06 julho, 2009

Pólen e Pão de Abelha

Por definição, é o pólen armazenado nos favos, no interior da colmeia.
Normalmente está misturado com mel, talvez com algum própolis e apresenta inícios de fermentação.

É impressionante a quantidade de pólen (pão de abelha) que alguns quadros apresentam, principalmente os do ninho.

Muito fácil de identificar pelo aspecto colorido (várias cores), pela posição em redor da criação e pelo facto de estar desoperculado.
Ou pelo menos eu pensava assim, mas segundo Morse e Hooper (1986) “Enciclopédia Ilustrada de Apicultura”, em determinadas circunstâncias, quando o pão de abelha não está a ser usado, é coberto com uma camada de mel e também operculado com uma “tampinha” de cera. No entanto, encontramo-lo principalmente desoperculado.

Círculos Azuis: Pão de Abelha em utilização (desoperculado).
Círculos Amarelos: Pão de Abelha de reserva (também desoperculado mas coberto com mel).

Esta imagem, tirada durante a extracção do mel, é bastante elucidativa da informação anterior.
Com luz normal a incidir sobre a superfície do quadro apercebemo-nos facilmente da existência de dois tipos de alvéolos: amarelados com mel e outros mais escuros e desoperculados com pólen. Se colocarmos o quadro em contra-luz, conseguimos observar um terceiro tipo de alvéolos operculados como os do mel mas com uma tonalidade mais escura (contêm pão de abelha).
Na próxima imagem, tirada propositadamente antes e depois da desoperculação dos alvéolos, permite-nos observar tais diferenças e encontrar o pólen “escondido”:

Porque carga de água me lembrei agora do pão de abelha?
Resposta: Fiz a cresta/extracção há pouco tempo e passei a noite à procura dos quadros de alça com tal petisco. É o que mais gosto entre todas as iguarias produzidas pelas abelhas. Este ano após desalojar um enxame selvagem instalado há dois ou três dias numa parede, resolvi aproveitar os pequenos favos cheios de néctar e pão de abelha. Creio que nunca provei nada assim, a cera era muito recente e tenra, pelo que nem ela se escapou.

Imagens semelhantes às anteriores, tiradas com luz normal e em contra-luz, desta vez só com alvéolos não operculados.

Alvéolos com pão de abelha operculados?, o opérculo rebaixado (abaixo do nível dos alvéolos) é característico desta situação. Os alvéolos com o interior brilhante contêm mel, apenas mel, desta vez não se trata de uma pequena camada a cobrir o pão de abelha.
Também nesta imagem se percebe facilmente o aspecto compacto do pólen armazenado, o que deixa adivinhar a dificuldade em extrair tal substância mesmo com a destruição dos alvéolos de cera.

No armazenamento do “pão de abelha”, as obreiras retiram as “pelotas” de pólen que trazem nas patas e depositam-no nos alvéolos de cera. A este pólen é adicionado algum mel e eventualmente própolis em pequenas quantidades.
De seguida, as abelhas compactam as “pelotas” empurrando-as com a cabeça contra o fundo do alvéolo, o que decerto trará algumas vantagens em termos de conservação:

Muitas vezes observamos estas reservas de pólen nos quadros de criação. Se observarmos com mais cuidado, notamos que alguns dos alvéolos têm uns aglomerados de pólen não compactado (pelotas) à superfície:

Outra imagem semelhante, os alvéolos com o círculo vermelho ainda não estão cheios de pólen, enquanto o do círculo azul já com a superfície plana já está completo.

O pão de abelha foi um dos “assuntos” que muito me interessava há uns anos atrás. Estava na moda entre os apicultores tentarem extraí-lo dos alvéolos de cera. Infelizmente sem grande sucesso.
Lembro-me de uma palestra em Alcobaça, organizado pela AVAPI, onde o Eng.º Rosa Agostinho fez mais uma excelente dissertação sobre este tema. Ele detinha/detém o “segredo” para a extracção do pão de abelha e apesar das tentativas da assistência, ninguém chegou a saber como se fazia.
Ofereceu-me uma curiosa bisnaga com mistura de mel e pão de abelha, nesse tempo a empresa do Eng.º Rosa Agostinho (a EUROPROPOLIS) comercializava-a para o estrangeiro para ser incluída em kits de sobrevivência para alpinistas.

Nunca mais soube nada do Eng.º Rosa Agostinho, era um prazer ouvi-lo falar sobre o pão de abelha, o pólen, a geleia real e o própolis, entre outras curiosidades das abelhas. Era estimulante o carinho e a sensibilidade com que ele tratava e desenvolvia tais tecnologias.
A maior parte de nós olhamos para as explorações apícolas como autênticas “centrais de produção de mel”, e até parece que as abelhas só produzem mel... Se no entanto nos embrenharmos pelos meandros da colmeia, pelo labirinto de favos e alvéolos, deparamo-nos com imensos produtos de grande utilidade e valia obtidos pelas abelhas.
Um pouco mais de trabalho (e paciência) durante a extracção do mel na melaria, poderia resultar na obtenção de uma boa quantidade de própolis raspado dos quadros (só dos quadros) e algum pão de abelha extraído dos alvéolos.



No entanto, “mais trabalho” ou “paciência” são atributos de que nem todos nos podemos gabar, e a haver uma forma fácil e expedita de retirar o pão de abelha em grandes quantidades seria de todo desejável. Mas como ???...

A “prensagem” que o pólen sofre em tantos alvéolos contíguos, confere-lhe um aperto e uma compactação tal que quase impossibilita a sua extracção. A superfície de contacto entre os blocos de pão de abelha (em forma de pirâmide hexagonal) e os alvéolos de cera onde estão colocados, provocam tal nível de atrito à sua remoção que seria necessária uma força gigantesca para os separar em simultâneo. Isto, claro está, sem destruir as ceras.
A extracção do mel é muito facilitada por este último se encontrar no estado líquido.

Favos vazios e com pólen armazenado.

Forma mais correcta de esquematizar tridimensionalmente os mesmo favos, no entanto seguiremos o primeiro esquema para uma visualização menos confusa...

De todas as “hipóteses”, “conversas” e “diz-que-disse” que ventilavam nesse tempo, consegui reter três formas prováveis de fazer a dita extracção, mas seria de facto assim ???

1. Retirar os “grãos” de pão de abelha com uma agulha..., processo que “poupa” as ceras mas é muito lento, o produto final seria muito caro.

2. Cortar parte dos alvéolos com uma faca para o pólen ficar mais exposto e por isso acessível: também não me parece que funcione...

3. Congelar o favo e depois seccioná-lo com uma máquina de cortar fiambre... nunca tentei este, mas também nunca me contaram exactamente o processo...
Parece-me ser o mais acertado, mas alguém conhece os pormenores? E quer divulgá-los? Eu agradecia desde já...

18 comentários:

Anónimo disse...

Meu caro Joaquim, que coisa mais interessante, desconhecia por completo esse produto das Apis, para mim só exista o mel, a geléia real (que não existe nos meliponíneos) e o pólen, certamente nas minhas Jandaíras Seria bem mais fácil de colher esse tal pão de abelha pois elas fazem muitos potes, com grandes concentrações de pólen.
Esse pão pode ser consumido in natura ou precisa ser processado???
Deve ser uma delícia em???

Kalhil Pereira
www.meliponariodosertao.blogspot.com
Mossoró-RN

Alien disse...

Caro amigo Kalhil,
como deve ter percebido, o pão de abelha não passa de pólen.
Só que em vez de ser aproveitado no exterior da colmeia, como habitual, encontra-se no interior, misturado com mel e própolis, apresentando até alguma fermentação.
Penso que não sofre qualquer processamento, uma vez que o mel e o própolis que tem misturado permitem a sua conservação.
A única referência que vi sobre a sua comercialização era numa mistura de mel + pão de abelha, e não sei em que proporções.
Eu próprio já juntei mel + pólen em grão (seco, processado), deu uma mistura muito energética (uma colher de sopa antes do almoço e poupavam-se 10,00€), era agradável de sabor mas não se comparava ao pão de abelha.
O pão de abelha é mesmo o produto apícola que mais aprecio, sempre que se rebenta um quadro de mel na melaria ando logo a catar os grãos...

abraços
JPífano

Apisarte disse...

Caro amigo Joaquim,
porque não fazer uma ferramenta, tipo colher para retirar geleia real, torna-la rotativa (tipo parafuso de Arquimedes) e com aspiração ao mesmo tempo?
Parabens pelo artigo!
Um abraço

Alien disse...

Amigo Apisarte

Não sei se a aspiração a um sólido tão compactado funcionará... mas parece uma hipótese tentadora.
O pior ainda é a minha (in)capacidade para a engenharia em conceber tal utensílio...
Grande abraço
JPifano

M. Reis disse...

Parabéns p'lo Blog. Excelente!
Fabulástico!... Delicio-me com as descobertas que me proporciona em cada post...

Unknown disse...

Hummm... olhem só o que as pessoas aprendem nos blogues... nunca pensei que pudesse vir a encontrar um blogue onde se aprendesse coisas interessantes sobre abelhas e os seus respectivos favos de mel... estou a gostar cada vez mais. Parabéns pelo belo trabalho!

Anónimo disse...

Parabéns! Adorei o material! Não encontrei nada tão esclarecedor assim sobre o pólen! Obrigada.

Tatiana Oliveira

Anónimo disse...

quero deixar meu recado como fasso para elaborar meu pão de abelhas,com colher de mesa reforçada fiz fio na ponta e lateral esquerdo da mesma,e corto contra lamina de cera,quado é so de um lado moleza,dos dois perde o favo.Mas pelo valor do produto vale a pena,costumo estrair sómente dos favos de mel,quando é muito pão raspe
com mesma colher>pese tres kg de pão e acrecente sete kgs de mel bata para disolver eu fis meu aparato mesmo e funciona,decante e filtre que beleza.

Alien disse...

Olá,

Gostava que me explicasse melhor o método como com a colher modificada retira o pão de abelha.
Se possível enviar-me fotos da colher e do processo para montedomel@gmail.com , o que agradeço desde já.

Muito obrigado
JPifano

Federico disse...

muy buen blog! yo utilizo la tecnica de retirar el polen con una aguja.. consumo el polen con el desayuno antes de hacer deporte , estas en mis favoritos , saludos desde Punta del este URUGUAY

Alien disse...

Hola Federico

Muchas gracias por tu comentario.
mas no es mucho trabajo extraer el pólen con una aguja ?

Saludos
Joaquim Pifano

DJ FeDe disse...

si! es mucho trabajo pero esos lujos de la naturaleza las personas comunes no saben valorarlo! , lo uso como consumo personal. tiene mejores propiedades que la jalea real , ya que no se oxida y guardandolo con miel puede estar mucho tiempo archivado. tiene mas vitaminas y minerales que cualquier multivitaminico mas la gente prefiere tomar vitaminas sinteticas como pharmaton,, berocca. el pan de polen es para quienes conocen su verdadero valor. disfrutemoslo

Alien disse...

Gracias, DJ FeDe
J Pifano

Unknown disse...

Olá amigo! Saberia me dizer onde encontro esse produto em Brasília? Ou algum produtor que envie pra cá? Desde já grato! Lucas Valença.

Alien disse...

Caro Lucas Valença

Infelizmente não conheço nenhum produtor de pão de abelha no Brasil,
aconselho-o a contactar as grandes associações de apicultores do
Estado de Santa Catarina, há muitos criadores de Apis e talvez
consigam encontrar algum produtor.
Sei que o "Pão de Abelha" dos meliponídeos é muito mais acessível
em termos de extracção, infelizmente é armazenado muito fermentado
e (pessoalmente) acho-o menos agradável em termos de sabor
para os humanos...

Abraço
Joaquim Pifano

Unknown disse...

Boa noite. Foi-me recomendado o consumo de pão de abelha. Sabe me dizer onde posso comprar? Moro no algarve

Alien disse...

Olá Bom Dia
Como dev ter compreendido da leitura do texto, o pão de abelha
não é um produto fácil de obter e como tal não hão-de haver muitos produtores
Há pouco tempo havia um produtor em Portel, que não sei se ainda o comercializa.
Procure contactar a associação de apicultores APIVALE de Moura.
Ou então, morando no Algarve, contacte a associação MELGARBE, em Faro, sediada na DRAALG,
no Patacão e procure essa informação junto do técnico o Engº Paulo Ventura.
Espero ter ajudado

Cumprimentos
Joaquim Pifano

Unknown disse...

Boa tarde sr Joaquim,
Ao término de minha colheita de mel, "sobrei" com uma quantidade grande de favos contendo pão de abelhas.(36 favos)
Nesta época tbm faço as divisões de enxames para repor colméias abandonadas durante a produção de mel. Quando fui dividir, deparei me com mais favos com pão de abelhas, ocupando 3,4quadros q deveriam ser para crias. Retirei os exedentes deixando apenas 1 quadro com pão de abelhas.
Para não perder tantos quadros com seus favos repletos com tão rico alimento, removi com um garfo mecanicamente os alvéolos contendo o pão de abelhas, congelei os e quando necessário,alimentarei as abelhas com este pão de abelhas, misturando e apenas umidecendo, com mel.
Dificilmente alguém queira esse pão de abelhas removido com garfo. Tem aspecto feio pois contém enzimas salivares das abelhas q o escurece. Não fica tão "amarelinho" como o pólen desidratado em pelotas.
Abraço Fernando A.Spinelli téc.espec.em apicultura