Como diriam os Monty Python's: “e agora algo completamente diferente”... enfim, não é assim tão diferente do habitual...
Sempre que vou ao edifício do Município de Avis, dá-me um tremendo prazer deter-me frente à entrada a observar um arbusto completamente cheio de insectos.
Aquele arbusto é um autêntico “centro comercial”: estão sempre a chegar e a partir insectos polinizadores, fora a nuvem daqueles que andam sempre por ali a voar. É um barulho ensurdecedor. Parece mesmo a Torre de Babel: tanta gente a falar línguas diferentes, mas neste caso todos se parecem entender...
Quando visito uma horta, passa-se precisamente o mesmo, bichinhos voadores (além das abelhas) a cruzarem os ares em todas as direcções.
De facto, há imensas espécies vegetais cultivadas e espontâneas que não podem ser polinizadas por abelhas. O sistema floral está adaptado a outro tipo de polinizador. E como sabemos, toda a flora é imprescindível à vida, tal como a fauna...
Uma vez vi uma curiosa publicação da FAPAS, chamada “A Casa Ninho”, em que ensinavam a construir abrigos para os animais selvagens, tal como a adaptar a nossa própria casa para a coabitação com algumas dessas espécies.
Houve uma que me chamou particularmente a atenção: a construção de abrigos para polinizadores. De facto, se montarmos tais estruturas nas proximidades de hortas e jardins, esses insectos preferirão “trabalhar/polinizar” nas proximidades de casa do que deslocarem-se para longe. Melhorando muito as nossas produções.
A capacidade de suporte de um determinado local, em termos de nichos e locais para nidificar é muito mais importante do que se pensa.
Daí a grande vantagem e importância da apicultura. O apicultor ao montar um apiário com 20 ou 30 colmeias, concentra milhares e milhares (ou milhões) de insectos que fazem sentir a sua actividade numa determinada área, o que resulta numa polinização de grande sucesso.
No fundo, o apicultor alterou a capacidade de suporte do meio ao colocar “ninhos artificiais” para abelhas, que são as colmeias e cortiços. Se não o fizesse, decerto não se conseguia juntar um número de insectos tão grande e eficaz como o permite a prática apícola.
Para quem estiver interessado posso descrever o processo de construção de um (ou mais) desses abrigos/ninhos para outros polinizadores que tanto beneficiam a nossa horta ou jardim...
1º Precisamos de um bloco de madeira com dimensões semelhantes (ou aproximadas) às da figura:
2º Com um berbequim e brocas de vários diâmetros fazer uma série de orifícios no bloco de madeira, só de um lado e sem o atravessar completamente:
Até podem separar os orifícios por grupos de diâmetros diferentes, que tanto podem ser como os da imagem seguinte ou com outros valores e densidades. Podem até fazer “blocos de madeira” só com orifícios de igual diâmetro, não vão as diversas espécies que os vão povoar entrar em conflito, o que eu duvido...
3º Podemos e devemos colocar uma protecção em madeira ou metal para proteger o ninho da chuva, como se fosse um telhado. Não esquecendo que o ideal é mesmo colocar o ninho num local abrigado, debaixo de um telheiro ou noutro abrigo qualquer.
A orientação dos orifícios também será determinante, se os virarmos para Sul ou Nascente decerto que conseguiremos muitos mais inquilinos.
4º Finalmente é aguardar a chegada de insectos de tamanhos, cores, feitios e hábitos muito diferentes. Parece um bloco de apartamentos numa grande cidade: uns vão polinizar as couves, outros os feijões, enfim... cada qual parte para o seu emprego, aparte a crise que obrigará muitos a ficar em casa...
5º Mas isto seria bem menos interessante se não pudéssemos espreitar o interior de cada ninho e monitorizar (eufemismo para espiar), o que se passa na “vida privada” de cada polinizador. Seja a “arrumação da casa”, a disposição dos ovos e larvas, os armazéns de nutrientes e sabe-se lá o que mais se pode ver...
Para isso, podemos comprar tubos de vidro (tubos de ensaio dos laboratórios), e colocá-los no interior de cada orifício, desde que os diâmetros sejam compatíveis.
Quando virmos que o insecto se ausentou, é retirar o tubo à pressa, observar e fotografar tudo e recolocá-lo no sítio, antes do regresso do inquilino.
É uma etapa arriscada, o insecto pode não achar graça a tal habilidade e na próxima reunião de condóminos...
Estas imagens que se seguem foram “tiradas” no Insectozoo de Pedro Cappas e Sousa, onde ele mantém alguns destes interessantes e úteis abrigos de polinizadores.
Finalmente o meu próprio ninho de polinizadores, que espero colocar em breve na horta.
Como não podia deixar de ser, ou não fosse a minha curiosidade inata, lá recheei os orifícios com os ditos tubos de ensaio para depois monitorizar o que se vai passando...
Também se pode optar por uma modalidade mais fácil, rápida e económica. Basta para isso cortar várias canas de diferentes diâmetros em pedaços de dez a vinte centímetros e atá-las num molhe. Os cuidados com o local onde instalar este "engenho" são semelhantes ao anterior e é só esperar que os insectos ocupem os buracos.
Quando houver resultados, e... se houver resultados, cá estaremos a publicar as observações...
06 outubro, 2009
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4 comentários:
Mestre Pìfano
A ideia não está má, e sempre nos impulsiona para outras e novas tarefas.
Abraço
Ferradela
É páhhhh
Grande regresso!!!
O grande Mário da Ferradela está de volta, bem vindo!!!
Oxalá que uma dessas tarefas seja o regresso às "postagens" sempre interessantes na "FERRADELA".
Grande Abraço
JPifano
Olá! Primeiramente parabéns pelo blog é ótimo! Quanto a ajuda aos polinizadores, aqui no Brasil nem alguns dos mais conhecidos como as abelhas tem seu importante trabalho reconhecido pela maioria da população e quando se fala então nas abelhas sem ferrão muitos nem imaginavam que existem esses pequenos mantenedores do ciclo de vida das florestas, vamos a luta para ajudá-los. Abraço!
Olá Meliponário Alencar,
muito obrigado pela força e pela visita,
Joaquim Pifano
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