26 novembro, 2010

As Formigas, as Vespas, as Abelhas...

Não vos peço que apreciem, apenas que reflictam…

Mais que as vespas, as térmites e até as abelhas(?), as formigas foram sempre um dos meus animais preferidos.

Na infância passava o tempo a observá-las, a capturar grandes quantidades e a “enfiá-las” em frascos com terra para as observar a fazer túneis, a armazenar cereais e uma infinidade de outros comportamentos que me fascinavam.
Actualmente, quando a minha casa ou a de familiares é invadida por esta “praga”, sou o único que intercedo a favor delas. Chego a inutilizar armadilhas e outros pesticidas empregues para o seu controlo. Por vezes até esqueço (e disponibilizo) açúcar ou mel nos locais mais disparatados para essa “rapaziada” nos vir visitar. Tenho então um gosto especial por umas douradas e pequeninas que nos invadem a cozinha.

Não sou nada militarista, mas fascina-me aquele exército muito ordenado e laborioso. Não há passeio no campo em que não levante umas quantas pedras para ver qual a espécie que se alberga lá de baixo. Segue-se depois um trabalho metódico de cuidados e precisão para encaixar a pedra no local e posição exactos para não perturbar o ninho.

Orgulho-me de nos meus 20 anos ter levado para a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, onde estudei Biologia, um exemplar de coleóptero muito curioso que vive em simbiose com determinada espécie de formigas. A surpresa foi quando me disseram a importância de tal insecto, pois o pequeno escaravelho âmbar nunca tinha sido descrito ou observado a Sul do Tejo.

Debaixo do bebedor do meu cão, o Torresmo, vive uma curiosa colónia de formigas em perfeita harmonia com imensos “peixinhos de prata”, associação muito comum, ou não fosse a enorme quantidade destes bichos.

Fica prometida uma reportagem fotográfica sobre as diversas colónias de formigas que encontro sob as rochas, só para apreciadores, claro…

A época alta é precisamente às primeiras chuvas, em Outubro, a saída das formigas de asa, as formas sexuadas que permitem a propagação da espécie. No fundo trata-se da “enxameação” das formigas.

Clique na imagem para ampliar...

Um grande frenesi à porta do formigueiro, onde são abertos muitos orifícios para o êxodo de milhares de insectos.

Não só as formas sexuadas (aladas) como enorme massa de soldados e obreiras para protecção contra os predadores.
Não esqueçamos que as fêmeas (futuras rainhas) contêm grande quantidade de óvulos e outras substâncias nutritivas para a futura prole. Para não falar na responsabilidade biológica destes indivíduos onde cada um “carrega” uma nova colónia.

Após a chuva, uma aberta de Sol e é ver milhares de formigas voadoras (agúdias como lhes chamam nalgumas regiões do país) a subirem pelo pasto e lançarem-se num voo desajeitado e ruidoso.

Imagem curiosa para quem compare uma colónia de insectos sociais a um único indivíduo, esta saída intempestiva das formas sexuadas lembra verdadeira ejaculação de células sexuais…

Este evento acaba por atrair imensos predadores que nesse dia “tiram a barriga da miséria”, por isso a concentração de soldados agressivos para protecção do investimento do formigueiro.

Nestes dias o céu escurece com tantas formigas pelos ares, machos (menores) e fêmeas (maiores) que depressa acasalam e se separam: A fêmea perde as asas e rapidamente vasculha o solo em busca de local apropriado para fundar a nova colónia.

Os machos, agora inúteis, juntam-se em grande quantidade em recantos e nas paredes brancas aquecidas pelo Sol à espera de morrerem, é um espectáculo triste…

Nem todas as fêmeas chegam a ser fertilizadas, e destas, poucas conseguem abrigo no solo. Mesmo assim, a maioria não tem sucesso na fundação do novo formigueiro. Esta “enxameação” não é um verdadeiro enxame, a “rainha” vai só, sem qualquer ajuda.
Escava um orifício pouco profundo, onde se abriga, e inicia a postura. Poucos ovos, não tem obreiras disponíveis para a colecta de alimentos nem para cuidar das larvas, esse trabalho é só para ela. Ela própria abandona o “proto - formigueiro”, com todos os riscos inerentes, para alimentar a prole.
Quando nascem as primeiras formigas já ajudam na criação das novas posturas, sucessivamente, gradualmente até o formigueiro ultrapassar o número crítico de sobrevivência. É mínimo o número de fêmeas que atingem esta fase.
Trata-se de uma sociedade fantástica, que apesar de alguns prejuízos conquistou com mérito o seu lugar no planeta Terra!!!

Cheguei a pensar tratar-se de um ácaro de Varroa, mas não... deve ser um parente afastado...


AS VESPAS, OS VESPÕES, AS FORMIGAS…
Pragas nojentas e assassinas! Não servem para nada! Apenas pilham e matam as nossas colónias de abelhas entre muitos outros estragos.
Nos últimos tempos, nas notícias, documentários de televisão e tantos outros órgãos de informação, (no Montedomel…) têm sido veiculados conselhos e avisos para a sua perigosidade e para os estragos que fazem nas nossas explorações apícolas.
É verdade, são inconvenientes, matam imenso, causam enormes prejuízos ao sector apícola e à agricultura em geral…

Mas… Não acham que já è tempo para um olhar crítico, racional, consciente e menos apaixonado sobre este tema?
As vespas, vespões e formigas podem e devem ser considerados predadores relativamente às abelhas. O ser humano enquanto entidade justa (sobretudo justiceira) reage sempre mal à actividade dos predadores, revolta-se. Quantas vezes ao assistirmos a um documentário em que um leão persegue uma frágil gazela não “torcemos” por esta última? Para que consiga fugir, o leão quebre uma pata ou simplesmente não a capture?

Os leões perseguem e capturam (maioritariamente) gazelas com características semelhantes às das abelhas atacadas por vespas ou formigas: animais fragilizados, fracos e doentes. Contribuem assim para um estado sanitário (e genético) muito melhorado na população global de gazelas.

Durante o Outono poucas ou nenhumas abelhas mortas ou doentes encontramos frente às colmeias. As vespas e formigas já levaram uma boa quantidade delas. É certo que também arrastam muitos animais saudáveis, mas congratulemo-nos pelo facto de afastarem sobretudo indivíduos inviáveis, de baixo rendimento e autênticos focos de contágio de doenças.
E já houve quem se me queixasse das vespas por levarem as abelhas mortas da frente das colmeias, dificultando os diagnósticos sanitários…

Mas, mas…Também não excluo a hipótese de que desequilíbrios ambientais e alterações climáticas tenham de alguma forma alterado as populações de predadores de abelhas. Qualquer causa mais recôndita pode ter tido como consequência uma explosão demográfica de vespas e vespões muito acima do que é habitual.
E nós estamos a pagar a factura.
Eu escrevi “desequilíbrios ambientais”? é curioso.
Quando concentramos milhares de colmeias em determinada região (porque há muita flora apícola), ou fazemos apiários com largas dezenas de colmeias (para poupança de combustível nas deslocações), não estaremos a praticar uma “monocultura apícola” ??? As monoculturas não são uma forma de desequilíbrio ambiental?
Não estaremos a concentrar uma quantidade exagerada de “ouro” para provocar o “bandido”, criando assim a ocasião que faz o ladrão?...
Experimentem uma vista de olhos neste link:

http://montedomel.blogspot.com/2009/04/sanidade-apicola-ou-insanidade-humana.html

5 comentários:

Alien disse...

... o Mário "FERRADELA" está proibido de comentar este post!!!
:-) :-) :-)

abraços
Joaquim Pifano

Abelha Preguiçosa disse...

Joaquim,
Vestimos os animais com roupas humanas!

Em relação aos predadores das abelhas, por exemplo, parece-me que algumas vezes tem mais responsabilidade o apicultor que esses predadores.
E ao dizer isto tenho-me a mim em mente...
Mas nem sempre é assim, como é óbvio.

A própria casa das abelhas - a colmeia - é, em mais do que um sentido, uma construção nossa, e parece que às vezes nos esquecemos disso, e que as abelhas funcionam mais pelo território abrangem que pelo sentido de propriedade!

Abraço
Ricardo

Francisco disse...

... e muitos outros insectos que, pela sua "estranha" beleza ou pela organização social, são fascinantes.
Aguardando a reportagem...
Abraço
Francisco

Bruno Furtado disse...

Amigo Joaquim,

Só mais uma informação para juntar ao caderninho, na minha terra (Almendra - V.N. Foz Côa) nós chamamos-lhe "formigas azeiteiras".
Não sei se será devido ao seu brilho que parece azeite ou porque só saem com o pintar da azeitona.
São optimas para apanhar uns barbos no Outono.

Cumprimentos
Bruno Furtado

Alien disse...

Olá Bruno,

Eu sabia da utilização das "agúdias" para a pesca, nalgumas regiões.
Desconhecia-lhe o nome de "formigas azeiteiras", era giro que conseguisses saber a origem do nome...

Um abraço
Pifano