25 setembro, 2008

“ESTÓRIAS” DA APICULTURA I

Ao contrário do que vos tenho habituado, desta vez não trago uma conversa cinzenta sobre a apicultura, sector que também nos dá muitos motivos para rir, mas desta vez com um riso saudável...
Por isso vou contar-vos cinco histórias de entre muitas que tenho coleccionado nos anos de técnico de apicultura:


1. PARA CAPTURAR ENXAMES

Há muitos anos atrás, ainda eu andava fora destas lides apícolas, quando um apicultor amigo me instruiu sobre a arte de capturar enxames. Contou-me em grande segredo os ingredientes e a técnica de borrifar os cortiços com a mistela mágica para atrair abelhas.
Jurou-me a pés juntos que a técnica era infalível, ainda no ano anterior capturara mais de vinte. O segredo da mistura era simples, urina de adolescente virgem! Imaginem!!! Ele próprio andava a guardar o orgânico líquido dos filhos, uma vez que se aproximava a Primavera.
Fiquei maravilhado com tal revelação. Nunca me passara pela cabeça que a castidade influenciasse tanto as abelhas, mas lá encaixei mais esse conhecimento.
Alguns dias mais tarde, noite escura, quando regressava a casa, encontrei por acaso a filha do dito apicultor. Vinha com o namorado, vinham dum local muito usado pelos jovens da terra para os “voos nupciais”.
Já devem calcular o fim da história..., no entanto fiquei tranquilo, ainda bem que os espanhóis comercializam o perfume de Aristeu, o conhecido atractivo de abelhas, pois à conta daquela filha ele nunca mais apanharia enxames.

2. PARA AFUGENTAR SAPOS E LAGARTOS DO APIÁRIO

Este truque foi-me ensinado pelo Galego, rapaz do campo e de muitos artifícios, 36 anos deles. Entre conversas de caça, dicas para matar lebres e javalis lá me confessou uma estratégia infalível para matar sapos e lagartos frente às colmeias, ensinamento que lhe transmitiu um idoso.
Ora o truque era o seguinte: em apiários onde se desconfie que sapos e lagartos façam o repasto entre as abelhinhas, crava-se obliquamente no chão um pau com 30 a 50cm.

Ainda pensei que se tratasse de um pau aguçado, e que a ideia daquele mastruço fosse a de espetar os bichinhos no pau. Mas não, nada disso, o requinte de malvadez ia mesmo mais longe.
Aconselhou-me então a atar um fio de pesca com anzol na extremidade do pau. O Galego não me falou no diâmetro do fio nem no tamanho do anzol, devia ser indiferente. De qualquer forma, e a quem interessar, basta ir a uma loja de pesca e pedir um anzol para capturar sapos.
Importa é que a extremidade do fio com o anzol não toque no chão, mas sim que fique a uma distância de 15 a 20 cm.

De seguida apanha-se uma abelha morta, ou mata-se para o efeito e prende-se no anzol, qual isco para sapo. Finalmente é só aguardar que o sapo venha almoçar, o vento oscile a abelha – isco e o sapo a engula. Ficará preso, mal tocando no solo, e o apicultor mediante umas pauladas certeiras fará justiça.



Moral da história: Pela boca morre o sapo ou o lagarto, ou como se diz na minha terra: levanta-se um padeiro às cinco da manhã para fazer pão para um mastruço destes!!!

3. PARA ANGARIAR FORMANDOS PARA A APICULTURA

Há uns anos atrás, um apicultor abeirou-se de mim informando-me que tanto ele como um grupo de apicultores seus conhecidos estavam interessados em frequentar uma formação em apicultura. Foi juntar o útil ao agradável, pois uma entidade local que organizava e promovia essas acções encontrava-se na disponibilidade de a realizar.
Contactei o grupo que tinha demonstrado interesse no curso, e estava tudo a postos para começar quando fomos informados de que faltariam ainda dois ou três formandos. Não me preocupei muito, dada a facilidade com que surgiram os primeiros, muito interessados no tema, arranjar-se-iam mais três.
Mas nada disso, missão impossível, mais ninguém queria aprender o ofício de “abelheiro”. Foi o cabo dos trabalhos para conseguir as três almas que faltavam. Entre muitas peripécias, contei com a ajuda de um apicultor meu conhecido, o Bacalhau. Foi então nestas andanças, depois de um dia de tentativas falhadas, que eu regressava a casa pronto a desistir, quando o Bacalhau teve um rasgo de ânimo e sugeriu que entrássemos numa tasca por ele frequentada. Talvez ali se encontrassem os formandos que faltavam. Se eu soubesse o que ia acontecer!!!
O Bacalhau conhecia o dono da tasca e lá fui apresentado como engenheiro, como já era hábito. Nisto, surgiu um gajo bêbado (mesmo muito bêbado), que estava ao balcão e começou a dizer que já conhecia o Bacalhau, e o Bacalhau dizia que não o conhecia. Esta discussão durou uma eternidade. Mais tarde, e conhecida por todos a nossa missão, o barman e o Bacalhau discutiam uma teoria sobre fazer-se ali na hora um cartaz formato A4 para promover o curso (apesar das inscrições terminarem no dia seguinte). Entretanto, o bêbado ia dando cotoveladas no meu braço sempre afirmando que já conhecia o Bacalhau, eu já transpirava. Da reunião Bacalhau – barman lá saiu uma deliberação – Fazer-se o Cartaz ! numa folha limpa e escrita com a letra do Sr. Engenheiro, que devia ser bonita...
Nesta fase, eu já não sentia o braço esquerdo. E foi também quando percebi o significado da expressão “ folha limpa” do barman, ao ver o caderno que ele me trouxe.
Alguém voluntariou uma caneta e consegui escrever qualquer coisa como “Curso de Apicultura”, a data e o local, o meu número de telefone e o do Bacalhau, para contacto dos interessados.
Eu sei que dias mais tarde alguém terá dito que a letra do Engenheiro não estava lá muito bonita naquele cartaz, mas o que as pessoas não sabiam é que enquanto o Engenheiro tentava caligrafar a letra bonita, estava um gajo bêbado (muito bêbado) a bater-lhe no braço e a dizer que conhecia o Bacalhau!
O barman entrou de novo em cena, com uma régua para cortar as franjas do papel A4 na margem arrancada às argolas. Trouxe também uma tesoura e fita cola para colar o cartaz, situação que provocou novo diferendo entre o barman, o Bacalhau e o gajo bêbado, relativamente à localização do papel... Ganhou o barman e o gajo bêbado.
Eu desenvolvia todos os esforços que me eram humanamente possíveis para abandonar aquele filme surrealista. O bêbado desapareceu, e o Bacalhau ainda me convenceu a tomar uma ginja.
Mais tarde, e já no caminho de casa, voltei outra vez a sentir o braço esquerdo...

4. CRIAÇÃO DE RAINHAS EM DEZ MINUTOS

Certa vez, visitei um apicultor que me tinha contactado para o ajudar a juntar duas colónias. Ele optara por este procedimento porque uma delas teria ficado órfã numa fase do ano em que seria infrutífero, ou pelo menos muito difícil, criar outra rainha.
Cheguei ao local, verifiquei as condições de trabalho, e pareceu-me estar tudo em ordem para a operação. É então que reparo num pormenor que poderia resultar numa situação divertida e simultaneamente resolver o problema ao apicultor.
Chamei-o e disse-lhe _ Olhe, não há necessidade de juntar-mos as colónias. Desta vez sem exemplo, eu vou-lhe “criar” uma rainha rápida para a colmeia órfã. Mas peço-lhe por favor que não ensine este truque a ninguém...
O apicultor, estupefacto, olhava muito sério para mim, _ e como vai fazer isso? É possível ? _ Desta vez é, _ respondi eu, tentando ficar com um ar sério.
Retirei o tampo e a prancheta da colmeia órfã, coloquei uma folha de jornal por cima , e finalmente uma alça sobre o conjunto, borrifei tudo com água açucarada.
O apicultor seguia atentamente cada um dos meus movimentos. E o final em grande, virei-me e retirei de uma oliveira atrás de mim, um pequeno enxame de abelhas extemporâneo e coloquei-o na alça sobre o jornal, tapei tudo com a prancheta e o tampo.
O apicultor, muito admirado disse: _ desta é que eu não estava à espera. Nem respondi, contou-me ele mais tarde que o “enxerto” tinha funcionado.

5. COLMEIAS COM VÁRIAS RAINHAS

Depois de tanto falar nos outros... chegou a minha vez, também tenho telhados de vidro. A história passou-se há quase dez anos, no primeiro enxame que eu capturei.
Resolvi seguir os conselhos do Sr. Leonel Belchior, publicados n’ O Apicultor, sobre a tendência dos enxames migrarem para as regiões onde a floração está mais atrasada. E de facto resultou, em menos de três dias tinha um cortiço povoado. Foi uma excitação enorme transferir aquela massa de insectos para dentro de um núcleo, eu tremia que nem uma vara verde. Consegui enfiá-las na caixa à terceira tentativa, nas primeiras duas caíram quase todas ao chão. Mesmo assim ficaram muitas cá fora e receei que voltassem a fugir.
Dos fracos conhecimentos que tinha, recordei-me que se a rainha estivesse na colmeia todas as outras entrariam, só que eu nunca tinha visto uma rainha. Mas como a sorte ajuda os principiantes, imediatamente a vi pousada num ramo. Com todo o cuidado coloquei-a no núcleo. Logo de seguida vi mais duas cá fora, não há que desanimar e com a ajuda de um pauzinho consegui repatriá-las. Nos minutos seguintes ainda vi mais algumas e consegui capturar mais duas, pensei então que com cinco rainhas o trabalho estava perfeito.
Saí dali para deixar que as restantes obreiras (e eventualmente rainhas) entrassem na colmeia e mais tarde a levar para o apiário.
Horas mais tarde, fui buscar a colmeia com um amigo, apicultor recente como eu, contei-lhe a peripécia das rainhas e ele ficou curioso em vê-las. Nada mais fácil, procurei nas redondezas e lá encontrei mais uma, e o Nelson deu-me os parabéns por ter enfiado meia dúzia de zangãos no meu primeiro enxame!!!

Fica apenas a nota de que tenho um imenso respeito, carinho e cumplicidade com as personagens sobre as quais me referi neste escrito, aprendi bastante com eles.

4 comentários:

carlos disse...

Porque é que tem de ser urina de adolescente virgem????

qual é a diferença???

carlos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
carlos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Alien disse...

Olá Carlos,
Um pedido de desculpas p'la demora,
mas a resposta da questão que colocou nem me passa p'la cabeça. Na volta (o mais certo) é apenas folclore...
JPifano