22 julho, 2011

Economia Apícola I

Comunicação apresentada em Torres Novas, aquando do III Aniversário do FORUMEIROS, no dia 28 de Maio de 2011.

Combater a crise, recuperar a economia, confiança dos mercados…
Nunca o país esteve tão votado aos números como actualmente. Por muito que nos custe a aceitar devemos igualmente aderir à “mania da poupança”, tentando com isso rentabilizar as nossas explorações.

A redução de custos com aumento de receitas nem sempre é o trajecto mais linear para o sucesso económico, certo é que também na apicultura se cometeram e cometem excessos, gastos desnecessários que podem ser evitados.
Vamos ponderar sobre alguns dos aspectos da nossa actividade tentando com isso maximizar os lucros sem danificar minimamente a sustentabilidade desta actividade tão nobre que é a apicultura.

Para começar convém nunca esquecer o leque de possibilidades que nos permite a criação de abelhas. Pessoalmente gosto de olhar para uma colmeia como um bioreactor, uma caixa “negra” cada vez menos misteriosa, onde entram vários substratos e saem produtos. Com a grande vantagem de não termos de ser nós a recolher os substratos, as abelhas fazem-no de graça, de uma forma muito selectiva e com uma precisão cirúrgica.

O que para nós não passa de uma paisagem bucólica e de grande valor estético, para estes simples insectos de olhar mais calculista, tal imagem representa uma verdadeira mina, não só a sobrevivência como um autêntico manancial de recursos que a nós passa despercebido.

Os órgãos sensoriais das abelhas permitem-lhes não apenas detectar os substratos que necessitam para o seu labor: néctar, pólen, água e resinas, como também avaliar as florações mais adequadas para cada um deles.
A economia é indissociável destas decisões, as flores mais próximas, os pólenes mais proteicos, os açúcares mais concentrados e energéticos… tudo é medido e ponderado.

No fim do processo, o apicultor consegue colher na exploração uma série de produtos cada vez mais valorizados, como a crescente procura parece demonstrar.

A primeira medida que proponho é a Diversificação da Produção Apícola.
É sabido que na Natureza a especialização pode ser muito lucrativa a curto prazo e em determinadas situações. Certo é que pode também constituir uma “armadilha mortal” em termos de adaptação quando o ambiente se altera.

Transpondo tal evidência para a nossa realidade, imaginemos um apicultor que investe apenas na produção de mel, se apetrecha apenas e sobretudo de conhecimentos, experiência e equipamentos destinados à produção e processamento deste produto.
Ele será sempre um produtor de mel com mais sucesso que outro que produza de tudo um pouco: mel, pólen, própolis, geleia real…

Se houver alterações nos mercados, situação cada vez mais comum, diminuir muito a procura/preços do mel, essa exploração entra em colapso. O apicultor não tem conhecimentos ou equipamentos que lhe permitam uma rápida conversão da exploração.
Não sendo o melhor exemplo, visto que o preço dos méis continuou em alta, mas o ano passado a cotação do pólen subiu anormalmente, atingindo quase preços proibitivos.
Foi uma excelente oportunidade de negócio para os (poucos) produtores de pólen. Para quem não estava apetrechado de equipamentos e conhecimentos tudo isto lhe passou ao lado…

Este ano está a passar-se exactamente o mesmo com os enxames: a grande mortalidade do Inverno passado, associada a uma Primavera com pouca enxameação natural, mais a grande procura a nível de mercado fizeram subir o preço das colónias para números surrealistas.

Com a diversificação das nossas explorações adquirimos experiência e capacidade de resposta para as tendências do mercado.

Por outro lado também beneficiamos com a colheita de outros produtos na mesma exploração, sem grande acréscimo no investimento e aproveitando a mesma deslocação ao apiário.

(continua)

4 comentários:

Anónimo disse...

As minhas saudações apícolas!
O velho princípio em que os ovos não devem estar todos no mesmo cesto, e já que estou numa de citações, quanto mais enxadas tivermos melhor cavaremos a terra (isto de cavar tem muito que se lhe diga).
Penso que o principal problema no nosso país é quando se atinge determinada dimensão, não demasiado pequena para que tudo possa ser feito pela via informal, mas insuficientemente grande para que, obedecendo a todos os requesitos legais, tanto em termos de instalações, licenciamentos, taxas, etc, etc, etc..., possa ser exequível e viável economicamente. E o problema é que boa parte da nossa apicultura cai dentro desta categoria.
É que no nosso país tudo parece estar feito ou para a informalidade ou para o grande monopólio.
É contudo inegável que quanto maior o âmbito da exploração, melhor será a possibilidade de ocupar mercado.
Um abraço.
Abelhasah.

Rui Franco Silva disse...

Os meus parabéns ao seu blogue, do que li até ao momento é muito instrutivo. Procuro informação sobre apicultura, pois esse é um assunto em que só completamente leigo. Ora a busca dessa informação é também para me poder decidir, entre avançar ou não para esta actividade como possível negócio. Pelo que li, os sub-produtos da apicultura são muito específicos e dignos de alguém que domine a matéria em pleno. Assim a hipótese a considerar no imediato, seria assente só mel. Pelo que aprendi, existe num ano a possibilidade optimista de 2 crestas, estou certo? Estou em crer que será por certo uma actividade que até pode ser lúdica, mas não a busco nesse propósito, pelo menos por agora. Peço-vos algumas sábias palavras sobre o tema que aqui lanço.

Alien disse...

Caro Rui Silva,

As duas crestas anuais não são nenhum mito, nem as três... Basta para isso que o local tenha uma sucessão de florações que o permita ou então optar pela transumância: deslocando as colmeias para os locais onde há uma nova floração.
A diversificação da produção apícola é também um aspecto muito desejável da apicultura, na medida em que colhemos mais valias da mesma exploração e quase sempre sem grande necessidade de novos investimentos.
Basta para isso saber das potencialidades florísticas do local de implantação do apiário e optar pelos métodos correctos de maneio.
Se necessitar de mais esclarecimento sobre o assunto envie-me um mail para

montedomel@gmail.com

Joaquim Pifano

Anónimo disse...

Boa Tarde,

Parabéns por este magnífico Blog.
Muitos e preciosos ensinamentos me tem fornecido ao longo deste ano.
Como antigo apicultor amador que recorreu sobretudo a livros e ensinamentos de apicultor já vivido, tem sido agora aqui que tenho adquirido muitos conhecimentos necessários a voltar a ter uma colmeia.
Obrigado.
Solicitava autorização para usar algumas fotos de material apícola, para trabalho escolar.
email: juca_da_silva@hotmail.com