31 outubro, 2008

História da Apicultura


... à frente de uma sociedade tão grande, tão organizada e tão poderosa como a das Abelhas, tinha de estar um REI, muito macho, nunca uma Rainha.

Para espanto e pesar de todos, contra as expectativas e o poder instituído, um dia perceberam que o Rei, muito menos macho: punha ovos!!!

Face às evidências, todos aceitaram que era mesmo uma Rainha que chefiava tão grande e poderoso exército.

Mas já que é uma fêmea, que seja uma mulher exemplar, fiel ao esposo e nada leviana.

Com o passar dos tempos e após acuradas observações, perceberam que a fogosa princesa acasalando um único dia na vida, o fazia com cerca de uma dezena de machos.
Mais um pontapé na moral de tão doutos cientistas e de tão puritana sociedade...


Pior ainda, cada vez que acasala com um macho, este morre depois do amoroso acto e perde os órgãos sexuais que ficam no corpo da Rainha. Chegada à colmeia as obreiras retiram a “prova” de que está fértil e lá vai ela de novo, em busca de outro amante e pré defunto...

No corpo da Rainha repousa separado o sémen de cada um dos vários “Reis”, cujos filhos herdarão o temperamento e outras características de cada progenitor.

Por essa razão, é comum numa colmeia que até achávamos dócil na última visita, sermos corridos a “toque de ferrão” por uma multidão de abelhas ferozes e enraivecidas...

30 outubro, 2008

Insólito


Ontem, 29 de Outubro pelas 14 horas um incêndio deflagrou no mato perto da freguesia do Maranhão – Concelho de Avis. Nada o fazia prever, a temperatura era consideravelmente baixa e para todos os efeitos o tempo dos fogos já foi.
No seu caminho, destruiu cerca de 18 colmeias móveis e outros tantos cortiços no apiário do apicultor Manuel Rosa. Muitas outras colmeias ficaram visivelmente danificadas e com as populações bastante reduzidas. Estima-se um prejuízo bem superior a mil euros, que muito certamente será suportado apenas pelo apicultor.
Valeu a pronta intervenção dos Bombeiros Voluntários de Avis, evitando que o incêndio atingisse maiores proporções destruindo as restantes colmeias e a mata circundante.
Segundo as palavras do responsável local da Protecção Civil, tratou-se de uma situação comum, na medida em que ainda há muitos combustíveis finos, como os pastos, dependentes da humidade atmosférica. Ou seja, se chover, esses pastos deixam de constituir perigo, mas se o tempo aquecer, associado aos ventos que se fizeram sentir ontem, muito facilmente secam e se reúnem as condições favoráveis ao deflagrar de incêndios.
Já diz o velho ditado acerca das “barbas de molho”, nunca é demais investir umas horas com a roçadora no mato para evitar surpresas desagradáveis.
Ao apicultor, claro está, sobra a indignação pela falta de indemnizações que confortem a quem o azar bate à porta.







29 outubro, 2008

O medicamento não presta !

Uma das frases que mais ouvia entre os apicultores referia-se à ineficácia de determinados medicamentos: todos. Sempre que morria ou enfraquecia uma colónia a culpa era do acaricida utilizado, mesmo quando o responsável não era a Varroose.
O segundo lugar deste ranking era o mito de um alegado velhinho que tinha uns cortiços abandonados atrás daquela colina, que nunca tratava as abelhas, cujo apiário era um autentico foco de infecção. Após infrutíferas tentativas, nunca consegui encontrar os ditos cortiços, menos ainda o tal velhinho...
Não quero dizer que não há maus medicamentos, que os há de facto, mas a culpa muitas vezes tem a ver com a forma como são aplicados/utilizados. Muitos apicultores tal como os agricultores em geral têm o péssimo hábito de não ler o rótulo ou de não seguir as instruções do fabricante.
Diga-se em abono da verdade que muitas vezes as instruções de utilização se referem a condições ideais, nem sempre iguais à realidade. Uma das mais frequentes é o aconselhamento a colocar uma tira acaricida entre o 2º e o 3º quadro, e a outra entre o 7º e o 8º, quando pode acontecer que as abelhas e demais criação não se encontrem no centro da colmeia.


Numa situação destas, devemos confirmar a posição correcta da zona de criação e demais abelhas e tentar colocar cada uma das tiras acaricidas nos limites dessa zona.

Voltando aos erros mais frequentes na aplicação de medicamentos, encontrava muitas vezes no campo, além da segunda figura, situações como as seguintes:

- Pela dificuldade em introduzir tiras demasiado flexíveis no espaço exíguo entre dois quadros, o apicultor optava por deixá-las deitadas sobre os quadros, diminuindo consideravelmente o seu contacto com as abelhas.


- Por razões semelhantes à anterior e de uma forma muito mais fácil, o apicultor limitava-se a introduzir as tiras acaricidas pela entrada da colmeia, assentando-as no estrado e sob os quadros.


- Também era frequente encontrar colmeias onde não retiravam os medicamentos após o seu período de actuação. Tal prática leva ao surgimento de resistências no ácaro Varroa destructor tornando os tratamentos subsequentes obsoletos.


Uma vez até me deparei com uma situação muito curiosa, durante a visita a um apicultor muito temperamental e conhecido pelos seus acessos de mau génio. Ele queixava-se de uma mortalidade anormal nas colónias e sem qualquer razão que o justificasse, pelo menos aparentemente.
Após abrirmos umas quantas colmeias que já definhavam, verifiquei que o dito apicultor se dedicava a coleccionar no ninho as tiras acaricidas de muitos tratamentos anteriores. A julgar pelo número e fazendo as contas a quatro tiras por ano, talvez desde a entrada da Varroa em Portugal...
Olhe, nem com um alicate você as consegue arrancar”, foi a resposta evasiva à minha proposta de retirarmos todo aquele “lixo” da colmeia. Refeito da surpresa, disse-lhe que tirando os quadros do ninho seria muito fácil destacar as ditas tiras.
Nem no dia que fui inspeccionar apiários com um equipamento todo esburacado senti a minha vida tão ameaçada. Quando lhe falei em tirar os quadros do ninho, o homem olhou para mim como um pelotão de fuzilamento olha para o condenado, “nem pense numa coisa dessas, isso era o fim das abelhas...”.
Não foi o fim das abelhas, mas o apicultor, enquanto tal, durou pouco mais, com esta prática em poucos meses acabou por abandonar a actividade.

Outras vezes há em que seguimos todas as regras e instruções de aplicação e ainda assim as coisas correm mal. O próximo exemplo ocorreu comigo, na primeira vez que tratei as minhas colmeias contra a Varroose.
Apliquei as tiras acaricidas e no dia seguinte fui ao apiário para ver se estava tudo em ordem. Foi quando me deparei com um quadro que me deixou bastante apreensivo: à frente de cada colmeia tinha um grande monte de abelhas mortas, quando um dia antes o mesmo espaço estava limpo.

Numa situação destas é fácil atribuir culpas, a única variável antes da elevada mortalidade de abelhas foi mesmo a aplicação do medicamento.
Foi então que me apercebi de um facto curioso, apenas metade das colmeias tinham perdido abelhas, a outra metade não tinha sofrido qualquer dano. Este apiário tinha uma forma peculiar, por restrições de espaço coloquei as colmeias em “L”, e apenas num dos braços do “L” haviam abelhas mortas.
Nesta fase pensei que a culpa talvez não fosse do medicamento, pois a todas as colmeias tinha sido ministrada a mesma substância.

Numa observação mais acurada notei que as colmeias afectadas estavam viradas para Norte, sem protecção contra os ventos dominantes, enquanto as outras estavam viradas para Nascente.

Entretanto detectei mais uma série de erros, como o facto de ter aplicado o acaricida numa data em que as temperaturas estavam muito baixas, Dezembro, e ainda por cima ao fim do dia. Acontece muitas vezes que as abelhas incomodadas com o cheiro do medicamento venham para o exterior, e as temperaturas demasiado baixas fazem o resto.
Quando não temos alternativa a aplicar medicamentos nos meses frios, devemos optar por fazê-lo na parte da manhã e de preferência com muito sol, para que a colónia se reequilibre desta intrusão antes das temperaturas baixas da tarde e da noite.
Diga-se em jeito de graça que as “Estórias Apícolas” não acontecem só aos outros, fruto da minha inexperiência resolvi pura e simplesmente rodar as colmeias 180º para ficarem orientadas para Sul. E que rica ideia, horas depois tinha uma enorme mancha de abelhas nas traseiras de cada colmeia, onde antes estava a entrada. Abelhas que também começaram a sucumbir pelo frio. Lá voltei a girar as caixas para a posição original e mercê da sorte de principiante não perdi uma única colónia...

Que este exemplo sirva para ponderarmos bastante antes de cada acção no apiário, para que tenhamos presentes todos os nossos actos e intervenções, pois quando surgirem surpresas desagradáveis é muito mais fácil fazer um diagnóstico e actuar no sentido de resolver o problema.

Fica agora o conselho para o fim mais “digno” a dar aos medicamentos usados:

- Não devemos abandonar as tiras usadas no campo, (apiário), os químicos ainda activos irão poluir os solos e cursos de água.
- Queimar as tiras de medicamento também não é uma opção correcta, as toxinas resultantes da sua combustão poderão ser ainda mais poluentes.
- Os restos de medicamentos não devem ser colocados no lixo doméstico. Os apicultores devem procurar junto das respectivas associações ou entidades oficiais o melhor fim para dar aos medicamentos usados.
Há cerca de um ano que a ADERAVIS recolhe esses restos para que possam ser destruídos por uma entidade especializada para o efeito.

27 outubro, 2008

"Estórias" da Apicultura III


Provérbios apícolas, retirados do “Correio de Azeméis On-Line” e enviados pelo apicultor Sérgio Franco:

Ainda que doce seja o mel, a mordidela da abelha é cruel.
Ano de abelhas, ano de ovelhas.
Aquele que cuidava conhecer a toca da árvore onde as abelhas fabricavam o mel enxotou o passarinho-do-mel. (Provérbios macuas)
As abelhas têm a sua rainha e as cegonhas o seu guia. (Provérbio dinamarquês)
Deus não queira, nas minhas colmeias, abelha que não coma mel.
Diz-me a abelha: darei mel e cera, mas traz-me segurelha.
É com mel que se pega a abelha.
Em Junho abafadiço fica a abelha no cortiço.
Longe das minhas colmeias, semelham zângão.
Miguel, Miguel: não tens abelhas… E vendes mel?!
Morta é a abelha que dava mel e cera.
Morto por morto, antes à abelha que ao porco.
Mosca, gentre; abelha, presente.
Não há rosa sem espinhos, nem mel sem abelhão.
Não morde a abelha senão a quem trata com ela.
O mel, por ser bom de mais, as abelhas dão-lhe fim.
O que cobiça o mel, deve suportar as picadas da abelha. (Provérbio africano)
O que não é bom para a colmeia não é bom para a abelha.
O rei das abelhas não tem ferrão.
O sábio que não põe em prática o seu saber é uma abelha que não dá mel. (Provérbio russo).
Os rostos tristes picam as abelhas (Provérbio japonês)
Pelas abelhas de São Pedro pagam as de São Paulo.
Pequena é a abelha mas o seu fruto é o primeiro na doçura.
Pica-pau não tem machado e come abelhas e formigas.
Quando chupa a abelha, mel torna; quando a aranha, peçonha.

23 outubro, 2008

e por falar em "animais amigos"...

Abelhas, traças, vespas e formigas

Todos os animais são nossos amigos... enfim, a traça é mais amiga da onça.
De qualquer forma, este é um exemplo bem elucidativo da importância de alguns “bichos” que nós achamos que não servem para nada e só incomodam, como as vespas e formigas.
Após um ataque de traça, aqueles “bichinhos” reciclaram uma grande quantidade de larvas em menos de uma hora.

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22 outubro, 2008

MelToon - 8


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21 outubro, 2008

Uma Verdade “Deveras” Inconveniente...

Abelhas, Mel e OGM


Para a pergunta: “O que acontece ao mel com pólen de milho transgénico?” não havia resposta até há uns meses atrás...

Mel com comercialização proibida e apicultores sem protecção.
O cultivo de milhos transgénicos torna o mel ilegal.


Em 30 de Maio deste ano, o Tribunal Administrativo de Augsburg – Alemanha, acerca do mel de um apicultor alemão - Karl-Heinz Bablok, deliberou que todo o mel que contem grãos de pólen do milho geneticamente modificado MON810 não pode ser comercializado. Mesmo que o pólen seja encontrado em quantidades vestigiais torna o mel impróprio para consumo, na medida em que a variedade de milho MON810 é proibida para consumo humano, apesar de ser a única cujo cultivo é permitido no espaço europeu.
Por outro lado, o apicultor em causa, segundo decisão do mesmo tribunal, não pode reclamar qualquer protecção contra a cultura do referido milho. As alternativas poderiam passar pela recolha das flores do milho antes da floração, da responsabilidade do agricultor, o que parece ser missão impossível. A outra saída passaria pela deslocação dos apiários durante a floração do milho.
Os juízes reconheceram que com o aumento das áreas de cultivo de milhos geneticamente modificados poderão constituir para este e para outros apicultores um problema sem solução.

Source: Beekeepers against Genetic Engineering (German website)
http://mellifera.weitblick.de/gen/gen.news/para.gen.news.16/index.html


Segundo declarações da Prof.ª Dr.ª Margarida C. Silva, da Plataforma Transgénicos Fora, no XII Encontro da Agricultura Familiar Alentejana:

. Em 2007 cultivaram-se 114.000.000 de hectares de transgénicos em todo o mundo.
O único OGM autorizado na UE é a variedade de milho MON810 da Monsanto.
. Na UE (27 países) durante o ano de 2007 foram cultivados perto de 100.000 hectares do referido milho.
. Na Europa, o maior produtor de milhos OGM é a Espanha, com cerca de 70.000 ha.
. A segunda maior seguradora do mundo, a Lloyds, de Londres não tem apólices para OGM, não quer ter nada a ver com acidentes/efeitos secundários referentes a estas culturas.
. As próprias empresas de engenharia genética que os produzem, como a Monsanto, também não se responsabilizam.
. As rações para animais comercializadas em Portugal, quase todas têm milho e ou soja genética mente modificados na composição.
. Em Portugal, 2007, cultivaram-se cerca de 4837 ha da variedade MON810 de milho.
. No decreto que regulamenta o cultivo de OGM em Portugal não há qualquer referência ao mel.
. Na Alemanha, cerca de 22.000 apicultores já se encontram organizados contra os OGM nas suas regiões.

Face ao exposto, e como se diz na minha terra: parece que temos o “baile armado”...
Já são poucos os concelhos portugueses livres das culturas de OGM, o que atendendo à mobilidade das abelhas, faz com que a probabilidade de haver méis de Verão livres deste problema seja quase ínfima.
Para não fala da outra possibilidade, não menos negra, dos efeitos directos do referido milho nas nossas abelhas, uma vez que os mesmos foram transformados para produzir os seus próprios insecticidas.
Em 2008, dada a procura de mel na UE, transaccionaram-se muitas toneladas para fora do território português. Como a “fome” de mel era muito sentida, os compradores preocuparam-se sobretudo com a quantidade.
Mas o que irá acontecer em anos de maior produção e menor procura?
Não devemos esquecer que a Alemanha é um dos maiores importadores europeus de mel, senão do mundo. E os alemães são deveras “preciosistas” com tudo o que se relaciona com a sua alimentação...

20 outubro, 2008

A Visão das Abelhas


Imagem retirada de “Apicultura Cientifica e Prática” de Warwick Estevam Kerr e Erico Amaral, 1960, hipótese sobre a forma como as abelhas poderão ver o céu.
Se esta hipótese for válida, as abelhas só com uma pequena porção de firmamento, conseguem determinar a posição exacta do Sol, mesmo que se encontre encoberto por densas nuvens.
O "Sol" é o semicírculo castanho no centro da imagem, um pouco mais abaixo, para onde se dirigem todas as linhas.

18 outubro, 2008

Sementes melíferas

Hoje fiz um achado curioso no mercado de antiguidades de Estremoz, um catálogo de sementes da Marca Moinho – Jerónimo Pereira Mendes & C.ª, datado de 1972.
Ao folheá-lo deparei-me com uma informação curiosa, a oferta de sementes de flores que poderão ser destinadas à apicultura e como tal, semeadas pelos apicultores.
Interessantes os tempos antigos, a interactividade entre a apicultura e outros sectores agrícolas era muito mais viva e sentida que nos dias de hoje... e no fim todos beneficiavam com isso!


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E não esqueçam: “Do Algarve ao Minho, as melhores sementes são as da marca Moinho”.

16 outubro, 2008

Primavera Chuvosa


Durante a Primavera e como resposta ao influxo crescente de néctar, é comum as boas colónias ocuparem a maior parte dos quadros com criação. Por vezes há mesmo poucas reservas armazenadas, quer pela falta de espaço, quer pelo grande consumo que se verifica pela enorme quantidade de abelhas no estado larvar.
O néctar e o pólen que entram na colmeia pouco tempo têm para serem processados, são consumidos quase que de imediato. Trata-se portanto de um período em que há grande mobilização das reservas
Por vezes verificam-se interrupções prolongadas nas recolhas de néctar, nomeadamente nos dias de chuva intensa e contínua, este ano até acompanhadas de ventos fortes. Estas interrupções serão mais ou menos prejudiciais consoante o tempo que demoram. Normalmente as chuvadas de Primavera duram uma hora ou duas, surge um período sem chuva e recomeça outra vez horas ou dias mais tarde. O mau tempo surge assim interrompido por períodos onde as abelhas podem regressar à laboração normal, inclusivamente aos comportamentos higiénicos e sanitários.

Há no entanto situações em que a chuva e o mau tempo se prolongam por vários dias, dois, três, quatro e até mais. Desta feita poderão haver colónias que sofram graves injúrias e até a própria morte, caso se esgotem a totalidade das reservas e não haja possibilidade de reposição. Este fenómeno é mais comum em colónias muito fortes e populosas como as descritas atrás. Não só têm o espaço quase todo ocupado por criação, impossibilitando um maior armazenamento de reservas, como há demasiadas bocas para alimentar. Não é raro os apicultores queixarem-se da morte de colmeias com sintomas de fome durante a Primavera “ainda por cima as colmeias mais fortes”.
PROCEDIMENTO
Nesta fase é deveras importante um controlo rigoroso das colmeias para avaliação das reservas nutricionais. Em caso de faltas dever-se-á ministrar a alimentação artificial complementar, para que as colónias não pereçam com fome.
Os alimentadores deverão ser internos para que não se fomente a pilhagem. A composição dos mesmos deverá ser à base de açúcar e ou mel (de proveniência conhecida), não esquecendo a componente proteica como o pólen e ou a farinha de soja. Devemos lembrar-nos que quanto mais diluído for o xarope, mais se estimula a rainha para a postura o que poderá agravar o problema. Por outro lado, um alimento muito sólido poderá inibi-la em termos de postura o que não é muito indicado nesta estação.

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Em determinadas regiões, as Primaveras chuvosas acabam por ter outro tipo de consequências, desta vez do foro sanitário. Muitas vezes os apicultores deparam-se com um monte de abelhas mortas sem motivo aparente frente à colmeia. Os mais atentos acabam por observar a presença de abelhas muito escuras e brilhantes (quase gordurosas) a lutar com outras de aspecto normal na tábua de voo. São as chamadas abelhas “negrinhas”, infectadas com os virús da paralisia, cujo sintoma principal é a perda dos pelos das abelhas o que lhes confere a cor negra.
È uma doença com pouca incidência e que não causa grande mortalidade quando as condições climatéricas são boas. No entanto, nas colmeias com mais população e mais uma vez nas Primaveras chuvosas, o problema agrava-se. O mau tempo obriga a que grande quantidade de abelhas se junte e contacte num espaço exíguo, aumentando o contágio e por conseguinte o número de abelhas “negrinhas”. Surgem então as características lutas na tábua de voo, com a tentativa de expulsão das abelhas doentes e o monte de abelhas mortas junto à entrada.


PROCEDIMENTO

Não há verdadeiramente um medicamento para o combate dos referidos virús. No entanto, esta doença costuma aparecer associada à Varroose, pelo que controlando esta se diminuem as probabilidades de surgimento da primeira. Com o regresso do bom tempo, o número de colmeias diminui na colmeia (pois saem para a colecta), diminuindo assim o contágio e desaparecendo os sintomas.

11 outubro, 2008

MelToon - 7

a continuar assim, lá para o n.º 100 edito a caderneta...


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10 outubro, 2008

Sr. Ministro, assim não !!!


Na minha terra quando se agradece efusivamente um favor pouco importante, costuma dizer-se:
Obrigado pelo agasalho da burra, toda a noite lhe choveu em cima”, apesar de aqui não ser o mesmo contexto, a frase não me sai da cabeça...

No dia 2 de Janeiro de 2007, ainda mal recuperados da passagem de ano, fomos semi surpreendidos com as novidades para as Unidades de Produção Primárias publicadas no DL n.º 1/2007. Onde ficamos a saber que poderíamos comercializar cerca de 500kg de mel a retalho, por ano e nos limites do distrito:

A Portaria n.º 699/2008 de 29 de Julho “empurra-nos” para muito longe dos limites do distrito, nomeadamente para o concelho e concelhos limítrofes do local de produção primária.

Para quem vive em concelhos contíguos a Lisboa, Porto, Coimbra, Setúbal, etc, não é o fim do mundo, mas que dizer de quem vive no interior?
A maior parte dos concelhos em torno de Avis mal chegam aos 5.000 habitantes, e nem sequer é dos casos mais graves. Afinal a conversa da treta para combater desertificação do interior e as assimetrias regionais não passam disso mesmo – tretas...

Flora de Outono

A partir de meados de Setembro a Tágueda é uma das mais importantes fontes de néctar nesta região.
Muito procurada pelas abelhas, a planta forma maciços ao longo dos caminhos e próximo de zonas húmidas. Tem um aroma muito forte e característico e as folhas produzem uma resina abundante.
Normalmente só "regresso" com as abelhas aos apiários de Primavera quando a Tágueda já está em floração.

É curioso observar no mesmo local o aspecto fantasmagórico das flores secas de Rosmaninho. Passou um Verão por elas, cheias de semente encerram a próxima geração de Rosmaninhos que são o garante de novas produções de mel...

09 outubro, 2008

Síndroma do "Desaparecimento de Colmeias"


Uma das primeiras referências que vi acerca do Collony Colapse Disorder, CCD ou SDC, alertava para a dificuldade em atribuir uma causa a este recente distúrbio das abelhas. Curiosamente, nesse escrito chamaram-lhe “Síndroma do Desaparecimento de Colmeias”, uma má tradução apesar de bem intencionada, mas chamou-me a atenção para o problema.
Até pensei “na minha terra temos um termo mais simples, trata-se mesmo de: roubo!”, e as causas até já são fáceis de identificar, tantas vezes o cântaro foi à fonte... mas problema não era esse, tratava-se de um quadro bem mais negro e sem solução à vista.
Curiosamente, nos últimos dois anos tenho notado uma forte diminuição na população de abelhas, após a cresta de Primavera. Noutros anos e com produções semelhantes, após retirarmos uma série de alças de cima de cada colmeia, fica sempre aquela sensação de falta de espaço em virtude do elevado número de abelhas. Nos dias que antecedem o transporte das caixas para o girassol é comum verem-se grandes aglomerados de abelhas na tábua de voo, o que não me acontece desde a Primavera de 2007. Mesmo durante a cresta surgem-me os quadros das alças cheios de mel, operculados, mas com poucas abelhas.
Por um lado facilita muito os trabalhos, mas por outro fico apreensivo.
Felizmente que nestes dois anos os Verões além das temperaturas amenas têm proporcionado boas colheitas, também devido ao regresso do Girassol. Tal facto permite a reposição nas populações para quantidades mais que suficientes para passarem o Inverno. Fiz os tratamentos há uma semana e as colmeias tinham mais população que no fim da Primavera.

Na revista “O Apicultor” n.º 60, de Abril/Junho de 2008, encontra-se um estudo muito interessante sobre o problema em causa, da autoria de A. Pajuelo, entre outros.
No referido estudo são testadas algumas variáveis que poderão estar na origem do desaparecimento das abelhas, entre as quais o stress nutricional das colmeias: carências proteicas motivadas por pólens pouco ricos e nutritivos, ainda por pesticidas, doenças emergentes e práticas de maneio pouco adequadas.

Por outro lado, e no mesmo artigo, também há referências a um aumento significativo nos efectivos dos apicultores em Espanha. Provavelmente estimulados pelas fortes ajudas regionais ao sector apícola (isto não se lê no artigo). Tanto os aumentos de densidade de colónias como o stress nutricional foram os aspectos que mais me chamaram a atenção e sobre os quais é possível estabelecer paralelismos com a região onde me encontro.
O aumento de efectivos numa dada região tem de ter em conta a capacidade de suporte do meio, caso contrário poderá comprometer as produções e inclusivamente a própria sobrevivência das abelhas. Há muitos anos que a margem esquerda do rio Sor alberga centenas ou milhares de colmeias, cada dobra de terreno tem um pequeno apiário. Desde 2003/2004 para cá que os apicultores se queixam de aumentos na mortalidade e problemas sanitários nessa região. Desde os tristemente famosos incêndios desses anos que os proprietários rurais dessa zona são “obrigados” pelas companhias de seguros a desmatar as terras.
Não havendo um aumento de efectivos, neste caso houve uma forte diminuição da capacidade de suporte do meio, a disponibilidade de flora apícola foi muito reduzida. Não está em causa a prevenção dos fogos, agora creio que é bastante falível o método utilizado. Há muitas formas de fazer a gestão de matos, em faixas ou em mosaico, que limitam a progressão do fogo sem eliminar os matos de reconhecida importância para as abelhas, para não falar da protecção dos solos arenosos dessa região, tão susceptíveis à erosão pela chuva e pelo vento.
Todos os anos aumentam as áreas desmatadas onde antes proliferava a flora apícola. Este empobrecimento quantitativo e qualitativo do coberto vegetal autóctone terá decerto reflexos na sobrevivência das colónias de abelhas, sobretudo na estação fria.
Posso ainda contar, a título de curiosidade, que há três ou quatro anos pedi um orçamento sobre várias modalidades de seguros para a apicultura a um amigo meu que trabalhava no ramo. No que se referia ao seguro contra incêndios para as colmeias, creio que o único que me aceitavam, colocavam como condição que eu desmatasse creio que um ou mais quilómetros em torno do apiário... Educadamente respondi-lhe que o objectivo era mesmo produzir mel e não fazer uma pista de aterragem para... porta-aviões!!

Todas esta razões, e mais algumas que me escapam, decerto estarão na origem de aumentos atípicos na mortalidade das colónias de abelhas nos últimos anos. Apesar desta crise ainda não ser muito sentida na região, e arrisco mesmo dizer que a nível nacional, é mais que tempo de se avaliarem os riscos e dentro da medida do possível se tomarem as medidas necessárias.
Como disse José Saramago esta semana:
“Por vezes é preciso mudar para que tudo continue na mesma...”

06 outubro, 2008

Troca de Ceras


A substituição de ceras no ninho é uma das decisões mais acertadas dos apicultores, apesar de por vezes haver alguma resistência a esta prática. De facto, alem do mel e do pólen que as abelhas perdem nesta operação, visto que são quase sempre os quadros com reservas que retiramos, fica-nos sempre a sensação de atrasarmos muito o trabalho delas, ao retirar toda a cera já puxada.
No entanto, este trabalho acaba por ser muito compensado em termos de aumento da postura da rainha quer no desenvolvimento da própria colónia, para não falar na importância sanitária de tal operação. As ceras velhas, normalmente albergam agentes patogénicos como bactérias e fungos entre muitos outros causadores de moléstias.
Outro dos problemas desta cera, prende-se com a aversão que a rainha demonstra em fazer nelas a postura, obrigando-a muitas vezes a subir para as alças.
Há pois uma série de razões que justificam a substituição anual de pelo menos dois ou três quadros por outros de cera nova (moldada).
A melhor altura para o fazer é antes da Primavera, durante o mês de Fevereiro e inícios de Março, logo que as temperaturas sejam suficientemente altas.
Nessa altura, seleccionam-se cerca de dois ou três quadros de cera mais velha, já escurecida, quadros com reservas (mel e pólen) dado que não podemos retirar os que têm criação. No seu lugar colocam-se então outros com cera moldada, tendo muita atenção ao lugar onde estes se inserem. Surge-nos assim uma situação controversa, ou seja, se por um lado a cera nova deve ficar à disposição da rainha, perto do centro, por outro não pode de modo algum “separar a zona de criação” o que a poderia arrefecer e causar outros estragos:

A situação esquematizada atrás parece ser uma boa solução, disponibilizando os quadros de cera nova no centro do ninho o que permite a sua utilização imediata pela rainha. No entanto, e pelo que foi visto, a zona de criação deve manter-se inalterável.

Esta ultima situação parece ser a mais acertada, pois nessa posição a cera nova é imediatamente “puxada”, e logo que a rainha resolva aumentar a zona de criação poderá fazê-lo para os lados.
Quando os quadros novos estiverem repletos de criação podem então ser deslocados para uma posição mais central, “empurrando” sempre as ceras velhas para as extremidades para que no próximo ano, ou na próxima época de produção (no caso de transumância) se possam substituir novas ceras.

Quem tenha por hábito fazer desdobramentos para aumento dos efectivos, tem à partida este problema resolvido, na medida em que substitui pelo menos metade dos quadros (e ceras) de cada vez.

Aos quadros de cera velha retirados às colmeias deve-lhe ser extraído o mel, tendo em atenção que este è impróprio para consumo humano, na medida em que já esteve em contacto com produtos químicos. Este mel deve ser armazenado em recipientes para ser fornecido às abelhas como alimentação artificial quando necessária.

As ceras velhas uma vez libertas do mel deverão ser recicladas e trocadas, optando sempre por cerificadores solares, as questões ambientais são da responsabilidade de todos e os apicultores mais que ninguém devem continuar a contribuir para essa causa.