tão seca e quente, onde as fontes de pólen e néctar são praticamente inexistentes durante a estação quente e as colónias apresentam tal grau de desenvolvimento, como se pode observar pela criação e pelas reservas armazenadas:

A eterna luta das abelhas contra as cetónias que teimam firmemente em entrar nas colmeias.




Nos cortiços, as abelhas já começaram a aglutinar terra e outras particulas com própolis para isolarem o interior.

 

6 comentários:

Anónimo disse...

Boa tarde
Alguém sabe como fazer um desdobramento multi colmeia?
Podemos retirar quadros de varias colmeias e coloca-los imediatamente num novo núcleo? elas não brigam entre elas?

Vitor santos

Alien disse...

Olá Vitor Santos

Aconselhava-o a fazer uma busca nos posts do blog, visto que há uns quantos artigos sobre experiências com desdobramentos.

O desdobramento multi-colmeias, se bem que pouco produtivo (pois são necessarias varias colmeias para obter uma única colónia) têm a vantagem de enfraquecer pouco ou nada as colmeias de origem.

Pessoalmente nunca opto por esta modalidade...

Quanto à questão que colocou, é possível desde que utilize maioritariamente abelhas jovens, com menos tendencia para brigar. Pode maximizar este efeito se aspergir a colónia resultante com água açucarada ou "melada".

Mas, este sistema é sobretudo indicado para fazer os ditos "starters" ou seja colónias pouco equilibradas uma vez que a população de abelhas é constituida quase que exclusivamente por abelhas jovens (amas).

Para "equilibrar" esta colónia necessita de lhe adicionar boa quantidade de abelhas adultas, com idade suficiente para obreiras recolectoras, que recolham pólen e néctar, que por um lado diminuem a necessidade de alimento artificial mas aumenta a possibilidade de rejeição (brigas) entre elas.
caso o faça use sobretudo as abelhas adultas de uma unica colónia...

volto a insistir que não é dos métodos mais utilizados e pessoalmente não gosto muito de o fazer.
Se vai fazer desdobramentos nesta estação certifique-se que ainda tem pelo menos um mês de floração na sua região, caso contrário terá de apostar mais no alimento artificial...

abraço
Joaquim Pifano

Anónimo disse...

Olá!
Gostei! Mas fico com a sensação de que falta um final a esta história.
Não fazia ideia que as abelhas também misturavam terra e outras partículas ao propolis!
Na primeira foto do pão de abelha, é pólen escuro o que se vê em alguns alvéolos, ou é o alvéolo que está tapado com cera?

Abelha Preguiçosa disse...

Olá!
Gostei! Mas fico com a sensação de que falta um final a esta história.
Não fazia ideia que as abelhas também misturavam terra e outras partículas ao propolis!
Na primeira foto do pão de abelha, é pólen escuro o que se vê em alguns alvéolos, ou é o alvéolo que está tapado com cera?

Serra Talhada - PE disse...

Como retirar( transferir ) uma apis melífera para uma caixa longstroth. Tenho 2 cupinzeiros com abelhas mas não tenho roupa apropriada. só a fumaça resolve ?

Alien disse...

Olá

Suponho que me esteja a contactar a partir do Brasil
Só a fumaça não é suficiente, é necessário equipamento
e ferramentas adequadas.
O ideal seria encontrar um apicultor nas proximidades
que o ajudasse a fazer a transferência.

Att
Joaquim Pifano