03 maio, 2011

MACMEL - Primeira Colheita de Pólen

Por António Marques - FRUTER/FRUTERCOOP (Terceira - Açores)

Os mais de 1600 km que nos separam durante a maior pare do ano não são suficientes para impedir que de vez em quando possamos trocar algumas experiências e conhecimentos ligados a uma paixão comum – a Apicultura.

Os cerca de 80 km – Vila Real, Macedo Cavaleiros - que nos separam em algumas alturas do anos facilitam alguns encontros, por vezes de fugida. No último Domingo, dia 17 de Abril, resolvi dar um saltinho a Valpaços à Feira do Folar. Como estava pelas redondezas resolvi ligar ao Francisco Rogão, a perguntar-lhe se estava por casa. Respondeu-me que sim. Resolvi então pôr-me a caminho de Bornes.

Quando lá cheguei, e depois de uma troca de palavras - obviamente as abelhas foram logo tema de conversa – o Francisco falou-me numa experiência que andavam a fazer e pediu ao Rúben para ir buscar o “saco” de pólen capturado pelas abelhas em cerca de 78 capta-pólen.

Fiquei desde logo entusiasmado e com alguma vontade de participar na experiência, ou pelo menos contribuir com algo que pudesse de certa forma perpetuar o acontecimento. Logo de seguida o Francisco pergunta-me “queres cá vir amanhã para irmos ao pólen?”. A resposta foi óbvia.

No dia seguinte, parti de Vila Real por volta das 16h30 e cerca de uma hora depois já estava na maior loja de apicultura de Portugal. O Francisco estava à minha espera e partimos para Bornes onde se encontrava o Rúben a preparar o todo o equipamento necessário para mais uma colheita de pólen.

Foi só vestir os fatos, entrar para o Pick-up 4x4 e rumar aos apiários.
Os capta-pólen de madeira utilizados, apesar de mais caros, foram os escolhidos em detrimento dos de plástico, uma vez que estes últimos incrementam um maior teor de humidade no pólen devido às características da sua superfície – completamente lisa e nada absorvente.

A qualidade do pólen colhido depende das condições meteorológicas, não sendo aconselhável a colocação dos capta-pólen em dias demasiadamente sombrios, porque nestes casos não se rentabiliza a colheita e compromete-se a recolha de néctar por parte das abelhas.

Na foto, pela homogeneidade da cor dos grãos de pólen podemos afirmar com algum grau de certeza, a monofloridade do pólen, neste caso de Esteva (Cistus ladanifer, devido à tonalidade amarelo-alaranjada dos grãos de pólen.

Nesta foto, ao contrário da anterior, verifica-se alguma heterogeneidade na cor, havendo uma mistura de Esteva com algumas fruteiras (Pomoideas (1) , prunoideas (2), etc.). Alguns cápta-pólen foram colocados propositadamente em colónias localizadas em zonas de cultivo (Fruticultura e também horticultura).

Após a recolha do pólen nos quatro apiários regressámos a Bornes. Nas instalações da MACMEL procedemos às operações necessárias de modo a que o pólen ficasse em condições de ser comercializado.

O Pólen, quando fresco, tem muita humidade – com um aparelho apropriado

verificámos que o teor de humidade era cerca de 14%. Por outro lado, tal como o mel, o pólen é muito higroscópico (3) pelo que a sua secagem deve ser efectuada o mais rápido possível e em locais fechados, longe de qualquer fonte de humidade para evitar que amoleça e fermente desenvolvendo bolores e outros microrganismos indesejáveis. Convém, que o mesmo, após a secagem tenha um teor de humidade inferior a 8%.

Antes do pólen ser introduzido na estufa (fotos anteriores), para que seja seco, deverá ser limpo manualmente removendo as impurezas de maior dimensão, nomeadamente abelhas e partes destas. Outras impurezas de menor dimensão (pedaços de patas, restos de casulos, partículas de cera, pó, etc.) serão extraídas após a secagem num aparelho específico cuja função é precisamente fazer a triagem do pólen:

A separação do pólen das restantes impurezas é feita mecanicamente utilizando ventilação forçada e peneiras. O pólen, depois de passar pelas peneiras e já completamente limpo, cai por gravidade e é recolhido num recipiente na zona inferior da “limpadora” de pólen:

Após a secagem e triagem do pólen o mesmo foi guardado dentro de um saco plástico hermeticamente fechado em local seco e fresco para posteriormente ser embalado (em frasco de vidro) e comercializado:

Como alimento, o pólen exerce sobre o nosso organismo uma acção tripla, porque para além de actuar sobre o crescimento, regula as funções intestinais, o sistema nervoso e de uma forma geral fortifica o organismo.

Segundo a opinião de vários entendidos a composição química do pólen não é ainda consensual, mas sabe-se que é um alimento com capacidade para fornecer praticamente todos os nutrientes indispensáveis ao bom funcionamento do organismo humano. Tem um teor proteico elevado (cerca de 35%) cujas proteínas são ricas em aminoácidos. É importante aqui referir que o pólen contém os chamados aminoácidos indispensáveis ou essenciais, ou seja, os 8 aminoácidos que o nosso organismo não consegue sintetizar. Para além destes ainda possui mais 14. Como alimento completo que é, ainda possui hidratos de carbono, vitaminas (A, C, D, E e complexo B) e muitos minerais.

Importa também referir, que em toda a bibliografia consultada o pólen é apontado como tendo uma forte acção contra a hipertrofia benigna da próstata e não é referida qualquer contra indicação deste super alimento.

(1) Macieira, pereira, marmeleiro, etc.
(2) Pessegueiro, damasqueiro, cerejeira, ameixeira, etc.
(3) Que tem tendência para absorver humidade da atmosfera.

18 comentários:

Osvaldo disse...

Boas
De facto aprende-se muito neste blog.
Eu estou a pensar a começar a produzir pólen e isto é mais um incentivo. Conseguiste de uma forma clara e simples explicar como se produz pólen.
Parabéns e Obrigado.

Paulo Romero de Farias Neves disse...

Grande amigo Pífano,

como sabes,faço visitas diárias a esse maravilhoso blog,pois tenho aprendido muito aqui,e sempre repasso para aqueles que se interessam pelo assunto aquilo,que aprendi...

Parabéns pelo belíssimo trabalho.

Abração.
Paulo Romero.
Meliponário Braz.

Osvaldo disse...

Os meus parabéns e obrigado foram para o meu colega António Marques, pelo seu belo trabalho. Mas também para o Sr. Francisco e o Ruben, pela forma como se disponibilizaram para que o mesmo pudesse ser feito. E também ao Pifano por não divulgar só os seus artigos, permitindo assim que outros o possam fazer também e que são de grande utilidade para os apicultores.
um abraço a todos.

Francisco Rogão disse...

Boas a todos

Em primeiro lugar quero agradecer amigo Marques a disponibilidade em ajudar naquele dia a recolha e transporte de polen até casa.
E ao Pifano como sempre disponivel para partilhar as novidades apiculas
Só é realmente pena os 1600 e os 400 kilometros de distancia senão encontros como este seriam mais regulares.
Relativamente ao trabalho aqui apresentado acho que vai dar vontade a mais apicultores de iniciarem também neste produto da colmeia que tanto desprezamos e outros ficam contentes pois graças a isso têm eles oportunidade de colher enquanto nós passivamente nos limitamos a ver ir o nosso polen embora.
Só titulo de exemplo a Espanha produz cerca de 80% do polen consumido na Europa e os apicultores nossos vizinhos colhem metade do polen " deles " em Portugal o que significa que nós indirectamente produzimos 40% do polen da Europa mas vendemos 0%.
Agora podemos e devemos diversificar as nossas produções apiculas pois condições temos só falta iniciativa vamos lá colocar também o nosso nome na produção de polen pois condições temos nós

Francisco Rogão

Eco-Escolas disse...

Olá Osvaldo

Obrigado pela força. É um privilégio fazer qualquer coisa com a Macmel.
Em Julho espero lá estar com eles novamente para fazermos mais qualquer coisita.
É também uma honra colaborar com o Pífano neste magnífico Blog que afinal é de todos nós.

Abraço

Anónimo disse...

As minhas saudações apícolas!
Parabéns pelo artigo e pelas imagens que estão excelentes.
De facto, como já afirmei noutro local, o pólen e todos os produtos da colmeia são o que agora é moda chamar "bens transacionáveis", que podem e devem ser exportados, tanto mais que os nossos principais parceiros comerciais - os países da europa - são deficitários nestes produtos.
Mas parece-me que antes, devemos exigir aos desgovernos deste pobre país que NOS DEIXEM TRABALHAR!!!
Um abraço.
Abelhasah.

Alien disse...

Caro André Correia,

Queira por favor enviar-me um mail
para montedomel@gmail.com

abraços
Joaquim Pifano

Rui Franco Silva disse...

Para um leigo no assunto, como eu, a forma didáctica como descreve e ilustra o artigo, tem especial relevância. Congratulo-o pelo modo como desenvolve o blogue e espero que tenha a disponibilidade e entusiasmo para lhe dar continuidade.

Anónimo disse...

AMIGOS BOA NOITE
COMO NOVATO NESTAS ANDANÇAS, AGRADEÇO, AO BLOG A POSSIBILIDADE DE APRENDER-MOS ESSAS TÉCNICAS.
NA PRÓXIMA CAMPANHA VOU COMEÇAR A
EXPLORAR O PÓLEN

SAUDAÇÕES.

Anónimo disse...

boa noite
Alguém sabe qual é a média diária de pólen recolhido por colmeia, eu sei que esse valor esta sujeito a muitos factores, mas alguém me sabe dizer um intervalo de peso em que se encontra a media ?
cumprimentos
Rafael Lopes

Alien disse...

Olá Rafael Lopes,

Normalmente a resposta a essa pergunta, p'lo menos a tirada dos livros' é de 500g...
Mas claro que depende de imensos factores, ha muito quem fale em 300g, 200g, ... e até mais de 500g.
Também se diz que uma colmeia produz, em média e por época, cerca de 5kg, mas... cada caso é um caso.
A produção de pólen é maximizada se houver:
- muita criação aberta
- muita população adulta
- muita flora polinífera
- condições climatéricas propícias
- não muita densidade de colmeias na zona
- o tipo de maneio efectuado
-etc...

Joaquim Pifano

Anónimo disse...

Alguém sabe qual o tempo que o polen deve permanecer dentro do secador para que fica devidamente seco?

abraço
Rui

Alien disse...

Olá Rui,

...é uma boa pergunta, mas...

depende da humidade inicial do pólen, da humidade que se pretende no final, da capacidade do equipamento e da quantidade de pólen que lá se coloca.
Aconselhava-o a consultar a MacMel, visto que tem desenvolvido trabalho nesta área.

abraços
J Pifano

Unknown disse...

Boas caros companheiros apícolas;

Eu sou novo nestas arte (apicultura) e gostava de me dedicar a Coleta do pólen,
Será que algum companheiro apícula me podia dizer mais sobre o assunto, tais como:

Em que altura do ano de deve proceder a coleta, por quanto tempo, como se transporta como se conserva, etc etc etc

Abraço

Mocho 2006

mely disse...

Excelente artigo sobre o Pólen e o seu tratamento. Não fazia ideia dos vários processos para se chegar ao Pólen. Bastante elucidativo e acompanhado com fotos. Parabéns.
Graça Rodrigues

Anónimo disse...

Quanto de pólen uma comeia produz normalmente por dia e quanto ela produz por dia na florada.

Unknown disse...

Boa noite, gostaria de saber quanto tempo (dias) devo deixar o capta polen na entrada da colmeia. Obrigado

Alien disse...

Caro Apicultor

Antes era comum deixar as armadilhas de pólen activas dois dias por semana e os restantes cinco dias com elas desactivadas. Assim era possível produzir pólen sem grandes perdas na entrada de mel.
Mais recentemente e se o interesse for produzir pólen em quantidade, há quem utilize a fórmula ao contrário, 5 dias/semana a produzir pólen, por vezes nem desactivam as armadilhas para
uma produção contínua o que lhes trará maiores quantidades deste produto.
No entanto, as abelhas ao necessitarem de pólen para a criação terão de mobilizar mais abelhas para o irem buscar às flores, abelhas que antes colectavam néctar.
Sendo assim haverá decerto quebras notórias na produção de mel.
Pessoalmente costumo produzir pólen durante 3 dias e desactivo as armadilhas os 4 restantes
com resultados satisfatórios.

Cumprimentos
Joaquim Pífano