18 abril, 2012

Postura deficiente da Rainha

Voltamos ao assunto publicado há semanas em http://montedomel.blogspot.pt/2012/03/postura-irregular-da-rainha.html

Como se pode observar nas imagens anteriores a existência de mais que um ovo por alvéolo.
Esta situação é bastante comum em rainhas no início (recém-fecundadas) e sobretudo no fim da postura, quando têm muita idade. Certo é que tanto num caso como noutro, o número de alvéolos com mais de um ovo costuma ser reduzido, circunscrito a uns quantos centimetros quadrados.
Nem sequer considero a hipótese de obreiras poedeiras visto que a rainha se encontra na colmeia.

Nas imagens anteriores uma situação ainda menos comum: a eclosão desses ovos e o desenvolvimento de várias larvas no mesmo alvéolo, algumas chegam a atingir grandes dimensões...

16 abril, 2012

Carta da Sociedade dos Apicultores de Portugal à FNAP

Exº Senhor
Presidente da FNAP

Estando em negociação as verbas da PAC para 2013 e sendo a apicultura uma actividade criadora de riqueza exportável, não havendo apoios específicos para alguns produtos da colmeia procurados nos mercados internacionais, a SAP- Sociedade dos Apicultores de Portugal, preocupada com a situação actual, após diligências efectuadas junto dos seus associados e consultados os apicultores desta associação, recolheu a opinião consensual sobre a necessidade urgente de apoios para as actividades de recolha de pólen e de própolis, pelo que vimos por esta forma solicitar às autoridades competentes, no âmbito da negociação da PAC para 2013, que sejam negociados também apoios nesta área, uma vez que os apoios existentes até ao momento, em cerca de 60%, apenas se destinam a fármacos para o tratamento do varroa.
Sendo por demais óbvia, a necessidade urgente do país de produzir bens transacionáveis que possam ser exportados e, enquadrando-se a produção de pólen e própolis neste âmbito, não há qualquer razão para que nesta nova negociação da PAC, não sejam incluídos apoios aos apicultores portugueses, especificamente para esta área, além dos já existentes para outras finalidades, à semelhança do que acontece noutros países europeus.

Sendo assim, vimos por esta forma solicitar a essa Federação, a sua urgente intervenção junto das entidades competentes para que, ao contrário do que infelizmente já vai sendo hábito , o assunto não fique ignorado.
Com os melhores cumprimentos,

Lisboa, 10 de Abril de 2012

Sociedade dos Apicultores de Portugal

10 abril, 2012

Curso de criação de rainhas e produção de geleia real, com a presença de Gilles Fert
Participação gratuita a todos os apicultores

MACMEL Formação Criação rainhas e 12º aniversário da Macmel dia 28 de Abril 2012

Manhã dia 28 Abril 2012

Apiário Macmel - Demonstração de como saber da pureza da raça de abelhas (Gilles Fert)
Demonstração do modo de criação de rainhas método Gilles Fert Demonstração como fazer pacotes de abelhas.
Cada participante vai poder praticar os métodos explicados por Gilles fert orientado pelo pessoal da Macmel.
Demonstração como extrair geleia (Francisco Rogão - Macmel)

Tarde 14h.00

Seminário no auditório municipal de Macedo de Cavaleiros
Moderador - Octávio Rodrigues (Apicultor)
Francisco Rogão (apicultor) - Importância da extração de mel monofloral
António Hermenegildo (Médico e apicultor) "Há Potencial Médico no Mel e Própolis - Perspectiva Actual e Futura"
Mário Gomes (eng Apicultor) Bioimpact Alfonso Llovell (apicultor) Alimentação artificial de abelhas

Gilles Fert (apicultor) criação de rainhas CONHEÇIMENTO E SELEÇÂO DA RAINHA
Conheça a Rainha Não há rainha sem zangão! Reprodução natural da colônia Que raça escolher? PREPARAÇÃO DAS COLÔNIAS A escolha das colônias "mães" ou seleção
A seleção de abelhas mais limpas ou "teste de limpeza"
A conservação de rainhas mães
Estimulação e desenvolvimento de colónias chocadeiras MATERIAL BASE
As cúpulas
Quadros para realeiras
Transferência espátula ou "picking"
Outros acessórios 38
Produzir suas próprias rainhas
Escolha do método certo Rainhas, produzir menos de 20 por ano
Produzir, de 20 a 200 rainhas por ano
Produzindo mais de 200 rainhas por ano
Incubadoras de rainhas
Fecundação dirigida
Áreas de agrupamento de zangos A criação de zangãos
Escolher o melhor apiário de fecundação
Que modelo de núcleos escolher?
Transporte e introdução das células de reais
Colmeia com rainha dupla
Avaliação e recolha de rainhas
Encontre a Rainha
Controle de qualidade
Marcação de rainhas
O "clipping"
O envio da rainha
Uso adequado de rainhas
A introdução de células reais
A introdução de rainhas virgens
A introdução de rainhas fecundadas
A introdução das rainhas de valor
A constituição numa colméia zanganeira
Armazenamento em bancos de Rainhas
A PRODUÇÃO DE ABELHAS
Os pacotes de abelhas o material
A preparação das colónias
Método de recolha
Abelhas destinadas a núcleos
As abelhas destinadas à venda

Para mais informações:
http://www.macmel.net/

08 abril, 2012

Apicultura na ESAV - Viseu

Gerações de estudantes asseguram atividade de apicultura na ESAV e ganham experiência prática

Iniciada pela primeira vez em 2005, a apicultura na ESAV tem tido, como todas as atividades ligadas ao setor primário, os seus altos e baixos. A ideia da prática desta atividade, surgiu por parte dos estudantes da ESAV e, desde então, o Departamento de Intervenção na Quinta da Associação de Estudantes da Escola Superior Agrária de Viseu é o responsável pela gestão do efetivo apícola e pelo seu maneio.

No passado ano letivo de 2010/2011, em Fevereiro, Fernando Baltazar, estudante do curso de Engenharia Zootécnica desde 2009 e coordenador do departamento nesse mesmo ano, depois da tomada de posse da nova Associação de Estudantes, dedicou a maior parte do seu tempo académico à recuperação das últimas duas colmeias sobreviventes no apiário. Foram efetuados os tratamentos necessários, alimentações artificiais, desdobramentos e, ainda, a colheita de uma ínfima quantidade do líquido dourado que as abelhas nos fornecem, recorrendo a pequena verba disponibilizada pela Escola e pela Associação de Estudantes, ajuda sem a qual, seria impossível a prática da atividade.

Iniciado o ano letivo de 2011/2012, e após as eleições para a eleição da nova Associação de Estudantes, na qual Fernando Baltazar voltou a ficar como coordenador do departamento de Intervenção na Quinta, este disponibilizou-se para partilhar os seus conhecimentos e experiências em apicultura com os seus colegas, estudantes dos vários cursos da ESAV.

Desde então, cerca de 10 estudantes (excluindo os que a título de curiosidade se interessam por visitar a exploração), acompanham-no nas idas ao apiário para aprender as noções básicas da apicultura e adquirirem, quase sem querer e como que numa brincadeira, uma formação prática numa produção animal diferente daquelas a que estão mais habituados a lidar.

Após a apresentação do material necessário para a prática da atividade, foram efetuadas as revisões de inverno, os tratamentos, as alimentações artificiais estimulantes, os diagnósticos de infeção de varroa nas colónias e, atualmente, encontra-se em prática a demonstração das técnicas de criação do elemento mais importante de uma colónia - a rainha -.

Num futuro próximo, será testado nos laboratórios da ESAV, integrado numa unidade curricular do Curso de Engenharia Zootécnica, um método de diagnóstico para uma doença que afeta as abelhas, a nosema.

Ate finais de Julho, estes estudantes irão ainda ter oportunidade de aprender como aumentar o número de efetivo apícola; recolher pólen e própolis; colocação? de diversas alças, efetuar a cresta e, posteriormente, como conservar e reaproveitar a cera de abelha.

Um exemplo de participação ativa dos estudantes nas atividades de uma exploração real e de como, com empenho e incentivo, se conseguem extravasar as fronteiras do ensino em sala de aula.

Fernando Baltazar
Coordenador do Departamento de intervenção na Quinta
Estudante da ESAV

02 abril, 2012

Água Mel, uma doce tradição em Mértola

Há muito que ansiava por uma reportagem sobre a ÁGUA MEL, há tempos "encomendada" ao meu amigo Osvaldo Silva.

Basicamente resultava do aproveitamento do mel residual que ficava nas ceras, após a prensagem dos favos dos cortiços. Esse doce tabu, não só produzido pelas abelhas mas por estas em parceria com o apicultor.

Não pode (ou não deve?) ser vendido, "Bruxelas" não acha muita graça ao facto, ainda por cima se trata de uma das últimas especialidades tradicionais que ainda não foi desvirtuada por essa tendência que tem extinguido o mundo rural e que começou há uns anos atrás com as maçãs normalizadas.

Aproveitem, é bastante doce e agradável, além disso estamos na Páscoa...

...

Após uma conversa com o amigo Pifano sobre este tema, foi por mãos à obra e tentar procurar entre os apicultores alguém que fizesse água-mel.
Felizmente aqui em Mértola ainda há quem se dedique a produzir tal especialidade, embora na sua maioria seja apenas para a família e amigos. Depois de uma conversa com um apicultor, foi só marcar um dia e o local.

A pequena aldeia da Morena no Concelho de Mértola foi o local onde se passou a acção.

No dia 8 de Junho pelas 10:30 da manhã cheguei ao local combinado (mas já um pouco atrasado, mas só no fim é que percebi porquê) e já lá estavam à minha espera o Sr. Avelino Rodrigues e a sua esposa, Dª Maria de Jesus.

Já há muitos anos que fazem água mel da mesma forma que aprenderam com os seus antepassados. A produção é apenas para consumo próprio e para dar a alguns familiares e amigos.

Há várias maneiras de se fazer água-mel, mas seguidamente vou descrever e ilustrar o que assisti, ajudei e no fim degustei.

Às 10:45 colocamos um recipiente com água ao lume.

Às 11 horas começamos por lavar com água a ferver a cera dos opérculos e de alguns quadros “velhos”, com pólen, ou melhor pão de abelha.

Depois retirou-se a cera e filtrou-se a água.

Terminada esta tarefa às 12 horas deixamos repousar essa água durante 6 horas. Deu-nos tempo para almoçar e ver depois ali próximo os famosos “zangarreiros”.

Zangarreiros… assunto deveras interessante e que, espero eu, seja tema de uma reportagem para breve no Montedomel.

Às 18:00 voltamos a filtrar a água e colocou-se ao lume até ferver. Assim que começou a ferver colocou-se em lume brando e retirou-se a espuma com um passador à medida que esta foi aparecendo.

Aproveitamos neste intervalo para fazer um lanche no final da tarde, pois ainda faltavam algumas horas.

Às 21:30 colocamos a casca de laranja de 3 laranjas, um pouco de ervas doces em grão, uma pitada de ervas doces moídas e um pau de canela dentro de uma bolsa, para não se espalhar pela água.
Continuou-se a retirar a espuma.

Às 23:00 começou a ficar em “ponto de pérola”, como a dona Maria lhe chamou.

O teste é efectuado com uma colher, deixando cair para um prato algumas gotas para verificarmos se está mais espessa e consistente do que a água.

Às 23:30 apagou-se o lume, voltamos a filtrar tudo para dentro de outra panela e deixamos repousar até à manhã seguinte.

Depois nessa manhã voltamos a retirar a espuma que se formou e podemos finalmente encher os frascos de água-mel.

Espero com este pequeno trabalho poder contribuir de alguma forma para que não se perca uma das nossas valiosas tradições.

Quero agradecer ao Sr. Avelino e à Dona Maria, pela sua disponibilidade em demonstrar como se faz água-mel, bem como ao Joaquim por ter colocado esta “batata-doce” nas minhas mãos.

Osvaldo Pantaleão Silva

1 de Abril 2012

Não vá alguém estar distraido...

01 abril, 2012

Perigo... passagem de abelhas?

Hoje aconteceu-me uma coisa curiosa. Deslocava-me numa estrada da região quando um sinal de trânsito me chamou a atenção.
Ainda pensei que se tratasse de uma partida, mas o ar “oficial” do sinal de perigo era demasiado real para se tratar de alguma brincadeira de mau gosto.

Ante a estupefacção e o assombro, fiz alguns telefonemas e consegui saber que num convénio recentemente celebrado entre as duas DGV’s (Direcções Gerais de Veterinária e de Viação) ficou de se fazer aprovar uma lei vocacionada não só para a prevenção rodoviária como também para a protecção das abelhas.

Como é sabido, muitos são os casos de acidentes de viação devido à passagem de abelhas nalgumas estradas mais movimentadas. A entrada intempestiva de uma ou mais abelhas num carro em movimento costuma provocar o pânico no condutor, o que geralmente leva ao despiste.

Para prevenir este género de acidentes, a nova legislação prevê a criação de um novo sinal de trânsito, da classe dos sinais de perigo e semelhante aos já usados para a travessia de animais na rodovia, mas este com uma abelha estilizada.

Nunca pensei que um dos livros mais lidos pelos portugueses, o Código da Estrada de João Catatau, passasse a ter um sinal exclusivo para as abelhas.

O dito sinal de perigo: Passagem de Abelhas, deverá ser adquirido pelo apicultor e colocado em todas as vias públicas que distem menos de dois quilómetros de cada um dos seus apiários. Não deverá ser barata a aquisição de tais sinais, a não ser que as associações se organizem para a respectiva compra conjunta.

A abelha estilizada será muito semelhante à que reproduzo na imagem acima.

Devo dizer que tal estilização escolhida para a abelha é francamente foleira. Parece uma vaca às riscas e ainda por cima com asas, deram grande relevo ao ferrão o que parece acentuar a agressividade do bichinho e que não é verdade.

Mas é a imagem que melhor alerta os condutores para os perigos da circulação numa estrada atravessada por insectos perigosos.

Não tentem dar largas à habitual criatividade dos apicultores e desenharem mamarrachos ainda mais foleiros. Senão ainda é pior a emenda que o soneto, em vez do automobilista se precaver da entrada intempestiva de abelhas em trânsito, despista-se a rir ou assustado pela obra de arte da sua autocriação.

Não esquecer também que os sinais de trânsito em causa, tal como todos os outros são adquiridos em entidades com licenciamento para o efeito e a sua colocação necessita de autorização municipal ou da junta de freguesia.

Mas as coisas não ficam por aqui, a responsabilidade do apicultor não acaba com a colocação do novo sinal de perigo. Postulará a mesma lei que nos meses de maior fluxo de abelhas, o que decerto coincidirá com o período de enxameação ou com o da maior produção de néctar, o apicultor deve permanecer junto à faixa de rodagem, visível e identificado, de modo a obrigar as abelhas a tomar uma altitude de segurança.

Para isso deve estar perfeitamente equipado como para a inspecção das colmeias, vestir um colete fluorescente e… atenção a este pormenor: com o fumigador aceso, fumigando grossas baforadas para o ar, de modo que a canada de abelhas possa ganhar altitude na travessia da estrada, subir acima dos 3 ou 4 metros e assim evitar embater nos veículos que por aí circulem.

Claro que os condutores ingratos e desinformados além de levarem pouco a sério tal demonstração de cidadania ainda nos saúdam da forma que melhor sabem…

Não me parece uma ideia muito feliz. Mas olhemos para o lado positivo: a obrigatoriedade de permanecermos junto à estrada abre-nos um leque de possibilidades como a venda de alguns artigos!

Qual mel qual carapuça! Esqueçam lá o mel, é demasiado óbvio e duvido que algum condutor que se preze encoste na berma da estrada para comprar produtos alimentares a alguém vestido de macacão branco e máscara de rede a deitar fumo para o ar como uma locomotivazinha.
Venda raspadinhas, preservativos, alfinetes de gravata, inove, tenha um rasgo de criatividade e surpreenda quem passe na estrada.

Animem-se lá, pior que isto seria a obrigatoriedade de colocarmos brincos nas abelhas…

Evolução da Apicultura...

Se há assunto sobre o qual detesto escrever é aquele que se segue.

Não é por nenhuma razão especial, apenas o tema me causa algum prurido e detesto divagar acerca de coisas onde não vamos chegar a conclusão nenhuma… ou não. Para todos os efeitos nunca deixaria de o partilhar convosco.

Tudo se passou há cerca de dois meses atrás, aquando da visita a um amigo, descendente e herdeiro de um velho apicultor. Gosto de lá passar, temos por hábito folhear velhos livros e revistas, mexer na sucata antiga: fumigadores, crestadeiras, máscaras… tralha dos tempos pioneiros, coisas do arco da velha, sobre as quais nos dá imenso prazer dissertar.

O espólio é imenso, sempre descobrimos coisas novas, além de um apicultor inveterado o velho era um coleccionador nato. Participava em muitos congressos e encontros de apicultura no estrangeiro de onde regressava carregado de bugigangas. Há quem diga que sublimou avultada herança em tal vício.

Numa dessas tardes de “regressão” apícola, tentava eu tirar um pequeno cortiço do monte de ferro velho quando senti alguma resistência ao desencravá-lo dali. Parecia estar preso a qualquer coisa, o que não faz muito sentido, atendendo à forma cilíndrica da ancestral colmeia.
Com algum cuidado e removendo outros materiais que tinha à volta, consegui libertar o objecto que reproduzo com a máxima fidelidade possível na imagem acima.

É um cortiço, isso eu garanto. Um cortiço com persianas, sim, porque não? Acaso as janelas não as têm também?

Perdoem-me lá, mas este assunto enerva-me, já me desculpei lá atrás. O cortiço não tem persianas, mas aquelas lamelas paralelas unidas por um fio metálico não fazem lembrar outra coisa. Além disso ainda tinha uns quantos apêndices em metal ou madeira, coisas aparentemente disfuncionais, aliás como todo o conjunto.

Uma vez sustidas as gargalhadas entretivemo-nos a disparar palpites acerca da utilidade apícola de tal artefacto. Foram momentos hilariantes e as conclusões eram óbvias: a excentricidade do velho apicultor já nos surpreendera outras vezes, mas isto ultrapassara tudo o que já viramos.

Estávamos nisto quando lá de dentro caiu uma etiqueta, um papel já corroído pelo tempo, ou pelos ratos, onde dificilmente se conseguia ler: “Luxor, Setembro, 1878” entre outros rabiscos indecifráveis. Custou-nos a crer que o dito cortiço fora adquirido no Egipto há mais de um século, mas os diários do velho referiam qualquer coisa nesse sentido, uma feira de antiguidades ou algo do género.

Por mais voltas que déssemos à cabeça não saiu nada que ajudasse a clarificar tal descoberta. Mesmo os impagáveis préstimos de um arqueólogo amigo pouco ou nada ajudaram.

Porque não tirei fotografias? Desapareceu misteriosamente, subtraíram-no do armazém do meu amigo dias antes de eu lá ir com a máquina fotográfica, ainda hoje o lamento.

Porque razão alguém se deu ao incómodo de roubar um cortiço velho? Ainda por cima com o aspecto daquele a que me refiro? Continuem a ler o relato e vão perceber tudo.

Foi então que numa das minhas raras noites de ócio, enquanto me entretinha a explorar o software do computador, ok, ok, enquanto o ligava e desligava pela vigésima oitava vez para o tentar desbloquear, que me ocorreu experimentar uma determinada aplicação do Corel Draw.
Um aplicativo que muito me ajuda nas imagens e esquemas do montedomel: o “Interactive Blend Tool” que nos apresenta uma sequência evolutiva entre duas figuras, objectos, etc, que sujeitemos a essa função:

Ex:

Resolvi sujeitar um cortiço e uma colmeia a essa função, surgiu a sequência evolutiva que vai do cortiço à colmeia e… maravilhem-se: o dito objecto egípcio surgiu-me na sequência, precisamente a quarta figura.

Se acompanharam o meu raciocínio, o velho apicultor comprara um elo perdido da cadeia evolutiva entre o cortiço e a colmeia de quadros móveis. Qual criação de Langstrooth qual nada, Charles Darwin já tinha previsto tudo e nem por isso era apicultor.

As modernas colmeias sofreram um processo evolutivo igual ao de qualquer ser vivo, a selecção natural substituiu a cortiça e os pregos de esteva por madeira e arames, e o meu amigo herdara um Neanderthal das colmeias!!!

Deliciem-se com as subtilezas de tal filogenia: quem nos havia de dizer que o tampo de zinco da caixa de quadros móveis teve a sua origem não no tampo do cortiço, mas precisamente nos três orifícios da entrada rudimentar?

Comprovem vocês mesmo na sequência evolutiva, eu não estou aqui para enganar ninguém:

E ainda dizem que as teorias gradualistas são pouco válidas pela não funcionalidade de alguns elos, lixem-se os saltacionistas, funcional ou não esta porcaria existiu e decerto que a transição esquematizada se há-de ter feito representar por todos os componentes.

Gosto de imaginar as épocas remotas em que bandos de “cortiços de persiana” pulavam felizes atrás dos enxames de abelhas. Teriam os veda luz algum efeito dissuasor sobre os inimigos das abelhas?

E o Programa Apícola Nacional da Pré-história?
Seria assim tão diferente do actual?

E este?

Faz-me lembrar uma piada antiga acerca de um benfiquista que foi ao médico com um sapo sobre a cabeça, mas que o pudor me impede de aqui reproduzir.
Agora a sério, é sim senhor, é mesmo do Homo sapiens destructor que se trata, ora veja lá:

É mais uma evolução possível no Misterioso Mundo do Montedomel. Mas teria a sua graça, se assim fosse, hoje teríamos resistências para todas as charlatanices que trazíamos da farmácia e decerto que vivíamos mais felizes.

Já as hipóteses seguintes são de todo impossíveis, mas há amigos meus que têm equipamentos de inspecção de colmeias muito semelhantes. No entanto devemos tirar ilações curiosas: não podemos confiar muito nos cortiços. Se há bocado os orifícios da entrada evoluíam para o tampo de zinco, agora ficam-se por uma simples luva de cabedal com manguito.

Já a tábua de voo da colmeia me fez temer o pior, só me faltava um fato de macaco com a braguilha aberta, mas acabou no dedo médio que não estando isento de pecado é por definição mais tolerável… ouço dizer…

O fumigador não foi decerto um antepassado do cortiço, pelo menos quando apagado. Reparem na hipótese “em combustão”, como a fumaça se materializa em sovinos de esteva que unem os bordos do caneiro de cortiça.

A evolução das espécies é uma teoria muito versátil, sobretudo quando aplicada à apicultura.
Ora vejam lá se adivinham a próxima: