30 abril, 2009

Muros Apiários em Sousel

Muro Apiário Monte do João Pardo

Por vezes estamos tão perto que não conseguimos ver nada...
Foi a frase que me ocorreu quando numa noite da semana passada recebi um mail do Sr. Daniel Casado, Açoriano de S. Miguel e quase há um ano radicado em Sousel, onde desempenha as funções de Técnico de Turismo. Tem por hábito calcorrear o concelho que o acolheu em busca de novas atracções para mostrar aos visitantes. Em suma, passa os tempos livres a fazer o que melhor sabe: trabalhar com afinco e excelência, assim afirma quem o conhece.
Foi num desses passeios pela Serra de S. Miguel que o Daniel Casado encontrou dois muros apiários, assunto sobre o qual já tínhamos conversado outras vezes, por causa de alguns posts do montedomel.
Quando recebi as primeiras fotos fiquei deveras surpreso, pois eu próprio já tinha palmilhado a Serra noutros tempos e nunca vira nenhum. Curiosamente andei bem perto, mas os amores desses tempos eram mesmo as ervas aromáticas e flora autóctone em geral.
Mais tarde, e seguindo os concelhos do amigo Leonel Belchior, fui caçar enxames na Serra de S. Miguel, onde a floração é sempre mais atrasada e por isso as novas colónias se dirigem para lá. Desde esse tempo que tirei duas conclusões acerca do local: uma grande abundância de flora melífera associada a uma lamentável falta de água à superfície, o que a torna simultâneamente boa e má para a apicultura. Foi mesmo a falta de água que nunca me levou a ter abelhas nessas paragens.

Mas voltando aos “nossos” muros, no Domingo passado lá fui com o Daniel ver as ditas construções, das quais tiramos as seguintes fotos:

Muro Apiário Monte do João Pardo: Pormenor da data – 1945
As paredes são baixas, entre 1,20 e 1,50m, no segundo muro são ligeiramente mais altas.
Fica a nota de que na maioria dos muros que visitei não tinham a data assinalada.

Muro Apiário Monte do João Pardo: Pormenores do bebedouro
Outra estrutura que não estava habituado a ver neste tipo de construções: um bebedouro construído para o efeito com os mesmos materiais de construção.

Reparem nesta segunda imagem, no pormenor das paredes interiores do bebedouro, como são inclinadas de modo a que as abelhas possam pousar sem cair na água.

Muro Apiário do Monte do Gião de Fora
Muito semelhante ao anterior, não dista mais que dois ou três quilómetros, usaram os mesmos materiais e técnicas de construção, sendo no entanto de maiores dimensões que o primeiro.

Muro Apiário do Monte do Gião de Fora: Pormenor dos degraus e bebedouro.
As dimensões, a arquitectura e o pormenor dos degraus lembram quase o piso de um templo romano. Se a mão de obra não fosse tão barata à data da construção teriam de vender o mel bem caro.
Tal obra suportaria decerto duas centenas de cortiços, tais são as suas dimensões.
À semelhança do primeiro muro também tinha um bebedouro, mas mais comprido, proporcional às dimensões desta segunda silha.
Foi quando vi os bebedouros que me ocorreu a observação que fiz anos antes, ao classificar a Serra de S. Miguel como pouco aconselhada às abelhas por causa da falta de água. Característica que já devia ter há muitos anos.
Ambos os muros estão a ser usados por apicultores, um melhor tratado que outro. Ainda bem que os actuais abelheiros continuam a dar uso ao património apícola de Sousel.
Segundo Daniel Casado é possível que hajam outras construções semelhantes na Serra de S. Miguel, mas ficam para outro dia, outro passeio. Entretanto podem ver também as fotos de um Forno de Cal, construção muito característica desta localidade em tempos idos. A natureza do subsolo, muito rico em calcário, tornava rentável a exploração da cal, que depois de cozida era vendida nas redondezas para pintar as casas com a característica cor do Alentejo.

28 abril, 2009

A sanidade apícola ou a insanidade humana?...

Os apicultores mais velhos contam que até à década de 1980 era muito raro morrer uma colónia de abelhas. Ao que parece, a moléstia mais mortífera era mesmo a traça, ou “tinha” como lhe chamavam. As visitas aos apiários serviam para capturar enxames, crestar e estinhar, pouco mais. Contaram-me também que até essa data ainda se registaram alguns casos de Loque Americana, mas que eram facilmente controlados. O piolho da abelha pouco mais era que uma anedota, e nem me estou a referir ao nome cientifico (Braula coeca) nem ao seu aspecto..., tratava-se com fumo de tabaco.
A meio da década de 1980 surgiu o verdadeiro carrasco das abelhas, o ácaro Varroa jacobsoni , rebaptizado mais tarde como Varroa destructor, tal não foi a razia que provocou, e provoca. Daí para cá, doenças como a Ascosferiose (forma de micose), a Nosemose, a Acariose, as Viroses, a Senotaniose, a Loque Europeia, a Loque Americana (com fôlego redobrado) entre outras, também causaram estragos dignos de registo.
Já no novo milénio somos brindados com a Aetina Thumida e o Tropilaelaps, tão “amistosas” que nem o nome lhe conseguimos pronunciar. Finalmente, last but not least, o Síndroma do Despovoamento de Colmeias, anomalia tipo crime perfeito, nem o culpado conseguimos identificar...
Digam-me lá que não sou o único a reparar nisto: mas não há aqui qualquer coisa de estranho? Não acham anormal que em décadas (séculos) poucos eram os inimigos das abelhas e em pouco mais de uma dúzia de anos parece que todos os seres vivos conspiram contra elas?

***

É do conhecimento geral que há milhares de anos, antes do Homem praticar a agricultura ou a criação de gado, sobrevivia da actividade recolectora. Limitava-se a recolher tudo o que a terra lhe oferecia, consoante os locais e estações do ano: caça, pesca, frutos, vegetais e inclusivamente o próprio mel.
Nesse tempo uma refeição durava quase todo o dia, nos dias em que havia refeição, os géneros alimentícios não estavam propriamente na horta, menos ainda no mercado. A raridade ou escassez de alimentos como alguns vegetais, frutos, carne e peixe, tornavam esta actividade muito morosa.
Como se pode ver na imagem anterior as árvores de fruto eram raras, os frutos em pequena quantidade eram também muito pequenos. Os cereais como o trigo e o milho, misturados com a restante vegetação pouco mais eram que “protótipos” muito imperfeitos dos que conhecemos actualmente, as espigas eram pequenas e continham poucos grãos.
Foi com a actividade agrícola e pecuária que o Homem foi seleccionando os exemplares com melhores características para a alimentação humana, reproduzindo-os segundo o seu interesse e direccionando dessa forma a evolução.
Ainda relativo à primeira imagem, podemos perceber que qualquer praga ou doença que afectasse o trigo por exemplo, não teria grandes hipóteses de sucesso. As espigas diminutas, com grãos pobres em amido e em pequena quantidade, tal como a própria planta muito dispersa pela vegetação, tornavam a disseminação de pragas muito difícil. Havia como que um “escudo de contenção” natural que impedia doenças e moléstias de atingirem grandes proporções.

Actualmente o abandono da pequena agricultura familiar pelas populações rurais, e a consequente concentração nos grandes centros urbanos, são dois fenómenos complementares e que actuam sinergisticamente de forma a justificarem as mega-explorações agrícolas aliadas das grandes cadeias de distribuição.
Nessa forma de agricultura, intensiva, são comuns os campos de cultivo com centenas e milhares de hectares contínuos de cereais, pomares ou hortícolas. As criações de gado alcançam igualmente números e dimensões que vão para lá da nossa imaginação.
Para o “olho humano”, um campo de trigo mesmo que de grandes dimensões não passa de um campo de trigo, mas para uma praga ou doença que o afecte pode representar uma grande oportunidade. Se conseguíssemos ver um campo de cereais pelos “olhos” de um fungo, de um insecto ou de uma bactéria que dele se alimentasse, apenas veríamos como que uma “manta” de amido (açúcares) de centenas de hectares, com dez a vinte centímetros de espessura e elevada a pouco mais de meio metro do solo:

O milho ainda tem uma característica mais curiosa: como produz uma espiga na extremidade e outra (pelo menos) um pouco mais abaixo, representaria para as pragas duas “mantas de amido” sobrepostas. Tal como na história infantil, uma verdadeira casa de chocolate e doces à mercê de duas crianças...

Exemplos semelhantes podiam ser dados para culturas de dimensões arbustivas como a vinha, ou arbóreas como os pomares:

Nestas circunstâncias, qualquer praga ou doença pode propagar-se de uma forma exponencial e causar enormes estragos. A inexistência de qualquer barreira ou impedimento poderia levar à destruição de tais campos de cultivo em poucos dias, não fossem os produtos químicos.

Mas de facto. Um ou mais focos de doença que surjam nestas circunstâncias irradiam a partir do centro e propagam-se como as ondas geradas por uma pedra ao cair na água. Mas como já disse, os laboratórios têm “cura” para tudo, principalmente para a situação financeira deles...

Vejam o caso da agricultura tradicional, aquela praticada pelos nossos pais, avós, bisavós e por aí a fora, hoje pomposamente chamada de Agricultura Biológica. A principal característica era a consociação de várias cultivares, um autêntico xadrez de canteiros e talhões de batatas, cenouras, espinafres, nabiças, etc. Nada de monoculturas:

Vamos lá colocar de novo os nossos “óculos-de-ver-como-as-pragas”, para uma observação mais “predadora” dessa modalidade agrícola:

Não é lá uma visão muito apetitosa, encontra-se demasiado interrompida. Uma praga especializada no trigo poderá destruir um talhão, mas encontra uma série de barreiras para atacar o seguinte. A maior parte das vezes nem o consegue fazer. A praga do trigo não tem necessariamente de atacar também o milho, as videiras ou outra espécie qualquer. Estas moléstias habitualmente são especializadas.

O esquema anterior é muito “esquemático”, monótono e repetitivo. Na realidade, a manta de retalhos agrícola era muito mais variada, e por isso com mais armadilhas para os agentes infecciosos e predadores:

E com a apicultura?
Não andaremos próximo de um problema semelhante?
Não serão os grandes aumentos de efectivos verificados nas últimas duas décadas os culpados do crescente número de pragas e doenças?
Não estaremos com isso a provocar um desequilíbrio ao aumentar e concentrar o número de presas/hospedeiros?

A capacidade de suporte de um determinado meio, factor que nos informa da quantidade/densidade de determinados seres vivos por unidade de área é igualmente um indicador do estado de equilíbrio desse mesmo meio.
A capacidade de suporte do meio está dependente de factores como:
 A disponibilidade de alimento/água.
 A disponibilidade de ninhos (locais de procriação).
 A frequência de predadores/parasitas/doenças.
 Etc...

Para os apicultores é fácil, o primeiro ponto é o mais respeitado, só instalamos um apiário se abundarem os recursos (néctar, pólen e água), caso contrário comprometeríamos a produção e até a sobrevivência das abelhas.
O segundo ponto é mais manipulável, se houver liquidez ou jeito, adquirem-se/constroem-se as colmeias que forem necessárias.
O terceiro ponto é a principal incógnita, e sobretudo muito variável. Não será a capacidade de suporte do meio muito mais sensível ao aspecto dos predadores/parasitas/doenças que aos restantes? Não será este factor muito mais condicionante da densidade de colónias a implantar?
Um local que nos parece suficientemente produtivo com 20 colmeias poderá não as suportar do ponto de vista sanitário.
Boas perguntas (modéstia à parte), o pior é o resto...

Vamos lá de novo aos bonequinhos:
Imaginem uma paisagem bucólica de há 10.000 ou 20.000 anos atrás:

De facto, as abelhas e respectivos ninhos são muito mais discretos que os campos de milho e trigo, mesmo dos “milhos” e “trigos” ancestrais.
Mais uma vez vamos recorrer à visão das pragas e doenças das abelhas para encontrar o mel, abelhas e respectivas larvas:

Se calhar exagerei. Três enxames selvagens numa área tão exígua foi mesmo fruto da minha imaginação. Apenas um, seria o mais correcto.
Há 20.000 anos atrás ainda não havia Programa Apícola (já cá faltava...), nem as respectivas Declarações de Existências de Apiários, na volta nem havia mês de Junho...
De uma vez por todas, o “autor” do Programa Apícola, se é que se trata de um autor, já deve viver constrangido com tanta crítica. Mas se existir acredite, a culpa não é sua. A culpa é mesmo nossa...

Voltando ao nosso assunto, o mel, abelhas e larvas disponíveis para as doenças, parasitas e predadores não oferecem um petisco assim tão apetecível. Claro que me refiro à sua abundância (frequência).

Se viajarmos até ao século passado, primeiros dois terços do século XX, a apicultura fixista, os cortiços, os muros apiários, encontramos uma densidade de abelhas mais acentuada que a da imagem anterior.

Agora com a dita visão especial:

Não me parece grande coisa. Ainda não é com estas densidades que compensa às pragas e doenças reproduzirem-se até à exaustão, com o risco de passarem fome...
Trata-se obviamente do período em que apenas a “tinha” afectava os cortiços dos nosso avós.

Agora o período pós Varroa, o último 1/5 do século XX.
Nesta fase, motivados pela forte procura do mel, pelas ajudas do Programa Apícola (e outros apoios) e pelo crescente número de associações de produtores organizadas, os apicultores aumentaram muito os efectivos, aumentaram o número de apicultores e substituíram a maioria dos cortiços por colmeias móveis.
Em Espanha, ajudas regionais (não comunitárias) para incentivar o aumento de efectivos, fizeram com que houvessem muitos apicultores detentores de mais de 5.000 colónias. Com as consequentes invasões e consequências nas regiões fronteiriças do território português de há uns anos até esta data.

De facto a diferença já parece ser significativa.
Ainda assim, as abelhas e as suas casas parecem ser sempre suficientemente discretas para as respectivas pragas, doenças e predadores. Não devemos é esquecer que apesar do pequeno tamanho, as abelhas se deslocam muito longe, com muita facilidade e existem em grandes quantidades.

Sou quase tentado a dizer que se classificarmos a colónia como um único organismo, seria equivalente a uma vaca com dez hectares...
Tal imensidão torna as abelhas bem mais visíveis por quem “lhes quer mal” e por isso em alvos muito mais acessíveis.

Será a diferença de populações/produções entre uma colmeia móvel e um cortiço tão significativa?
Ao que parece a resposta é afirmativa. Em termos de legislação de ordenamento apícola, uma colmeia equivale a dois cortiços. Na realidade creio que a diferença ainda é maior.
Segundo as referências, uma boa colmeia em plena época produtiva chega a ter 80.000 e até 100.000 abelhas. Há produções referenciadas (sem transumância) de mais de 100kg/colmeia/cresta. Os cortiços têm números bem mais modestos. Não ultrapassarão muito as 30.000 ou 40.000 abelhas, e as produções pouco vão além dos dois ou três quilos de mel por época. Pelo que pouco impacto terão em termos de densidade de seres vivos:

A última razão deste post, nem tal me passa p'la cabeça, seria apontar o dedo aos grandes apicultores, ou a quem procura aumentar os efectivos. A minha opinião é que estamos ainda muito aquém dos números de colónias necessários a uma polinização eficaz e respectivas benesses ambientais.
Os argumentos que aqui apresento, se é que lhes posso/devo chamar argumentos, pouco mais resultam que de uma reflexão sobre a temática da sanidade e do crescente (quantitativo e qualitativo) de doenças e moléstias das abelhas.

24 abril, 2009

Visita 10.000, o Feliz Contemplado...

E... parece que já temos um vencedor, aliás dois, aliás...
Bem decidam-se lá quem foi o visitante nº 10.000, confirmem com o IP e restantes dados da imagem.
Depois contactem-me pelo 965818250, ou montedomel@gmail.com e... Mel de Rosmaninho premiado !!!
Oxalá que não trabalhe para a ASAE, ou eu também recebo uma lembrança...

23 abril, 2009

MelToon - 35

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22 abril, 2009

Ele há com cada ideia...

Numa das repartições públicas onde entro diariamente trabalha um funcionário, meu amigo, que todos os dias me apresenta uma nova proposta de negócio. A última, ou melhor, a que mais tem insistido tem a ver com a produção de um mel especial que combata o tabagismo.
Começou por me perguntar como reagiriam as abelhas se fossem colocadas na proximidade de uma cultura de tabaco. Se tal como noutras florações as abelhas recolhiam o néctar e produziam um mel rico em... nicotina!?
Não tive resposta para lhe dar, a planta do tabaco, uma Solanácea tal como a batateira e o tomateiro, apresentam alguma toxicidade, nem sei se a nível do néctar ou outro composto qualquer. Duvido até que as abelhas demonstrassem alguma preferência por tais açúcares.

De qualquer forma, e assumindo que o projecto avançava, sempre à revelia da Tabaqueira Nacional ou da Philip Morris, pretendia-se injectar o mel em pequenas cápsulas que depois seriam colocadas no interior dos cigarros. O fumador “viciado”, começava logo a poupar nos fósforos ou no isqueiro, limitava-se a chupar e em vez de fumo saía... mel!
Acredito que os números referentes às doenças respiratórias sofressem um forte revés, o pior seria depois a diabetes...
Eu gosto muito de mel, infelizmente nutro o mesmo sentimento pelo tabaco, agora uma “salada” com os dois não me parece grande ideia, mas se alguém quiser arriscar...


21 abril, 2009

Visita n.º 10.000

O visitante número 10.000 deverá notificar-me desse feito, pois terá direito a uma embalagem de mel premiado com o 1º lugar no Concurso de Mel de Rosmaninho Avis mellifera 2008...

20 abril, 2009

Quando é o Pico do “Rosmaninho” ?

Boa pergunta. As perguntas são sempre boas, as respostas é que nem sempre ajudam muito...

Esta Primavera, à semelhança das últimas, foi “esquisita”. Um mês de Janeiro anormalmente chuvoso, o que dava bons augúrios para a campanha, segue-se um Fevereiro seco e frio, um Março muito quente e ventoso, e um Abril igual ao Março, com chuvadas na semana passada.

No final de Março e no princípio de Abril, datas em que o Rosmaninho já estava a abrir, a falta de água no solo associada aos ventos fortes e constantes, anularam completamente esta floração.
Curiosamente, gabava-me eu há poucos dias que há muitos anos não tinha criação nas alças, creio que a propósito do controlo de enxameação, e desde que uso quase que exclusivamente as colmeias Lusitanas. Esta Primavera já tenho criação em quase duas dezenas de alças...
Os alvéolos “sujos” de mel funcionaram como uma “tentação” para as obreiras que os limparam completamente. Como não havia qualquer entrada de néctar a rainha aproveitou para fazer o que melhor sabe.
O pior é maldita mania das abelhas em colocarem o pólen junto à criação. Situação que me poderá comprometer umas boas dúzias de quadros de alça para a próxima época. Caso esse pólen armazenado (pão de abelha) não venha a ser mobilizado durante o ano, vai criar problemas no armazenamento. As medidas que aconselhei para a conservação das ceras das alças (CONSERVAÇÃO DAS CERAS E ALÇAS – 10/11/2008), visa sobretudo combater a traça, pouco ou nenhuma protecção confere contra os bolores que afectam o pólen. Quando muito pode-se tentar evitar a humidade, mas no Inverno é muito difícil.

O mistério das rainhas, após os desdobramentos...

Este fim de semana, dado o “bom astral apícola” que se adivinhava, fui procurar as rainhas dos 25 desdobramentos que fiz no início de Março.
O período que medeia entre os desdobramentos (separação física dos quadros e abelhas) e a visualização dos primeiros ovos/criação nas novas colónias, atravessa uma série de fases críticas que podem comprometer tal trabalho:

 As abelhas não fizeram alvéolos reais/rainhas.
 O frio/chuva/falta de nutrientes poderá ter comprometido as novas colónias (muito frágeis).
 A nova rainha nasceu mas era biologicamente inviável ou muito fraca, foi obtida de uma larva demasiado velha ou houve falta de nutrientes.
 A nova rainha nasceu saudável e biologicamente viável, mas não fez o voo nupcial (não foi fecundada) por causa do mau tempo.
 A rainha fez o voo nupcial mas foi comida “literalmente” por um Abelharuco ou outra ave.
 A rainha regressou do voo nupcial mas por falta de referências/deriva entrou na colmeia errada e foi morta pela respectiva rainha. Muitas vezes até morrem as duas, duplicando-se o problema...
 ...

Quase sempre fazemos as continhas todas a partir do dia do desdobramento:

Larvas com dois dias (mais velhas não servem), faltam onze dias para nascer a rainha,
Mais uma semana para amadurecer sexualmente e fazer o voo nupcial,
Mais outra semana para iniciar a postura, vá lá... mais duas para não haver falhas...

11 + 7 + 14 = 32 dias

Por vezes já quase que passaram dois meses e nem sinais da rainha, começa o desespero: qualquer coisa correu mal.
Vamos lá com mais calma, de facto pode ter corrido mal alguma das etapas enumeradas lá atrás. Mas regra geral não corre nada mal, e se não encontramos postura foi porque a rainha ainda não a iniciou, e se não encontramos a rainha devemo-nos lembrar que:
- As rainhas virgens, tal como as recem fecundadas são muito pequenas, confundindo-se mais facilmente com as obreiras. Por outro lado, são muito ariscas e nervosas, não param muito tempo no mesmo sítio e deslocam-se a grande velocidade. Contrastam bastante com as rainhas já maduras cuja calma e “nobreza” de comportamento as distingue.

Mas há indícios a observar que nos dão informações muito seguras acerca da presença da rainha e do seu estado de desenvolvimento:

A presença de alvéolos reais abertos e outros destruídos garantem-nos que a colónia “fez” novas rainhas:

A existência de uma zona central nos quadros, onde os alvéolos se encontrem vazios e com um aspecto muito polido e até brilhante, indicam-nos que a postura se irá iniciar muito em breve. As obreiras, antes da postura da rainha, limpam com esmero os respectivos alvéolos e “envernizam-nos” com uma película de própolis, o que lhes confere o aspecto brilhante.
Estes alvéolos, ou melhor a cera, têm quase sempre uma cor escura, uma vez que se tratam dos quadros da colónia original (velha). A área limpa e propolizada para a postura tem quase sempre 10cm x 10cm a 15cm x 15cm, e ocorre em dois, três ou quatro quadros contíguos. Também se vêm alguns alvéolos com pólen (pão de abelha) dispersos no meio da referida área:

Esta imagem é um dos indícios mais seguros de que o desdobramento correu bem, e a rainha não só nasceu como já está fecundada e iniciará a postura muito brevemente.
Os pontos brancos (redondos) nos alvéolos da imagem não são ovos, pretendem apenas simbolizar o brilho provocado pelo facto da cera estar propolizada.

Outras vezes, para nosso desespero, surgem-nos imagens como a seguinte:

Alvéolos com dois e três ovos juntos: o equivalente aos ovos com duas gemas, trata-se de uma “super rainha!!! Claro que estou a brincar!!! Tal imagem nunca é muito bom sinal e normalmente informa-nos de três situações:

 A rainha é demasiado velha.
 A postura deve-se a uma obreira poedeira.
 A rainha (muito nova) iniciou agora a postura.

Como se reporta a uma colónia nova, resultante de desdobramentos, trata-se obviamente da terceira opção, a postura normaliza ao fim de um ou dois dias com o número normal de ovos por alvéolo.

E o Pico do Rosmaninho ???

Pois...
A Primavera não está para grandes previsões, mas... se as condições meteorológicas estabilizarem com temperaturas amenas e sem vento (nem chuva), é muito natural que durante a próxima semana a disponibilidade de néctar de Rosmaninho atinja o máximo.
Este fenómeno normalmente surge após uns dias de calor depois das chuvas, o que normalmente acontece no fim de Abril, circunstâncias que parecem verifica-se apesar de algum vento residual. Se quiserem o meu concelho, comecem já esta semana com visitas mais regulares ao apiário, logo que as alças tenham os quadros bem cobertos de abelhas coloquem-lhe outra alça. Desta forma é garantido que não se perde uma pitada de mel.

Fica mais uma vez a proposta de informarem o MONTEDOMEL da(s) data(s) em que ocorreu o máximo de disponibilidade de néctar (Pico do Rosmaninho) em cada região, o que nos ajudará a todos a tomar melhores decisões na próxima época...

16 abril, 2009

Um Fogão Económico

Um fogão económico para fundir cera


Deve ser um “invento” muito antigo, no entanto só o vi uma vez a funcionar...
Entrei numa pequena oficina, onde o meu pai guardava as ferramentas e fazia a “bricolagem” dele, quando me deparei com um estranho fogão. Não passava de uma lata reciclada de 20 ou 30 litros de capacidade. A lata estava cheia de serradura incandescente, libertando um calor agradável naquela manhã de Inverno.
A lata teria uns 60 cm de alto por 30 ou 35cm de largo. Muito próximo da base tinha outro orifício com cerca de dez centímetros de diâmetro.
Segundo me explicou o meu pai, o fogão funcionava da seguinte maneira:


1º Começava-se por colocar serradura na lata até à altura do buraco lateral, (10 cm).
2º Nesse buraco enfiava-se um pau arredondado até ao centro da lata, apoiado sobre a primeira camada de serradura. O pau tinha uns 25 cm de comprido por 8 ou 9 cm de diâmetro.
3º Sobre a extremidade desse pau, no interior da lata, segurava-se na vertical um segundo pau, mais comprido, com cerca de meio metro.


4º Montada a estrutura, enchia-se o resto da lata com serradura. À medida que se iam adicionando novas camadas, estas eram comprimidas com a ajuda de um maço.
5º Com a lata cheia de serradura apertada, retiravam-se os dois paus com muito cuidado, de modo a que ficassem dois “túneis”: o vertical seria a chaminé e o horizontal o respirador.


Estava montado o “fogão”, restava agora incendiá-lo, o que se conseguia muito facilmente enfiando um papel a arder na base da chaminé.


Já não me recordo de alguns pormenores, mas acho que o referido fogão ficava quase um dia inteiro a arder só com a lata cheia de serradura. Não atingia grandes temperaturas, mas decerto que seria bem útil nestes dias de Primavera “Invernosa”, na oficina onde faço as reparações do meu material apícola.
Por outro lado, alegra-me pensar que não é necessário abater uma árvore para conseguir o combustível, na medida em que trabalha com materiais reciclados.

Uma forma curiosa de aproveitar esta fonte de calor “reciclado”, pode ser na própria “reciclagem” da cera das abelhas.
Basta para isso colocar sobre o fogão uma lata de menor volume, com água, e seguir o método que os apicultores mais antigos por aqui praticavam:

A cera retirada dos quadros velhos, os opérculos e as bolas de cera resultantes da prensagem dos favos de cortiço, eram metidos dentro de um saco de serapilheira. O saco era por sua vez colocado dentro de uma lata com água, sob a qual acendiam uma fogueira (ou o nosso fogão).


Para que o saco de cera se mantivesse no fundo colocavam-lhe pedras por cima. Desta forma, a cera fundida saía e era filtrada pela trama do saco, vindo depois à superfície. As restantes impurezas ficavam retidas dentro da serapilheira e nunca se misturavam com a cera.


Finalmente, o apicultor munido de um pau com uma lata na extremidade, ia retirando a cera à superfície e despejava-a para dentro dos respectivos moldes.
Uma vez fiz esta proeza, mas com um lume de chão. Uma lareira gigantesca, queimei a roupa, cabelos, parecia que estava numa sauna e em pleno Inverno...
Com este método enchem-se uma série de moldes de cera, mas sobrestimamos sempre a produção. No outro dia verificamos que os últimos recipientes pouco mais têm que uma fina película de cera à superfície da água.

14 abril, 2009

MelToon - 34

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12 abril, 2009

Primavera 2009

Todos os dias levamos com vendedores de “banha da cobra” a anunciar-nos o Apocalipse: as alterações climáticas, o aquecimento global, o buraco do ozono, este último fez mais sucesso nas décadas de 1980 e 1990.
Acho que assuntos importantes e polémicos como estes são tão falados, e mal falados, até à exaustão. As pessoas dessensibilizam, as mesmas razões e argumentos são repetidas tantas vezes que se chega a odiar mais o mensageiro que a própria mensagem.

Há um ano e dois anos, respectivamente, assisti na televisão à comunicação de um alegado cientista que nos alertava para os dois Verões mais quentes e rigorosos das últimas décadas, ou séculos: o de 2007 e o de 2008. A comunicação aparentava mais ser proferida por alguém que queria a todo o custo manter o posto de trabalho, do que de alguém convicto da profecia.
Sempre tive pavor dos Verões quentes, mas nesses dois anos não consegui jantar uma única vez no quintal, tal era o frio que se fazia sentir a essa hora...
Os problemas ambientais causados pela pressão humana, o aquecimento global, as alterações climáticas e tantos outros fenómenos meteorológicos anómalos são já uma realidade. O que incomoda é mesmo a forma leviana e gratuita como se têm abordado esses temas.

Tenho reparado que nos últimos anos raras são as Primaveras em que boa parte do mês de Abril não tenha ventos moderados a fortes na minha região. Esta “boa parte do mês de Abril” chega a ultrapassar os 75%...
Como já disse num texto há tempos atrás, os solos desta zona têm algum corpo, aguentam a humidade mesmo em Primaveras pouco chuvosas. A floração principal baseada no Rosmaninho está quase sempre assegurada, quer pelo tipo de solo quer pelo sistema radicular arbustivo da dita vegetação.
Normalmente a diferença entre uma boa e razoável produção de Primavera explicava-se com o regime de chuvas durante os meses de Fevereiro e Março. Ironicamente lembro-me de anos de má produção em que as chuvas contínuas em Abril impediam as abelhas de trabalhar: “a chuva lava o néctar todo às flores”, assim o justificavam os mais velhos.
A chuva lava, ou dilui o néctar, mas o vento dos últimos anos seca-o completamente. Quando passeio no campo, tenho o costume de esmagar umas cabeças de Rosmaninho para avaliar as quantidades de néctar. Nas últimas Primaveras chego a ficar com os dedos roxos, por causa das pétalas, mas o característico néctar pegajoso há muito que não o vejo.
Ainda assim, os 25% que restam de tempo útil, boas condições climatéricas, em Abril, permitem produções na ordem dos 10 a 15 kg/colmeia, 20kg nalguns apiários. O que corresponde respectivamente a uma alça, uma e meia ou duas alças/colmeia.
Lembro com alguma saudade os últimos anos da década de 1990, e os primeiros do novo milénio, em que podíamos contar com a totalidade da Primavera. Produtividades médias a rondar os 30 a 40 kg/colónia, e por vezes 50kg ou mais.

Incomoda muito o sentimento de impotência face a este fenómeno meteorológico: o vento, até a nós nos entontece, quanto mais às abelhas que lhes impede o voo. Na minha terra há uma série de ditados que “desfavorecem” o vento Suão, secam toda a vegetação e ainda carregam uma série de moléstias.
Quando os referidos ventos se associam à falta de chuva, então temos mesmo “o caldo entornado”, a apicultura pára quase por completo, as abelhas pouco mais saem da colmeia que para recolherem água.
A semana passada, para ajudar à festa, chegou a colónia de Abelharucos de que sou patrocinador já há alguns anos. Vêm esfomeados, a avaliar pelos “pios”, fazem voos rasantes às colmeias mas de pouco lhes valem, as abelhas pouco têm saído...
Anteontem até registei um fenómeno curioso, os Abelharucos que sobrevoavam o lago do monte vinham lá das alturas e mergulhavam como as aves marítimas que vimos nos documentários. Ainda pensei que se tratasse de suicídio, mas como voltavam a subir após o mergulho, das duas três: estranha forma de beber água ou então andam a alimentar-se de peixe...
Ora vejam lá nas fotos, pouco nítidas, se não ficam com a mesma sensação:


Outros fenómenos curiosos que directa ou indirectamente tenho registado nos últimos meses:

A semana passada ligou-me um apicultor que após aturada inspecção às colmeias observou o seguinte: Colónias com muita (imensa) criação, dividida apenas em “ovos” e “criação operculada”, faltavam todos os outros estados larvares.
Os ovos então abundavam, ocupavam quase todos os alvéolos vazios nas colmeias. Justificou-mo (e faz muito sentido) que face às condições climatéricas, as abelhas não alimentam as larvas recém eclodidas, que acabam por morrer e ou são removidas. Isso faz com que haja sempre muito espaço para a postura da rainha. As larvas operculadas resultaram de posturas feitas há mais tempo e que sobreviveram.
Nunca assisti a um acontecimento semelhante, ou pelo menos que estivesse alertado para isso, mas não deixa de fazer sentido, ainda por cima, segundo o apicultor, o fenómeno é comum a todas as colmeias e apiários que possui.

A semana passada, à conversa com um dos maiores apicultores de Portalegre, soube que o mesmo perdeu cerca de 250 colónias das 430 que possuía. O apicultor fez sempre um controlo rigoroso à Varroose e garante que a morte/desaparecimento das colónias não faz qualquer sentido, a não ser pelo dito SDC, Síndroma do Despovoamento de Colmeias.
Tal como ele, outros apicultores dessa região registaram perdas da mesma magnitude. O problema continua a ser muito ocultado à opinião pública em geral e apicultores em particular, mas cada vez é menos discreto. A Autoridade Sanitária Nacional para os assuntos apícolas, vulgo: Direcção Geral de Veterinária, mantém o já habitual “silêncio ensurdecedor”...
Quanto aos laboratórios que também podiam andar na linha da frente, nada mostram, nem sei se estão a fazer alguma coisa pelo assunto. No entanto deixo-lhe estas amêndoas:

Se o SDC não lhes suscita interesse suficiente de modo a procurarem e combaterem as suas causas, lembrem-se que atrás das abelhas, ironicamente, perecerão as Varroas, e assim a “mina de ouro” pode sofrer um forte revés...

Uma boa Páscoa para todos, infelizmente com menos mel que amêndoas...