Já conhecíamos o Sr. José Vicente Furtado, o nosso anfitrião, reformado depois de umas décadas de trabalho na Europa do Norte, na Suécia, regressou a Portugal há uns anos atrás, notando-se-lhe algumas dificuldades na língua mãe, “ faltam-me algumas palavras “ refere.
O objectivo da nossa visita prende-se com o seu pequeno negócio de produtor de rainhas das raças Ligústica e Buckfast* ( esta última, resultado dos famosos cruzamentos do Padre Adams* ), e que segundo o apicultor são duas estirpes muito produtivas, dóceis e fáceis de manusear.
Nos primeiros anos na Suécia trabalhava num estaleiro naval, e foi nesta fase que se apaixonou pela apicultura, paixão que já lhe dura há mais de 20 anos, - “ ... tudo começou com uma dor nas costas”, confessa-nos, e como era hábito naquelas paragens, este tipo de dores era curado com picadas de abelha. O paciente ia a um apiário, expunha a parte dorida, abria uma colmeia à qual dava umas pancadas e as abelhas faziam o resto.
Movido pela curiosidade começou a interessar-se cada vez mais pelos laboriosos bichinhos, frequentou uma série de mini - cursos pós laborais, promovidos pelo estado, desde a apicultura para iniciados passando pela criação de rainhas, até à própria construção de colmeias, núcleos e outros equipamentos. Recorda com saudade esses tempos “ o companheirismo, as pausas para o café e a troca de experiências eram determinantes para a aquisição de conhecimentos”.
Compra as primeiras colmeias, velhas e em mau estado iniciando assim a sua produção, “ eram tão grandes e pesadas que tiveram de ser deslocadas com uma grua”.
Adquiriu o equipamento de inseminação artificial, foi apurando a técnica, ganhou fama e chegou a receber inúmeras rainhas virgens em pacotes postais, provenientes de outros criadores suecos, as quais reenviava na volta do correio já fecundadas segundo o cruzamento pretendido pelo cliente.
É nesta fase que começa a trabalhar para o Ministério da Agricultura da Suécia, onde durante cerca de 15 anos foi o responsável pela apicultura na região de Gotemburgo, onde residia.
Refere-nos a este propósito, que a apicultura na Suécia é uma actividade de grande mérito, a importância das abelhas na polinização e consequentemente na manutenção do equilíbrio ambiental era mais reconhecida que a própria produção de mel ou outros produtos apícolas. Inclusivamente, interessava mais ao estado que houvessem muitos pequenos apicultores, com poucas colmeias, mas disseminadas por todos os locais, como hortas, jardins, quintais, etc, que cobrissem uma vasta área do território, em detrimento de apicultores com muitas colmeias, com assentamentos apenas nas regiões de flora apícola.
Uma prova inequívoca do valor dado à actividade polinizadora, “Haviam imensos cartazes de promoção da apicultura, para que todos tivessem as suas próprias colmeias”, cartazes esses que o Sr. Vicente ainda exibia no seu local de laboração, agora traduzidos para Português
As instalações em Lagos - Algarve, uma garagem com uma divisão, num lado instrumentos de serralharia e madeiras para a confecção de colmeias, núcleos, nucléolos e alimentadores, no outro lado, o laboratório onde procede à inseminação das rainhas.
Algum do equipamento adquirido, como a lupa binocular, os micromanipuladores e seringas para a inseminação, tal como todo um rol de pequenos utensílios, outros construídos pelo próprio, como as estufas de incubação, mercê dos conhecimentos de electrónica.
Á data da visita preparava-se para inseminar uma rainha Buckfast com o esperma de dois zangãos (duas doses) que já tinha preparado numa seringa, um dos machos Buckfast, tal como a rainha, o outro da raça Ligústica, a pedido do cliente “ o cliente pede e nós fazemos” diz-nos em tom de graça,“ ... quando a fêmea é Buckfast e o macho Ligústica, a colónia resultante é menos agressiva”.
É curioso que durante este período, o apicultor foi diversas vezes ao apiário, a uns escassos dez metros da casa onde trabalhava, no entanto fê-lo sempre sem luvas, sem máscara ou qualquer outra protecção, dada a pouca ou nenhuma agressividade das abelhas.
O apiário propriamente dito era constituído por pouco mais de meia dúzia de colmeias, outros tantos núcleos e cerca de 20 nucléolos de diversas cores, que habitualmente são usados para a fecundação de rainhas, desta vez servem apenas para as receber recém inseminadas para iniciarem a postura.
Questionado pelo facto de não reproduzir nem trabalhar com a raça Ibérica, a abelha negra, justifica-se com o facto de ser um grupo pouco estudado, sobre o qual não há ainda uma base de trabalho ou uma caracterização preliminar, logo os resultados seriam também imprevisíveis. Reconhece no entanto a importância de se começar a trabalhar na abelha autóctone, disponibilizando os seus conhecimentos técnicos para o efeito.
Aliás, este foi outro dos grandes objectivos desta visita, nomeadamente a futura formação de técnicos e apicultores na propagação de rainhas para melhorias quantitativas e qualitativas nas explorações nacionais.
Quanto aos números, o que são sempre uma curiosidade nestas actividades, o Sr. Vicente produz mais de 100 rainhas por ano, as quais vende para apicultores que o solicitam um pouco por todo o país.
“ Tudo isto dá muito trabalho, é necessário muito planeamento e um controlo rigoroso das datas e horas de postura, de transferência de larvas, do tempo de incubação, etc ...”, “ ...faço isto para me manter ocupado e porque gosto das abelhas”.
Voltei a visitar o Vicente há dois anos, lá estava com a alegria do costume para receber e ensinar quem o procura...
PADRE ADAM OBE, 1898
Um dos mais conhecidos apicultores britânicos, o irmão Adam, é conhecido no mundo inteiro pelo seu trabalho, especialmente no que diz respeito à criação de abelhas na abadia de St. Mary, em Buckfast, Devon. Nascido em Biberach, perto do lago Constance, Adam Kerle veio para Buckfast ainda menino, em 1910.
A seguir a uma doença que o atacou durante o Inverno de 1914/1915, o seu abade encorajou-o a dedicar-se à apicultura para melhorar a sua saúde. Os seus primeiros anos como apicultor situam-se portanto numa altura em que não pôde obter experiência em primeira mão acerca da devastação causada nas colónias de abelhas pela chamada doença da ilha de Wight” (Acariose). A impressão que lhe causaram os diferentes tipos de resistência das diversas raças e seus híbridos havia de ter uma profunda influência em todo o seu trabalho.
(...) Padre Adam, dedicou-se à normalização de colmeias, usando a Modified Dadant, mas acrescentando-lhe características concebidas por ele próprio,(...)
(...) O trabalho prático que desenvolveu no apiário está resumido no seu livro Beekeeping at Buckfast Abbey , Geddington, UK, 1975.
(...) Em 1948, o Padre Adam decidiu fazer uma série de viagens através da Europa Ocidental e da Ásia Menor para recolher e estudar as abelhas nas suas regiões nativas.
(...) O padre Adam recebeu o OBE, a vice presidência da Associação Internacional de Pesquisas sobre Abelhas, em cujo conselho trabalhou, (...)
In, Roger Morse e Ted Hooper, Enciclopédia Ilustrada de Apicultura, Vol. I
Col. Euroagro - Pub. Europa América
21 janeiro, 2009
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13 comentários:
De facto há uns anos atrás (quando era muito novo nestas andanças apicolas), li na Revista o Apicultor um artigo da autoria do sr Joaquim Pifano sobre este Sr Fortunato, nunca mais me esqueci da sua apicultura especialmente virada para a criação de rainhas de raça mais mansa e talvez mais produtiva que a nossa abelha autóctone, agora com este artigo relembro antigas memórias nomeadamente o desejo de poder um dia conhecer pessoalmente este grande conhecedor das Abelhas. Após reler o artigo chamou-me a atenção o seguinte pormenor - "Á data da visita preparava-se para inseminar uma rainha Buckfast com o esperma de dois zangãos (duas doses) que já tinha preparado numa seringa, um dos machos Buckfast, tal como a rainha, o outro da raça Ligústica, a pedido do cliente" - então uma rainha para ser bem fecundada (fecundação ao natural em vôo, e com temperaturas amenas) não deve acasalar com cerca de 10 zangãos para assim encher bem a espermateca e conseguir depois ter uma boa e duradoura postura? ou será que com a inseminação instrumental consegue-se depositar mais esperma com menos zangãos? Há outro pormenor que já li e ouvi em qualquer lado, e que é o facto de as rainhas fecundadas ao natural terem melhores desempenhos que as outras por inseminação artificial.
Olá Sérgio,
De facto assim parece ser, as rainhas fecundadas naturalmente não só terão melhores posturas como são mais produtivas durante mais tempo. A diferença é que os cruzamentos naturais são aleatórios, o que faz com que as características genéticas do zangão não sejam controladas e como tal possam trazer surpresas desagradáveis.
Montedomel
cá para mim salvo raras excepçôes ao natural é melhor pois a natureza é uma máquina nós é que andamos a tentar mudar algumas peças da máquina mas a produção acho que é chinesa.
melfontenova
eu gostei muito do seu blog.sou o isidoro aproveito para lhe enviar as boas festas Silves
Boas noites, alguem me pode arranjar o contacto do Sr. José Vicente Furtado?
Olá,
Envie-me por favor um mail para montedomel@gmail.com
cumprimentos,
Joaquim Pifano
Boa noite
Alguém sabe onde se pode comprar enxames da raça ligústica?
e-mail: rosatoni@sapo.pt
Olá
Aconselho-o a ir ao site "Rainhas Vicente Algarvio" que encontra na lista lateral de links do Montedomel
Então poderá contactar o Sr Vicente que vende rainhas Ligusticas e Buckfast
J Pifano
Bom dia, gostava de experimentar as abelhas italianas tem para entrega?
Qual o preço?
Obrigado.
Rogerioliveira78@gmail.com
amigo boce tem raihas a pronta entrega,qual o preço,,meu email alcides_2700@yahoo.com.br
Gostaria se saber como adquirir abelhas italianas Puras F0
mjrmelrezende@ig.com.br
Boa tarde
Sou do Algarve e queria comprar enxames da raça lingustica,se me podessem arranjar o contato do sr. Jose Vicente eu ficava muito grato.
Mail:cavalin-ha@hotmail.com
gostaria de receber e-mail de onde posso consegui rainhas italiana meu e-mail ednaldo.paes@yahoo.com.br
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