Sexta-feira, 4 de Junho de 2010, acompanhados pelo Engº António Marques, técnico de apicultura da FRUTER/FRUTERCOOP, fomos finalmente realizar a “expedição apícola” que há muito almejávamos: um passeio pelos apiários e paisagens “apícolas” da Ilha Terceira – AÇORES.
Não precisamos de muitos quilómetros para perceber a forma equilibrada como os apiários, colmeias e abelhas “encaixavam” na paisagem Açoriana. As colmeias em madeira de Criptoméria sem qualquer pintura, harmonizavam-se perfeitamente com as sebes de Incenso, os muros de pedra ou com os prados de trevo sempre verdes.
A madeira de Criptoméria apresenta uma série de vantagens sobre o Pinheiro para a construção de colmeias, pelo menos no ambiente húmido do Arquipélago dos Açores. Segundo os apicultores da região, enquanto uma caixa de madeira de Pinheiro pouco mais dura que 4 ou 5 anos, a de Criptoméria pode chegar aos 20 anos ou mais.
Por outro lado é muito mais leve o que só facilita o maneio.
A sua conservação é feita com um banho de parafina em fusão para impermeabilizar. Regista-se um único senão: madeira demasiado “mole” para resistir ao formão do apicultor sempre que queremos separar as alças ou a prancheta, podendo até abrir buracos. Para o evitar devemos executar tal tarefa com cuidado.
No entanto compensa largamente e é o material mais utilizado.
Trata-se de uma árvore (Conífera) muito abundante na ilha, sobretudo em altitude, o que a poderá tornar numa importante fonte de matéria prima para o fabrico de colmeias, até porque já é muito utilizada na construção de mobiliário.
Havendo obviamente quem também pinte as colmeias, e se julgam que de alguma forma “chocam” com a paisagem vejam as próximas imagens:
Continuando a deambular pelos campos e jardins, encontramos muita e variada flora com interesse apícola, ou não se encontrassem as flores constantemente visitadas por abelhas:
O trevo é uma planta cuja abundância pelos prados o tornam numa importante fonte de néctar para o mel da região. Curiosamente víamos mais abelhas no trevo em jardins e rotundas, talvez houvesse outras alternativas no campo…
Muito curiosa esta, lembra o Rosmaninho, tratando-se no entanto de outra planta da mesma família (Labiadas):
Agora uma vegetação rasteira, muito abundante, cobrindo muros, canteiros e terrenos incultos, muito fácil de propagar e com as pequenas flores brancas sempre cobertas de abelhas:
O já nosso conhecido Metrosideros excelsa,
E a excelente fonte de néctar para o mel de Incenso:
Esta vegetação, muito característica nas Ilhas dos Açores, chega a cobrir vastas áreas, onde o coberto vegetal ganha um relevo muito curioso e característico: visto à distância lembra a pele de um elefante. Infelizmente só visitamos a região muito depois do período de floração.
Esta não!!! Uma planta da família das Solanáceas, normalmente tóxica e evitada pelas abelhas, apesar da sua abundância:
Noutro local, descemos por uma azinhaga em direcção ao mar e com imensa vegetação de ambos os lados. Saltamos uma cancela e frente a um característico apiário encontramos um enxame de grandes dimensões:
Chamou-me a atenção o movimento de abelhas frente a um núcleo de onde terá saído o referido enxame. Na volta tinha acabado de sair e ainda havia algumas “indecisas” entre o “tu vais e eu fico…”
Uma boa mão cheia delas pousadas numa folha denunciavam qualquer coisa de interessante, ou não estivessem mais de uma dúzia de abelhas em rosário de volta de um ponto central:
Foi quando a “destacada” figura central se moveu pela folha e percebi o motivo de tanto interesse da plebe:
Uma bonita rainha, de grandes dimensões, passeava-se pela folha de uma Solanaceae, como habitualmente o deve fazer sobre os quadros de criação. Estávamos a mais de 1500 km do Entroncamento, pelo que ainda fiquei mais absorto pela presença da dita “mestra” no exterior da colmeia e ainda por cima sobre uma folha.
Só depois de aturada observação das fotos é que percebi porque razão a rainha não enxameara com o resto das abelhas: tinha uma asa cortada! O que parece ser um bom método para evitar a desagradável perda de abelhas da enxameação, muito utilizado na Ilha Terceira.
Fica apenas a dúvida para o caso de ter aparecido algum predador, mas esta “safou-se” como o soubemos mais tarde por parte do apicultor.
Noutro apiário, o Eng.º Gardete deu-nos uma lição de apiterapia, com um método controlado de aplicar a apitoxina, de modo a aumentar a circulação sanguínea e diminuir a dor no local. É caso para perguntar: e a dor da picada? Como acabar com ela agora???
Repare-se na forma engenhosa como a abelha foi presa num pequeno raminho de modo a localizar a picada de uma forma quase cirúrgica… Vejam como aumenta o rubor e o inchaço à medida que o tempo passa.
Outra das particularidades da apicultura da Terceira refere-se à grande quantidade de abelhas híbridas que se encontram nos apiários em geral. Decerto pelas importações de Apis mellifera ligustica aliada ao espaço restrito da ilha tenham levado a esta alteração no pool genético.
De qualquer forma não ouvi qualquer crítica por parte dos apicultores a esta situação. O carácter agressivo destes híbridos deve estar muito controlado pelos apicultores através da selecção constante desse factor genético-comportamental. Encontravam-se no entanto muitas colmeias (e apiários) onde apenas se via a característica abelha negra.
Também permanecemos sem máscara em alguns apiários e nem por isso se verificaram ataques.
Mas nem só de abelhas nos ocupamos na “expedição”, aparecem sempre algumas surpresas dignas de registo. Tal como este Bombus que apesar da concorrência apícola não prescindiu dos deveres de polinizador:
Ou a pequena ave que não deixou de comer enquanto posou para a fotografia:
Finda a viagem apetece “esquecer” tudo… apenas para voltar atrás e repetir a volta…
ALGUNS DADOS REFERENTES À APICULTURA DA ILHA TERCEIRA:
ASSOCIAÇÃO/COOPERATIVA: Fruter/Frutercoop
IDADE: 20 Anos
IDADE DA SECÇÃO DE APICULTURA: 14 Anos
Nº DE APICULTORES ASSOCIADOS: 18
EFECTIVO TOTAL DOS ASSOCIADOS: 576 Colmeias
PRODUÇÃO TOTAL DE MEL: 4500 Kg
MEL DOP "MEL DOS AÇORES": 1000 Kg
PROJECTOS DE FUTURO: Melaria/Estabelecimento e Mel MPB
21 julho, 2010
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9 comentários:
Fiz uma passagem rápida pelo artigo só para ver as fotos (curiosidade) e tenho uma 1ª reacção: que belas fotos - outra vez - que belas fotos, espectáculo, agora fiquei mesmo com muita vontade de conhecer os Açores, visitar esta apicultura atlântica (se a posso chamar assim?) é pá 5 estrelas!!! Amanhã passo aqui outra vez para ler e ver com atenção mais um bonito artigo, é que são 1:35 da manhã e ainda não jantei....
Em primeiro lugar, queria dizer que o mel de rosmaninho que o Joaquim muito gentilmente me ofereceu e que só tive oportunidade de o ir buscar há dois dias, e que me foi entregue pelo António Marques, é uma maravilha. Muito obrigado.
Em segundo lugar, queria deixar alguns números que podem ajudar a formar uma ideia mais concreta da dimensão da apicultura na Terceira e nos Açores. Na Terceira - apicultores 69; apiários 94; colmeias 892; cortiços/núcleos 31. Total Açores - apicultores 255; apiários 424; colmeias 3850; cortiços/núcleos 169. Diria que pese embora tenhamos que primar por um equilíbrio com o meio, no que respeita ao n.º de colmeias e apíários, quer na Terceira, quer nos Açores em geral, a apicultura ainda tem um longo caminho a percorrer. O n.º de apicultores que já sabe "correr" é reduzido. A grande maioria ainda só sabe "caminhar", e é sobre estes que deverão recaír, prioritáriamente, a atenção das organizações de produtores.
Paulo Miranda
Olá Paulo Miranda,
Muito obrigado pelos dados adicionais que complementam a caracterização da apicultura na Terceira e restantes ilhas dos Açores.
Um abraço
J Pifano
Como não podia deixar de ser, também por ter ganho o 1º prémio, o mel do Dr. Joaquim Pífano é realmente excelente. Mesmo muito bom. Felizmente também tive o privilégio de ser presenteado com uma amostra.
De facto o último artigo publicado no Blog poderia (e talvez deu) dar a ideia que a apicultura na Ilha Terceira se resumia à Fruter/Frutercoop. Mas não é assim, e o Paulo Miranda fez questão, e bem, de nos esclarecer. No entanto, a expressão em termos de colmeias e produção dos apicultores associados da Fruter é muito superior à restante produção da ilha e terá sido com base neste pressuposto que o autor do Blog se pronunciou.
Usando as palavras do Paulo Miranda, “caminhar” e “correr”, não me parece que seja bem assim. Nos associados da Fruter temos excelentes apicultores, que conhecem a apicultura na sua verdadeira essência, por um lado porque lidam com esta actividade praticamente desde que nasceram e por outro porque estimam as abelhas e consequentemente a natureza. Outros que começaram mais tarde, mas que se empenharam de corpo e alma, também já tratam as abelhas na primeira pessoa do singular. Não podemos pensar naqueles que somente vêem “cifrões” nesta actividade e que pensam que colocam meia dúzia de colmeias na sua propriedade e vão lá uma vez por ano para ver o que lhes sai na “rifa”. Quando antevêem que a “coisa” dá trabalho e não é o mar de rosas que pensavam ser, simplesmente desistem. Estes também nunca seriam verdadeiros APICULTORES. Muitas vezes, são estes que “caminham”(?)
Finalmente, tendo em conta a “sabedoria” intrínseca dos nossos apicultores, o papel dos técnicos das associações nunca poderá passar por “ensinar o Pai Nosso ao Vigário”. Alguém se atreveria a ensinar a Rosa Mota a “correr”?
António Marques
Li com atenção e vi as fotos e fiquei sem palavras! Não sei o que dizer! Uma maravilha, as fotos, e a vontade de conhecer os Açores e as suas abelhas e paisagens e gentes é agora muito maior!
Visito com alguma frequência o blog monte de mel,e congratulo o Joaquim Pífano pelo seu trabalho, pela qualidade com que o faz.
As imagens são realmente muito bonitas, e retratam parte da realidade apícola da ilha Terceira.
Relativamente ao comentário do António Marques penso que os técnicos não devem ensinar o "Pai Nosso" ao vigário, mas devem rezar com eles, e isto é o mais importante. E creio que o fazem com os 18 apicultores associados (19%) que dispõem de 576 colmeias (65% do total).
A questão é os restantes 81% de apicultores não podem parar enquanto os outros já estão em marcha.
O mais importante é passar a mensagem que a apicultura Terceirence e Açoreana, têm desafios de escala insular, tem metas que não podem ser esquecidas por quem cá vive.
O meu muito obrigado pela divulgadação da nossa apicultura,
César Medeiros
Olá César Medeiros,
Muito obrigado pelo comentário.
O prazer em divulgar a vossa apicultura só tem paralelo no que senti durante a minha estadia na Ilha Terceira.
Um abraço
Joaquim Pifano
Mais uma vez parabéns pelo blog
Gostava de saber qual a sua opinião, porque após ter lido que já muitos apicultora estão a usar esta raça de abelhas APIS LINGUSTICA. gostaria de saber qual dos tipo de abelhas acha melhor a APIS MELIFERA MELIFERA ou a APIS LINGUSTICA.
Estou a perguntar isto porque estou com ideia de adquirir algumas mestras APIS LINGUSTICA.
O que me aconselha.
Paulo Pereira
Olá Paulo Pereira,
Tendo o senhor colocado o seu comentário neste post sobre a apicultura nos Açores, suponho que viva nesta região.
Sendo assim, colocam-se vários problemas, nomeadamente a dificuldade em conseguir importar abelhas para as ilhas por causa da varroose.
Por outro lado, se tentar adquirir abelhas nos Açores não será muito fácil encontrar ambas as subespécies em estado puro, pois como pode ver nas imagens a maioria das abelhas são híbridas.
Experimente passar pela associação local de apicultores e tentar aí a melhor solução.
abraço
Joaquim Pifano
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