26 março, 2013

À Conversa com Vicente Furtado


A apicultura da Suécia, a apicultura de Portugal, as semelhanças e sobretudo as diferenças…

Em tempos, Milan Kundera escreveu n’ “A Insustentável Leveza do Ser” que “as nuvens alaranjadas do poente iluminam tudo com a nostalgia do passado, mesmo a guilhotina”.

É uma tendência muito humana, quando a actualidade e o futuro são sombrios, distorcer ou dourar as memórias de forma a que qualquer acontecimento passado se revista das mais belas recordações.

Independentemente de qualquer actualidade, ou futuro, três décadas ao serviço da apicultura na Suécia despertariam o saudosismo até ao mais insensível dos homens. Assim é o discurso do Vicente Furtado, qualquer situação, passagem ou exemplo trazem o eco dos tempos em que deambulava pelas paisagens verdejantes desse país longínquo no Norte da Europa.

Há muito que me interrogava acerca da apicultura, das abelhas e dos apicultores nesse “país das maravilhas”, dessas recordações que ouvia de relance ao meu amigo Vicente, queria de uma vez por todas, saber das diferenças e semelhanças entre a nossa apicultura e a apicultura da Europa do Norte. Na minha recente passagem por Lagos, resolvi tirar a limpo os mistérios desse tempo que ainda assombram o Vicente “Algarvio”.

Sentamo-nos à conversa na pequena sala onde faz a inseminação de rainhas, as paredes revestidas de cartazes e fotografias alusivas ao seu trabalho de técnico apícola na Suécia. Encontrávamo-nos rodeados de núcleos, nucléolos, alimentadores, uma incubadora e dezenas de cúpulas, e a conversa foi por aí…

Inspectores apícolas do Ministério da Agricultura da Suécia, há 3 ou 4 décadas atrás, assinalando-se José Vicente Furtado.
...
Comecei por lhe pedir que me falasse na apicultura do seu tempo na Suécia, os apicultores, as associações, e a estruturação do sector.

V. Furtado: 99,9% da apicultura sueca é muito organizada. Havia muitos apicultores, não de grandes quantidades de abelhas, mas muitos apicultores com médias entre as 10 e as 50 colmeias. Eu cheguei a ter duas regiões que me foram atribuídas pelo Ministério da Agricultura, tal como muitos outros técnicos, tinha duas associações distantes 40 ou 50 km, com cento e poucos apicultores cada uma.
Havia então uma reunião de técnicos, um encontro anual, para falar nos acontecimentos em cada distrito, nas doenças, sobretudo na Loque Americana que há 40 – 50 anos causou muitos problemas na Suécia.

M.Mel: E que mais da apicultura sueca?

V. Furtado: O pessoal lá é mais dado, nós aqui somos muito individualistas, não nos abrimos, escondemos muito o que sabemos, mas o que sabemos já vem de outras pessoas também! É o egoísmo que faz a pessoa não divulgar.
Apicultores com explorações até às dez colmeias não tinham de declarar as vendas de mel às finanças. Havia esse sistema para manter os pequenos apicultores. Porque o estado sueco sabia há muito tempo, e Portugal agora já vai “abrindo os olhos”, que a polinização é muito importante para o país. Esses pequenos apicultores estavam instalados por todo o território.
Era por isso que o Ministério me pagava a mim, e a outros também, para controlar as doenças e até para a captura de enxames selvagens. Enxames que saíam, eu era o responsável por ir apanhá-los.
Como o clima lá é muito frio, no fim do ano durante o Inverno, tínhamos cursos de carpintaria para aprender a construir colmeias, era muito pelo convívio também, levávamos café e bolos…

M.Mel: Este pormenor dos cursos de carpintaria é deveras interessante. Nós vamos pela Europa a fora e em todo o lado os apicultores têm uma pequena oficina onde constroem ou pelo menos consertam colmeias e alças. Em Portugal, com o poder de compra no limite, adquirimos tudo e mais alguma coisa

M.Mel: O que faziam exactamente os técnicos durante as visitas aos apiários, nas acções de fiscalização?

V. Furtado: Nesse tempo era o controlo da Loque Americana e de outras doenças, mas o convívio também (frisou). A Suécia teve muitos problemas com a Loque.

M.Mel: Recolhiam amostras de abelhas para o laboratório ou faziam o diagnóstico no campo?

V. Furtado: Sim, no campo, com os olhos, o mais importante para nós era ver antes de actuar. Quando encontrávamos Loque Americana queimávamos as colmeias, mesmo numa fase inicial para evitar os contágios.
Nas acções de controlo, o nosso chefe dizia que nós éramos uma autoridade, mas podia sempre haver pessoas de mais idade que poderiam ser contra a nossa presença, mas nós telefonávamos sempre a combinar o dia e a hora para a fiscalização. Não se chama fiscalização, chama-se colaboração. Essas visitas não eram punitivas, colaborávamos com os apicultores para resolver o problema.
Aqui fizeram as Zonas Sanitárias Controladas, o nome não é correcto, porque ninguém vai controlar nada. Enquanto na Suécia todo o país era controlado, aqui só há algumas zonas com esse controlo e isso não é correcto. Lá não se chamavam Zonas Sanitárias Controladas, até porque todos tínhamos o dever, e o direito, de tratar e cuidar convenientemente das nossas colmeias.
Por vezes, quando um apicultor queria vender colmeias, informava-me e eu passava-lhe um atestado sanitário. Esses papéis eram em triplicado, um para o apicultor, outro para mim e um terceiro para o Ministério da Agricultura. Quando o apicultor vendia as colmeias para outro distrito, esse papel ia para o Inspector responsável por esse distrito. Quando as abelhas lá chegavam já o responsável estava informado, mas não era propriamente um controlo, sentia-se mais uma colaboração e todos beneficiavam.

M.Mel: Os inspectores do Ministério da Agricultura eram sempre bem recebidos pelos apicultores?

V. Furtado: Sim, sim. Além disso a própria federação até condecorava o fulano de tal (inspector) por ter feito um bom serviço. Era o próprio presidente de cada associação que informava a federação acerca do mérito de cada inspector.
Havia uma de ouro, a de prata e a de bronze (condecorações). Eu tenho um alfinetinho de prata, da boa colaboração com a associação.

M.Mel: Fale-me dos “Apiários de Convívio”, já lhe ouvi esse termo, que apiários eram esses?

V. Furtado: As associações tinham um apiário onde nos encontrávamos de dez em dez dias. Levávamos o cafezinho, uns bolos e passávamos lá umas horas. Fazíamos criação de rainhas, por vezes até trazíamos um orador a esse apiário de treino, de convívio, e isso era muito importante.
O apiário era da associação, tinha dez ou doze colmeias, trabalhávamos todos juntos e ficava tudo escrito para mais tarde sabermos, fazia cá falta uma coisa dessas.

M.Mel: Além da assistência técnica, que outros apoios eram disponibilizados pelo governo da Suécia?

V. Furtado: Havia outros apoios financeiros, mais para as associações, apoiavam muito a criação de rainhas. Havia por isso várias associações que se dedicavam à criação de rainhas e outras eram financiadas para a aquisição dessas linhagens puras.
A própria federação dedicava-se à comercialização do mel. Os apicultores/associações comunicavam a quantidade de mel que tinham disponíveis para venda. A federação tinha uma revista da especialidade onde informavam os apicultores da data, do local e da hora onde estaria um camião para a recolha desse mel.

M.Mel: Conte-nos uma “história”, uma passagem marcante desses tempos que lhe tenha ficado na memória.

V. Furtado: Não tenho nenhuma especial, recordo-me das primeiras colmeias que comprei, eram tão grandes e pesadas que tive de chamar um camião com uma grua para as levar, eram duas colmeias feitas na mesma caixa.
Lembro-me também que a pior abelha rainha que lá tive acabou por ser a melhor. Foi uma rainha que nasceu num núcleo de fecundação e não devia ser aproveitada, não têm qualidade e sempre fui informado disso. Mas eu resolvi aproveitá-la e fazer-lhe a fecundação, foi a minha melhor rainha.

(a rainha não nasceu do alvéolo real lá colocado para o efeito, mas antes a partir dos ovos aí postos por uma rainha a estagiar)

Nesse tempo eu tinha uma casinha de madeira, que era puxada por um tractor, usava-a quando trabalhava na floresta para aí tomar o pequeno-almoço. Andava com sete colmeias de um lado e outras sete no outro lado, abri janelas na casinha, coloquei-lhe um estrado e tinha-as lá dentro.
Essa colmeia que tinha a pior rainha, tinha tantas abelhas e produzia tanto mel que eu tinha de subir para cima de uma caixa para lhe colocar as últimas alças. Por isso digo que a pior rainha acabou por ser a melhor.

M.Mel: Volvidos trinta anos nesse idílio apícola que foi o seu trabalho na Suécia, qual foi o maior choque, a maior diferença que sentiu quando há pouco mais de dez anos regressou a Portugal?

V. Furtado: Começou por me fazer confusão o que os outros apicultores diziam das minhas abelhas (Ligústica e Buckfast) por causa da sua mansidão. Muita gente dizia que eu as drogava. Depois vinham visitar-me e ficavam sem camisa junto às colmeias para tirarem fotografias.
Quando lhes falei da inseminação (artificial) até pensavam que eu estava doido e não acreditavam, assim como hoje muita gente ainda não acredita, e eu já faço inseminação há 37 anos.
Mas estamos muito atrasados, ao nível da apicultura, do associativismo, de tudo. Veja o caso da federação que recolhia e comprava o mel dos apicultores, não só fazia isso como também importava mel, para que ninguém tivesse esse monopólio.
Usávamos um rótulo comum a todos, o rótulo da federação, apenas diferia o nome do produtor. O comprador identificava o rótulo como vindo de uma proveniência regulada, controlada.
Por aqui, temos o individualismo, eu não quero dizer má-fé, mas sobretudo o individualismo.

M.Mel: E a forma como as suas abelhas têm sido vistas e recebidas no território nacional? Tem a noção que não se trata de um assunto pacífico, são consideradas exóticas com todas as dúvidas que isso suscita.

V. Furtado: Então e por o vizinho ter um cavalo branco eu sou obrigado a ter um cavalo branco também? A abelha mais abundante em todo o mundo é a ligústica.
O nosso trabalho tem sido mal feito até aqui. Vi um artigo no jornal as Abelhas onde alguém escreveu exactamente o que eu defendo, tal como o trabalho que fiz no estrangeiro, passa por seleccionar uma região e colocar lá uma raça bem adaptada a essas condições. Não importa qual, seja a abelha amarela, a negra ou a branca.
Isso poderia até ser uma forma para desenvolvermos mais a nossa abelha negra ou decidirmo-nos por uma raça melhor adaptada. Nós aqui em Sagres temos uma zona maravilhosa para iniciar um projecto desses. Se não fosse em dez seria em 20 ou mais anos, mas os nossos filhos e netos teriam benefício disso, mas se ninguém começar não chegamos lá. E não vai acontecer nada.

M.Mel: E o projecto era…

V. Furtado: Era começar com uma raça que se desse bem aqui, seleccionando até a melhor estirpe de abelhas negras aqui em Sagres, com mar a Oeste e a Sul, era vir depois a alastrar para o Sotavento, com criação de rainhas, técnicos governamentais dariam formação para a criação de rainhas. Instruiriam os apicultores a trocar de rainhas e a manter essa raça, fosse ela qual fosse, a abelha negra, a Ligústica ou a Buckfast.

M.Mel: Basicamente consistia em encontrar a raça mais adaptada a esse local e propagá-la gradualmente por uma área mais vasta onde tivesse bons resultados.

V. Furtado: Tal como um professor alemão escreveu no Jornal as Abelhas, numa região tem que haver uma raça que os apicultores gostem e sobretudo que se dê bem aí.

M.Mel: E o projecto, que não tem sido muito falado, acerca do estudo e do melhoramento da nossa abelha negra? Conhece?

V. Furtado: Sim, mas a mim ninguém me perguntou nada, que eu podia dar uma ajuda aqui neste cantinho. Havia aqui perto um apiário de estudo, pertencente a um apicultor da região, havia um aqui, outro em Portalegre e outro em Bragança. E o que é que resultou disso? Eles não vêm aos encontros falar nisso, ou pelo menos não divulgam os resultados.
Por outro lado a nossa abelha não tem raça definida, isto é uma mistura da abelha europeia, com a africana, com outras.

M.Mel: Em resumo, se por um lado se critica a introdução de exóticas, por outro não se divulgam os estudos sobre a “alegada” Apis mellífera iberiensis que poderá nem sequer existir.
Volvidos então os dez ou doze anos após o seu regresso, que melhorias, que retrocessos tem sentido na apicultura portuguesa?

V. Furtado: Há muita diferença, para melhor. Mesmo o nosso contacto, as rubricas nas revistas, agora mais na internet, têm ajudado a despertar nos mais jovens apicultores o interesse pelas novas tecnologias, estão com os olhos mais abertos e demonstram outro interesse. Eu noto isso.
Já no campo do associativismo, no relacionamento entre os apicultores, continuamos muito atrasados, mesmo no maneio e na sanidade apícola as melhoras são poucas.

M.Mel: Um último comentário, ou antes, um conselho, para os apicultores portugueses, sobretudo para os jovens apicultores que agora iniciaram a actividade com os projectos para a apicultura:

V. Furtado: Antes de fazerem o investimento, antes de pensarem nas abelhas, falem com alguém que tenha muita experiência no sector, venham mesmo falar comigo.
Procurem toda a informação possível sobre a apicultura junto de técnicos e de apicultores profissionais, não tomem decisões sem saberem exactamente o que estão a fazer e o que querem fazer.

Caldeira para Fundir Cera



Dois vídeos enviados pelo José Chumbinho, com o funcionamento da Caldeira de Fundir cera, referida em: 
http://montedomel.blogspot.pt/2013/03/soldar-cera-e-esticar-arames_9165.html


A caldeira está adaptada para funcionar com aquecimento a lenha ou a gás.
Tem um aproveitamento tão elevado do calor que na primeira sessão começa a expulsar a cera fundida ao fim de 30 minutos e nas sessões subsequentes bastam-lhe 3 minutos.
Obrigado também ao Ricardo Pinto (blog Abelha Preguiçosa) na edição dos vídeos.

25 março, 2013

Colmeias Diferentes - 19


Colmeias utilizadas na região de Tombali, Sul da Guiné Bissau, no Parque Nacional das Florestas de Cantanhêz, onde se encontram os últimos maciços florestais de Floresta Sub-Húmida da África Ocidental.
Estas colmeias eram manufacturadas pelos locais, com palha, e depois penduradas nas árvores mais altas. O mel era extraído à noite, por jovens. Tinham por hábito mastigar os favos e depois cuspir a cera.
Fotos e informação enviadas por Pedro Varela.

22 março, 2013

MelToon - IIIª temporada

O MelToon IIIt começou há uns tempos atrás, no mercado de antiguidades de Estremoz. Foi quando comprei uma Abelha Maia em pvc, daqueles bonecos que surgiram aquando da série televisiva.

Fiquei algum tempo a olhar para ela até perceber que aos personagens das primeiras duas séries do MelToon faltava personalidade, algo de humano com que nos identificássemos, um rosto, qualquer coisa que nos permitisse adivinhar-lhe os sentimentos.

Na segunda série chegou a haver uma preocupação quase cientifica em desenhar as abelhas o mais parecidas possível com a realidade, mas também não resultou.

As cores utilizadas foram talvez o principal problema, nem sempre conseguia o contraste ou a atmosfera desejada para cada acção. Muitas vezes acabava por perceber que era a luminosidade do monitor completamente desajustada, e resolver o desajuste nos equipamentos de todos os visitantes tornar-se-ia algo moroso e sobretudo muito caro para os orçamentos do montedomel. O patrocínio generoso e desinteressado que este blog aufere da Sociedade dos Afiadores de Agrafos para Uso Exclusivo nos Quadros de Alça, nunca chegaria para tanto.

O MelToon da terceira temporada será a preto e branco, duas cores que combinadas permitem uma infinidade de tons e nuances, o cartoon ganha outra sobriedade e até dramatismo. Ou talvez seja apenas algum saudosismo dos tempos d’ O Cavaleiro Andante, do Jornal do Cuto, do Falcão, do Mosquito e de tantas outras páginas memoráveis que ainda a preto e branco nos enchiam a infância de cor.

Talvez o MelToon IIIt seja uma homenagem, ainda que humilde, a essas publicações que o meu pai me conta e um dia descobri numa velha arca lá em casa. Procurei inclusivamente reproduzir o papel já gasto e rasgado com que algumas se apresentavam, e será então nesse cenário nostálgico que as “aventuras” da nossa apicultura se vão desenrolar.

As personagens serão basicamente as mesmas, os suspeitos do costume, os bons, os maus e os assim-assim que povoam o imaginário e o dia-a-dia de todos quantos se dedicam ao sector apícola, a saber:

As Abelhas, no papel principal, a razão de ser desta “publicação”. Mais “abonecadas” desta vez, uma cabeça maior para que se lhes vejam os sorrisos e as tristezas. Contará com as obreiras, pousadas ou em voo, a rainha, os zângãos e as princesas sempre à procura de noivo.

Os Apicultores, também já mereciam outra cara. Contam com a habitual parelha, apicultor - principal e o gajo do fumigador, vulgarmente conhecido pelo “gajo-do-fumigador”, menos apreciador da actividade mas sempre presente e cumpridor.

Um apicultor idoso, apologista das tradições e das velhas técnicas, repudia tudo quanto é tecnologia e ainda mantém um apiário de cortiços, embalando e vendendo o mel nos saudosos frascos da “tofina”. Não deixa de ser útil, bom conselheiro, uma verdadeira cartilha dos saberes antigos.
Uma homenagem a um velho amigo e apicultor com quem fiz a primeira cresta de cortiços, o “Ti Barriga”, que nem é careca nem usa bigode mas não se importa com a representação. Lembro-me da tarde em que eu e ele fugia-mos colina acima, à frente de um enxame de abelhas furiosas e me ocorreu aconselhá-lo a desfazer-se desta colónia tão brava, ao que ele me respondeu com uma gargalhada “Bravas? Estas? As bravas já acabei com elas…

Justiça seja feita às mulheres, desta vez também temos uma apicultora. Ainda que se apresente de saltos altos na lida das abelhas lá vai dando conta do recado. Muito enérgica e activa, tem sempre uma solução para cada problema, mesmo que não seja a mais ortodoxa.

Os vilões, aqueles que diariamente fazem a vida negra às abelhas e apicultores, contarão com as personagens do costume e outras novas que aqui se apresentam, além de muitas que agora não me ocorrem.

O ácaro varroa, surge com um aspecto muito mais agressivo e desta vez com os olhos na posição correcta. Verdadeiro dizimador de colónias de abelhas, tem agora o pagamento merecido: uma miríade de pequenos parasitas que ainda não baptizei mas que lhe irão tornar a existência insuportável.

Fazem lembrar uma piada muito antiga, acerca do Pthirus púbis, mas que não devo aqui reproduzir por razões que irão perceber mais tarde.

Os abelharucos, os “passarões” irónicos cuja assiduidade marcou as primeiras duas séries do MelToon. Desta vez consegui representá-los a voar, enfim… quase que consegui, se na primeira vez pareciam um bando de radiadores a pairar sobre as colmeias, desta vez parecem as ventoinhas de refrigeração, mas dá para o gasto.

A cetónia ou “grosadeira”, que não aquece nem arrefece, mas cuja presença inconveniente tanto tira a paciência aos apicultores como às abelhas. Ainda que muito pacífica, faz lembrar uma conhecida personagem da saga Star Wars.

A borboleta caveira e o Braula coeca, duas relíquias da apicultura antiga. Personagens de um tempo em que o problema da apicultura era mesmo o não ter problemas.

Desconfiava-se que o dito piolho já estava extinto mas afinal ainda pulula nas abelhas de regiões indemnes de varroa. No MelToon IIIt será uma personagem algo Kafkiana, insólito até, mas de poucas conversas e um bom companheiro.

Não será uma figura assídua, até se mexe pouco, mas quando aparecer agradeço que não batam no vidro, até porque isso que tem à frente não é nenhum aquário.

A ripa de choupo e a tira de cartão canelado, representam os maiores tabus da nossa apicultura e por isso mesmo a sua participação não foi pacífica.

Parece conversa de vendedor, mas gostava que olhassem para elas pelo seu valor ecológico, onde a “ripa” personifica os atentados ambientais, o abate de árvores, nomeadamente do choupo. Já a “tira de cartão canelado”, qual hino à Natureza, evoca o ambientalismo pela prática da reciclagem.

Resta-nos agora a surpresa maior do MelToon IIIt: a notável presença de Lorenzo Lorraine Langstroth, criador da colmeia de quadros móveis, o pai da apicultura moderna. Qual provedor do MelToon, irá surgir em espírito, entre as nuvens, a cada tentativa de “avacalhar” o cartoon, repondo a moral e os bons costumes.

Ora vejam lá um exemplo:

E já sabem: qualquer semelhança com pessoas, entidades, casos, objectos e situações da vida quotidiana será mera coincidência…


19 março, 2013

Moldagem de Cera - Faro - Algarve


Já há algum tempo que sabia da nova máquina de moldar cera do meu amigo José Chumbinho. 
Trata-se de um sistema que evita a passagem pela fase de lâmina lisa, obtendo-se a cera moldada directamente.

Este equipamento tem a grande vantagem de poupar bastante tempo e mão-de-obra, na medida em que todo o processo é contínuo, basicamente parte-se da cera em fusão e no espaço de poucos minutos obtêm-se lâminas de cera moldada prontas a utilizar.

Inicia-se o processo colocando a cera em bloco, livre de impurezas, numa caldeira aquecida que a vai fundir e esterilizar (acima de 120º C durante mais de meia hora). 
Logo nesta fase se observam as peculiaridades de trabalho do José Chumbinho, impressionando a forma como consegue criar utensílios e mecanicismos num espaço tão restrito de forma a que tudo funcione harmoniosamente e com um esforço mínimo para o operador.

Após a fusão/esterilização da cera, a referida caldeira é içada por um guincho, deslocando-se depois na horizontal através de uma calha na parede, de modo a ficar ao nível de um depósito que alimenta a máquina de moldar cera.

Uma vez transferida a cera para o depósito onde é mantida a altas temperaturas, escorre por uma calha metálica até um recipiente final antes de cair para o espaço entre os cilindros de moldagem.

É precisamente à saída do depósito de armazenamento que se encontra um importante ponto de controlo, a regulação do fluxo de cera, através da abertura/fecho de uma torneira, que em conjunto com outro ponto de controlo (sobre os cilindros) determinará a largura da lâmina. 
O fluxo vai sendo aferido até se obter a largura desejada, reduzindo-se ao mínimo o excesso de cera que vai sendo cortada lateralmente por duas lâminas rotativas.

Como se pode observar na imagem anterior, após a regulação do fluxo de cera, reduziu-se a largura da lâmina, diminuindo-se assim os excessos. 

Também estas lâminas são ajustadas manualmente consoante as medidas desejadas para o modelo de quadros/colmeia, aos quais se destina a cera. Neste ponto o excesso de cera cai lateralmente por gravidade para um depósito, para reciclagem e a folha continua de cera moldada segue em frente para as lâminas que a seccionam transversalmente.

Os cilindros de moldagem, entre os quais cai a cera, são arrefecidos e lubrificados através de vários jactos de água.

Cera de primeira qualidade

Cera escura e resíduos.

Protecção em rede mosquiteira para evitar que as abelhas acedam ao local de laboração.

Joaquim Pifano
Luísa Garcia
Luís Lourenço