27 agosto, 2012

O Misterioso Mundo dos Cortiços


Há semanas visitamos alguns apiários tradicionais, com muitos cortiços e colmeias de fabrico caseiro.
Não quis perder a oportunidade de apontar a objectiva a essas estruturas que apesar do desuso continuam a atrair as novas gerações de apicultores. Sobretudo estes cortiços, decerto construídos por quem os sabia fazer, muito homogéneos nas formas e dimensões.
Sempre que nos referimos aos cortiços, vulgo colmeias de quadros fixos, fica-nos sempre a ideia de inúteis, quer pela dificuldade em aceder ao interior – com todos os inconvenientes para um maneio racional, como também pelo espaço reduzido para a produção de mel.
Mas, talvez em termos de estética tenham ainda uma palavra a dizer. Muito mais discretos que as colmeias móveis, não só se harmonizam mais com a paisagem como ainda desmotivam os amigos do alheio.
Repare-se na forma cuidada como lhes foi providenciado um estrado de blocos de cimento ou de chapas de metal reciclado. Bem como o aspecto cuidado de toda a envolvência e o estado de conservação dos cortiços. As tampas de metal cortadas aos bidons continuam a ser muito utilizadas como impermeabilizantes.
 
 
Há muito tempo que não via as “vedações” em varas de eucalipto ou outro material, onde os cortiços eram fixos com arames para que os ventos ou os animais não os derrubassem. 
No apiário misto, com colmeias e cortiços, podemos observar no canto superior esquerdo uma escada de que o apicultor se valia para retirar os enxames que pousavam mais alto nos sobreiros.
Agora outro utensilio muito comum nestes apiários tradicionais: o recipiente com barro para “barrearem” ou seja, para vedarem as juntas de ligação e demais frestas dos cortiços. Apesar do aspecto ressequido basta juntar água para que este cimento natural ajude a cortiça a abrigar as abelhas.
Os primeiros mistérios surgem quando levantamos e inclinamos cada cortiço para lhes espreitarmos o interior.
Como é tão pouco habitual fazê-lo, sempre se nos deparam imagens inesperadas. Veja-se a primeira onde um número razoável de abelhas propolizam os blocos de cimento tornando essa superfície mais asséptica. Decerto se trata de uma colónia com bastante tendência para a recolha de resina.
Numa observação mais cuidada também percebemos que o fundo aberto dos cortiços funciona como um estrado sanitário: contem as varroas que jazem na superfície propolizada. Na fotografia integral, esse número ascende a muitas dezenas.
As cetónias tiveram uma atracção especial por esta colmeia, cujas abelhas foram bastante eficientes na defesa das reservas. Não sei se as cetónias preferiam este cortiço ou se as respectivas abelhas tinham uma estranha capacidade de as destruir, certo é que em mais nenhum caso encontramos tal concentração destes insectos.
Antes também se chamavam "grosadeiras" às cetónias, porque se dizia que o mel só estaria "maduro" e pronto a ser colhido quando elas chegavam às colmeias... seriam úteis por isso ???
As entradas dos cortiços e a forma curiosa que o apicultor desencantou para reduzir o fluxo de insectos, talvez como forma de defesa da colónia…
Já no interior dos cortiços: as trancas ou cruzetas, varas de esteva que suportam o peso dos longos favos carregados de mel que pendem fixos no tampo. O crescimento natural destes favos é feito no sentido descendente.
Nunca tinha visto nenhumas como as da próxima imagem. Normalmente existem duas (o primeiro par a 1/3 da altura e outro a 2/3. O primeiro a contar de baixo delimita a zona de criação, e que no fim do Inverno é cortada, no processo de estinha, para que essa cera possa ser renovada. O espaço central, entre as duas trancas define a zona de armazém de mel e alguma criação.
Finalmente, o espaço entre as trancas mais altas e o tampo, também uma zona de armazenamento de mel é onde se processa a cresta.
A existência de mais um par de trancas neste cortiço deve-se apenas a um excesso de zelo por parte do apicultor para melhor fortalecer a estrutura dos favos. Por acaso até se trata de um enxame novo, ainda pouco desenvolvido.
As colónias que se seguem, de maiores dimensões, ainda não ocupando a totalidade do cortiço quase já chegam às trancas de baixo. Ainda não “dão cresta” mas têm dimensões e reservas suficientes para passarem o Inverno.
Nas próximas três imagens o desenvolvimento da colónia atingiu já a totalidade de espaço disponível, as trancas ou cruzetas já não são visíveis. Pela concentração de abelhas adultas neste local podemos inferir da data de saída do enxame e inclusivamente retirá-lo para um outro cortiço ou caixa.
Agora uma colónia que atingiu o tamanho máximo e por qualquer razão entrou em declínio, a traça não demorou a instala-se e em breve irá consumir toda a cera disponível.
Os cortiços poderão ser uma boa fonte de alvéolos reais de qualidade e de fácil acesso. Basta para isso que na altura da enxameação o apicultor os procure nos favos mais expostos, os retire e enxerte em colónias recém desdobradas e orfanizadas.
O objectivo deste post foi sobretudo o de proporcionar fotografias de cortiços, imagens que apesar de cada vez mais raras nos transportam para os primórdios da apicultura e bastante nos inspiram.
Também uma homenagem ao Rui de Jesus, o jovem apicultor que partiu muito cedo desta vida...
 

 

21 agosto, 2012

Cardo de Abelha 2012


O Cardo de Abelha, cardo asnil ou de uma forma mais erudita o Carlina racemosa, continua a ser uma das florações apícolas mais nobres no Alentejo.
Impressiona como apesar da secura extrema do solo e da atmosfera, bem patentes no aspecto vegetativo da planta, proporcionam mesmo assim tal abundância de néctar e pólen às abelhas.
Os terrenos mais agrestes continuam a proporcionar sustento e produção ás colónias durante o Verão.



Planta herbácea, anual, da família Asteraceae, apresenta caule ramificado que, geralmente, não ultrapassa os 30 cm de altura. As folhas são compridas, estreitas e lanceoladas, com margens guarnecidas de espinhos. As flores, amarelas, agrupam-se em capítulos terminais com cerca de 15 cm de diâmetro. Distribui-se pelo centro e sul de toda a Península Ibérica e pelo noroeste de África, ocorrendo, geralmente em terrenos abertos, incultos e com alguma aridez.
Floresce durante um largo período que vai, pelo menos, de junho a agosto.

In "O Botânico Aprendiz na Terra dos Espantos"



O perigo sempre à espreita.
Quando tirei a fotografia não me apercebi da presença da pequena assassina, que perfeitamente mimetizada com a paisagem aguardava a chegada da presa. Esta não teve muita sorte, finda a recolha de pólen a abelha partiu sem mais prejuizos:



Quando preparava a imagem de baixo só me ocorria o problema das falsas baixas médicas ou até as aposentações precoces. Veja-se o estado deplorável da asa esquerda da próxima abelha: enquanto as delicadas extruturas alares permitirem o voo do insecto este continua a cumprir com o seu dever.

A somar ainda o facto do Serviço Nacional de Saúde ou a Pensão de Reforma das abelhas não passar de um caloroso empurrão a partir da tábua de voo e as formigas que as carreguem.
Ainda assim me parece ser um sistema mais justo que o nos tem calhado ultimamente...




The Simpsons...

"Fotografado" no canal FOX, o problema do Sindroma do Despovoamento de Colmeias
já chegou aos Simpsons...

Curiosa a forma como é encarado o "voo nupcial", mas o que conta é a intenção :)