26 dezembro, 2010

Uma História de Natal...

Nem é boa nem é má, é apenas uma história, mais uma…

Uma coisa vos posso garantir: não há um dia em que não pense nela. Basta sentar-me no carro, conduzir pelas estradas rurais, olhar para os lados e já estou a “pintar” a paisagem.

Antes, quando eu não tinha carta, os campos passavam por mim mais devagar. Mas não era só por isso que os achava mais belos. A Natureza mudou, está mais amarela, mais cinzenta e por vezes chega a estar negra.

Voltemos à última Primavera, muito chuvosa, clima ameno, a vegetação despontou e cresceu luxuriante por todo o lado, o verde dominava. A apicultura beneficiou bastante com as dádivas da Natureza. Mais tarde, meses de Abril, Maio e Junho, a quantidade de erva para feno era tanta que dava pena vê-la sem aproveitamento pelos campos.

Milhares de milhões de toneladas de biomassa, alimento para o gado, energia, combustível? Assim foi. Veio o Verão e esse manancial económico não aproveitado passou de útil a extremamente prejudicial. O que antes teria permitido a produção de milhares (milhões?) de toneladas de alimentos, num país que importa a maior parte da carne que consome, passou a servir de rastilho a pavorosos incêndios que devastaram a paisagem e … a economia.

O que poderia ter dado muito lucro, redundou em grosseiro prejuízo, eu não percebo a política agrícola a que o nosso país está sujeito.
Antes, quando as zonas rurais eram habitadas, toda a gente tinha meia dúzia de ovelhas, porcos ou vacas. Animais que transformavam o pasto em factores de produção, em subsistência, em riqueza até. As ramagens, lenhas, matos, tudo era aproveitado por quem vivia no campo. Os incêndios eram fenómenos quase tão raros quanto a queda de um meteoro.

No ano passado contaram-me que um idoso fora obrigado a vender dez ou doze cabras e ovelhas numa aldeia rural do Concelho de Estremoz. Os vizinhos fizeram um abaixo-assinado incomodados com o cheiro dos animais. Salvo erro foi esta a razão. E há leis que protegem isto: os vizinhos com elevada sensibilidade nasal.

Entretanto as pessoas continuam a ser expulsas das regiões rurais para os grandes centros urbanos onde são posteriormente enlatados em blocos de apartamentos, medida fácil: encerraram-se escolas, centros de saúde, empregos e serviços nas regiões interiores e o que se segue é óbvio… a crise do açúcar, a que se seguirá a do pão? Carne? Leite? Vegetais???

Um alerta, Sr. Apicultor, sabe se os seus vizinhos andam a escrever páginas sobre a sua actividade, qual ordem de despejo, e assinaram por baixo? É verdade que as abelhas não incomodam os “narizes”, mas em contrapartida podem afectar toda a restante anatomia!…
Tenha cuidado.

Mas deixemos lá as “lamúrias” e passemos ao que interessa, uma pergunta que gostava que tivesse feed-back da vossa parte:

Não será o apicultor muito passivo, ou quando muito demasiado inactivo relativamente ao meio onde situa a exploração???
Quem é criador de gado semeia pastagens, rega, arboriza, uma garantia para o caso do clima não ajudar e os pastos naturais escassearem. Ou então, investe em palha, feno, rações…

Já sei a resposta, a apicultura, os apicultores não necessitam (nem têm) terra. Não a possuindo também não têm que a alterar, semear flora melífera e o caso está encerrado.

Quando estive nos Alpes franceses, um apicultor local confidenciou-me que já eram muitos os que semeavam colza, para que as abelhas tivessem fontes acrescidas de nutrientes no Inverno para combaterem o alegado Sindroma do Despovoamento de Colmeias. E estava a resultar.

Pergunto-me se não seria possível, ou pelo menos desejável, uma espécie de “arranjo”, ou de negócio, entre apicultores e agricultores no sentido dos primeiros poderem intervir nas zonas incultas (onde se localizam a grande maioria das explorações apícolas)?

O Programa Apícola Nacional, o MADRP, o ICNB e tantas outras instituições podiam apoiar. Afinal trata-se da gestão dos recursos naturais com a concomitante propagação de flora autóctone. Refiro-me obviamente à cultura, ao adensamento de áreas de Rosmaninho, Esteva, Urze, Alecrim, Medronheiro e tantas outras espécies da nossa flora.
A semente é barata (gratuita) e abundante, a sementeira pouco encarece e a respectiva manutenção, essa sim mais cara, poderia e deveria contar com a ajuda dos organismos oficiais. Não só o sector apícola lucraria economicamente com as medidas, como o ambiente em geral seria o grande beneficiário!
Partilho convosco um “esquema” barato e que há muito não me sai da cabeça. Aliás, desta vez até saiu, ei-lo:

Imaginem uma paisagem, igual a tantas outras que há por aí: Vales, colinas, covas, cabeços… abundam por todo o Alentejo, Beiras, Algarve, Trás-os-Montes...:

Sempre que me desloco por aí encontro este género de paisagem parca de vegetação, semi-deserta, aspecto desolado, onde antes florescia um coberto vegetal mais ou menos diversificado.
A perda do coberto vegetal, cujos impactos económicos directos já afectam boa parte do globo, para não falar das alterações ambientais e climáticas, economicamente mais “caras” que as primeiras. E começamos agora a perceber o que há muito nos alertavam, pior ainda: o que está para vir…

Já ouvimos, escrevemos e lemos tanta coisa sobre o contrariar a desertificação, melhorar o ambiente e o clima, melhorar a qualidade de vida e afins, que quase dessensibilizamos para o problema. No entanto ele está longe de ser resolvido.
Reparem que por cada multa sobre os “atentados ambientais” que se paga, raramente o ambiente é o reembolsado por essa soma, que invariavelmente é usada para outros fins. Esqueçam lá os submarinos agora, eu nem falei nisso. Facto é que se se polui um curso de água, paga-se a coima mas não se despolui o rio…

Quando falo em “esquema barato” para contrariar as tendências, digo-vos que é de facto barato, economicamente falando, senão vejam as contas:

1 maço de cigarros (já é velha, sei, mas ainda funciona) = 3,50€
3,50€ x 365 dias = 1277,50 €
1 café = 0,55 € … 0,55 € x 365 = 200,75 €

Quem fuma um maço de cigarros por dia e toma apenas um café, gasta anualmente cerca de 1500,00 €. Infelizmente sabemos que na realidade essa conta fica muito “além” da que acabei de escrever.
Com 1500,00€ (ou muito menos) podemos pagar o trabalho de uma máquina escavadora por dois ou três dias. Dois ou três dias para uma máquina dessas é o suficiente para fazer uma represa de terra, uma barragem, com 20 ou 30 ou mais metros de comprido. Aproveitando uma dobra de terreno, um pequeno vale ou terreno inclinado sem qualquer utilização.

Nesta altura, ou próximo dela, o Ministério do Ambiente já terá cobrado cento e tal euros pela licença (antes eram 125,00 €), mais uns pareceres, impostos, enfim… mas não é nenhum entrave.
Certo é que nas próximas chuvadas conseguirão com tal habilidade uma tremenda poça de água!!! No montedomel eu consegui uma com 1200 metros cúbicos, distribuídos por 50m x 70m x 3,5m de profundidade, até tem uma ilha…
Ficou um pouco mais cara, sobre a rocha do fundo tinha originalmente menos de 10 cm de terra, e a máquina precisou de mais tempo para a construir. Mas tenho um grande volume de água disponível durante todo o ano, água proveniente da chuva, da que escorre pela pequena encosta.
Uma barragem das dimensões apresentadas mais atrás poderá não manter a água durante todo o ano. Poderá secar no Verão, ou antes, nos anos mais secos. No entanto terão água no local durante muito mais tempo, aumentarão muito a humidade do solo e a atmosférica.

Terão decerto condições para plantarem árvores e arbustos nas proximidades. Aconselhava até a exagerarem na área de sementeira/plantação para melhor conhecerem a capacidade de suporte do meio. Claro que boa parte da nova floresta ou mato não irá sobreviver, mas sabem até onde podem ir.
Há tantas espécies de árvores e arbustos que além de todas as vantagens ambientais podem dar uma boa ajuda à apicultura:

Sobreiros, Azinheiras, Carvalhos, Castanheiros, Choupos, Fruteiras, os Eucaliptos Rostrata e o Calmadulensis (com floração antes do Verão), Tílias, Salgueiros e tantas outras que contribuem com grande quantidade de pólen e néctar.
O mesmo se aplica ao Alecrim, Rosmaninho, Urzes, Estevas, Medronheiros, Silvas e tantos outros arbustos da nossa flora autóctone.

Vegetação que se tiver este “encosto” de humidade decerto será muito mais viável e melhor sobreviverá.

Más notícias: normalmente, no início e face à utilização de terrenos pobres para o efeito, tal como nos anos imprevistos de seca, é natural que boa parte da nossa “floresta” vá abaixo, segue-se o desânimo e a vontade de desistir.

Mas alguns dos especímenes hão-de resistir, e isso dá-nos alento para continuar. Repor novas plantas, nova sementeira, é tudo uma questão probabilística ao princípio. Importa é que vencidas as etapas iniciais as coisas começam a correr a nosso favor: As árvores e arbustos já estabelecidos começam a disponibilizar matéria orgânica para o solo e humidade para a atmosfera, que irão ajudar na implementação dos outras mais novas e frágeis.

As próprias árvores de maior porte servirão como barreiras para o vento, protegendo a restante vegetação, diminuindo a secura e a erosão do solo. Em poucos anos, sem grandes trabalhos ou custos, “criamos” um pequeno bosque equilibrado e sustentável.

À escala global, ou pelo menos numa escala mais alargada, não só o sistema de pequenas barragens como o incremento na arborização levará a uma diminuição da temperatura atmosférica e aumento da humidade, aumentando também a precipitação… e todos beneficiaríamos com isso.

Como viram pelas “contas” é muito barato, é fácil e parece resultar.
Isto é apenas um “sonho”, uma ideia que quis partilhar.
Quando um problema tem uma solução difícil ou muito complicada, é de facto um problema. Quando a solução é simples e não se resolve, raia mais a idiotice...

Bom ano!!!

14 comentários:

António Sérgio disse...

Eu tenho uma teoria parecida a esta tua ideia, e lembro-me mais dela quando vou na auto-estrada e reparo nas margens da estrada (combros) que estão despidos de vegetação e à mercê da erosão, penso para comigo o Estado podia ter umas equipas para "florestar" estas faixas de terra com uns pés de Rosmaninho ou Alecrim e isto dava muito jeito às abelhas. Quanto ao apicultor meter mãos á obra e semear o alimento para as abelhas também já pensei, apenas pensei.

gustavo disse...

Parabéns pela bela história de natal.É bom ver que ainda existem portugueses que entendem a catástrofe que as políticas da PAC nos conduziram e que urge combater por todos os meios.
Mas será que ainda vamos a tempo de salvar o interior de Portugal?
É que esta luta do homem contra as silvas e o fogo, só é possível com a ajuda dos animais, e não das máquinas, como propõe a política da CEE.(por interesse dos fabricantes de maquinaria)
A todos os confrades um bom ano 2011, com muitas flores....

Alien disse...

Olá Sérgio e Gustavo

Ainda há pouco trocava mails com um amigo acerca deste assunto, e a conclusão é óbvia:

Os ciclos eleitorais são demasiado curtos para implementar este género de medidas, que precisam de 50 ou mais anos, e os eleitores "exigem" medidas rápidas, inferiores a quatro anos, pontes, aeroportos, TGV's, etcs...

Mas também aturar um governo 50 anos seguidos...

BOM ANO
Joaquim Pifano

Filipe Morais disse...

Caro apicultor,

só lhe peço que continue com a sua (nossa) luta contra a inércia instalada. Palavras são bonitas e transformam as mentes mas as acções transformam o mundo.
Partilho da sua maneira de encarar o mundo e aos poucos também eu vou mudando o meu pedacinho.
Não se verão resultados amanhã, para o ano ou para a década que vem (ou talvez se vejam) mas o mais importante é sabermos de que lado da barricada queremos estar e onde faremos falta. Somos cada vez mais - pode não notar-se - e isso frutificará, não tenha dúvidas.
Continuação de bom trabalho

Sèrgio S, disse...

Ola
Na minha zona existe um problema que para mim acho quase tão mau como a desertificação dos solos, que è a monocultura dos eucaliptos. E uma praga, onde não deixa cresçer mais nada...

octávio disse...

Gostei do exposto e partilho - na totalidade -. Ainda sou do tempo em que circulava com o meu pai na estrada de de poucos em poucos quilómetros se via um cantoneiro a cuidar dela.
Ainda sou do tempo em que os presos construiram os tribunais e outros edifícios.
Ainda sou do tempo em que a casa de reclusão de menores no Porto, tinha uma vacaria! (Agora é exploração infantil!!!!!!!)
Ainda sou do tempo em que as padarias trabalhavam a lenha e por isso as matas estavam sempre limpas.
Ainda sou do tempo em que havia cearas nos campos, o Alentejo era o celeiro de Portugal!!!!
AGORA? VIVO NO TEMPOS DOS SUBSÍDIOS!!!!TRABALHAR PARA QUÊ? ESTE PAÍS SÓ INTERESSA À EUROPA PELAS PRAIAS E PARA DESPEJO DO "LIXO" DELES.

Alien disse...

Filipe Morais,

Gostava de partilhar mais da sua fé, apesar de ainda ter alguma, caso contrário nem sobre o assunto eu escrevia.
De qualquer forma, não há ninguém que não reconheça a mudança de mentalidade que já se opera nas camadas mais jovens em termos de sensibilidade ambiental, vamos aguardar se as respectivas acções estarão em concordância...

Estou a acabar de ler um livro do mais recente Nobel da literatura (O Sonho do Celta, de Vargas Llosa) onde o autor retrata a destruição ambiental e sobretudo humana e social de locais tão díspares como o Congo Belga (à data) e a Amazónia Peruana, Colombiana e Brasileira.
Tudo em nome da religião mais forte e encapuçada que todos os dias cresce e ganha adeptos: A GANÂNCIA.
Estava-se finais do Séc. XIX, principios do Sec XX.
Actualmente, e em nome da crise que ora prospera, causada pela mesma GANÂNCIA, ouvi à dias que um determinado grupo de países desenvolvidos, mais uma vez não tinha conseguido chegar a acordo sobre a emissão de gases poluentes...
Para não falar na palhaçada que têm sido os sucessivos (des)acordos de Kioto...

Sérgio S,

Existe um palavrão chamado ORDENAMENTO, que há décadas que se lhe tenta arranjar um siginficado em português, mas sem sucesso...

Andava eu pelos meus 15 anos, 1985, quando engenheiros e (advogados?) da Portucel, Celbi e afins, entravam pelas Escolas Secundárias dentro, reuniam as crianças e após a distribuição de t-shirts, bonés, canetas e outras inutilidades, doutrinavam-nos com umas teorias sobre a importância dos eucaliptos para a economia nacional e sobretudo pelo facto de serem amigos do ambiente.
Volvidos 25 anos, tal está a economia, tal vai estando o ambiente...
Deixe-me sublinhar as ofertas de bonés e t-shirts, pois no mesmo livro que citei mais acima, os eruditos e racionais europeus de há 2 séculos também ofertavam contas de vidro coloridas e bugigangas aos indígenas "primitivos e irracionais" antes de lhe invadirem o territórios e o despojarem de tudo o que tivesse valor...

Octávio,

Nós estamos num país em que os picos de audiência da televisão coincidem com a hora das telenovelas, os concursos e programas mais estupidos que alguém pode conceber. E tudo o que seja mais pedagógico só aparece a horas proibitivas...
Estamos num país que... (a lista é tão longa que ficaria aqui o dia todo a falar do assunto :-)) )

abraços
Joaquim Pifano

Abelha Preguiçosa disse...

Já vim aqui várias vezes e até agora tenho-me contido em comentar.
A mim nem as gerações futuras me inspiram confiança, afinal de contas são as que mais treino tiveram para consumir desmesuradamente, e esse consumismo tem a sua quota-parte das culpas...
Como sou pessimista, se calhar o melhor é estar calado.
Diz que agora até é bom estar calado, para não fazer subir o rating! ...ou era para não o baixar?
Já não percebo nada! :-)

Luís Moreira disse...

Boas,

Por melhores que sejam as ideias aqui apresentadas, apenas poderiam ser postas em pratica por quem possuisse vastas areas de terreno para poder dar asas a um projecto que se pode chamar de ambicioso.
Eu vou me limitando a ir plantando umas arvores pelos terrenos que tenho (dos meus pais - na apicultura, até posso usufruir deles e do facto de dar cabo do lombo nos dias de "folga" (fins de semana)o mesmo não acontece em relação á caça! É o desordenamento que temos).
Voltando ao tema, desde medronheiros (depois vêm as ovelhas e cabras dos pastores e me dão cabo deles) arvores frutiferas, trevo, girassol, aboboras, nabos... assim me vou entertendo sem saber ao certo se lhe trás algum incremento na produção uma vez que estamos a falar de pouca area de terreno, talvez cerca de 1.5Ha.

Também na minha zona os eucaliptais crescem em todos os cantos. Não tarda não há mais nada a não ser eucaliptos!

Anónimo disse...

As minhas saudações apícolas!
Li a sua História de Natal de que gostei muito e ia de imediato para responder à sua pergunta ,mas...
Tenho andado a remoer no assunto porque me parece que é daqueles tipo "preso por ter cão, preso por não ter".
Num apiário que tenho num local de solo pobre, calcário e de pouca espessura, plantei alecrim ,que "pega" muito bem de estaca e ao fim de dois ou três anos já está a florir.Plantei também medronheiros (estes também com outra finalidade),que em alvéolos são muito baratos (35 ou 40 cêntimos cada) mas estes ao contrário do alecrim tiveram que levar nos dois primeiros anos 3 ou 4 regas no Verão senão tinham secado todos. Este ano já deram alguns medronhos e para o ano , se for de feição, já deve haver medronhos suficientes para destil.., perdão , para comer. Neste aspecto concordo inteiramente consigo. As plantas reduzem a erosão, evitam a lixiviação dos solos pela chuva, reduzem pela sombra a temperatura e a perda de água, deixam resíduos orgânicos que aumentam a manta morta, melhorando assim a estrutura do solo e temos flores para as abelhas em épocas em que normalmente não há.Mas por outro lado, aumentei a carga combustível. Se o solo "limpo", apenas com as árvores isoladas era relativamente imune aos incêndios, agora com as minhas plantações forneci o substrato que será, em caso de incêndio, o meio de difusão do mesmo.No entanto acho que fiz bem. O solo que era muito pobre vai melhorando e as abelhas têm alimento em época de escassez e um fogo não começa sozinho. O problema é que os incêndios florestais não começam sem uma fonte de ignição externa e isso tem mais que ver com mentalidades , com cidadania, com a acessibilidade do próprio espaço e por aí fora.
No extremo oposto estão os fundamentalistas que defendem o terreno "careca", sem uma palha à vista. É claro que um terreno "careca" não arde, mas também um indivíduo morto nunca poderá adoecer!
Se os apicultores são pouco proactivos no que respeita à obtenção de fontes para as suas abelhas acho que sim que poderiam fazer mais mas isso levará ao aumento da carga combustível, o que poderá não ser bem recebido em certos círculos.Se calhar a resposta socialmente mais correcta será "nim".
No que respeita às gerações futuras, considero-me um optimista bem informado e assim faço minhas as palavras da "Abelha Preguiçosa".
Um abraço e um fenomenal Ano Novo.
Até sempre.
Abelhasah

Alien disse...

Olá Abelhasah

Antes de mais vostos de um Bom Ano de 2011, e caso venha à Avis mellífera 2011, oxalá que sim, será um prazer tê-lo cá de novo, traga alguns desses medronhos destil... para comermos, provarmos :-)))

"No extremo oposto estão os fundamentalistas que defendem o terreno "careca", sem uma palha à vista. É claro que um terreno "careca" não arde, mas também um indivíduo morto nunca poderá adoecer!"

Concordo integralmente consigo, esta expressão revela bem a forma como muito boa gente encara a protecção das florestas:

Há uns anos atrás, George Walker Bush filho, (Walker é o enigmático W. que ele ostentava no nome) sugeriu que se abatessem as grandes florestas norte americanas para acabar com os incéndios...(não sei se por graça se a sério, também era impossível distinguir)

em Portugal, curiosamente ninguém o sugeriu, mas algumas companhias de seguros intimaram os segurados detentores de áreas de montado a removerem todos os matos para prevenir os fogos...
Isto também aconteceu no concelho de Ponte de Sor, onde eu trabalhava como Técnico de Apicultura.
Para quem não conhece a região, os solos de Ponte de Sor são essencialmente arenosos, ou seja, muito desagregados e facilmente removiveis pelas águas das enchurradas.
Os Sobreiros, revestidos pela cortiça, têm duas características a saber: São das árvores mais adaptadas ao fogo, ficando chamuscadas aquando da sua passagem, mas sobrevivem (estatisticamente a maioria) graças
à sua cobertura de cortiça.
Por outro lado, além de uma raiz central aprumada (espigão), sobrevivem e captam a água que precisam nas zonas áridas graças a raízes quase superficiais muito ramificadas (pastadeiras - nome dado nas zonas rurais).

Ora com essa maravilhosa e bem fundamentada cláusula das seguradoras, o Montado em Ponte de Sor viu-se protegido de algo que não o afectava muito e simultâneamente muito afectado pela destruição do solo frágil que lhe deixou as raízes vitais expostas...

Com a falta de matos, essa região fortemente povoada de apiários redundou em fortes mortalidades, baixas de produção e considerável enfraquecimento das colmeias!!!

De facto, a florestação, o incremento de coberto vegetal, parecem paus de dois bicos no combate à desertificação.
Mas há que velar por isso, antigamente havia mais vegetação, mais gente nos meios rurais e... menos incéndios.
O nosso país tem actualmente um número record de desempregados...
Outros países europeus, á mesma latitude do nosso, com o mesmo tipo de floresta, não têm incêndios com esta gravidade.

Por vezes somos levados a pensar que há mais árvores em determinado local porque aí chove mais.
Não será que chove mais em determinado local precisamente por ser uma área mais florestada???

As árvores libertam para a atmosfera quantidades imensas de água, sobre a forma de vapor. Com isso arrefecem a atmosfera (rica em vapor de água) e desencadeiam a precipitação.
Dificil é modificar um local até atingir o ponto crítico para que isso aconteça, e ainda há o relevo entre outros factores...

um abraço
Joaquim Pifano

Anónimo disse...

Olá Alien!
Por nada deste mundo perderei a Avis mellífera de 2011. Nessa altura os medronhos estão ainda em fase de maturação, por isso não se poderão ainda provar, mas fica aqui a promessa de em alternativa levar um bolo do apicultor feliz!
Parece que os terrenos "carecas" são também uma orientação do Ministério da Agricultura.Nas plantações de sobreiros feitas dentro de projectos com apoios é visível este comportamento. Curiosamente a Direcção Geral das Florestas é também a editora da excelente obra de referência "Subericultura" de Vieira Natividade, onde o autor considera esta prática como anti-suberícola. É óbvio que os editores não leram o que editaram.
Mais uma vez os meus votos de um 2011 em pleno.
Um abraço,
Abelhasah

Anónimo disse...

não pode passar sem responder a este post dando a minha singela opinião
creio que será muito mais barato e sobretudo, eficiente, conjugar técnicas experimentadas de silvicultura e agricultura, baseadas no conhecimento da fitosocilogia na recuperação da vegetação potencial.
vejamos, se a vegetação potencial numa determinada região é um bosque de sobreiral, e neste momento temos apenas graminias, não aditara muito plantar sobreiros,pois muitos moreram, e levaram mais tempo ate chegarem ao porte adulto.
existe uma sucessão ecológica e o sobreiro esta no topo, provavelmente (sim pq depende muita coisa) se semear-se pinheiro maço, que uma espécie pioneira e efectuar-se um pastoreio de ovelhas com o encabeçamento correcto para evitar o acumular de matéria lenhosa morta e matos, a fim de alguns anos começaram a surgir alguns sobreiros de forma espontânea, entao os pinheiros ja com algum porte, deverá ritirarem-se junto aos sobreiros que mostrem sinais de terem vingado
e nesta altura que se poderá iniciar a plantação de sobreiros pq nesse altura o solo já terá a matéria orgânica e o ensobramento adequado ao seu desenvolvimento, também será nesta altura que as espécies típicas do bosque de sobreiral começarem a instalar-se
desta forma não se abandona terra, da emprego, retira-se de formal controlada e crescente produtos e sub-produtos, que com o evoluir do sistema se tornem cada vez mais rentáveis, provavelmente não para nos mas sim para as gerações futuras
eu defendo que devemos deixar um pouco mais para as gerações futuras do que nos foi dado a nós!
o que disse foi de um forma mt simplificada e genérica (com muitas omissões), para demonstrar que as barragens não são solução para o desenvolvimento florestal do Alentejo, a ciência e as técnicas já existem, só necessitam de ser aprendidas e postas em pratica
sem mais
um mero estudante e curioso da natureza
D.

Alien disse...

Olá D.

Subscrevo tudo o que apresentou. Claro que as barragens não são necessárias para a recuperação florestal do Alentejo.

Mas, quando publiquei este "desabafo" não me referia apenas ao Alentejo.
Por outro lado, a minha principal preocupação chama-se água, a sua qualidade e disponibilidade, sobretudo nos tempos que se avizinham. Apenas queria que chovesse mais, também no Alentejo. Alentejo onde a flora em tempos mais recuados não se reduzia aos povoados esparsos de sobro e azinho. Já li referências sobre densos carvalhais.

Sei também que os níveis freáticos nesta e noutras regiões estão muito abaixo do que era habitual há poucas décadas.
Não é a única razão, mas a proliferação selvagem (e sem ordenamento) de furos (poços) também tem culpas no cartório...
Pelo que se demorarmos mais tempo a água nesta fase do ciclo, podiamos aumentar a humidade atmosférica e no próprio solo das zonas interiores.
Não sou insensível ao impacto ambiental de uma barragem num curso de água. Não é a isso que me refiro, mas antes à construção destes pequenos charcos (pateiras) nos locais altos, onde a linha de água se inicia e onde creio o impacto é mínimo.

Há poucas (pouqíssimas) décadas atrás, os regatos na minha região corriam até Maio, Junho e Julho. Actualmente, num Inverno dito chuvoso, poderão aguentar-se até Abril...

admito também que é um assunto polémico, mas... faça-se alguma coisa...

Obrigado pelo comentário e boa continuação nos estudos da Natureza!!!

Joaquim Pífano