09 junho, 2009

Varroose, o princípio do fim ???


Comportamento SMR das abelhas, uma das notícias mais curiosas que vi este ano.
O comportamento SMR, (Suppress Mite Reproduction) ou Supressão da Reprodução dos Ácaros, é um comportamento natural das abelhas que as leva a detectar Varroas na criação operculada, desopercular essa criação contaminada, desalojar os ácaros de Varroa e assim diminuir o grau de infestação.
Segundo Alejandro Garcia – Espanha, as primeiras abelhas a mostrar o comportamento SMR foram as abelhas Russas da região de Primorski, onde a Varroa primeiro entrou no continente Europeu. Ao que parece, os fortes ataques do ácaro, somados a Invernos muito rigorosos permitiram apenas a sobrevivência das colónias de abelhas mais fortes e que “lutaram” contra o invasor.
Dessa forma, a selecção natural agiu no sentido de “favorecer” as colónias de abelhas com características mais resistentes, ao contrário do resto do mundo em que se “inundaram” as colmeias com produtos químicos muitas vezes desnecessários e que tornaram os ácaros cada vez mais resistentes.
José Manuel Flores Serrano e Francisco Padilla Álvarez, da Universidade de Córdoba – Andaluzia, estão a fazer a selecção desse comportamento através da inseminação artificial. Tal trabalho visa sobretudo dar primazia à selecção de abelhas geneticamente mais resistentes à Varroa em detrimento dos tradicionais químicos de síntese.
Os apicultores podem ajudar neste trabalho seleccionando nos seus apiários as colónias com este comportamento. É muito fácil de identificar, tratam-se das colónias em que se observam nos quadros com criação operculada, pupas (abelhas quase no estado adulto) perfeitamente formadas e de aspecto saudável mas desoperculadas. Algumas já apresentam pigmentação nos olhos. A presença de opérculos mais abobadados, resultantes da reoperculação, é também um indício do SMR.
Tal observação não indicia de modo algum que a colmeia esteja livre de Varroa. O que se disse é que tais abelhas se permitem viver com os ácaros que tenham menos descendência.

O comportamento SMR processa-se da seguinte forma:

Algumas abelhas amas, ao que parece bem poucas, apercebem-se de presença de ácaros na criação operculada e desoperculam-na. O simples acto de “abrir” os alvéolos operculados faz com que a Varroa os abandone.
Caso isso não aconteça, outras abelhas tentam retirar as Varroas do alvéolo contaminado e voltam a operculá-lo, deixando a pupa saudável e sem ácaros. Se ainda assim não o conseguem, retiram tudo (pupa e ácaros) e limpam o alvéolo para que a rainha faça nova postura.
Este trabalho parece ser efectuado por abelhas com diferentes “sensibilidades”, a primeira (detectora), localiza os alvéolos contaminados e inicia a desoperculação, continuando com a mesma tarefa noutros alvéolos. Atrás dela vêm outras abelhas que retiram as Varroas e reoperculam ou limpam o alvéolo.
O comportamento SMR não elimina as Varroas de uma colmeia, impede muito a reprodução dos ácaros mantendo a sua população em níveis aceitáveis que permitam a sobrevivência das abelhas. Nas colónias onde este comportamento é mais acentuado, a colónia subsiste sem a intervenção humana, ou seja, sem adição de acaricidas.
Um dos problemas inerentes ao estudo em causa é que tal selecção se obteve mediante um nível muito intenso de consanguinidade, para que se conseguissem obter tais características, o que resulta num padrão defeituoso e descontinuo da criação (criação em pimenteiro). Tentar-se-á resolver este efeito colateral no futuro, mas quando se tenta seleccionar um determinado caracter muito raro, a consanguinidade parece ser o método mais usual.

De facto já tenho observado nas minhas colmeias, nos quadros de criação operculada, séries de dez a vinte alvéolos desoperculados onde vejo as respectivas pupas de aspecto muito saudável. Interrogava-me porque razão a criação daquela idade já estaria desoperculada? Desconfiei de motivos higiénicos, mas as pupas de cor branca e aspecto saudável não apresentavam nenhuma moléstia ou malformação visível...
Vou tentar tirar fotos na próxima oportunidade, até lá vejam estas retiradas de: http://apicultura.entupc.com :

Fig. 1 – Foi detectada a presença do ácaro e começa-se a desopercular o respectivo alvéolo. Note-se a ninfa em perfeito estado e com os olhos a começar a escurecer.

Fig. 2 – Um estado mais avançado da desoperculação.

Fig. 3 – As abelhas começam a reopercular o alvéolo saneado, onde a pupa sobreviveu ao processo sanitário.

Fig. 4 – Quase terminada a reoperculação, observe-se o aspecto do opérculo: já não fica plano como os que estão à volta, mas mais abaulado ou abobadado.
A presença destes opérculos também é um indício do SLR, não confundir com os alvéolos com larvas de zangão...


Fig. 5 – Alvéolo reoperculado (mais abobadado).

(Fotografia: Alejandro Garcia)
Agradecimentos a Carlos Correa : Brasil

1 comentário:

hitchi disse...

Muito interessante, excelente pesquisa e observação da sua parte, recentemente vi uma colmeia minha nesse estado e fiquei bastante intrigado, mas como foi uma visita rápida, uma espreitadela sem fumo, não me demorei a observar a colmeia, tenho que fazer nova inspecção para confirmar o que me parece ser o caso que apresentou.O meu agradecimento sincero.