No meu primeiro curso de apicultura, uma das informações que mais me impressionou e por isso retive, referia a possibilidade de eliminar as rainhas um mês antes da floração de Primavera terminar, tendo em vista maximizar a produção de mel.
Foi proferida pelo meu querido e saudoso amigo Paulo Nunes, nessa época um dos responsáveis pela EVORAMEL e que infelizmente já não está entre nós.
Vamos pensar nas consequências de tal decisão, privar a colónia da rainha um mês antes do fim da floração. O que sucede?
1º - No espaço de oito dias já não há ovos ou larvas expostas (criação aberta), toda a criação foi operculada.
2º - O consumo de mel na colmeia diminui drasticamente ao fim dessa semana, uma vez que a criação desoperculada já não existe e a operculada não “solicita” mel às amas. As reservas que lhe deixaram dentro do alvéolo são suficientes para terminarem o desenvolvimento larvar.
3º - Todo o néctar normalmente destinado à criação, que vai entrar durante o resto do mês (três semanas) é agora dirigido exclusivamente para o armazenamento. Uma maior quantidade de obreiras vai ficar então livre para a recolha de néctar.
Tal como outras, responsáveis pela manutenção e cuidados da criação, que ficam assim disponíveis para outras funções.
Somar ainda ao número de forrageiras todas as abelhas que vão emergir do alvéolo na primeira, segunda e terceira semanas.
4º - Com tal diminuição no consumo, aumento da recolha e armazenamento, as produções certamente que vão aumentar muito.
Qual seria diferença se não retirássemos as rainhas?
Em termos de população activa da colónia (abelhas colectoras), toda a criação gerada nesse último mês, pouca ou nenhuma utilidade teria na colecta de matérias-primas até ao fim da floração, não tinham tempo suficiente para atingir essa fase:
Dos ovos postos no primeiro dia (os mais velhos) as abelhas só iriam emergir 20 dias depois. Mais uma semana de desenvolvimento comportamental nas tarefas do interior da colmeia e de nada serviriam para a recolha de néctar dessa estação. Toda a criação subsequente ainda viria mais atrasada…
O “eliminar” das rainhas referido no início do texto deve entender-se como:
a) Simples eliminação e substituição por alvéolo real.
b) Desdobramentos, com ou sem alvéolos reais.
No desdobramento simples, sem alvéolos reais, a nova rainha estará disponível (em postura) ao fim de 45 dias aproximadamente. Com alvéolos reais poupam-se uma ou duas semanas.
Claro que a substituição de uma rainha por outra (virgem ou em postura) não pode ser considerada neste tipo de maneio, pelos motivos óbvios, a pausa na postura seria curta ou inexistente.
Então, podemos aproveitar esta ideia para fazer desdobramentos, continuando a produzir mel...
Da experiência com desdobramentos simples
Sempre que faço desdobramentos: “cinco quadros para cada lado”, um dos núcleos/colmeias fica sem rainha.
Não interessa discutir agora a eficácia do método, mas procuro sempre encontrar a rainha, colocá-la num núcleo/colmeia e compensar o núcleo órfão com a composição ideal para que seja gerada nova rainha.
Como consigo uma segunda floração, no Verão, as eventuais (ou até muito prováveis) rainhas de emergência acabam por ser substituídas face à incapacidade de resposta aos estímulos da nova fonte de néctar, ou seja, a pouca postura.
Prova disso poderão ser os inúmeros garfos ou enxames secundários que encontro nos assentamentos de Verão.
Três modalidades possíveis de desdobramentos:
A) Desdobrar para duas colmeias móveis:
É vantajoso para a colónia que fica com rainha. Ao completarmos o ninho com novos quadros a rainha continua a postura e a colónia reinicia o desenvolvimento normal. Pouco ou nenhum proveito trás à semi-colónia órfã, como vai passar por uma fase de aparente inactividade (sem criação) o restante espaço é inútil.
B) Desdobrar para dois (ou mais) núcleos:
Resolve-se o problema da semi-colónia órfã, mas restringe-se o normal desenvolvimento à parte que fica com a rainha, deixando-a confinada a cinco quadros.
C) Desdobrar para uma colmeia de 10 quadros (colónia com rainha) e para um núcleo de 5 quadros (semi-colónia órfã):
É o método que me parece mais ajustado, resolve os problemas das duas hipóteses anteriores e mantem as vantagens. Este processo funciona melhor quando deslocamos os núcleos (sem rainha) para um apiário específico onde possam ser alimentados sem risco de pilhagens.
As Colmeias que ficam com rainha:
No acto do desdobramento coloco cinco quadros com lâminas de cera moldada para completar o ninho. Em cerca de quinze dias têm a cera puxada, cheios de reservas e criação, cobertos de abelhas, coloca-se a primeira alça e segue o desenvolvimento habitual de uma colmeia normal.
Não é a estas que me refiro nos objectivos desta proposta.
O(a) Núcleo/Colmeia que ficou sem a rainha:
Se utilizar uma colmeia, coloco um, dois ou três quadros com lâminas de cera moldada, para acomodar o excesso de abelhas. Como opto por fortalecer sempre a semi-colónia órfã, forneço estes quadros para as abelhas puxarem a cera (adiantarem serviço…) evitando os inconvenientes favos pendurados da prancheta.
Logo que se justifique, coloco os restantes quadros para completar o ninho.
Certo é que nos 30 a 45 dias (às vezes mais, depende de imensos factores) que a nova rainha demora a iniciar a postura, esta colónia aparentemente debilitada, enche cinco quadros Lusitanos de mel!
Cinco quadros de ninho Lusitano equivalem a quase uma alça e meia de mel. Esta produção “inesperada” deve-se às razões apontadas lá atrás nos pontos 1º a 4º, ou seja, à grande quantidade de abelhas sem outra utilidade nessa fase para além da recolha de néctar.
Se utilizarmos um núcleo de cinco quadros, todas essas abelhas serão mesmo inúteis até ao nascimento e à postura da nova rainha, pois aqui nem sequer há espaço para armazenar néctar…
Ironicamente, quando a nova rainha inicia a postura, todos esses quadros com néctar pouco mais são que um empecilho no ninho, visto que todos os alvéolos estão bloqueados para a criação.
Cerca de uma semana antes da postura (pelas minhas observações, o período não é exacto), as obreiras removem o néctar armazenado na zona central dos quadros. Esses “discos” centrais de alvéolos recém - esvaziados e de aspecto muito limpo e polido, começam por ter um diâmetro de cinco ou seis centímetros atingindo depois os dez ou quinze.
São uma das provas mais evidentes e fáceis de detectar do sucesso do desdobramento: Sinal que a rainha nasceu, foi fecundada e em breve iniciará a postura. Melhor que isto é encontrar criação recente no núcleo/colmeia.
Agora as razões económicas…
Quando usamos colmeias nos desdobramentos, que fazer com esses cinco quadros do ninho, com ceras novas e atestados de mel? Mel de rosmaninho na minha região…
Deixá-lo ficar no ninho? Deslocar a colmeia para o girassol e colher depois este mel nas alças?
Economicamente seria muito mais interessante o mel de girassol no ninho, como reserva para as abelhas e o de rosmaninho nos depósitos…
Crestá-los está fora de opção. As constantes mobilizações de mel no ninho decerto hão-de misturar ao mel da estação outros méis mais antigos e que decerto já terão tido contacto com acaricidas.
Não há nada a fazer. A nova colónia passará o Inverno com reservas de mel gourmet e a “nossa” parte destina-se ao bidão, à indústria alimentar e aos preços baixos. Assumindo cerca de 15 a 20 kg de mel por cada nova colónia (desdobramento), armazenado no período de inacção da rainha, representa uma enorme perda de mais valias.
Soluções, (já cá faltava a teoria…)
Porque não construir ALÇAS DE CINCO QUADROS para os núcleos?
Seria sem dúvida uma forma segura de aproveitar o trabalho de tantas abelhas inactivas durante quase um mês. Não esquecendo que pode acontecer no mês mais produtivo, visto que é também o mês em que os desdobramentos terão mais sucesso.
Comparadas às alças standard, estas poderiam custar cerca de seis ou sete euros/unidade. Creio que o investimento será mais pesado em espaço para as armazenar do que nos custos directos de aquisição/construção. Mas os mesmos quadros servem em ambos os tipos de alça…
Se houver urgência na venda dos núcleos, esses quadros poderão ser colocados nas colmeias de produção de mel:
Nos tempos que correm e face à crescente (muito crescente) procura de enxames, muitos apicultores converteram as explorações para a produção de abelhas, em detrimento da produção de mel.
A opção que ora apresento não elevará as produções de mel às quantidades obtidas se optássemos por não multiplicar as colónias. Mas decerto que aproximará muito mais esses números, poderíamos assim consociar as duas modalidades de exploração apícola.
Permitindo em simultâneo aproveitar esse novo segmento do mercado que é a recente procura de colónias por parte dos novos (e velhos) apicultores. Produzindo colónias que serão comercializadas sob a designação de “núcleos” ou “cinco quadros”, mais acessíveis aos compradores, não deixando por isso de produzir mel…
Assuntos relacionados no montedomel:
Multiplicação de Colónias: Desdobramentos
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Desdobramentos, mais práticos que teóricos…
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Desdobramentos de Colmeias – Os Casos “Bicudos”
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Desdobramento de Colónias… Interactivo
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Desdobramentos: Colmeia modificada para Criação de Abelhas MACMEL
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01 junho, 2011
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15 comentários:
Very nice idea , i read your blogspot and i found many interesting think on it. Very nice job too.
Parabéns!
Gostei da partilha das ideias, agora lançadas, para apreciação de cada um.
Fiquei fascinado com a idealização de alças em núcleos. Até poderá ser uma solução para as colónias mais fracas passarem bem o inverno com os quadros de reservas imediatamente por cima e ao longo da caixa e já nem tanto nos quadros laterais.
Haverá quem faça esse tipo de caixas? Ou será mais um hobby para os nossos tempos livres?
A ideia é engraçada, no entanto, em vez de meia alça porque não utilizar uma caixa com a mesma altura igual ao ninho. Se a rainha desenvolver bem a postura, pode subir para os quadros de cima e desta forma será mais fácil reorganizar o núcleo numa colmeia.
Pela lógica e pensando na reutilização de material,basta ter dois núcleos de campo e tirar o estrado a um.
Cumprimentos.
Hello Κώστας Ελευθεριου,
Thanks for your visit!!!
Olá Octávio
Decerto que há-de haver quem construa tais alças, ou então... terás de dar largas à tua mais que comprovada habilidade para as construções apícolas.
Olá Bruno
Concordo contigo, evitava a compra/construção (e a necessidade de armazenamento) de mais equipamentos. No entanto sou muito avesso à produção e sobretudo à desoperculação/extracção de mel em quadros grandes...
Caso se vendessem os nucleos antes da maturação do mel, também era dificil "distribuir" esses quadros. mas para o reforço de outros nucleos justificava-se.
Fica a idéia!!!
Abraços a todos
Pifano
...ocorreu-me agora:
Em Montargil existe um apicultor que tinha (tem?) centenas de colónias de abelhas instaladas em colmeias, ou melhor, núcleos de 5,6,7 e creio que 8 quadros. Sobre os quais coloca alças com as devidas dimensões (o mesmo número de quadros).
Como é de calcular e não se tratando de desdobramentos, estas "colmeias" chegam a estar carregadas de alças. Como são mais estreitas ficam bastante desequilibradas, onde ele resolve o problema atando-as umas às outras, creio que com elásticos.
Contam que boa parte dessas colmeias e alças eram confeccionadas com cortiça...
Colmeias à medida das colónias???!!!
Pifano
Boas,
Sempre a aprender com a sua constante partilha de conhecimentos!
É uma idéia interessante e pode ter várias aplicações
Eu tenho sempre vários núcleos(reversíveis e lusitanos) que não se desenvolvem a tempo de fazer a mudança para a colmeia.Embora alguns estejam completamente cheios já não têem capacidade de puxar 5 quadros de cera.
Se lhes colocasse meias alças de cera puxada talvez fosse uma maneira de rentabilizar essas colmeias, uma vez que não as vendo, e só irão produzir mel no ano seguinte, isto se não morrerem e estiverem em condições de povoar uma colmeia de 10 quadros.
Eu também tenho(umas relíquias) meia dúzia de "núcleos" de 7 quadros, e respectivas meias alças de 6 quadros, raramente uso estas pequenas alças porque prefiro sempre a mudança do núcleo para uma caixa "em condições", mas às vezes lá acontece ter que colocar umas alcinhas.
Cumprimentos,
hitchi
Boas
Quanto aos desdobramentos porquê não colocar numa colmeia vazia 3 quadros (sem rainha)de cada 3 colmeias, e depois colocava-se 3 quadros com laminas nessas colmeias e 1 quadro com lamina na nova colmeia que iria ficar sem rainha?
Já vi fazerem este tipo de desdobramento e de início pensei que as abelhas que entravam para a nova colmeia se matassem umas às outras, mas não o fizeram. Esse apicultor retirava 3 quadros alternados e verificava se não tinham rainha, pois afirmava que assim diminuia a tendência de enxameação, ou atrasava esse processo, a colmeia não perdia tanta força pois em vez de 5 quadros retirava 3, e levava depois a nova colmeia para outro apiário.
Quanto à ideia das alças sobre os núcleos... bem primeiro tenho de comprar os núcleos e depois logo penso nisso...
um abraço
Olá Osvaldo,
Há imensas modalidades de desdobramentos. De facto há muito quem tire apenas um quadro de cada colmeia e faça uma nova colónia. Mas, este método é pouco produtivo em número de enxames (núcleos) resultantes.
Habitualmente faço duas a partir de uma (cinco quadros para cada lado), mas tb se pode fazer três, ou mais, depende da existência de alvéolos reais e da quantidade de abelhas, reservas, etc, disponíveis...
É tudo uma questão de objectivos e disponibilidades.
Quando divido uma colónia em duas, a que fica com rainha (+ 5 quadros) ainda dá boa produção de mel nessa época.
Hoje já posso adiantar que voltei a desdobrar 6 das colmeias que desdobrara no inicio de Abril e não só a parte da rainha já recuperou como estas novas colónias já têm postura.
Creio que se fecundaram mais rápido que as do primeiro desdobramento.
Foi uma Primavera optima em termos de multiplicação provocada de colónias.
Estou a preparar novo post sobre o assunto... para breve...
abraços
Pifano
As minhas saudações apícolas!
Acho a ideia interessante, mas trás o problema de ser necessário mais uma quantidade de caixas com uma utilização específica.
Não sei se não será mais prático usar dentro dos ninhos das colmeias que ficam órfãs, um bloco de redução de espaço do tipo de um quadro de redução, mas com a largura necessária para preencher o espaço vazio (dos cinco quadros). É provavelmente mais um mono, mas permite continuar a usar alças normais em vez de reduzidas para núcleos.
Um abraço.
Abelhasah.
Desdobramentos agora??
Não tens medo dos abelharucos?
Eu tenho umas 20 colmeias no girassol e em 3 ou 4 conseguia desdobrar em 3 colmeias completas, pois têm o ninho de reversível e a 1ª alça de reversível com bastante criação e a 2ª alça de reversível com mel, mas tenho medo desses lindos passarinhos.
Olá Abelhasah,
De facto as alças para núcleos de utilização temporária reduzida (ou não) mas sem outra utilidade que não os núcleos trarão decerto mais um problema de armazenamento mas para quem se quiser por agora especializar na produção de enxames...
Olá Osvaldo
Fiz 28 desdobramentos no início de Abril: 24 com sucesso (já com postura) e 4 sem rainha.
7 desdobramentos em Maio, todos com rainha (e já com postura).
Desde meados de Abril que uma nuvem insistente de abelharucos paira sobre os apiários, de facto são um perigo mas acho este resultado francamente positivo: 31 rainhas em 35 possíveis...
abraços aos dois
Pifano
Bom post! ;) O blog está um luxo. Parabens.
Olá amigo Joaquim Pifano.
Já não é a primeira vez que releio este post e fico sempre intrigado com a seguinte declaração: "No desdobramento simples, sem alvéolos reais, a nova rainha estará disponível (em postura) ao fim de 45 dias aproximadamente."
Segundo as minhas contas e a minha experiencia, num desdobramento simples a rainha estará em postura em aproximadamente 30 dias ou até menos. São 16 dias para a rainha nascer menos 3 dias de ovo (as obreiras normalmente escolhem larvas com um dia). Portanto temos 13 dias para uma nova rainha nascer. Em aproximadamente 10 dias ela efetua seus voos nupciais. Portanto 13+10=23 dias. Começa a postura uns 5 dias depois. 23+5=28 ou uns 30 se houver atrasos na fecundação. Mesmo assim muito longe dos 45 dias referidos pelo mestre Pifano. Só gostaria de saber então em que se baseia para afirmar que são 45 dias sem duvidar da sua sapiencia claro, pois para mim o Joaquim é um professor.
Um abraço
Luís
Caro Luís
Antes de mais, um enorme pedido de desculpa pela demora na publicação do seu comentario e resposta, mas estive cerca de um mês no estrangeiro e só hoje regressei.
Concordo integralmente com os cálculos que apresentou, mas a experiência tem-me demonstrado periodos de espera mais próximos dos 45 dias.
Não duvido que haja posturas aos 30 dias, já tive muitos casos desses, mas também já tive situações de quase 2 meses.
Os números que paresentei são sobretudo pensados para não criar espectativas e ansiedade em quem faz isto pela primeira vez, mas acredite-me que na maioria das vezes a espera até haver nova postura ultrapassa o mês em 2 ou 3 semanas.
Um abraço
Joaquim Pifano
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