31 março, 2011

Monte do Mel, vende-se...

Revista Casas de Portugal, Abril/Maio 2011...

29 março, 2011

22 março, 2011

Selos Portugueses de Apicultura

Qual a relação entre o mel e os selos?

Além de ambos se poderem lamber, podemos talvez arranjar-lhe uma ligação muito mais proveitosa e de destaque: a Proposta aos CTT para uma emissão de Selos sobre o tema APICULTURA em PORTUGAL!

A ideia foi do amigo Hélder Lucas, que me enviou o seguinte mail:

“Além de gostar da apicultura também gosto bastante de filatelia. Junto todos os selos que posso , já há alguns anos tenho juntado selos de abelhas e apicultura de todo lado, e com a internet ficou mais fácil descobri-los.
Todos os anos durante o mês de Março, os CTT pedem propostas para futuras emissões, e eu costumo mandar a proposta da apicultura. Sempre recebo a resposta que “este ano não é possível…”. Em 2011 já a enviei, mas lembrei-me que o senhor poderia também enviar uma proposta. Também poderia, se assim o entender, fazer o repto a outros apicultores para ver se seria o ano de 2012 o ano em que finalmente teríamos a apicultura e as abelhas representadas nos selos dos correios.”


Parece ser esta a oportunidade ideal, a apicultura está na moda, toda a gente fala em desequilíbrios ambientais provocados pela escassez preocupante de polinizadores. Toda a gente é sensível ao problema do colapso de milhões de colónias de abelhas em todo o mundo e têm consciência do perigo que tal representa.

Senão veja-se: Einstein terá dito: “Se as abelhas desaparecerem, ao homem restarão apenas quatro anos de vida

Se colocarmos as palavras “Einstein e as Abelhas” no Google, surgem-nos 59.200 resultados em 0,17 segundos… Se substituirmos abelhas por “bees”, o número sobe para 9.530.000!!!

Haverá melhor oportunidade que esta?

Poderemos ver assim “imortalizada” a paixão e a actividade que nos une nos selos dos CTT, que decerto hão-de desafiar os séculos nos álbuns e exposições de milhares de coleccionadores.

Ficamos à espera dos vossos comentários, ideias e propostas para este assunto, no montedomel, na página http://www.facebook.com/home.php?sk=group_197436886956259 do facebook e em http://apicultura.forumeiros.com/t1426-selos-portugueses-de-apicultura#10915 no forumeiros.

Deixo já a minha proposta para o tema da emissão: Colmeias de Portugal, que representariam:

- Cortiços simples (em cortiça)
- Cortiços com corpela (com a protecção de palha)
- Cortiços quadrangulares (de madeira)
- Cortiços de Barro (típicos dos Açores)
- A colmeia Lusitana
- A colmeia Prática
- A colmeia Reversível
- A colmeia Mira ou Alemtejana
- outros que agora não me ocorrem…


Quantos mais aderirem à iniciativa, mais probabilidades ela terá de ser realizada!!!

19 março, 2011

16 março, 2011

O “Último Cerieiro” de Felgueiras – Torre de Moncorvo

Já lá vão uns anos desde que pela primeira vez ouvi falar em lagares de cera no Norte do país.

Há cerca de um mês, aproveitando a minha deslocação a Macedo de Cavaleiros para a APIOCASIÃO, fui convidado pelo meu amigo Paulo Ventura, técnico da Associação de Apicultores do Nordeste (Mirandela) para visitarmos um desses lagares, em FelgueirasTorre de Moncorvo, no distrito de Bragança.

Chegamos à pequena aldeia eram quase 19:00 horas, o Sol já se escondia por detrás das imensas colinas que bordejam a margem direita do rio Douro. Gostei do local, do isolamento, das casas de xisto que davam ao mesmo tempo um ar nostálgico e acolhedor.

À nossa espera estavam dois idosos, o Sr. Bernardo Fevereiro e o Sr. Acácio Mendes, “Ti Acácio”, como é conhecido na freguesia. Este último, artesão de velas e um dos últimos utentes do antiquíssimo Lagar de Cera, que terá mais de 300 ou 400 anos, conforme me disseram mais tarde.

O sorriso terno e sincero do Ti Acácio despontava num rosto bem corado, cabelo e bigode brancos marca indelével de 78 anos de trabalho duro, mas sobretudo bem vividos. Ou não o atestasse a frase mais marcante e esclarecedora que lhe ouvi em toda a visita:

Eu estou bem, os meus filhos estão bem, os meus amigos estão bem, sou feliz!”

Adivinhava-se uma visita muito agradável na companhia deste “vivaço” e realizado contador de histórias, que era o Ti Acácio. Cedo percebi que tão ou mais interessante que o lagar centenário era a experiência de vida deste idoso.
De entre elas anotei que viajava muito entre Felgueiras, Macedo de Cavaleiros e Bragança, montado no lombo de um possante “macho”, animal cada vez menos comum, híbrido do cavalo com o burro. Transportava velas de cera e mel que vendia no destino, trazendo de volta favos e mel que comprava aos apicultores.

Uma vez ia sendo preso em Bragança”, mau estar causado entre a população local, por causa da enorme quantidade de mel que aí comprou, “quase que ficaram sem mel para as suas necessidades, mas tudo se resolveu a bem”.

Doutra vez foi a urgência em vender grande quantidade de mel, estava a pouco tempo de ingressar no serviço militar, período que lhe traz muitas recordações. “Consegui vender tudo, o que não vendi troquei por azeite, nem toda a gente tinha dinheiro…”

Visitava os apiários, onde negociava com os apicultores. Comprava-lhes os favos ainda no cortiço, sendo depois crestados ou então, maus hábitos desse tempo: matavam as abelhas para poderem retirar a totalidade da cera e do mel.
Acendiam uma serapilheira com enxofre (morraco), cujo fumo extremamente tóxico para os insectos exterminava toda a colónia. Depois colocavam os favos (mel e cera) em contentores próprios, de metal, que transportavam às costas dos machos.

Começava por pesar os cortiços do apiário, onde ia deixando uma pedrinha em cima dos que mais me agradavam, uns 30 ou 40, os que estavam melhores. Depois dizia ao apicultor que ficava com uns 100. Eles achavam sempre demais. Escolhia então os que tinha marcado com a pedra, era esses que comprava…”

Por volta da década de 1950, cada cortiço custava-lhe à volta de 60$00, (0,30€) e davam cerca de 15 Kg de mel e 1,5 Kg de cera já apurada.
Trabalhava-se muito, mas o dinheiro via-se”…

Chegamos finalmente ao antigo Lagar de Cera, lagar comunitário, uma casa em xisto, discreta, localizado numa pequena praceta com uma fonte.
Dado o adiantado da hora e a inexistência de luz eléctrica na velha casa, entramos às “apalpadelas” com a luz dos telemóveis e dos flashes das máquinas fotográficas. Era uma única divisão que não tinha mais de cinco ou seis metros de fundo por quatro ou cinco de largo.

As paredes de pedra enegrecidas pelo fumo não só reflectiam o trabalho de gerações de cerieiros, como me traziam memórias da infância. Tinha de facto uma atmosfera surreal, nostálgica e até misteriosa.
Logo à direita da entrada encontrava-se a caldeira, em granito e metal. Era nela que em tempos se aquecia a água para verter sobre a cera durante a prensagem, para acelerar o processo. Sob a caldeira ainda esperavam molhes de carqueja para acender o fogo, mas o lagar já está inactivo há alguns anos.

Logo a seguir uma construção em pedra, espécie de pia, onde se colocavam as bolas de cera dentro de um cesto. Era aí que tinha lugar a prensagem.
Sobre o cesto e a cera era colocado enorme bloco de madeira, um êmbolo, sobre o qual assentava a gigantesca prensa de madeira accionada por uma manivela e parafuso.

A prensa, que dominava toda a maquinaria, decerto fora em tempos majestoso tronco de árvore. Agora, com uma extremidade assente na parede (fulcro), equilibrada entre dois mastros, vinha quase até à parede oposta. Era nesta outra extremidade do tronco que enorme parafuso de madeira, accionado por uma alavanca de ferro (tipo molinete), e assente sobre enorme bloco de granito, subia ou descia a prensa.

O cerieiro subia o tronco ou prensa, que aliviava o bloco de madeira sobre o cesto e era aí colocada boa porção de bolas de cera. Girava a alavanca em sentido contrário, para a prensa descer sobre o êmbolo de madeira que forçava a cera fundida (com a água a ferver) a passar pela malha do cesto e a cair num tanque sob a “pia”.
Daqui era retirada para pequenos tanques onde solidificava em blocos, o excesso de água quente escorria por uma caleira central para fora do lagar. A cera era então recuperada dos tanques de arrefecimento, já sólida, e utilizada no fabrico de velas.

Era admirável o aspecto tosco, gigantesco e até grosseiro (mas muito funcional) desta maquinaria com séculos de existência.

Legenda

1 Fornalha.
2 Caldeira onde fervia a água.
3 Construção em pedra onde a cera era fundida e “prensada”.
4 Pia onde se colocava o cesto de palha (filtro) com as bolas de cera.
5 Bloco de madeira (êmbolo) que se colocava sobre a cera no cesto.
6 Janela (fulcro) onde assentava a extremidade fixa do tronco (da prensa).
7 Postes de madeira para equilibrar o tronco.
8 Prensa, enorme tronco de madeira.
9 Tanques de recolha e solidificação da cera apurada.
10 Parafuso de madeira que sobe e desce a prensa.
11 Alavanca de ferro que acciona o parafuso.
12 Bloco de granito onde assenta o parafuso.
13 Tanque sob a pia, onde cai a cera já fundida e filtrada.
14 Caleira por onde escorre o excesso de água quente.

Ao fundo e sobre um monte de carqueja seca repousavam algumas talhas, e depósitos como os descritos atrás para transportarem os favos às costas do macho.

Pormenor da chaminé sobre a caldeira, parte do telhado sobreelevada para a saida do fumo:

Ainda visitamos uma pequena oficina, noutra rua, onde actualmente o Ti Acácio faz velas de cera de abelha. Mais parafina do que cera, senão ficava muito caro.
Trata-se também de um processo curioso e digno de registo:

A maquinaria parece simples, um mastro de ferro vertical e que serve de eixo a uma roda com perto de um metro de diâmetro, na horizontal. A roda tem em todo o perímetro exterior pequenos pregos espetados, espaçados poucos centímetros, onde são pendurados os fios (pavios) das velas.

Sob um dos lados da roda encontra-se grande recipiente de metal, com carvão incandescente por baixo, onde se encontra a cera fundida. É desse recipiente, e sobre ele, que o Ti Acácio, munido de um “caneco” vai retirando e vertendo lentamente a cera nos pavios.

Vai girando a roda, de modo a que todos os pavios passem sobre o recipiente e a cada um vai adicionando novas camadas de cera fundida, até as velas terem o diâmetro pretendido.

Cada “rodada” comporta 57 pavios, 57 velas que demoram cerca de uma hora até estarem prontas. Estas ainda são cortadas a meio comprimento para duplicar a produção.
Tem outro mastro com a roda inserida mais acima para a confecção de círios.

Ainda nos detivemos frente ao velho lagar, onde a conversa fácil e agradável do Ti Acácio nos transportava para muitas décadas atrás. Falou-nos no tempo da juventude, onde ainda foi contrabandista “mas nunca fui preso…,”.

Deambulava por sítios e paragens perigosas entre Portugal e Espanha. Chegava a dormir ao relento em lugares ermos e pouco visitados. À minha pergunta/afirmação sobre os sustos que decerto apanhara, respondeu-me muito sorridente e com vivo brilho nos olhos, “Quantos!?” e já a rir-se, “…e quantos fiz eu apanhar!?”

Era muito tarde e estávamos longe, mas o Ti Acácio ainda arranjou argumentos para nos convidar para um tinto em sua casa. Uma divisão simpática, onde as pipas dividiam o espaço com as alfaias agrícolas. Era ali que ele e os amigos passavam as tardes, pudera…

Numa dependência ao lado estava o velho “matcho”, preso à manjedoura, gozava agora o merecido descanso de tantas e tantas aventuras a transportar mel e cera.

Nesta visita participaram: Joaquim Pifano, Luísa Garcia, Paulo Ventura, Rosa e Carlos Pimenta, Bernardo Fevereiro e o Ti Acácio Mendes.