23 março, 2009

A “Caixinha” da Cresta...

“A Apicultura é uma Actividade Lucrativa”


A frase publicitária da empresa Alberto da Silva Duarte & Filhos Lda.
Desde a primeira vez que a li, a achei enigmática. Nesse regresso de Coimbra vim a matutar nela até Abrantes. São quase 150 km...
Pensei no primeiro, no segundo e até no terceiro sentido, à espera de “gato escondido com o rabo de fora” e... nada.
A mensagem era, e é claríssima, a apicultura pode ser de facto uma actividade muito lucrativa. Infelizmente não o terá sido para a dita empresa que a ostentava na publicidade. Soube que a Alberto da Silva Duarte & Filhos Lda. aparentemente já encerrou.
Nunca fui um grande cliente, não eram o tipo de materiais com que trabalho, mas estive lá algumas vezes, mostraram-me as instalações e confesso que me senti muito bem. Era um local agradável. Entretanto até chegaram outros apicultores, e com eles chegaram as conversas sobre a apicultura, o mel e as abelhas. Mais que um espaço comercial era também um lugar de convívio, troca de experiências, e porque não de aprendizagem?
A Alberto da Silva Duarte & Filhos Lda., agora é mais um número estatístico, mais uma das centenas, desculpem, milhares de empresas que já fecharam recentemente no nosso país. Mas esta toca-nos em especial, trabalhava connosco, fazia parte do “nosso” mundo...

Mas a apicultura continua e continuará a ser uma actividade lucrativa, não digo a apicultura do mel, do pólen e das ferroadas, mas a outra mais comercial. A que se aproveita dos incautos e lhes vende toda a espécie de bugigangas, sejam úteis ou não.

A semana passada fui visitar um apicultor, jovem e recém apicultor, estivemos no apiário, na melaria e no armazém, onde nos detivemos à conversa.
Às tantas, orgulhoso, mostrou-me a sua última aquisição: quatro caixas para transportar os quadros na cresta... Feitas em platex reforçado com barras de madeira interiores, onde encaixavam os cerca de doze ou catorze quadros carregados de mel. Tinham uma tampa do mesmo material e duas pegas para transporte. Já me esquecia, também servem para transportar os quadros vazios no regresso ao apiário, uma vez extraído o mel...


Perguntei-lhe o preço (identificado o problema gosto sempre de saber a sua extensão), cerca de 21 ou 22,00 €, quase o preço de uma colmeia completa. Disse-lhe que na pior das hipóteses uma alça era bem mais barata, e curiosamente os quadros também cabiam lá dentro. Isto para não falar da alça de onde saíram os quadros, que ficou vazia e inútil sobre o ninho, até ao regresso daqueles.


Ainda argumentou que as alças não tinham tampa nem fundo...

Havia outro apicultor que crestava para dentro de caixas das bananas. Para quem ande arredado do mel e das bananas, as caixas desta fruta parecem ter sido estratégicamente concebidas para receberem cerca de 20 quadros Reversíveis ou Lusitanos. Só me falta saber se os Langstrooth encaixarão no comprimento...
Este é outro dos grandes mitos da apicultura. Porque razão há apicultores que deixam as alças sobre o ninho após a cresta e transportam os quadros em caixas recicladas ou concebidas para o efeito?

Porque já vi coisas piores, bem piores até.
Há um amigo meu cuja cresta parece um funeral, com caixão e tudo. Tem um jipe comprido, para ajudar à festa, e na parte de trás coloca aquele caixão imenso revestido por dentro a chapa metálica.
Carrega os quadros de três ou quatro alças de uma vez e são necessárias duas pessoas para o transportar... por enquanto ainda dispensa o padre, mas não sei até quando.

Arrisco-me a contar a maior “treta” do mundo, mas eu quando vou crestar levo uma ou duas alças sem quadros e cada uma que fica vazia recebe os quadros da próxima. A opção pela segunda alça vazia a levar para o apiário, justifica-se quando há criação nas alças. Caso isto se verifique em mais que uma colónia junto os quadros com criação de várias colmeias na mesma alça.

8 comentários:

Anónimo disse...

Boa tarde,
Somos um povo "desenrascado", no momento e no improviso, o mal da questão é que o "desenrascanso", perdura por tempo indeterminado, por vezes por toda a vida, ignorando quase sempre as técnicas "mais leves e apropriadas.
Bons voos
Francisco

Mário disse...

Técnicas são técnicas, um dia destes ainda vemos uma colmeia qualquer que cresta sozinha e enfrasca o mel, o apicultor só vai ter de meter o rotulo :)
Abraço
Ferradela

sergio_apic disse...

Ora sobre esta matéria da cresta, eu também utilizo a última técnica de levar 4 ou 5 alças vazias, uma dezena de pranchetas, um balde com água ou um borrifador para poder passar a vassoura por água e retirar o mel que ali se vai acomulando não permitindo uma boa varredura das abelhas dos quadros.
Em relação á Alberto da Silva Duarte, só lá fui uma vez quando foi para comprar a centrifugadora do mel já lá vão 8 ou 9 anos, e de facto a experiência que o Joaquim Pífano conta de aquela casa ser para além do comércio um local de convivio é bem verdade, dessa vez enquanto apreciava a máquina foram chegando outros apicultores mais velhos que me iam dando umas dicas de como utilizá-la da melhor forma, como por exemplo na hora de carregar a máquina procurar ter os quadros com peso igual de frente uns para os outros para que não houvesse desiquilibrio durante a rotação. Eu ouvia falar em bolsas de ninho para as centrifugadoras, mas não percebia para que eram, e foi lá que também me explicaram o que era e para que serviam, de facto só lá estive uma vez mas tenho boas recordações, ali não só se gastava dinheiro também se ganhava muitos conhecimentos e boa disposição. É pena que casas como esta já com grande tradição na Apicultura Portoguesa tenham que fechar portas

Unknown disse...

Boas,

Sim, é verdade, esta tão grande casa fechou as portas devido a má gerência e não por falta de dinheiro ou clientes.
Era, se não a maior, umas das maiores casa de material apícola do nosso pais e com clientes em todo o Portugal e arredores. Infelizmente, fechou... Os motivos agora não importa, mas pode ser que venha a abrir novamente pelas mãos de pessoas capazes.

Em relação à fantástica caixa para a cresta, em conversa com o meu pai, concluí-mos que não deve ficar em mais de 7,5€... Uma diferençazinha...;)

Falando ainda em material produzido na loja de Coimbra... Peço-vos que vejam os quadros que lá eram feitos e os que agora se vendem em quase todos os locais. Posso dizer que os quadros de lá aguentam com mais de 4Kg de mel enquanto os quadros de 4 paus que por ai se vendem, provavelmente, nem com 2Kg aguentaram... O preço de comercialização é exactamente o mesmo...

Estas pequenas coisas podem fazer da nossa actividade uma actividade lucrativa.

Filipe Morais disse...

Bom dia,

Sou um jovem que está para se iniciar nesta extraordinária área... bem, mais do que uma área, um hobbie, negócio, seja o que for, para mim será certamente uma atitude e uma forma de estar e de viver em consonância com a nossa natureza e com nós próprios. Como dizia,estou a dar os primeiros passoa neste universo e desde já me tenho perdido neste blog de autêntico especialista. É tanta a informação divulgada e tão interessante que pulula nestas páginas que tem de se ir devorando isto como se devora um bom livro, calma e prazenteiramente.

Obrigado pelas lições de apicultura e de vida

Melhores cumprimentos

Filipe Morais

Alien disse...

Olá Filipe,

Seja bem vindo ao "maravilhoso mundo das abelhas".
Fico bastante satisfeito por o montedomel ir dando alguma ajuda, e já sabe quando for necessário alguma coisa conte comigo.

Um abraço
JPifano

Dario dos Santos disse...

Olá boa noite, procuro produtores de mel, estou a avançar com um negocio na area do mel e procuro um parceiro. queiram enviar email para: dario.mel.pt@gmail.com

Obrigado

Alien disse...

Olá Dário,
Aconselhava-o a mandar este comentario para um post mais recente, decerto há-de haver mais quem o veja.
Boa sorte e um abraço

Joaquim Pifano