
Há um ditado antigo acerca desta vespa que diz que: “
Sete picadas matam um cavalo, três um adulto e duas uma criança”.
Esta crença fez com que em muitas regiões da Europa Central a
Vespa crabro fosse perseguida e quase levada à extinção.
No entanto, e segundo estudos efectuados, a vespa é extremamente tímida e só se torna agressiva nas imediações do ninho (num raio de 2 a 3m), onde defende a rainha e o resto da colónia, à semelhança das abelhas.
Quanto à toxicidade do veneno, parece que os apicultores “vivem a paredes meias” com insectos bem mais perigosos que a
Vespa crabro: a
Apis mellifera, cujo veneno é 1,7 a 15 vezes mais eficaz que o da vespa. Não devemos esquecer que o sistema de defesa da nossa abelha visa sobretudo o ataque a mamíferos, os seus principais “pilhadores”, enquanto que as vespas “desenvolveram” um veneno para neutralizar as suas presas, ou seja, outros insectos.
Em resumo, a picada desta vespa poderá levar à sintomatologia da picada da abelha, incluindo as situações extremas como o choque anafilático e a morte em caso de hipersensibilidade.

Pensa-se que a antiga crença acerca da toxicidade do seu veneno venha já de tempos Bíblicos, onde uma vespa semelhante a esta, a (
Vespa orientalis) em tempos de guerra eram colocadas em potes de barro e lançadas por catapultas sobre as linhas inimigas provocando o pânico.
A maioria das populações dos Vespões expandiram-se inicialmente no Leste da Ásia, sendo habitantes típicos das zonas Subtropicais. Dos 23 tipos de Vespões conhecidos mundialmente, só a nossa
Vespa crabro e a
Vespa orientalis avançaram até às zonas do Norte e Oeste da Eurasia. Em 1840 foi introduzida artificialmente nos EUA e Canadá.
Actualmente existem cerca de dez variedades geográficas ou raças de
V. crabro espalhadas por todo o mundo.

Durante o mês de maio, as fêmeas nascidas e fertilizadas no Outono anterior (rainhas), acordam da hibernação e começam à procura de um local para iniciar a nova colónia, pois passaram o Inverno escondidas em buracos nas árvores ou no solo.
Normalmente, o ninho é construído no tronco oco de uma árvore, em casas, ninhos de madeira para aves e em cortiços ou colmeias, raramente o fazem no solo ao contrário de outras vespas.
Os primeiros alvéolos de papel (madeira putrefacta amassada), cerca de 50, são erigidos pela jovem rainha ainda solitária. Coloca aí os primeiros ovos, cujas larvas ela própria alimenta com insectos capturados. É um período bastante crítico onde a rainha se expõe demasiado com as saídas para o exterior, se é morta termina aí a colónia.

Ao fim de cinco a oito dias nascem as primeiras larvas, que em doze a catorze dias atravessam os cinco estádios de desenvolvimento. A larva produz uma espécie de ceda com que “opercula” o alvéolo e passa à fase de ninfa ou crisálida.

Finalmente, os insectos adultos rompem as tampas dos alvéolos e emergem as primeira obreiras que à semelhança das abelhas passam por várias funções ao longo da vida. Uma das primeiras tarefas consiste em aquecer as larvas adjacentes, bastando-lhe para tal manterem-se nos alvéolos o que provoca um aumento de temperatura de 21 para 31ºC. Ainda antes de saírem para o campo, as jovens obreiras participam na construção de novos alvéolos e ampliação do ninho.

Quando saem para o campo as obreiras (18 – 25mm) carregam para o ninho água, néctares e proteínas sob a forma de insectos capturados.
Os insectos capturados, entre os quais a
Apis mellifera, são decapitados e desmembrados, ficando apenas a massa muscular mais desenvolvida (a do tórax) correspondente aos músculos das asas. A
V. crabro pendura-se de um ramo por uma pata, e com as restantes realiza aquela tarefa, finalmente a massa muscular resultante é amassada numa pequena bola e transportada para o ninho para alimentar as larvas.
Logo que hajam cinco a dez obreiras disponíveis, a rainha (35 mm) sai cada vez menos do ninho, diminuindo os riscos para a colónia. À medida que o número de vespas aumenta, a rainha acaba por ficar apenas no ninho onde só põe ovos até ao fim da vida.
Só por curiosidade, e já que achamos estas vespas demasiado grandes, ainda existe outra do mesmo género (a
V. mandarina) que têm o dobro do tamanho.
Até aqui conseguimos identificar algumas semelhanças em termos de biologia com a
Apis mellifera, mas as diferença são notórias, senão veja-se, a
V. crabro continua a voar e a recolectar materiais mesmo durante a noite, conseguem ver com intensidades luminosas de 0,01 Lux, onde o olho humano já não vê nada.

Seria curioso “transplantar” o gene responsável por isto para as nossas abelhas !
Os materiais de construção dos ninhos, a madeira apodrecida, é retirada de árvores em decomposição nas proximidades. Elas vão arrancando pedaços que mastigam e misturam com saliva, fazendo pequenas bolas que moldam com as patas. Estas bolas são depois reamassadas e moldadas às paredes do ninho em crescimento, conferindo-lhe diversas tonalidades consoante a origem da madeira, o que faz lembrar a superfície de uma chapa de zinco.
A
V. crabro, não terá necessidade de armazenar grandes quantidades de nutrientes como a abelha, uma vez que nos períodos mais difíceis as suas larvas funcionam como armazéns vivos segregando gotas nutritivas para as obreiras adultas.
A colónia das vespas atinge o desenvolvimento máximo durante o Verão, onde chegam a ter largas centenas de indivíduos (400 a 700 no Norte da Europa, e provavelmente muitos mais no clima quente do nosso país). O ninho atinge nesta fase umas dimensões record de 60 cm de alto por 20 a 30 cm de diâmetro, dependendo também do espaço disponível.

No Outono, dos óvulos fecundados nascem as novas rainhas, e dos não fecundados nascem os zangãos (21 a 28mm). É neste período que a colónia se desarticula completamente, a ordem e disciplina que reinaram durante o período quente termina nesta fase. Logo que nascem as primeiras formas sexuadas (zangãos e rainhas) as obreiras deixam de cuidar da velha rainha , cada ovo que é posto é comido imediatamente pelas obreiras “amotinadas”. A rainha velha, esgotada, abandona a colónia e morre com aproximadamente um ano de vida.
Algumas obreiras em estado larvar que ainda subsistam, deixam de ser alimentadas, definham e caiem dos alvéolos. Outras mais desenvolvidas que tentam tecer o casulo, não conseguem pois os zangãos e obreiras adultas comem-no de imediato uma vez tecido. Outras larvas são expulsas do ninho, outras ainda são seccionadas pelas obreiras e dadas como alimento às formas sexuadas.
As obreiras preocupam-se agora em nutrir bastante as jovens rainhas e zangãos, uma vez que as primeiras necessitam de muitas reservas para a hibernação após a fecundação.
Nos dias mais quentes de Outono, as rainhas e zangãos formam pequenos enxames e juntam-se em torno de uma árvore ou próximo do ninho para acasalarem. Tal como nas abelhas, cada jovem rainha acasala com diversos zangãos, e estes, de vida curta, morrem algum tempo depois.
Uma vez acasaladas, as rainhas procuram abrigos para se livrarem aos rigores do Inverno, acabando mesmo assim por morrerem em grandes quantidades. Finalmente, no início de Novembro, morrem as últimas obreiras completando-se assim o ciclo.
Pelo exposto, espero que se tenha desmistificado um pouco a crença acerca da má fama destes animais, não servirão decerto para mandar-mos um pauzinho lá para longe e esperar que eles o tragam à nossa mão a abanar a cauda, mas podemos perfeitamente (enquanto apicultores) conviver pacificamente com eles.
“Avispones”
Kosmeier, D.; Billig, E.; Rickinger, T.; Buchner, A.
www. vespa-crabro.com