16 março, 2009

Desdobramentos, mais práticos que teóricos...


Já lá vão dois fins de semana de desdobramentos. Actividade extremamente cansativa, e não só fisicamente, pois além de se carregarem com as colmeias (vazias e cheias), a visualização de cada quadro e respectiva interpretação, a busca da rainha, a tomada de decisões e as “agulhadas” que se levam quando menos se espera... é muito....
Até agora pareceu-me ter corrido tudo bem, mas vamos aguardar pelos resultados.

Descrição sumária da actividade, com alguns pormenores que observei:

As primeiras decisões a tomar incidem sobre quais as colmeias que estão em condições de desdobrar. Não descurando de uma observação minuciosa de todo o apiário, tenho o hábito de observar o fluxo de abelhas à entrada de cada colmeia, tal como a quantidade delas que carregam pólen:


Daqui podemos tirar duas ilações muito importantes, a população da colónia e a quantidade de criação, assumindo que é proporcional ao fluxo de pólen que entra.
Se as condições agradarem, retira-se o tampo e a prancheta para nova avaliação da quantidade de população, observando duas coisas: o número de quadros ocupados e a quantidade de abelhas que “fervilham” à superfície:


Das imagens anteriores, obviamente que nunca desdobraria a primeira colónia (colmeia verde clara), a não ser em circunstâncias especiais, não só tem poucos quadros ocupados, como poucas abelhas. Quanto à colmeia azul, passou todos os “testes”, até agora, vamos ver se “se aguenta até ao fim”...

A partir de então é necessária uma inspecção mais cuidada a todos os quadros para avaliar a quantidade de criação e abelhas jovens, tal como as suas quantidades relativas (equilíbrio) e a distribuição em cada quadro. Para não falar nesse passo tão “solene” que é o de encontrar a rainha...
Conseguimos encontrar uma série delas, a maioria, e acreditem que com um óptimo aspecto e muita postura.


Ficam no entanto algumas dúvidas. Apesar da grande quantidade de criação disponível, não são raros os quadros com interrupções nos alvéolos. Refiro-me à característica criação em “pimenteiro”, mais visível onde já está operculada, ou como lhe chama o Eng.º Carlos Teixeira, comparação que acho muito curiosa: “criação em tiro de espingarda”.
Este facto pode ser observado na última imagem, onde assinalei as falhas com um “X”.
As causas podem ser muitas, até inocentes, mas deixam-nos sempre apreensivos quando à decisão de multiplicar ou não tais colónias:


Consanguinidade?
Doença?
Problemas com o alimento artificial/néctares naturais?
...
Vamos em frente, desdobra-se...

Mais aspectos a observar:

Após encontrarmos a rainha, e a “isolarmos” numa das novas caixas, procuramos os “quadros ideais” para a segunda colmeia (a que fica sem rainha):


O quadro da imagem anterior parece ter excelentes condições para a criação de uma nova rainha. Uma zona central com ovos e larvas de um ou dois dias e em volta muita criação operculada prestes a nascer, originando amas para alimentar a nova “princesa”. O ideal seria a presença de dois ou três alvéolos reais (já operculados) neste mesmo quadro, mas quem não os tem, caça com ovos...
De um lado e doutro do referido quadro, colocar mais dois com pólen e criação operculada prestes a emergir.


A disponibilidade de pólen (pão de abelha) é determinante nos desdobramentos.
Para as extremidades, convém igualmente providenciar mais dois quadros com mel e pólen, não nos livrando com isto à alimentação artificial estimulante, que trará mais celeridade e “confiança” ao processo...

Finalmente, é tempo de mobilizar abelhas para as novas colónias:

Abelhas jovens, amas ou nodrizas, como lhes chamam os espanhóis. São determinantes na confecção e distribuição do alimento (geleia real) às larvas de rainha, tal como às rainhas que emergirem:


Encontram-se muito facilmente nos quadros com criação aberta (larvas por opercular), uma vez que é aí que são mais necessárias. Poderíamos facilitar o nosso trabalho adicionando um quadro destes ao desdobramento, carregado com as ditas amas, no entanto corremos o risco de se fazer uma nova rainha com larvas demasiado velhas (DESDOBRAMENTOS DE COLMEIAS: OS CASOS BICUDOS 12/02/2009).
Para evitar tal situação, recorre-se a um velho truque: Coloca-se o quadro sobre a colmeia original (de onde o retiramos) e dá-se uma pancada seca (com a mão no topo do quadro), as abelhas mais velhas vão cair. De seguida coloca-se o quadro sobre a nova colmeia e “batem-se” então as amas.


Na imagem anterior podem ver-se duas abelhas, com pouco pudor... 'tou a brincar, a trocarem alimentos (trofalaxia).


Nesta imagem encontramos uma série de alvéolos numerados, que correspondem a:
1.Larva prestes a ser operculada.
2.Larva já com inícios do opérculo no alvéolo.
3.Larva já operculada.
4.Larva escurecida, morta, com sintomas de alguma doença: provavelmente uma micose.
Há que ter muita atenção a estes sinais, a existência de anomalias sanitárias, mesmo que incipientes, poderão comprometer todo o trabalho.

Ainda faltam os zangãos, que apesar de os rotularmos sempre como “desnecessários”, são de importância fundamental nos desdobramentos, nomeadamente para acasalarem com a nova rainha.
Não me refiro a mobilizá-los em quantidade para a nova colónia, até porque convém que eles já existam em quantidade à data desta tarefa.
Para maiores certezas poderíamos ter colocado quadros com “alvéolos de zangão” sensivelmente um mês antes. Como não o fizemos, só devemos desdobrar com garantias de os haver disponíveis para a sua função.


Na imagem anterior, é notória a divisão (até porque a assinalei a amarelo), entre os alvéolos com larvas de zangão (cúpulas mais altas – parte de baixo da imagem) e os de obreira (alvéolos mais baixos – parte de cima da imagem).

Finalmente, já com o desdobramento feito, tudo dividido, ainda nos sobram um ou dois kg de abelhas dentro da caixa original, que eu costumo despejar para dentro de uma ou das duas colmeias resultantes. Há quem quem bata a caixa à entrada e as abelhas que escolham a nova casa, mas assim é mais rápido.
Nesta fase convém observar cada uma das caixas, não vá alguma ficar com demasiada população em detrimento da outra, e se a que não tem rainha ficar muito despovoada pode ser comprometedor. Se tal acontecer pode optar-se por trocar a posição das colmeias para que se equilibrem com as abelhas que andam no campo.

7 comentários:

Francisco disse...

Boa tarde,
Estive este fim-de-semana, a colocar em prática os ensinamentos, sobre este metodo de fazer desdobramentos, mas faltou-me ver a rainha, (pode-se fazer sem vela, mas como era a 1º vez,...)e por isso ficou adiado para o próximo fim de semana.
Bons voos,
Francisco

Mário disse...

Xiça Mestre, tem ai uma Rainha bem poedeira :)

Mel Fonte Nova disse...

amigo Pifano isto dos desdobramentos é como como a melhor para transportar as colmeias cada apicultor adopta um modo e desde que corra tudo bem ok, cinco estrelas.um dia destes adiciono imagens no blog, com uma grade excluidora uma prancheta e uma caixa reversivel em cima do enxame que se quer desdobrar e esperar pelo o momento de retirar a caixa que fica em cima. Não sei se conhece este método mas é mais um

ricardo disse...

Alguém me sabe dizer qual o melhor tipo de tinta para pintar colmeias?
cumprimentos
mrsd_14@hotmail.com

Anónimo disse...

Amigo Ricardo: segundo tenho lido a melhor tinta é a tinta de água com que se pintam as paredes das nossas casas. Depois de pintar tem que deixar a arejar durante 3 ou 4 dias para o cheiro sair completamente . Use cores claras porque as escuras tornam as abelhas mais agressivas. Matos

Luís Simões disse...

Quanto tempo tem de estar o núcleo onde não tem rainha nova longe da colmeia principal ? E a que distância se deve colocar?

Alien disse...

Olá Luís Simões

Receio não ter entendido a sua questão.
Queira por favor enviar-me um email para
montedomel@gmail.com com essas dúvidas

abraço
Joaquim Pifano