28 janeiro, 2009

Introdução de Rainhas

Conforme se devem recordar, o Sr. Vicente Furtado (Lagos – Algarve), produz e insemina centenas de rainhas que distribui por todo o país.
Ao que parece, a taxa de sucesso na introdução das rainhas adquiridas e até produzidas pelos apicultores, encontra-se muito aquém do que seria desejável (menos de 50%). Não esqueçamos que as rainhas custam caro, e todo o cuidado é pouco no seu manuseio...
Confrontado com esta situação, o Sr. Vicente Furtado aconselha-nos dois métodos, semelhantes, mas que melhoram bastante os indíces de aceitação das novas rainhas, por parte das colónias receptoras.

Método I: “Quadro – gaiola”
O “Quadro – gaiola” de introdução de rainhas, é feito em madeira, com o formato e dimensões de acordo com a figura seguinte:

Para melhor visualização de todos os pormenores deve ampliar as imagens clicando sobre elas.
A1 – Quadro de madeira, cujas dimensões variam consoante o tipo de colmeia.
B1 – Câmara da rainha (10,00cm x 8,00cm), coberta com rede mosquiteira de ambos os lados.
C1 – Câmara do Candy (alimento sólido).
D1 – Tampa de plástico que impede o acesso das obreiras à Câmara do Candy nos primeiros dias.
E1 – Orifícios no quadro de madeira (2,5cm de diâmetro), que permitem a circulação do ar e a passagem das abelhas.

Após a recepção ou criação da rainha pelo apicultor, esta é colocada dentro da Câmara da Rainha (B1), colocando-se em seguida o Candy* já preparado nos compartimentos (C1). Estes compartimentos são tapados com as tampas (D1), antes de colocar o quadro (A1) num núcleo** preparado para esse efeito.

Todo o equipamento vai permanecer assim no núcleo durante quatro dias, sem qualquer perturbação, e obviamente com o acesso das obreiras ao Candy impedido pelas tampas (D1).
Volvido este tempo, abrem-se as Câmaras do Candy, ou seja, baixam-se as ditas tampas e a rainha é libertada em 24 a 36 horas após esta operação.
Por vezes, a libertação da rainha demora mais tempo, pelo que não é conveniente ir verificar o sucesso deste trabalho senão passados uns cinco dias após a abertura das tampas (D1).

Por curiosidade, o Sr. Vicente Furtado referiu que já deixou rainhas “presas” no quadro de introdução, por esquecimento, cerca de 30 a 45 dias e sem retirar qualquer eficácia ao processo ou perda de viabilidade às rainhas.

A abertura da porta do Candy (tampas (D1)), deve ser feita de forma a que apenas a circunferência da câmaras (C1) fique aberta. Se passados os cinco dias a rainha não tiver sido libertada, deve então abrir-se a totalidade de cada câmara, proporcionando um maior acesso ao Candy pelas obreiras.

(*) CONFECÇÃO DO CANDY
Este alimento artificial, sólido, pode ser adquirido já preparado, ou então confeccionado pelo apicultor, juntando 1kg de açúcar a 4 dl de água e uma colher de chá de ácido láctico.
Primeiro aquece-se a água e o açúcar numa panela de pressão e só depois se adiciona o ácido láctico. Finalmente fecha-se a panela e deixa-se ferver durante 15 minutos.


(**) PREPARAÇÃO DO NÚCLEO OU COLMEIA RECEPTORA.
O quadro
(A1) com a rainha é colocado no centro. De ambos os lados e simetricamente, são colocados os restantes quatro quadros: 2 com mel e pólen e 2 só com cera puxada, não esquecendo também as abelhas, jovens, como é óbvio.
Nos quadros não pode haver ovos nem qualquer criação.
É aconselhável pulverizar uma mistura de água com essência de aniz sobre as abelhas, no momento da introdução do quadro (gaiola) com a rainha, o que dá mais garantias ao processo.
Procedimento que também deve ser seguido na junção de colónias.


Método II: “Placa – gaiola”
Trata-se de um método muito semelhante ao anterior, as diferenças residem basicamente no equipamento.

A2 – Rectângulo de madeira (40,00cm x 8,00cm) (placa).
B2 – Câmara da Rainha (14,00cm x 5,00cm), coberta com rede só de um dos lados da placa.
C2 – Câmara do Candy, ou outro alimento sólido.
D2 – Tampa de plástico que impede o acesso das obreiras à Câmara do Candy, nos primeiros dias.
E2 – Tampa de vidro que permite ao apicultor visualizar o evoluir do processo ao retirar a prancheta da colmeia/núcleo receptor.

A placa é colocada directamente sobre os quadros, com a parte em rede virada para baixo, para que as obreiras possam contactar directamente, alimentar e libertar a rainha. A parte de vidro virada para cima permite ao apicultor monitorizar o processo.
As vantagens deste método prendem-se com facilidade em acompanhá-lo sem grandes “mexidas” na colmeia, basta levantar a prancheta, e adapta-se a todos os tipos de colmeia, ao contrário do quadro.

A desvantagem tem a ver com a espessura da placa de madeira, que dificulta a sua colocação no espaço exíguo entre o topo dos quadros e a prancheta.

A Placa de Introdução de Rainhas é igualmente feita em madeira e as suas dimensões e desenho podem ser observadas na imagem seguinte:



Com os métodos convencionais de introdução de rainhas, a taxa de sucesso é habitualmente inferior a 50%, com estes métodos e segundo o Sr. Vicente Furtado, conseguem-se resultados na ordem dos 90 a 95%, mesmo quando se trata da nossa abelha negra Apis mellifera ibérica.

9 comentários:

sergio_apic disse...

Estou a fazer uma visita rápida (habitué diário) ao blog para ver as novidades, e não li na totalidade o artigo sobre a introdução de rainhas, mas o que me chamou de imediato a atenção foi a bonita foto do Apiário na Ribeira de Almadafe, bela imagem das colmeias por entre as estevas. Em Abril deve ser uma visão magnifica - o florido das estevas e do rosmaninho, o paraíso - Parabéns Joaquim Pífano

Apisarte disse...

Já usei vários tipos de introdução, mas nunca me passou pela cabeça um quadro igual para introdução das mestras.
Para abelhas mais nervosas costumo usar a jaula de introdução, algo parecido com o método II e vigiando por uma janela colocada por cima da tampa exterior.
Para introduções em que o custo seja elevado temos de ter em conta, as abelhas jovens, quadros com pólen, apresentação da rainha para melhor aceitação e mais tarde a abertura do candy. Cumprindo com estas regras de certeza que teremos o maior sucesso!
Uma sugestão: aplicar 2 arames que nos dê acesso á abertura do candy (tampas D1) sem mexer nos quadros. Assim podemos fazer a abertura do candy por cima das travessas superiores dos quadros.

Mário disse...

Ora ai esta uma coisa de que quase nada entendo, rainhas, a seu tempo la irei.

Rui disse...

boa tarde,

antes de mais bem haja por este espaço de partilha de experiências.

Quando é para preparar o candy precisamos do ácido láctico. Onde o podemos encontrar?

Quanto á introdução de rainhas pergunto: a aceitação da rainha é tão difícil quando usamos um núcleo com abelhas que foram trazidas duma outra colmeia como quando a colocamos numa colmeia que já teve rainha mas foi orfanada?

Obrigado.

Rui

Alien disse...

Olá Rui,

Para o ácido láctico tente a Macmel, tem o link na barra lateral direita.

Relativamente à dificuldade de aceitação da rainha para as duas modalidades citadas, cada caso é um caso, mas supostamente a rainha será mais facilmente aceite num núcleo formado (povoado) para esse efeito, onde não haverá qualquer resquício de territorialidade de outra rainha.
Por outro lado, a suposta "desorientação" da colónia constituida para esse fim (abelhas trazidas de outra colmeia) fará com que tenham menos agressividade para com a rainha introduzida.
Ficando sempre a ressalva de que cada caso é um caso e há muitas mais variáveis como a idade das abelhas utilizadas em que quanto mais novas mais facilmente aceitam a nova rainha ou mesmo o intervalo de tempo após a orfanização que não deverá ser demasiado prolongado nem demasiado rápido...

...espero ter ajudado,

Cmpts

Joaquim Pifano

Rui disse...

Boa tarde Joaquim,

obrigado pelo esclarecimento.

tenho no entanto outra dúvida que aqui coloco.

Imaginemos que desdobro uma colmeia. Metade fica no ninho original e aí fica a rainha. A outra metade coloco-a num núcleo.
É possível colocar aí uma rainha virgem para aí ser fecundada? E o método de a colocar deve ser o mesmo como se fosse uma rainha fecundada?

Obrigado

Rui

Alien disse...

Olá de novo Rui,

Ora aí está uma questão pertinente.
Já agora e antes de mais permita-me a pergunta: Porque razão não utiliza alvéolos reais em vez de rainhas virgens?
São mais faceis de aceitar e satisfazem o factor "rapidez" que quer imprimir à criação da nova colónia.
Não esquecendo que essa introdução não deve ser imediata, talvez após 24/48 horas para que a orfanização seja "sentida" pelas abelhas.

Pessoalmente uso muito esse tipo de desdobramento e com resultados que me agradam bastante.
A qualidade "discutível" da rainha resultante não me preocupa, pois normalmente faço o desdobramento antes de uma floração forte.
Então, face ao forte estímulo de entrada de néctar e consequente necessidade de postura, ou a rainha é boa e continua, ou não é boa e é substituida...
Relativamente à questão que me colocou, a única vez que introduzi uma rainha virgem num núcleo sem rainha resultante de desdobramento correu bem.
Digo-lhe inclusivamente que nem tão pouco usei gaiola ou jaula de introdução, limitei-me a seguir um conselho que há muito me intrigava: rebentei uns alvéolos de mel, besuntei a rainha com todo o cuidado no dito mel, soltei-a no meio das abelhas, que começaram por limpá-la e fechei a colmeia.
Só fui ver o núcleo tempos depois e já tinha criação.
ATENÇÃO: eu não quero generalizar este procedimento como muito eficaz, mas na ÚNICA vez que o fiz resultou...
Ainada pela sua questão, eu colocaria antes alvéolos reais umas 24 ou 36 horas depois.

Abraços
Joaquim Pifano

Rui disse...

Joaquim,

mais uma vez obrigado.
A única, melhor, únicas razões para colocar raínha virgem ao invés de alvéolo é o facto de por um lado poder observar as condições morfológicas da raínha. Por outro lado, dá-me muito jeito que a rainha seja introduzida já marcada no torax. Convenhamos que é muito mais fácil encontrá-la.:)
Joaquim, seria possível contactá-lo através de e-mail pessoal?

Abraço,

Rui Araújo

Alien disse...

Olá de novo Rui,

O meu Email: montedomel@gmail.com

um abraço
Joaquim Pifano