25 setembro, 2012

ORDENAMENTO APÍCOLA, Densidades de Colmeias

Quantas colmeias posso colocar em cada apiário?
 
Desde os meus inícios na apicultura que este assunto me atormenta.
 
À partida parece um problema inocente, toda a gente o resolve, colocam-se umas quantas colmeias e logo se vê.


Mas… não seria interessante fazê-lo de uma forma mais científica? Aproveitar todos os recursos maximizando a produção ou diminuir custos evitando colocar colmeias desnecessárias?
Toda a gente sabe quantas vacas, ovelhas, porcos, deve colocar por hectare de terra de modo a maximizar a produção dessa área. Os ajustes são feitos com os tipos de forragem, regas, fertilizações, cortes, adensamentos, etc…
 
Qual a densidade de plantas melíferas num hectare?
Normalmente arriscamos respostas qualitativas que se vão aferindo com a experiência. Empiricamente sabemos se determinada área é ou não propícia para a criação de abelhas.
Qual o volume de néctar (ou de pólen) disponíveis por flor ou por unidade de área?
Fazemos este cálculo conhecendo a resposta do ponto anterior e pelo clima (chuvas, ventos) dessa estação. Também já vi apicultores espremerem flores de rosmaninho entre os dedos para estimarem a quantidade de néctar.

E isto basta para saber “quantas colmeias posso colocar em cada apiário?”
Quem não foi ainda brindado com esta pergunta por um apicultor iniciado?
Devemos pensar uns instantes, com aquele ar de quem faz cálculos mentais e responde-se depois: "muitas, imensas, com as virtudes que acabou de referenciar o local é caso para estender um apiário até onde a vista alcança".
Se o “clima” não estiver para graças devemos passar logo à resposta definitiva e com alguma sorte a correcta:
"Não sei, tal como você nunca conseguirá saber e se alguém lhe disser um número está a mentir, até porque esse número não existe ou quando muito não é válido para todos os anos".

Mas convém lá colocar um (in)determinado número de colmeias…

 
Factores a ponderar para nos aproximarmos desse número:
a) A legislação para o ordenamento apícola, que prevê um máximo de 100 unidades na maior parte do território e 75 no Alentejo. Não ajuda muito, mas ficamos a conhecer os limites.
b) Os recursos naturais: a flora apícola disponível e a água. Este sim, já tem o que se lhe diga. Mas como o objectivo é produzir muito, assumimos que toda a gente deve escolher lugares bem providenciados de  néctar e pólen. Avaliar tal parâmetro requer métodos científicos, empíricos e independentemente dos dois anteriores uma boa dose de sorte.
c) A proximidade de outros apiários, nomeadamente o número de colmeias num raio de 5 km. Cinco quilómetros porque este é o limite biológico de voo das abelhas e por assim dizer são as que se encontram nesse raio que mais influenciarão as nossas na competição pela pastagem tal como no contágio de doenças e pragas.
d) Economia de tempo e combustíveis. Para um determinado efectivo, quantas mais colmeias por apiário melhor, menos apiários temos de visitar e mais depressa se faz o percurso, como também menos combustível se gasta, e como este factor importa actualmente.
e) As questões sanitárias. Quanto menor for o apiário menores serão os riscos sanitários, os contágios, as perdas e mais fácil será o controlo da moléstia.
f) Qualidade de trabalho. Pessoalmente e a opinião é muito partilhada, quando o apiário é muito numeroso em colmeias, as últimas já não são observadas e operadas com as mesma acuidade e paciência das primeiras.
Quem tem muitas centenas ou mesmo milhares é melhor ignorar esta alínea e outras…
Esquematização de apiário com 100 colmeias.


Alguém fez as contas? A mim deu-me 15… ou 20, talvez 25 colmeias por apiário.
Entre 15 e 25, dá uma boa margem de manobra. O ideal era mesmo apontar para as 20, o meio termo e depois irmos aferindo ao longo dos anos, para cima ou para baixo, consoante tenhamos subestimado ou sobrestimado a capacidade de suporte do meio.

Esquematização de apiário com 15 colmeias, quase que dá para as chamar pelo nome...
Estas decisões, não sendo muito fáceis de tomar, permitem-nos aumentar o número de colmeias/apiário quando após algumas campanhas consecutivas obtemos um elevado número de alças de mel/colmeia ou o contrário quando as baixas produções se fazem sentir ao longo de várias épocas.
De assinalar que se esse número descer abaixo das dez unidades, há qualquer coisa que não está a correr bem e pode ser que o local escolhido não seja o ideal para a prática da apicultura. Devo no entanto garantir que volvidos 14 anos de experiência no sector a escolha do local do apiário é DETERMINANTE.

Outros factores a ponderar, como a evolução da densidade de colmeias e do coberto vegetal nas últimas décadas
1)- Até à década de 1980 a apicultura em Portugal era sobretudo praticada em cortiços, colmeias de “quadros” fixos. Poucos apicultores, poucos apiários e poucos cortiços (com poucas abelhas).

 
 2)- Apesar das baixas causadas pela varroose desde essa altura, a estruturação do sector em associações e o programa apícola nacional entre outras ajudas, levaram ao aumento do número de apicultores e de colmeias, agora com colmeias de quadros móveis, muito mais populosas.

 
Segundo as referências, uma colmeia móvel em plena produção poderá ter cerca de 80.000 abelhas, num volume de 0,11m3, nesse caso, um cortiço com 0,049m3 de volume só deverá suportar cerca de 35.000 abelhas, menos de metade...

3)- O crescente aumento do número de apicultores (com mais de 400 colmeias) nos últimos anos estimulados por ajudas extra programa apícola, como o ProDer.
4)- O declínio da agricultura nos últimos anos, com a forte diminuição de culturas de interesse apícola no Verão (quando são mais necessárias).
5)- As alterações climáticas com anos mais quentes e secos têm sido responsáveis pela diminuição do coberto vegetal quer em quantidade quer em diversidade e qualidade, resultando também em mais e maiores incêndios responsáveis pela destruição do pasto das abelhas.
6)- Como medida para contrariar os incêndios muitos são os proprietários rurais obrigados pelas companhias de seguros a fazerem a gestão de matos da forma mais errada: eliminando-os na totalidade, o que não só priva as abelhas das fontes de néctar em áreas cada vez maiores como desprotege os solos, aumentando a erosão e tornando-os cada vez menos produtivos.

Face ao exposto, os únicos argumentos favoráveis aos apiários com grande número de colmeias parecem ser a economia de tempo e de combustível. Diga-se em abono da verdade que não são de desprezar.
 
Vamos simular uma possível “paisagem apícola” com áreas de montanha, vales, encostas e planície, onde se pretende demonstrar a forma como todos estes factores têm contribuido para a sobreexploração do terreno pelas abelhas, esgotamento dos recursos e consequentes baixas de produção:
Em situações normais, as áreas apícolas de excelência são caracterizadas por florações como o Rosmaninho, a Esteva, o Alecrim, a Urze, o Medronheiro e mais umas quantas espécies ditas espontâneas. Essas espécies estão habitualmente associadas aos terrenos incultos, que ocorrem sobretudo nas encostas e terreno acidentado.
Graças à forma do terreno, essas zonas têm ainda a vantagem da protecção aos ventos dominantes e abundância de água, pelo que os apicultores as elegem como locais preferenciais para a prática da apicultura.
Por estas e outras razões é também habitual que as regiões mais acidentadas tenham sempre uma densidade de colónias de abelhas francamente superior às grandes planícies.
Na imagem anterior as áreas de voo das abelhas (em torno do apiário) estão representados por um círculo verde, que á escala têm 1 km de raio. Pode também verifica-se que todos esses apiários (apesar das grandes densidades nalguns locais) estão a cumprir as distâncias regulamentares da maior parte do território nacional.

Na próxima imagem, tal como na anterior, simula-se uma situação em que a quantidade de recursos disponíveis (néctar e pólen) são suficientes para a carga apícola no terreno:

 
A circunferência com 1 km de raio em volta do apiário não foi desenhada por acaso: podemos defini-la como um possível “limite de voo ideal” dentro do qual estejam garantidas boas produções de mel. Ou seja, dentro dessa distância as abelhas poupam bastante tempo e energia nas actividades recolectoras, conseguindo grandes produções.
Também se pode falar no “limite de produção” que poderá rondar os 2 km e a partir do qual as abelhas não produzem, mas recolhem o suficiente (o possível) para a sobrevivência da colónia.
 
Teoricamente, abaixo dos 2 km as abelhas já conseguem reservas suficientes para armazenar para a colónia e para a cresta, sendo no entanto a situação ideal quando conseguem fazê-lo a distâncias inferiores a 1 km.
Pode inclusivamente definir-se outro limite: o “limite biológico de voo” que segundo as referências aponta para os 5km e que as obreiras não podem ultrapassar por questões biológicas.
As abelhas voam esta distância quando a floração é deveras escassa, quer pelas características do local (má escolha do apicultor), quer pelo clima adverso desse ano ou inclusivamente pela densidade excessiva de colmeias no local. Uma abelha que exerça a sua actividade recolectora a estas distâncias é equivalente a ir atestar o carro a 200 km, o combustível acaba por ser gasto no percurso, não compensa…
Tal como foi referido, estes limites são sobretudo teóricos mas ajudam a perceber o modo como a disposição das colmeias no terreno, nomeadamente a sua densidade, pode ajudar ou comprometer as produções apícolas.
Voltando à nossa “paisagem apícola” e simulando agora um ano menos bom, onde as abelhas pelas razões atrás apresentadas, sejam obrigadas a aproximar-se do limite dos 2 km:
Nestas circunstâncias já se observa alguma sobreposição de áreas de voo/pastagem. Mais acentuada nos locais de maior densidade de apiários:
Haverá decerto algum rearranjo dos voos na procura de pastagens mais afastadas das zonas de sobreposição, mas ainda não é um quadro a temer, as produções não estão em perigo.
 No entanto, com as tendências climáticas que se têm verificado, com as péssimas políticas agrícolas e somando ainda os aumentos descontrolados do número de apicultores por região e de colmeias por apicultor, situações como a da próxima imagem são cada vez mais frequentes:
Esta forma de exploração do terreno pelas abelhas, próxima do seu limite biológico de voo, resulta do esgotamento dos recursos nas proximidades do apiário devido à excessiva concentração de abelhas nas áreas de sobreposição, para uma quantidade limitada de néctar e pólen.
O resultado final, que não anda muito longe do que se tem verificado nos últimos anos, aponta para baixas produções, maior incidência de problemas sanitários, perda de efectivos no Inverno e maiores custos para o apicultor.

Ainda relativamente ao número de colmeias por apiário

Este assunto não é pacífico, nunca o foi.
Quando se decidiu o tecto de 100 colmeias/apiário para o território nacional, bem como o de 75 para a região Alentejo, houve sempre vozes discordantes e os números não foram (nem são) consensuais.

Antes disso imperava o bom senso, os apicultores respeitando a proximidade de outros apiários, a capacidade de suporte e produção do meio entre outros factores, faziam as suas explorações apícolas de uma forma mais ou menos ordenada e sem grandes atritos com os vizinhos.
Desde finais da década de 1990 (…até à actualidade) com a entrada desordenada de grandes quantidades de colmeias estrangeiras, em apiários com centenas de unidades, causando imensos distúrbios na produção e sanidade das explorações nacionais, sentiu-se a necessidade de regular e ordenar o sector.

Apiário de um apicultor espanhol, no Alentejo




Claro que legislação e bom senso nem sempre andam de mãos dadas e o dito "ordenamento” apesar de bem intencionado, resultou nalgumas incongruências:
- Há locais no Alentejo, bastante ricos em floração, que suportariam perfeitamente as 100 colmeias por apiário.

- Nos Açores, o tecto de 25 colmeias/apiário tem desmotivado os apicultores, segundo notícias recentes do Diário Insular, o que se compreende não só pela riqueza e abundância florística da região como do espaço limitado para a instalação de apiários.

Críticas, conclusões e outros considerandos...

Considerando que as alterações climáticas associadas à crescente devastação causada pelos incêndios, às más práticas agrícolas e ao forte incremento do número de apicultores e colmeias em determinados locais, há que repensar o ordenamento apícola.
 
O ordenamento apícola deveria ser baseado em estudos que visassem conhecer as quantidades e diversidades da vegetação, só assim se conheceriam as capacidades de suporte de cada região e consequentemente a carga apícola mais adequada.

Nalgumas regiões mais propícias à apicultura, a densidade de colmeias é de tal ordem que quase se pode falar em monocultura de abelhas, com todos os riscos económicos e sanitários que daí advêm.
 
Nunca se ouviu falar que uma superpopulação de abelhas tivesse um impacto ambiental negativo, sobretudo para a vegetação (onde nunca são demais) mas decerto que a competição interespecífica resultará em maior stress para os insectos, nas já demonstradas quebras de produção e na oportunidade que com isso se cria para os predadores, parasitas e agentes patogénicos das abelhas.
Em última análise, estes sistemas insustentáveis tendem sempre a tornar-se dependentes do ser humano e obviamente dos produtos químicos laboratoriais que encarecem e artificializam o que sempre foi natural.
 
Ainda a propósito, nunca li nada sobre o assunto, mas as populações de polinizadores selvagens decerto se hão-de ressentir com cargas apícolas exageradas que muito rapidamente esgotem as fontes de pólen e néctar, causando desequilíbrios desnecessários.
 
Soube que em alguns países da Europa do Norte há muitas ajudas para os pequenos apicultores, aqueles que mercê dos baixos efectivos colocam as colmeias em qualquer lado, independentemente da quantidade de floração, levado assim a “magia” da polinização a pequenos nichos que de outra forma seriam privados de polinizadores, pelo menos em tal quantidade. Ora não é isto um modelo excelente de fazer ordenamento apícola?
 
Os apicultores não podem continuar a aguardar pelas florações apícolas com a mesma passividade com que sempre o fizeram. Noutros países da Europa, e do mundo, cada vez mais se intervem na quantidade/qualidade de pastagem para as abelhas, plantando/semeando flora de interesse apícola.
 
Não seria mais interessante se se celebrassem convénios e protocolos entre associações de apicultores e agricultores de modo a haver mais harmonia entre as culturas  e as necessidades dos apicultores? Basicamente a troca dos serviços de polinização pelas produções apícolas daí resultantes.
 
O tema ORDENAMENTO APÍCOLA não fica aqui minimamente esgotado, mas para já...


21 setembro, 2012

Modamacedo 2012

Mais uma vez a MACMEL se juntou à iniciativa MODAMACEDO 2012, participando com vários modelos vestidos a rigor com os mais variados equipamentos e utensílios apícolas.

Decerto que os macacões com máscaras de tule ou as luvas de cabedal com manguito não brilharão nas passerelles de Paris ou Milão, tal como não hão-de marcar as tendências da moda para a próxima estação, mas é sem dúvida uma das formas mais originais de promover o “estranho” mundo da apicultura junto de quem está menos habituado.
Desde há muito que este sector é uma das maiores curiosidades para os leigos, uma história de rainhas, princesas e demais doçuras, mas que o veneno injectado pelos aguilhões das abelhas continuam a manter a uma distância segura.

Para encurtar essa distância, a MACMEL tem participado e protagonizado inúmeras iniciativas elucidando os interessados sobre a magia da transformação do néctar das flores em mel!!!