06 janeiro, 2010

Muros Apiários no Gerês II

Duas imagens enviadas pelo Octávio e Ana Carvalho, onde se pode ver um Muro Apiário no Parque Nacional da Peneda - Gerês.

04 janeiro, 2010

A Cera da Abelha

Miguel Maia*; Fernando Nunes**, Ana Barros**
*Engº Zootécnico (apismaia@sapo.pt)
** Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Centro de Investigação em Química do Departamento de Química

Generalidades
O sucesso económico da apicultura passa, inevitavelmente, pela qualidade da cera de abelha. Desde a produção de cera virgem até à sua fundição e moldagem existem muitos factores que podem influenciar a sua qualidade. Quando a qualidade da cera é alterada (adulteração, ceras velhas, aquecimento exagerado) tem um reflexo negativo na quantidade e qualidade do mel. Por exemplo, quando a cera apresenta percentagens significativas de parafina as abelhas não “puxam” a cera, tendo como consequência um atraso na evolução da colónia e como tal, na produção de mel. Poder-se-ia dar outros exemplos, mas fulcral é que a qualidade da cera é de elevada importância para uma valorização em si mesma como também para o mel.
As abelhas necessitam da cera para o desenvolvimento da colónia e armazenamento do mel e pólen. É estimado que para produzir 1 kg de cera é necessário o consumo de 7 a 8 kg de mel pelas obreiras. A cera é segregada por oito glândulas cerígenas, situadas duas a duas nos quatro últimos esternos da parte ventral do abdómen da obreira. As obreiras com idades compreendidas entre os 12 e os 18 dias são as principais responsáveis pela produção da cera. A maior parte das substâncias químicas que constituem as ceras são hidrófobas. Estas características permitem controlar a humidade no interior da colmeia e absorver grande parte dos acaricidas utilizados para a varroose.
As ceras são ésteres formados pela condensação de um álcool de cadeia longa com um ácido gordo. A cera pura das abelhas (Apis mellifera) consiste pelo menos em 284 componentes diferentes, sendo os principais componentes, entre outros; o ácido palmítico, o esteárico, o cerótico, o lignocérico e o melísico. Segundo este autor, a maior parte dos componentes da cera de abelha são os monoésteres saturados e insaturados, diésteres, hidrocarbonetos saturados e não saturados e ácidos livres. Os monoésteres, os ésteres e os ácidos gordos são os responsáveis pela estrutura do favo. Os hidrocarbonetos de cadeia longa são os encarregados da regulação da humidade da colmeia. Os triglicerídeos e diglicerídeos, típicos das gorduras, estão ausentes da composição da cera.

Purificação da cera
A purificação da cera consiste na sua decantação e fusão como também filtração. A utilização da temperatura para fusão da cera deve ser da ordem de 75 a 90 ºC (no máximo) para que esta não perca as suas propriedades químicas. O período de tempo da decantação da cera deve ser no mínimo de 8 horas a uma temperatura de 70 a 80ºC (se possível utilizar termóstatos) e em inox para evitar a acumulação de matérias estranhas que diminuem a qualidade da cera. Por outro lado, a decantação permite em grande parte a remoção de matéria orgânica, onde se inclui o esporo da loque americana. As temperaturas elevadas, na ordem dos 120 ºC, durante 2 horas também permitem a destruição do esporo da loque. No entanto, alguns compostos da cera são destruídos. A utilização de filtros é aconselhada para retirar impurezas orgânicas da cera.

Adulteração das ceras
Alguns parâmetros físico-químicos são comummente utilizados para avaliar a qualidade da cera e detectar possíveis adulterações. Entre estes encontram-se o ponto de fusão, o índice de acidez, o índice de saponificação, o índice de éster e a razão índice de éster/índice de acidez. Além destes também o índice de iodo e o índice de peróxidos têm sido por vezes utilizados. O intervalo de valores propostos para estes índices para a cera pura diferem entre países, estando estas diferenças relacionadas com o facto dos factores geográficos e ambientais influenciarem significativamente a adaptação das abelhas, resultando em alterações na composição da cera por elas produzida.
O preço relativamente elevado da cera de abelha quando comparado com outras ceras vegetais e industriais, tais como a parafina, sebo, a esteraina/ácido esteárico. A adulteração da cera de abelha com estas substâncias, dada a sua diferente composição química, afecta os seus parâmetros físico-químicos, podendo ser estes parâmetros utilizados para a determinação da qualidade da cera e para a detecção de sua adulteração. O problema da adulteração da cera de abelha com estes adulterantes não é somente um problema de autenticidade, mas mais importante é o facto de estas adulterações provocarem a rejeição das ceras por parte das abelhas.

Acaricidas nas ceras
Ao longo dos tratamentos contra a varroa, os acaricidas armazenam-se nas ceras. Geralmente, são os acaricidas lipofilicos (= amigos de gordura) tais como o fluvalinato (Apistan, Klartan), flumetrina (Bayvarol) que se “agarram” mais à cera. O amitraz (Apivar, Acadrex, Mitac) é rapidamente degradado e os seus metabolitos também se “agarram” à cera. O clorvenfinvos (Supona) também se agarra à cera, mas comparativamente aos outros acaricidas tem mais facilidade em se deslocar à posteriori para o mel.. Devido à acumulação dos acaricidas é muito importante a substituição regular dos quadros. Embora na fusão da cera, os acaricidas não sejam destruídos, a abelha encarrega-se de “diluir” os acaricidas quando “puxa” a cera laminada. O paradiclorobenzeno (utilizado contra a traça ou tinha) também acumula-se nas ceras e, posteriormente, é difundido para o mel.

Armazenamento das ceras
Quando obtemos a broa ou queijo de cera é importante obter boas condições de armazenamento (ausência de humidades) para evitar o desenvolvimento de fungos. As ceras laminadas devem ser bem conservadas e, se utilizarmos no ano seguinte, naturalmente já perderam alguma humidade (essencial para que a abelha a molde) podemos colocar em água morna por breve segundos.
As ceras deverão ser substituídas quando são velhas (mais de 2 anos). Outras ceras deverão ser eliminadas quando apresentem sinas de loques e micoses.
As ceras de uma campanha deverão ser armazenadas em locais limpos e arejados. Deveremos ter em atenção os tratamentos para a traça (“mechas” de enxofre) e remover os quadros com pólen e mel. Os quadros de cera também poderão ser “tratados” com o frio (-15 ºC / 2 h.)

Projecto das ceras
A Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) está neste momento a realizar um projecto sobre as ceras nacionais. Neste estudo são investigadas as propriedades químicas das ceras virgens, das ceras laminadas e blocos de cera. Também são estudadas as alterações na cera devido às temperaturas de fusão como também o tipo de adulterações no mercado nacional.