17 janeiro, 2011

Própolis

Segundo a definição encontrada na Enciclopédia Ilustrada de Apicultura, Vol. 2, de Roger Morse e Ted Hooper:

Trata-se de uma substância resinosa, de cor castanho-alaranjado a vermelho, obtida pelas abelhas de mel a partir de certas árvores como o amieiro, o choupo e castanheiro da Índia, e de várias exsudações e feridas de qualquer planta lenhosa. O própolis é formado por um número indeterminado de substâncias, não tendo, portanto, uma fórmula química específica. (…)
O nome Própolis deriva de “pró” que significa “antes” e “polis”, a cidade ou fortaleza, porque as abelhas recolhem essa substância para construir barreiras em todas entradas dos ninhos naturais, a fim de impedir a entrada de inimigos. Serve ainda para impedir a entrada de correntes de ar e da chuva na colmeia.
Todas as células são envernizadas com própolis antes de a rainha colocar nelas os seus ovos. (…)

Têm-se descoberto numerosas aplicações para o própolis fora da colmeia. Em tempos foi muito usado na medicina, especialmente na confecção de pensos para ferimentos, e, devido à sua maleabilidade, é usado como massa de vidraceiro, especialmente quando misturado com cera. Também fez parte de um verniz especial usado por Stradivarius, o fabricante de violinos. Recentemente o própolis tornou-se novamente objecto de pesquisas e experiências em medicina e no campo dos cosméticos. (…)”


Em Portugal o própolis não tem sido devidamente valorizado, são poucos os apicultores que se dedicam à sua produção. Situação no mínimo estranha, na medida em que tal actividade necessita de um investimento muito baixo (2,00 a 3,00€/colmeia ou menos que isso), fácil e rapidamente amortizável. Por outro lado porque consome muito pouco tempo em termos de maneio e pouco ou nada interfere nas outras produções da colmeia, como o mel ou o pólen.

Além do excelente trabalho de há décadas levado a cabo pelo Sr. Rosa Agostinho (Europropolis), cujo ânimo e facilidade de comunicação muito têm feito para divulgar este produto e respectivas aplicações, pouco mais se tem feito pelo própolis no nosso país.

No entanto a procura existe e o escoamento continua a ser possível, em pequena escala, claro, a produção é mínima, mas todo o que se recolhe é facilmente vendável a preços que já vi oscilar entre os 25,00€ e os 60,00€, dependendo da cor/qualidade e modo de obtenção.

Esta relação entre a cor, a qualidade e consequentemente o preço, tem a ver com as origens vegetais das resinas recolhidas pelas abelhas: o própolis negro e muito pegajoso é sobretudo proveniente das Estevas, sendo pouco valorizado. As variedades que atingem preços mais altos têm sobretudo uma cor amarelo esverdeada, acastanhada e até vermelho (lembra o lacre), estes provenientes da vegetação arbórea junto a linhas de água: choupos, salgueiros e até faias e bétulas.

Algumas variedades de eucalipto também poderão constituir importante fonte de resina em termos de qualidade.

As resinas que originam o Própolis

São produzidas por inúmeras plantas, destinando-se sobretudo para protecção dos gomos, rebentos, folhas e raminhos novos.

Estas estruturas, extremamente apetecíveis para toda uma sorte de predadores como insectos, bactérias, fungos e até mamíferos, necessitam de uma protecção extra por parte da planta. Sendo então sintetizadas no local substâncias com actividade bactericida, tóxicas, que conferem ao própolis as características propriedades antibióticas muito apreciadas para fins terapêuticos.

Materiais, equipamentos e produção

Para a obtenção do própolis é demais sabido por todos que bastam as grelhas em plástico flexível, colocadas sob a prancheta, onde as abelhas preenchem os interstícios com a resina colectada nas já referidas espécies.

As grelhas não interferem minimamente com os demais trabalhos de inspecção e manuseio da colmeia, visto tratar-se de uma “segunda prancheta” que tal como a principal se retira e coloca quando se pretende aceder ao interior da caixa. Ao cabo de poucos meses, dependendo da disponibilidade de resinas no local, da capacidade propolizadora das abelhas (genética), das temperaturas, etc, conseguem-se cerca de 300 g desta substância por cada colónia.

Na última imagem, segundo alguns apicultores, a introdução de uma pedra ou cunha de madeira para manter a (grelha + prancheta) levantadas, permite a entrada de luz e estimula as abelhas a colectarem mais própolis. Pessoalmente fiz a experiência e não notei grande diferença...

Tal como em muitas outras situações, a produção de própolis exige do apicultor um conhecimento razoável da região onde é feita a colheita. Em locais onde as resinas escasseiam as abelhas recorrem a substâncias “semelhantes” para as mesmas utilizações, valendo-se de tintas, vernizes e até alcatrão das estradas para calafetar as frinchas, e revestir ceras e todas as superfícies internas da colmeia.
Obviamente que estas substâncias, caso sejam recolhidas nas grelhas, irão subverter todas as boas características do própolis, tornando-o inclusivamente numa substância tóxica e imprópria…

A colheita é feita quando as grelhas estão totalmente preenchidas ou no fim da estação, à remoção das alças para o Inverno. Quando é retirado da colmeia o própolis está a temperaturas relativamente altas (temperatura interna da colmeia), pelo que se encontra muito pegajoso. Para evitar que apanhe impurezas convém colocar as grelhas num saco ou caixa de plástico limpos para o transporte.

Também é possível raspar o própolis que se encontra sobre os quadros e no topo das paredes da colmeia com uma espátula. É um própolis menos comercial, se não houver cuidado pode arrastar tintas ou pedaços de madeira.



Extracção

Já em casa, as grelhas são colocadas no congelador, onde permanecem algumas horas, preferencialmente em sacos separados, sacos esses que podem ser reutilizados para várias extracções. Uma vez congelado, o própolis deixa de ser pegajoso e maleável, passando a ficar muito duro e quebradiço.
Basta então apertar as grelhas em vários sentidos, amolgando-as manualmente até que todo o própolis caia para o fundo do saco. Quando se refere a opção por colocar cada grelha em sacos separados consegue-se uma extracção mais fácil, dado que o simples manuseio fora do congelador rapidamente sobe a temperatura do própolis tornando-o de novo pegajoso e impossibilitando a separação.

Esta tarefa deve ser o mais rápida possível, enquanto as restantes grelhas aguardam no congelador. Terminado este trabalho, o própolis junta-se num único recipiente (p. ex. saco de plástico) e guardado preferencialmente a baixas temperaturas.
As grelhas são armazenadas em caixa ou saco de plástico num local limpo, ou recolocadas nas colmeias se for tempo de produção.

Importa aqui comparar alguns dos materiais disponíveis para o efeito:

(A)Recentemente a Thomas passou a disponibilizar grelhas em plástico mais flexível, lembram a rede mosquiteira mas com a malha mais larga (cerca de 4 mm), em rolo, resolvendo muito bem o problema do manuseio a baixas temperaturas visto que não quebram. São portanto reutilizáveis para muitas mais sessões, sendo também mais baratas (cerca de 2,00€/colmeia):

(B) As grelhas tradicionais, em plástico grosso mas maleável, com ranhuras, são muito úteis, de boa utilização e maneio no campo, mas tornam-se demasiado quebradiças quando manuseadas a baixas temperaturas (na extracção) impossibilitando muitas vezes a sua reutilização. Parecem ser mais indicadas para a extracção química do própolis com solventes orgânicos (álcoois, etc):

Também há quem improvise as grelhas com outros materiais, nomeadamente a própria rede mosquiteira, tecidos, etc, cuja eficácia ou rendimento desconheço.
Em termos de produção convém ainda alertar para o facto de tal como as alças, as grelhas de própolis não devem permanecer na colmeia durante os tratamentos sanitários.

Muito cuidado durante a extracção pois podem cair pedaços de própolis para o chão, sendo este depois muito difícil de limpar.

O própolis é mais um dos produtos da colmeia que quase sempre os apicultores se propõem a explorar, mas que por causa da falta de tradição e hábitos, raros são os que o concretizam, infelizmente.
Será muito interessante que os apicultores ponderem sobre esta possível mais-valia, e fonte de rendimentos das explorações apícolas, sabendo desde já que tem um investimento mínimo, o trabalho de maneio é praticamente nulo e a extracção e conservação muito fáceis e baratas.
A comercialização do própolis, tal como a dos outros produtos, tem toda a conveniência em ser concentrada por uma associação de produtores e comercializada conjuntamente, atingindo preços mais interessantes.

15 comentários:

octávio disse...

Segundo o autor citado neste trabalho, Ted Hooper, "A apicultura representa coisas diferentes para pessoas diferentes.". Mais uma elucidativa demonstração, agora do autor deste blogue, para obtenção de um benefício a relevar o significado de quem pratica APICULTURA.

Parabéns!

Noesis disse...

Mais um excelente post que o Monte do Mel nos proporciona, como de resto nos tem habituado ;).
Agora, mais uma vez visto que este produto da colmeia é uma mais valia, (barato e simples em termos de produção, extracção e conservação do produto) resta aos apicultores por em prática o processo.

Obrigado :)
Marco

Luís Moreira disse...

Boas,

Já algum tempo que andava coma ideia de adquirir umas grelhas para recolher propolis mas o tempo vai passando eu ainda não as comprei!

Agora ficou-me uma duvida!
É que estava com a ideia de que quando se colocava a rede para colher propolis, se retiraria a tampa interior, de forma a incentivar as abelhas a tapar a saida de ar quente da colmeia! Assim sendo, parece-me que, com a exceção das alturas dos tratamentos, estas grelhas poderão estar todo o ano colocadas!

montedomel disse...

Olá a todos,

Era agora importante que fossem partilhadas experiências pessoais com a produção de própolis, técnicas, truques e outras estratégias para estimular as abelhas a produzi-lo. Como foi dito acerca do própolis, trata-se de um aspecto menos conhecido da apicultura (pelo menos no nosso país) e assim todos podiamos beneficiar com a experiência dos outros...

Luís Moreira,
Devo dizer-lhe que há várias opiniões sobre essa modalidade, eu próprio já a experimentei (além do objecto para levantar a prancheta e a grelha, para entrar mais luz)
e... a mim não compensou.
Se por um lado não produzi mais por isso, por outro, o tampo da colmeia ficou com própolis e colava-se ao ninho, sendo depois muito dificil de descolar (isso durou meses). Tive de limpar os tampos a maçarico...
Como sabem, a prancheta só encosta ao topo das paredes do ninho (e cola-se com o própolis) o tampo não só toca nos topos como encaixa no próprio ninho, tornando-se muito dificil abrir as colmeias.
Foi a impressão com que fiquei...

abraços
Joaquim Pifano

Anónimo disse...

As minhas saudações apícolas.
Há cinco anos adquiri cerca de trinta redes para própolis em plástico grosso com ranhuras e coloquei mais de metade sob a prancheta e as restantes foram colocadas sem prancheta, directamente sob o telhado.
No fim, não achei que as que ficaram sem prancheta produzissem mais. Muito pelo contrário.
Como a produção de própolis varia muito de colmeia para colmeia, pode, por coincidência, ter acontecido que todas estas colmeias,que ficaram sem prancheta fossem menos propolisadoras. Possível mas improvável.
O problema foi, como já referiu,os telhados que ficaram colados a toda a volta, sendo uma chatice para os conseguir tirar.
Também as abelhas fazem "pontes" de própolis entre as redes e as travessas dos quadros. Quando se removem as redes uma boa parte fica agarrada aos quadros em vez de vir agarrada à rede, pelo que têm que se raspar as travessas dos quadros.É fácil de produzir e um pouco mais trabalhoso para retirar das redes.Cuidado com o chão!
Outro problema foi a colocação do produto... não me pareceu que a procura abundasse.
Um abraço,
Abelhasah

Associação de Produtores Florestais de Montemuro e Paiva disse...

Joaquim!!!

Fenomenal essa matéria!!! Adorei mesmo!! É muito útil, para os apicultores, pois no nosso país o propólis é pouco produzido, muito pela falta de informação e troca de experiências entre apicultores...

Parabéns!!!

Mónica Lopes

Francisco disse...

Boa noite,

Tenho vontade de exprimentar, mesmo à revelia das experiências relatadas a aplicação da rede sem prancheta. O telhado tem rede de ventilação, será esta (a ventilação) influente na produção da propolis.

Fiquem bem
Francisco

Anónimo disse...

Gostaria de saber quanto pode custaram kg de propolis, alguém me poderá informar.
Obrigado
Carlos

Alien disse...

Olá Carlos,

Há vários preços para o própolis, aquele que é obtido por raspagem dos quadros, prancheta ou outras partes da colmeia é barato, entre os 5 e os 10,00€/kg.
O própolis obtido a partir das grelhas pode custar entre os 30,00€ e os 50 ou 60,00€/kg.
Quanto mais escuro (de esteva) mais barato, quanto mais amarelo-esverdeado ou avermelhado (choupos, faias, bétulas...) mais caro.

cumprimentos,

Joaquim Pifano

Anónimo disse...

Parabéns pelo texto!
Por curiosidade, tenho visto à venda em casas de produtos naturais, propolis em estado liquido. Está dissolvido em água ?
RuiC

Alien disse...

Olá Rui C

Na maioria das vezes (grande maioria) o própolis comercializado em estado líquido é a tintura de própolis, com esta substância dissolvida em alcóol alimentar.
Sei que também comercializam estrato aquoso de própolis, mas é muito mais raro e desconheço a forma como solubilizam uma resina em água, mas aparentemente fazem-no...

abraço
Joaquim Pifano

Anónimo disse...

Olá,
Muitos Parabéns pelo blogue, é de facto um privilégio nos dias de hoje ter informações tão importantes e que cada vez mais se ignoram (aqui também me refiro ao afastamento que se tem dado ao dito "mundo rural" do qual eu orgulhosamente faço parte).

Escrevo esta mensagem para o elogiar e porque também tenho uma questão! Existe Tintura de Propólis à venda de origem Portuguesa? Até agora apenas encontrei a Apiagro mas ainda tenho de confirmar se realmente a origem é 100% nacional.

Com os melhores cumprimentos e continuação de um blogue excecional,
Fernando Couto

Alien disse...

Caro Fernando Couto

Fico bastante satisfeito por saber que o blogue
lhe tem fornecido alguma informação útil.

Quanto à tintura de própolis, felizmente, há imensa produção nacional,
bem como outros produtos à base desse produto da colmeia.

Se me enviar um email para montedomel@gmail.com posso fornecer-lhe
o contacto de um apicultor que produz uma tintura de própolis excelente,
bem como Mel com Própolis (sem álcool), pelo que o considero o melhor Mel com Própolis
que já consumi até então.

Abraço
Joaquim Pifano

Unknown disse...

Bom dia
Irei começar a adquirir grelhas de propolis, a minha questão é.
O que faço com o propolis?
Um sempre posso utilizar e fazer propolis em álcool alimentar
Mas há alguem ou alguma empresa que compre propolis?
Cumprimentos e abraço Ricardo Mariquito

Alien disse...

Caro Ricardo

Ao que sei, a única empresa portuguesa que está
a comprar própolis está sediada em Bragança e a
responsável é a Eng.ª Sandra Barbosa.
Experimente contactar a Escola Superior Agrária
de Bragança, para aceder à responsável.

Abraço
Joaquim Pífano