29 junho, 2010

DOP "Mel dos Açores" Ameaçada

PRECEFIAS ameaça Denominação de Origem Protegida – “Mel dos Açores”

António Marques - Licenciado em Engenharia Agrícola pela Universidade dos Açores

Relativamente à ameaça das espécies consideradas invasoras sobre a flora endémica açoriana, fiquei chocado com uma afirmação do senhor secretário do ambiente relativamente a uma espécie exótica, originária do sudoeste da Austrália que foi introduzida no século passado para abrigo dos pomares de laranjeiras, conhecida por Incenso (Pittosporum undulatum Vent.). O Prof. Álamo – pessoa pela qual nutro o mais elevado respeito e consideração – provavelmente não se terá lembrado do parente pobre da agricultura – a Apicultura.
Na edição deste jornal de 21 de Março de 2009, é referido como sendo palavras do Secretário do Ambiente, que o Incenso já foi utilizado em tempos como combustível mas “hoje não tem utilidade nenhuma”.Como responsável técnico pelo sector apícola da Fruter, sinto-me na obrigação de humildemente comentar esta frase e tentar pelo menos dar a conhecer ao Secretário do Ambiente e aos criadores do PRECEFIAS (Plano Regional de Erradicação e Controlo de Espécies de Flora Invasora em Áreas Sensíveis) que o Incenso de facto tem afinal alguma utilidade. Como sabemos, a entrada em vigor do plano implicará um investimento de centenas de milhares de euros que terá como objectivo a manutenção do património genético endémico dos Açores e também, segundo elementos do governo, trará benefícios económicos à região nomeadamente no que concerne ao turismo ecológico.Sabe-se também, que as plantas exóticas, caso não sejam controladas e se tornem invasoras, reduzem a biodiversidade e afectam o equilíbrio ecológico. O que é necessário fazer é prevenir e evitar ou impedir a sua introdução, que até está regulamentada. O Incenso, que segundo o Centro Interdisciplinar da Universidade de Coimbra tem como estatuto legal em Portugal de planta invasora, apresenta uma enorme capacidade de atrair polinizadores, nomeadamente a espécie Apis melífera L. (abelha doméstica) calculando-se que seja responsável por cerca de 80% de toda a polinização entomófila (polinização efectuada por insectos). É óbvio, que o Pittosporum é uma espécie que deverá ser controlada de modo a permitir o desenvolvimento de outra vegetação, não comprometendo a biodiversidade, mas de forma alguma ser erradicada.Uma vez que o Incenso possui uma enorme capacidade para atrair polinizadores, as abelhas são seguramente os visitantes mais assíduos das suas flores que produzem um néctar maravilhoso que dá origem ao internacionalmente conhecido “Mel de Incenso”. É muito importante que se saiba que existe uma Denominação de Origem Protegida – “Mel dos Açores”, cuja origem floral é o Incenso e o Multiflora. Caso o Incenso seja erradicado, perder-se-á um produto açoriano certificado e enquadrado no universo dos produtos agro-alimentares açorianos de excelência. Segundo a empresa “Go To Market” (Food Bsiness Consulting), especialista em mercados alimentares, a D. O. P – “Mel dos Açores”, é hoje um “activo” alimentar de indiscutível interesse e potencial de inovação e valorização do mercado.O Incenso é uma planta cuja floração ocorre entre Janeiro e Março, altura em que a abundância de néctar é reduzida. É uma altura do ano em que as abelhas passam por um período crítico onde as fontes de néctar e pólen são escassas. Na necessidade de se alimentarem, aproveitam o Incenso e “fabricam” um dos méis mais apetecíveis de todo o mundo, sendo este quase um ex-líbris dos Açores, O MEL DE INCENSO.Seria muito importante que os nossos governantes dessem mais uma oportunidade à apicultura e condições para que os nossos apicultores não abandonem esta arte de criar abelhas. Não gostaria de terminar sem primeiro deixar mais um alerta: “Se as abelhas desaparecerem da face da Terra, ao homem apenas restam quatro anos de vida. Não há abelhas, não há polinização, não há plantas, não há animais, não há homem." Esta célebre e apocalíptica frase é atribuída ao grande cientista Albert Einstein. Também o grande Engenheiro e apicultor Vasco Correia Paixão disse que um sábio norte-americano declarou que a riqueza em mel e cera, produzida pelas abelhas nos E.U.A, nada é em comparação com os serviços que elas prestam na fecundação das plantas, indispensável à formação dos frutos. As abelhas são, na realidade, responsáveis pela polinização de milhares de espécies de flores, garantindo o sucesso de um sem-número de colheitas agrícolas essenciais para a alimentação humana.
(In Diário Insular)

27 junho, 2010

Criação de Rainhas na Ilha Terceira - AÇORES



Dois excelentes vídeos sobre a marcação de rainhas, na Ilha Terceira - AÇORES, enviados e protagonizados pelo amigo João Pires.
Os parabéns ao André Pires pela realização!!!

23 junho, 2010

Mel dos AÇORES

Durante o tempo que permaneci na Feira Agrícola Açores 2010 – Angra do Heroísmo – Ilha Terceira, não pude ficar indiferente à forma carinhosa como vi ser tratado o mel, a apicultura e os apicultores da região.

A exposição de méis na entrada do pavilhão principal, tal como os vários stands colectivos e individuais dedicados ao sector apícola, e ainda os diversos eventos relacionados com a prática da apicultura demonstravam claramente a sua importância para a região.

Marcou-me sobretudo a atenção que lhe era dedicada tanto pelos organismos oficiais como pelas associações de apicultores envolvidas na organização da Feira.
Pela variedade de rótulos adivinhavam-se igualmente a diversidade de sabores, florações, técnicas, apicultores e associações envolvidas.

Agradou-me de sobremaneira e por isso deixo os mais sinceros parabéns à forma harmoniosa como no mesmo stand conviveram os apicultores e respectivas entidades das principais ilhas produtoras de mel, obviamente que sob o lema: “O Sabor das Nossas Ilhas”.

O Mel da Ilha Terceira, onde a FRUTER representa os apicultores:

Uma publicação da FRUTER dedicada às crianças “As Abelhas são Minhas Amigas”, aposta que a associação tem feito em termos de sensibilização das camadas mais jovens para a importância da apicultura.

Outras valências da FRUTER/FRUTERCOOP, nomeadamente a Fruticultura, Horticultura e Floricultura:

O Mel da Ilha de S. Miguel, com a CASERMEL como organização de produtores:

Exposição de equipamentos da CASERMEL, onde uma das colmeias expostas foi oferecida num sorteio entre os diversos apicultores que participaram na palestra e no workshop.

A Ilha do Faial com a Cooperativa Agrícola da Ilha do Faial:

A Ilha do Pico com a Cooperativa Flor do Incenso:

A Ilha de Santa Maria com a AGROMARIENSECOOP:

Alguns dos Organizadores, participantes e convidados para os eventos apícolas, o factor humano sempre presente…

Face ao exposto fica a vontade de visitar cada recanto, cada apiário, cada colmeia, cada apicultor e “abelheiro”, as vivências e “estórias” individuais, aquelas que tanto enriquecem este nosso maravilhoso sector.
Por falar em recantos, deixo-vos alguns, escolham a melhor localização para o apiário e deleitem-se com a sensação de “retirar a cabeça de dentro da colmeia” depois de procurar a rainha, observar os quadros, a criação, as reservas de néctar e pólen, o alívio de “endireitar as costas” e depararmo-nos com qualquer uma destas paisagens pela frente:

Mais perigosas que as nossas abelhas, não dão mel, mas nem por isso desmerecem uma espreitadela:

21 junho, 2010

CONCURSO DE MEL: Feira Agrícola Açores 2010

Angra do Heroísmo, no passado dia 03 de Junho, no âmbito da Feira Agrícola Açores 2010 realizou-se um concurso de mel cuja comissão organizadora era composta por elementos da FRUTER - Associação de Produtores de Frutas, de Produtos Hortícolas e Florícolas da Ilha Terceira, da Direcção Regional dos Assuntos Comunitários da Agricultura e dos Serviços de Desenvolvimento Agrário da Ilha Terceira.

O júri foi composto pelo Eng.º José Gardete, Maria Luísa Garcia e por mim, que provamos trinta amostras de mel divididas em treze méis claros e dezassete escuros, avaliados nos parâmetros Cor, Aroma e Sabor.

As diferenças na cor, com óbvia correspondência nos aromas e sabores, deviam-se às diferentes florações sazonais equiparáveis na maioria das ilhas, sendo esta diferença acentuada com a data da cresta. O Incenso, Pittosporum undulatum Vent. Floresce durante os meses de Janeiro, Fevereiro e Março, sendo a floração principal do arquipélago. Findo este período, com a cresta, obtém-se um mel muito aromático, suave e de característica cor clara entre o amarelo suave e o acentuado.

O “atraso” na cresta destes méis torna-os cada vez mais escuros, devido à entrada de néctares provenientes de outras florações também elas muito importantes quer na abundância respectiva, quer na qualidade que conferem ao mel dos Açores. Trata-se sobretudo de uma arbórea oriunda da Nova Zelândia o Metrosideros excelsa, com um bonito efeito estético nos jardins, e os característicos trevos dos prados e pastagens das ilhas, entre muitas outras fontes de néctar.

Estes méis apresentam uma cor que evolui desde o amarelo suave, passando por uma vasta gama de âmbares até quase ao negro, quanto mais tardia for a cresta e a consequente multiplicidade de néctares concorrentes. Estas alterações na cor e na composição são também acompanhadas por variantes subtis no sabor que conferem a cada tipo de mel características únicas e muito agradáveis.

Foi opinião unânime do júri a dificuldade em distinguir e classificar as melhores amostras, dada a excelente qualidade e características próprias de cada um, o que se reflectiu em pontuações muito próximas (com variação de décimas) nos méis melhor classificados:

Méis Claros:
1º lugar (136,5 pontos) Paulo Jorge Meneses Rico – Ilha Terceira
2º lugar (136,2 pontos) Maria de Fátima P. da Costa – Ilha do Pico
3º lugar (128,5 pontos) Manuel Fernando Jorge Furtado – Ilha do Pico

Méis Escuros:
1º lugar (125,5 pontos) Manuel Jorge Moules Ferreira – Ilha Terceira
2º lugar (125,4 pontos) Luís Carlos Silveira de Melo – Ilha Terceira
3º lugar (120,0 pontos) César Fernando da Silva – Ilha do Faial

De assinalar o facto de que a grande maioria, senão a totalidade, das amostras levadas a concurso não sofreram qualquer penalização devido a impurezas, cheiros impróprios ou qualquer outra característica menos favorável, atestando o profissionalismo e a maturidade técnica dos apicultores envolvidos.

A ausência de Varroose na maioria da ilhas e a consequente não utilização de acaricidas, também contribuirá decerto para as excelentes características organolépticas do mel açoreano…

Os agradecimentos ao Eng.º António Marques (FRUTER) e Eng.º Paulo Miranda (DRACA) pelo profissionalismo, disponibilidade e apoio constante durante a prova de méis.