09 fevereiro, 2011

PERMAPICULTURA

“Gostaria de construir e operar colmeias totalmente automáticas, onde não são necessários conhecimentos apícolas de alguma espécie, pois só se abrem para as crestar?”

É com esta enigmática e “tentadora” abordagem que Oscar Perone, o conhecido apicultor, formador e divulgador argentino apresenta o seu novo site http://www.permapicultura.com/ sobre PERMAPICULTURA. Onde se conclui no fim que as abelhas pouco mais necessitam que ESPAÇO, RESERVAS e PAZ para serem saudáveis e produzirem em quantidade para elas e para nós.

PERMAPICULTURA (!La apicultura del no hacer!) é o novo conceito de apicultura, onde se aplicam os princípios da PERMACULTURA cuja definição retirada de http://pt.wikipedia.org/ postula o seguinte:

“A PERMACULTURA é um método holístico para planejar, actualizar e manter sistemas de escala humana (jardins, vilas, aldeias e comunidades) ambientalmentesustentáveis, socialmente justos e financeiramente viáveis.

Foi criada pelos ecologistas australianos Bill Mollison e David Holmgren na década de 1970. O termo, cunhado na Austrália, veio de "permanent agriculture" (agricultura permanente), e mais tarde estendeu-se para significar "permanent culture" (cultura permanente). A sustentabilidade ecológica, ideia inicial, estendeu-se para a sustentabilidade dos assentamentos humanos.

O princípio da Permacultura vem da posição de Mollison de que "a única decisão verdadeiramente ética é cada um tomar para si a responsabilidade de sua própria existência e da de seus filhos" (Mollison, 1990). A ênfase está na aplicação criativa dos princípios básicos da Natureza, integrando plantas, animais, construções, e pessoas em um ambiente produtivo e com estética e harmonia. E, neste ponto encontra paralelos com a Agricultura Natural, que sendo difundida intencionalmente pelas pesquisas de Masanabu Fukuoka por todo o mundo, chegaram as mãos dos senhores fundadores da permacultura e foram por eles desenvolvidas.
Permacultura é uma síntese das práticas agrícolas tradicionais com ideias inovadoras. Unindo o conhecimento secular às descobertas da ciência moderna, proporcionando o desenvolvimento integrado da propriedade rural de forma viável e segura para o agricultor familiar.”


Para quem está habituado a lidar com as recentes técnicas de maneio da dita “Apicultura Racional”, onde impera sobretudo uma participação activa do apicultor, intervenções constantes na colónia, manipulações e alterações na biologia das abelhas, decerto irá ficar chocado com a maioria das novidades desta nova “filosofia” apícola.

Certo é que se visitarem o site, lerem atentamente o que se apresenta, após a surpresa inicial irão decerto concordar com a inteligente argumentação (e com as razões) a que Oscar Perone já nos habituou. Quanto mais não seja à luz de um chavão que já não é novidade para ninguém: antes do Homem criar abelhas, elas prosperavam na Natureza, hoje trata-se de uma espécie totalmente dependente do Homem…
Mas vamos a alguns exemplos só para aguçar o apetite, o que não dispensa de modo algum a visita ao excelente site:

1. Acho bastante curioso o conceito de “Abelhas do Apicultor”, a forma como Oscar Perone classifica animais demasiado domesticados e até “adulterados” pelo ser humano. Trata-se quase de uma subversão da biologia e da funcionalidade das abelhas, modificadas à vontade e à necessidade do apicultor. Como tal resultando em colónias enfermas, pouco produtivas e susceptíveis a toda a espécie de anomalias, extremamente dependentes de inputs externos como alimentos artificiais e medicamentos.

“Y ese paradigma industrial aplicado a la apicultura, con su traspaso de "poder" a las manos del apicultor, hizo que este creyera que sabía más de apicultura que las abejas, y empezó a manejarles el espacio, las reservas y a dejarlas sin paz, con su eterno afán de control absoluto, continuo, sobre la intimidad de la colmena…”

2. Extremamente interessante a forma como a Radiestesia importa neste método, e poderá condicionar o sucesso de uma exploração apícola. Nomeadamente as energias telúricas, entre outras, que poderão afectar positiva ou negativamente o desenvolvimento e as produções de uma colónia de abelhas.

3. A substituição de ceras com alvéolos de 5,7 mm por 4,9 mm, cujas dimensões mais naturais poderão ser um entrave ao desenvolvimento do ácaro Varroa destructor. Teoria que já começa a fazer escola entre muitos apicultores em todo o mundo.

A Varroa é a primeira vítima deste “filme de terror” iniciado pelo uso da cera estampada (moldada), pois que para nenhum parasita é “negócio” matar o seu hóspede, pela simples razão que a morte do parasitado é também a morte do parasita…”

4. O apelo à não substituição de ceras, mesmo que negras e velhas, argumentando que nos enxames naturais tal nunca sucedia, nem era necessário, e as abelhas prosperavam saudáveis e produtivas. Quando na apicultura dita racional as ceras com tais características apontam para focos de doença e moléstia, aconselhando-se a sua substituição periódica.

5. A manutenção das alças sobre o ninho continuamente ao longo de todo o ano. Evitando perturbar a colónia de abelhas que consome desmesuradas quantidades de mel sempre que se abre a colmeia e baixando-lhe muito a produtividade.
Oscar Perone salienta que o consumo energético para manter a temperatura no ninho é equivalente à necessária para o mesmo espaço ampliado com as alças. Não esquecendo também que a ausência de tratamentos o permite, evitando o contágio da cera das alças.

Estas e muitas outras razões e novidades relacionadas com a alimentação artificial, as colmeias concebidas para o efeito, o controlo de enxameação, a cresta e tantos outros aspectos menos ortodoxos do maneio apícola, são motivo de sobra para visitarmos o referido site e sobretudo… reflectirmos bastante sobre o seu conteúdo.

http://www.permapicultura.com/

7 comentários:

Oscar Perone disse...

Es un alto honor el que me hace prezado colega apicultor Joaquim Pífano, que mi humilde sitio figure en uno tan interesante y bello como el suyo.
Muito obrigado.

Oscar Perone
Buenos Aires
Argentina
http://www.permapicultura.com

Unknown disse...

Boas!
Acho no mínimo interessante o método descrito por Oscar Perone!
tenho em suporte informático o manual dele de apicultura natural extensiva traduzido para português e vou aplicar o método dele em duas ou tres colónias minhas para experimentar!
Acho que temos a aprender qualquer coisa deste método.

Abelha Preguiçosa disse...

Um ponto fulcral onde todos os apicultores vêm obrigatoriamente bater é questão do ácaro varroa.
Alguns, como eu, acham mesmo que na verdade tudo gira à volta desse ácaro e a apicultura seria uma coisa muito diferente se ele não existisse.
Na minha apicultura, se não fosse o que a varroa acrescenta - os acaricidas - pouca relevância tinham as questões da renovação da cera, moldada ou por moldar, do ninho ou da alças, tamanho de alvéolo, controlo de enxameação, alimentação artificial, etc... e até a questão do espaço da colmeia, e tipo de colmeia, podia ser encarada de maneira diferente.
Eu tenho muita pena de não conseguir manter as minhas colmeias sem recorrer a acaricidas, pois para mim isso era o mais importante, e fico até um pouco abalado quando alguém, nas mesmas condições que eu, afirma que a questão da varroa é uma de trato fácil...

Quanto às "abelhas de apicultor", do apicultor Norte-Americano ao Português, por exemplo, vai um oceano de distância :), e mais ainda nos anos 80, e que eu saiba os cortiços, esses sim naturais, muito mais naturais que a cera de alvéolos pequenos, não sobreviveram à década de 80, e não acredito que fosse apenas por não terem tanto espaço como as torres de caixas!
À cera de alvéolos pequenos gosto de chamar "cera de alvéolos pequenos", e nada tenho contra a sua utilização, até gostava de experimentar! Acho que apenas se podem chamar de "alvéolos naturais" aqueles onde não há condicionamento humano de nenhum tipo na sua construção.
Referenciando casal Lusby, o tamanho natural do alvéolo varia conforme a zona do globo terrestre e toda a gente sabe que as abelhas variam bastante o tamanho e formato dos alvéolos.
Para além disto tudo não entendo que haja nada de sobre-natural, na relação entre abelhas e o homem, por isso tudo é natural! :)

Também não percebo muito bem porque dizem que a cera nas tocas naturais não é renovada, a minha impressão é que as abelhas a renovam, cortando até favos inteiros se for necessário. A minha impressão é que a cera em tocas naturais é renovada como consequência da acção de predadores e pragas e não... não me estou a referir ao apicultor :-)))

Abraço
Ricardo

Anónimo disse...

As minhas saudações apícolas!
As condicões climáticas e os tipos de abelhas variam muito de continente para continente, de local para local, e até dentro do próprio apiário. Maneios e tratamentos que são muito eficazes num sítio,resultam mal noutro local mesmo relativamente próximo.
Poderá eventualmente o sr. Perone ter os seus apiários em locais particularmente favoráveis, mas...
A filosofia holística, da qual não sou propriamente um adepto, será muito interessante a nível puramente académico, mas em resultados práticos deixa muito a desejar e aqui falo a nível profissional, quando é certo que ao longo da vida, todas as pessoas sem excepção, que segui profissionalmente e que deixaram a via "tradicional" e optaram pela via "holística" tiveram resultados desastrosos. A teoria das "linhas de Hartman" também é académicamente curiosa e parece ter alguma (só alguma) fundamentação científica
Em resumo, a minha opinião sobrepõe-se à de "Abelha Preguiçosa".
Um abraço.
Abelhasah.

Anónimo disse...

Quem me dera que diminuísse o tamanho da estampagem da cera (tamanho do alvéolo) e houvesse um declínio da taxa de infecção por varroa significativo ao ponto de não as tratar... essa teoria do parasita não querer matar o hospedeiro tem muito que se lhe diga.

Que está na apicultura biológica(sem tratamentos quimicos para a varroa, vezes ao ano) que anote aqui a estatística da mortalidade este ano! sei casos de mais de metade da população(e é o que me contam)..

Anónimo disse...

Acho que devemos atender ao facto que o senhor Oscar Perone ser argentino e divulgar esta pratica na sua região. As abelhas africanizadas da america do sul são bastante mais resistentes a doenças como por exemplo a varroa que na maioria dos casos, dispensa qualquer tratamento. Aplicar a Permapicultura cá a meu ver seria um suicídio visto até que as nossas abelhas se tornam escassas na própria natureza.
Luís

Unknown disse...

Ola
Vc poderia me pasar o manual??