Em tempos imaginava a apicultura assim:
Sempre que alguém fazia uma descoberta, uma nova técnica de maneio, equipamentos mais eficazes, fosse o que fosse que pudesse ser útil a todos, divulgado de imediato para que todos beneficiassem. A apicultura e não só...
O “montedomel” até surgiu para servir esse propósito.
Quando visitei os apiários da MACMEL em Macedo de Cavaleiros, no passado mês de Julho, despertou-me a atenção (era impossível não despertar) a presença de colmeias gigantescas. Baixas, mas gigantescas, devo dizê-lo.
Face à minha estupefacção, o Francisco Rogão apressou-se a abrir uma delas e mostrar-me o interior: um espaço amplo onde se alinhavam duas filas de dezasseis quadros Langstrooth, num total de 32 quadros. E as abelhas ocupavam a totalidade!
Para que serve uma colmeia tão grande? Nem alças pode suportar…
A resposta era simples: destinava-se a produzir quadros de abelhas em quantidade, que pudessem ser utilizados para a produção de núcleos (enxames de abelhas), para aumento de efectivos ou comercialização.
Ocorreu-me um dilema comum, a disponibilidade de quadros quando faço desdobramentos e consequentemente a modalidade de divisão de colónias a praticar:
1. Divisão da colónia original em duas colónias.
VANTAGEM Ambas as colónias (mãe e filha) são pouco afectadas, ficam com cinco quadros cada uma, muitas reservas nutricionais e muitas abelhas. Em suma, as colónias ficam fortes e com boas probabilidades de sobrevivência. Regra geral, a colmeia que fica com rainha ainda produzirá mel em quantidade nessa campanha.
DESVANTAGEM O rendimento é baixo, apenas duplicamos o efectivo: de uma colmeia obtemos duas.
2. Divisão da colónia original em três ou mais colónias.
VANTAGEM O rendimento é muito alto, podemos triplicar ou quadruplicar os efectivos. Método ideal para quem comercializa colónias de abelhas.
DESVANTAGEM As colónias resultantes (reduzidas a 4; 3 ou menos quadros) ficam bastante fragilizadas. A sua viabilidade depende em larga escala da disponibilidade de néctar e pólen do meio e da data em que é praticada, entre outros factores.
Normalmente é praticada quando no acto do desdobramento disponibilizamos de muitos alvéolos reais, naturais ou criados para o efeito.
3. Selecção de quadros em várias colónias originais para a montagem de uma única colónia.
VANTAGEM A colónia resultante terá decerto as condições ideais para ser viável, visto ter sido obtida a partir de quadros seleccionados para o efeito. As colónias dadoras (originais) pouco ou nada foi afectada, pois só perdeu um quadro, no máximo dois.
DESVANTAGEM Trata-se do método com o rendimento mais baixo: assumindo que retiramos um único quadro por colmeia (ainda que seja o quadro “ideal”), são necessárias cinco colmeias originais para obtermos um efectivo final de seis unidades.
Face ao exposto, a colmeia apresentada neste post e criada pela MACMEL, parece resolver todos os problemas numa assentada, mantendo as vantagens. A mobilização de uma única colónia permite-nos a obtenção continua de quadros e abelhas para desdobramentos.
Não devemos no entanto esquecer que a colónia a utilizar deverá ter uma rainha nova, saudável e de boa estirpe. À falta de nutrientes no meio necessitará obviamente de alimentação artificial.
O apicultor referiu que chega a adicionar-lhes quadros com criação (de outras colmeias) para ajudar no arranque.
A referida colmeia, em termos de dimensões é equivalente a quatro colmeias Langstrooth, seria igual se suportasse 40 quadros:
Não vou apresentar as dimensões da colmeia porque as mesmas são óbvias e possíveis de adaptar a qualquer outro modelo de colmeia ou de quadros. Trata-se portanto de um equipamento muito acessível à “habilidade” de qualquer apicultor, encontrando-lhe apenas o defeito de pelo peso e dimensões ser difícil de manusear por um único operador.
A caixa está construída de modo a que os quadros fiquem dispostos em duas filas paralelas. Todos os 32 quadros assentam num separador central que não terá mais de cinco centímetros, permitindo facilmente a passagem das abelhas entre os dois lados. A não opção por uma colmeia sobre o comprido, que permitisse a colocação dos 32 quadros lado a lado é óbvia, atendendo à conformação pouco natural que teria o espaço resultante.
Não pude deixar de perguntar ao Francisco Rogão sobre a diferença entre a referida colmeia ou a opção (mais simples) pela utilização de três corpos Langstrooth sobre um ninho do mesmo modelo. Neste caso não havia necessidade de adaptar o material utilizado…
Segundo o F. Rogão, a diferença nem é muita, importa no entanto a vantagem da presente construção face à possibilidade do isolamento térmico em todas as paredes internas da colmeia com roofmate, conferindo larga vantagem à colónia no arranque. Por outro lado o maneio é muito facilitado sem a necessidade de colocar e retirar os corpos tão pesados para a inspecção e avaliação dos quadros.
A utilização é fácil, basta escolher na colmeia grande os quadros necessários à “construção” das novas colónias, tendo atenção para que as mesmas fiquem equilibradas: quantidade de reservas nutricionais, abelhas adultas, amas e criação e adicionar-lhe um alvéolo real ou uma abelha rainha.
http://montedomel.blogspot.com/2009/02/equilibrar-uma-colonia-de-abelhas.html
http://montedomel.blogspot.com/2009/02/multiplicacao-de-colonias.html
Os alvéolos reais são obviamente mais fáceis de obter, a partir de um quadro porta cúpulas concebido para o efeito, ou alvéolos naturais:
As rainhas em fase de postura já implicam o domínio dessa técnica, tal como a utilização de Nucléolos de Fecundação de Rainhas:
http://montedomel.blogspot.com/2009/02/nucleolos-de-fecundacao-e-estagio-de.html
http://montedomel.blogspot.com/2009/02/construcao-de-um-nucleolo-de.html
Para um maior rendimento na obtenção de novas colónias também podemos optar por núcleos com menos de cinco quadros, igualmente funcionais e viáveis.
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13 comentários:
São os anos de experiências e dedicação. Como uma vez disse o Francisco Rogao "a cabeça pensa, os braços executam"
Abraço
Ferradela
Por acaso já tinha visto estas colmeias em Macedo. Imagino o banzé que será quando abertas na força máxima da colónia. Não há dúvidas, para quem se dedique a multiplicar colmeias, é de grande utilidade.
Cumprimentos
Bruno Furtado
Palavras para quê? É um Mestre Português que vê a Apicultura da forma mais simples, aliás como ela deverá ser encarada.
Filosofias, engenhocas, teorias de "estrangeiros" que vivem num "habitat" totalmente diferente, mas que publicam livros, etc, etc só servem para alimentar conversa. Este Homem não é desses.
Experimentem colocar-lhe uma questão. Verão o pragmatismo duma solução eficiente e eficaz.
Parabéns!
Eu também vi estas colmeias em Macedo, no aniversário do forum, mas envergonhado não questionei o que seria. E ex que o Sr. Francisco Rogão nos "abre a porta" para verificarmso como sempre as suas tecnicas.
Estou maravilhado com o Sr. Francisco pela forma como nos coloca e ensina as coisas, sem segredos nem receios!
Obrigado MACMEL pelo que fazem pela apicultura portuguesa.
Obrigada também ao Joaquim por mais uma excelente reportagem.
Grande abraço,
Ricardo Jesus
Estou escrevendo um livro intitulado: Apicultura: Criação de rainhas para multiplicação e seleção de enxames. Neste livro eu descrevo 9 PMSO(s) Procedimentos de manejos de semi orfanação. Todo baseado em experiências bem sucedidas, onde não se perde uma abelha se quer. Na pior das hipóteses se forma apenas uma melgueira se a rainha não fecundar.
Nestes procedimentos tem até incubadoras de rainhas para produção de forma continuada, sem translarve, tudo muito prático. Antonio Corrêa: carlosfac@ibest.com.br
Reciban un afectuoso saludo y muchas felicitaciones por el trabajo que hacen.
Un abrazo desde el Sur de CHILE.
Attentamente, un Colega Apicultor Bruno Eduardo Fierro Villanueva
E-mail: colmenares_fierro@hotmail.com
www.ColmenaresFierro.hostei.com
Olá Sº Joaquim
Eu sou muito novo nisto.
Esta técnica e só para a criação de abelhas, para ter abelhas para poder fazer os núcleos. Certo!!!
A então nunca calhou quando estão a tirar os quadros para fazer os núcleos levarem a rainha.
Um abraço
Paulo Pereira
Anadia
Olá Paulo Pereira,
Obviamente que esse risco existe, há que ter todo o cuidado para o evitar.
Se suceder, evidentemente que essa rainha vai destruir o alvéolo real que se adicionar a esse núcleo ou haverá uma "luta" no caso de se adicionar uma (outra) rainha.
A colmeia dadora ao ficar sem rainha o apicultor rapidamente perceberá isso e a substituirá.
Abraços
Joaquim Pifano
Alguem me pode dar uma dica como adquirir um extractor de mel a um bom preço.
Obrigado
Olá,
O ideal será contactar um armazém de material apícola, poderão ter esse equipamento em 2ª mão.
Muito bom! Queria umas destas mas com o modelo Lusitana.
Bom dia,
Neste caso utilizas uma ou duas rainhas?
Cumprimentos
Olá Bom Dia!
A macmel utiliza essas colmeias modificadas para obtenção de abelhas para os desdobramentos e essas colmeias têm apenas uma rainha, visto que não utilizam grades excluidoras a separar secções.
abraço
Joaquim Pifano
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