10 outubro, 2010

Transumância 2010 - Regresso aos Apiários de Inverno/Primavera

Mais um ciclo que chega ao fim, depois de uma excelente Primavera e de um Verão demasiado quente, é tempo de regressar com as colmeias aos apiários de Inverno.
Esta transição entre locais e floras distintos justifica-se não só pelos benefícios apícolas directos em termos de disponibilidade de néctar e pólen, como também numa tentativa de redução dos riscos de incêndio.
Regra geral, as pastagens de Primavera ricas em Estevas (Cystus sp) e Rosmaninho (Lavandula sp.) pecam por uma extrema secura e pela abundância de resinas durante o período estival, daí o forte risco de incêndios, dos quais importa afastar as colmeias.
Nesta estação, antes de regressar às zonas de mato, tenho por hábito fazer a limpeza e manutenção dos apiários, nomeadamente a remoção de pastos e outros combustíveis que além de potenciarem os fogos, servem ainda de esconderijo a predadores, dificultam a nossa mobilidade e ainda podem impedir a normal orientação e circulação das abelhas.

Há dois anos, no dia 29 de Outubro, um incêndio provocou importantes baixas num apiário da região, pelo que não se deve facilitar em matéria de prevenção.

Para tal costumo remover todas as estruturas de suporte das colmeias como vigas de cimento ou madeira e blocos de betão, para que a roçadora ou a enxada e ancinho tenham melhor acesso a todos os recantos. Por outro lado também importa não esquecer as regras de segurança para operar com estes equipamentos de corte.

Depois de efectuada a remoção do pasto e arbustos afasto-os para longe do apiário. Volto a montar todas as estruturas, reforçando as que se danificaram e nivelando os suportes. Aproveito para providenciar uma série de pedras com dois ou três kg para depois colocar sobre os tampos, não vá o vento levá-los para longe.

É curioso como até há poucos anos me ria à socapa de alguns apicultores que quase soterravam os apiários sob uma pilha de pedras, para não falar no incómodo em removê-las sempre que queríamos aceder ao interior das colmeias. Veio então o dia, e o vendaval, em que andei umas boas dezenas de metros a resgatar tampos (e até pranchetas) espalhadas pela encosta…
Qualquer dia “sai” um post sobre as observações que tenho feito das diversas modalidades de ocultar as colmeias da intempérie, dos amigos do alheio e doutros imprevistos…

Se por um lado é estranha a visão de um apiário muito limpo e arranjado, mas ainda sem colmeias, por outro transmite-nos uma sensação de ordem e paz aquela meia dúzia de metros quadrados “humanizados” no meio do mato. Lembram as brincadeiras que fazíamos na infância, a construção dos nossos castelos, quartéis-generais ou a fundação de uma qualquer cidade antiga, e no fundo não é mesmo disso que se trata?
Gosto de me deter por ali após esse trabalho (até porque é extenuante), as cores vivas do Outono e os cambiantes de luz provocadas pelas nuvens de formas bizarras, que sempre surgem nesta estação, criam uma atmosfera muito especial.

Mas as coisas não ficam por aqui, falta a transumância, a apicultura nómada, à noite há que resgatar as colmeias das várzeas e trazê-las para as encostas, onde passarão o Inverno. Desta vez e conforme o convite feito há meses atrás, o António Sérgio veio passar o fim-de-semana connosco e deu-nos uma preciosa ajuda.
E de facto a ajuda era mesmo necessária, uma lavoura temporã no terreno onde tinha as colmeias cortou-me o acesso normal, pelo que tivemos de as passar por cima de uma vedação. Não houve nenhum drama, a camioneta encostou junto ao apiário e o carregamento não diferiu muito do habitual…

Surpreendente: estes dois enxames, há mais de uma semana pousados no tronco do Sobreiro, resistiam estoicamente às baixas temperaturas nocturnas. Mais tarde percebemos a razão desta enxameação tão extemporânea: dois núcleos superpovoados que não foram transferidos para colmeias, responderam desta forma à falta de espaço…

Procedimento correcto: A obstrução da entrada das colmeias com esponjas evita a saída desnecessária das abelhas e permite um trabalho muito mais fácil. A utilização de um pulverizador de água substituiu o fumigador com muita eficácia.

Procedimento incorrecto: As colmeias não devem ser carregadas por um único operador. O peso é demasiado e a forma da caixa torna-a difícil de transportar…

Uma vantagem da camioneta grande: 36 colmeias sobre o estrado, sem sobreposições, evita mais esforços da nossa parte e não dificulta o arejamento das colmeias. Admitamos que um segundo nível não seria desastroso, mas três níveis de colmeias sobrepostas já poderiam causar prejuízos para distâncias maiores.

Colocação das colmeias no apiário:

Não esquecer de retirar as esponjas, e afastarmo-nos do local… as abelhas estão demasiado perturbadas com a viagem e saem dispostas a tudo!

Desta vez não nos esperava o habitual Bacalhau com Grãos às duas da madrugada, ficamo-nos por uma “aconchegante” canja de galinha e mais uns quantos petiscos regionais…

6 comentários:

Abelha Preguiçosa disse...

Olá!
Grande Aventura!
Já tirei daqui algumas ideias: tenho algumas vigas de madeira a apodrecer ao ar livre, podem muito bem apodrecer mas a servir de apoio às colmeias!
Ainda há pouco vi uma grua numa carrinha como essa, que para este trabalho daria um jeitão!

Ainda parecem ser bem grandes os enxames no sobreiro!


Um abraço
Ricardo
PS:No outro dia fui buscar um telhado a uns bons metros da colmeia mas acho que foi um javali e não a intempérie!

octávio disse...

Parabéns!

Parabéns pelos conselhos. São sempre oportunos e mais ainda, nesta altura do ano, pois basta ver a abertura dos telejornais para ver os estragos que para aí anda a fazer a Mãe Natureza.

Perdoem-me a crítica mas é um desperdício deixar esses enxames "abandonados", mesmo ficando com a ideia que pouco haverá a fazer por eles para os salvar no inverno, mesmo se forem colocados num reconfortante T1, aliás, núcleo, com "papinha" doce e mais cautelas. Contudo, valia sempre a pena tentar.

Amigo Ricardo: se o telhado não ficou bem seguro com as telhas, será melhor aderir às telhas da "nova tecnologia" porque encaixam umas nas outras, ou então um calhau bastante mais pesado.

Quanto aos suportes em madeira (barrotes) não são eternos mas satisfazem as necessidades. Também os utilizo e já ouvi, há dois anos, um sábio apicultor criticá-los e eles ainda lá estão, suportam os ninhos, as alças e...e ainda aguentam comigo.

Também utilizo pneus para assentos, mas no seu interior cheios com pedras para haver escoamento de águas e, nunca terra, pois a água ficaria ali alojada, passando toda a humidade para o interior do ninho. Para já um grande inconveniente que verifico é em caso de incêndio.

Um Abraço

Francisco disse...

O sobreiro não pára de me surpreender pelas suas formas, já os apicultores, e sem surpresas é velos nesta pesada mas dignificante arte.
Fiquem bem

António Sérgio disse...

Lá que as colmeias estavam pesadas lá isso estavam, mas uma saborosa canja de galinha acompanhada de um bom chouriço, queijo e pão do alentejo deixam-nos bem à vontade para este trabalho que feito por 2 ou 3 e em equipa custa muito pouco, mais parece um passeio nocturno. Um fim de semana de transumância que para mim foi turismo apicola em boa companhia. Ó Joaquim a ver se em 2011, levanta-mos 2 apiários na mesma noite.

Filipe Morais disse...

Fantástica, esta aventura! Deliciosa.
Só me resta agradecer esta "pequena grande" história. Estava num grau muito elevado de motivação para me iniciar nestas andanças e este pequeno conto, particularmente bem documentado visualmente, irá ser um contributo fundamental para passar do doce platonismo à prática.
Estou preparado para muitas dificuldades e desilusões, hei-de encontrá-las, sem dúvida, mas nesses momentos é nestes exemplos que vou colocar os olhos.
Obrigado e continuação de bom trabalho.

Alien disse...

Olá Filipe Morais,

Para quem parte para a "aventura apícola" com esse espírito de sacríficio decerto que tudo irá correr bem.
Claro que sempre surgem obstáculos, mas acredite que as benesses os irão superar num saldo francamente positivo!!!
Boa sorte com a iniciativa e alguma ajuda que eu possa dar...já sabe!
Um abraço
Joaquim Pifano