Antes da minha passagem pelo sub continente indiano só tinha
contactado com 25% dos representantes do género Apis, nomeadamente a Apis
mellífera. Faltavam-me a Apis cerana,
a A. dorsata e a A. florea no curriculum…
A expectativa era imensa, sobretudo pelo exotismo das duas
últimas espécies, visto a A. cerana
ser a mais semelhante à nossa abelha europeia. A Europa apícola é muito
monótona, vale-nos o amarelo dourado da A.
mellífera ligústica para desenjoar da habitual abelha escura e peluda com
que nos deparamos diariamente.
Já no ano passado tinha experimentado tal sensação ao
contactar a imensa variedade de abelhas sem ferrão no Norte e Nordeste do
Brasil.
No entanto, as espécies Apis
dorsata e Apis florea não são
domesticadas, é-lhes igualmente retirado o mel mas são de vida livre, nunca em
estruturas construídas pelo Homem.
A primeira colónia de A.
dorsata surgiu-nos na copa de uma acácia, num jardim algures entre Jaipur e
Agra. Foi depois de um funcionário ter reparado no meu estranho interesse pela
floração de determinado arbusto que lhe perguntei pela absurda ausência das
abelhas, visto que outros insectos havia em abundância.
Levou-nos por um trilho que terminou junto à referida árvore onde a muitos metros de altura se encontrava a colónia. Não conseguimos grandes pormenores, dada a distância, mas serviu para matar a curiosidade. Surpreendeu-me a imobilidade destas abelhas, apesar das boas condições climáticas e da hora do dia, nenhuma saía ou entrava no favo.
Levou-nos por um trilho que terminou junto à referida árvore onde a muitos metros de altura se encontrava a colónia. Não conseguimos grandes pormenores, dada a distância, mas serviu para matar a curiosidade. Surpreendeu-me a imobilidade destas abelhas, apesar das boas condições climáticas e da hora do dia, nenhuma saía ou entrava no favo.
Enormes colónias de Apis dorsata em Bateshwar, junto ao Rio Yamuna. Encontravam-se instaladas em figueiras (Ficus religiosa), uma das árvores que preferem para erigir os ninhos. Uns metros mais abaixo circulavam centenas de pessoas nos templos junto ao rio e no mercado.
A Apis florea só se
“revelou” dias depois, num ramo de buganvília a cerca de meio metro do solo. Encontrávamo-nos
no Chambal Safari Lodge, junto ao povoado de Jarar, e cujo naturalista
residente alertado para o nosso interesse por tais criaturas logo encarregou o
seu staff para nos encontrar uma colónia. Tivemos sorte, ao que parece não
serão assim tão abundantes na região ou pelo menos só encontramos essa no
jardim do Lodge.
São muito bonitas, pequenas e coloridas, um anel (ou anéis)
de cor vermelho alaranjado logo a seguir ao tórax, seguindo-se depois 6 ou 7
alternados de preto e branco. Creio que são pelos brancos entre os anéis que
fazem este contraste de riscas no abdómen.
O favo com uns 50 x 40 cm estava tão escondido na folhagem
que foi difícil fotografar as abelhas na primeira incursão. Mas a curiosidade
foi tanta que me arrisquei a afastar os ramos para melhor aceder à colónia.
Pedi ao naturalista Dushyant Singh para segurar um dos ramos enquanto eu fotografava as abelhas, ante o seu ar incrédulo, recordo que a única coisa que me ocorreu para o tranquilizar foi dizer-lhe que caso me visse a correr que fizesse o mesmo… felizmente não houve qualquer incidente a relatar, pelo menos nessa tarde…
Pedi ao naturalista Dushyant Singh para segurar um dos ramos enquanto eu fotografava as abelhas, ante o seu ar incrédulo, recordo que a única coisa que me ocorreu para o tranquilizar foi dizer-lhe que caso me visse a correr que fizesse o mesmo… felizmente não houve qualquer incidente a relatar, pelo menos nessa tarde…
Registei um comportamento muito semelhante ao da A. dorsata: apesar do dia quente e
ensolarado, abundância de vegetação florida, as abelhas jaziam praticamente
inertes e agarradas ao único favo que compunha a colónia. Procurei por diversas
flores nos arredores e nem uma única abelha vi na colecta do néctar.
Mais tarde ao ver as fotos percebi a presença de um zangão a
emergir da mole de abelhas coloridas, suponho que seja um zangão pelo tamanho e
formato dos olhos.
Um dos responsáveis pelo jardim contou-me que a cresta do mel
destas colónias era feita durante a noite, quando havia luar, um balde de água
certeiro afastava as abelhas que subiam pelas ramagens e depois recolhia-se o
favo completo. Garantiu-me que as abelhas não sucumbiam a esta intervenção,
construindo um novo favo noutro local.
Favo abandonado que encontrei num canteiro de flores, junto a um restaurante em Agra, conseguem-se ver a disposição da criação em anéis.
Os alvéolos, construidos em cera tal como na Apis mellífera, mas de diâmetro muito menor.
Ainda o tentei convencer a crestarmo-las nessa noite, mas a
ausência de luar não o permitiu. Resolveu compensar-me podando a buganvília de
madrugada, quando o perigo de picadas era menor, para as fotografarmos no dia
seguinte. Antes não o tivesse feito… encontrei-o de manhã, orgulhoso, com um
inchaço em cada braço, a apontar para as abelhas agora com o favo mais exposto.
Apesar das melhores condições, ocorreu-me afastar algumas
abelhas do enorme grupo para as fotografar mais individualizadas, antes não o
tivesse feito também…
Munido de um pequeno raminho que enfiei cuidadosamente no meio dos insectos, consegui trazer cerca de uma dezena que coloquei no chão, uns metros afastado.
Munido de um pequeno raminho que enfiei cuidadosamente no meio dos insectos, consegui trazer cerca de uma dezena que coloquei no chão, uns metros afastado.
Enquanto posicionava o ramo e as abelhas para a foto, senti
aquilo que todo o apicultor que se preza já sentiu, mesmo na canela esquerda,
lá estava a abelhinha a girar furiosa para me enterrar o pequeníssimo ferrão.
Preocupei-me mais em focá-la com a objectiva do que repelir o ataque.
Em termos de intensidade a picada foi inferior a 50% da ferroada da Apis mellífera, pior foram as 8 horas de autocarro seguidas de 12 de avião no dia seguinte: a imobilidade da perna todo esse tempo depois da picada, originou um inchaço que passou do vermelho ao negro e com imensas dores, mas valeu a pena.
Preocupei-me mais em focá-la com a objectiva do que repelir o ataque.
Em termos de intensidade a picada foi inferior a 50% da ferroada da Apis mellífera, pior foram as 8 horas de autocarro seguidas de 12 de avião no dia seguinte: a imobilidade da perna todo esse tempo depois da picada, originou um inchaço que passou do vermelho ao negro e com imensas dores, mas valeu a pena.
Podia ter sido pior, num desses dias e depois de ter ouvido a
Luísa dizer “olha, vai ali uma cobra” deparou-se-me uma Naja com mais de um metro e com a característica cor negra,
felizmente que não se interessou muito por nós…
O que Roger Morse e Ted Hooper
dizem sobre as espécies do género Apis
na Enciclopédia
Ilustrada de Apicultura (Ed. Europa – América, 1988):
“Existem apenas quatro espécies de
Apis no mundo e todas elas constroem favos de cera , recolhem e armazenam
quantidades de pólen e néctar e têm biologias semelhantes. Qualquer das quatro
é correctamente designada como abelha de mel, embora apenas uma espécie, a Apis
mellífera, seja usada comercialmente na maior parte do mundo.
Duas das espécies, Apis florea, a
mais pequena das quatro, e Apis dorsata, a maior, constroem um único favo numa
área exposta, geralmente debaixo do ramo grande de uma árvore. (…) Como não os
fazem (favos) em cavidades e não têm qualquer sistema de
protecção para os mesmos, só se encontram nos trópicos.
A Apis cerana, (por vezes
impropriamente chamada Apis indica) e Apis mellífera fazem ninho em cavidades
abrigadas, encontrando-se tanto nas regiões temperadas como tropicais. Enquanto
as quatro espécies de Apis diferem no tamanho, a estrutura dos seus corpos é
semelhante; no entanto, os elementos de uma espécie não podem acasalar com
elementos de outra, o que constitui a verdadeira marca da espécie.
Os investigadores já fizeram a
inseminação instrumental de uma espécie de Apis com esperma de outras espécies.
Embora o esperma faça a sua migração e pareça fertilizar o óvulo, não há
incubação, não se produzindo operárias no estado de larva, ninfa ou adulto, nem
rainhas ou zangãos.
(…)
E se um dia
descobrirem abelhas em Marte, acreditem que o “montedomel” fará os possíveis e
os impossíveis para...
Obrigado ao Naturalista do Chambal Safari Lodge, Dushyant Singh, pela amabilidade, paciência e toda a ajuda disponibilizada na realização desta reportagem!
6 comentários:
Eu sou um amante da apicultura viciado nas abelhas e um visitante assídou do sou blong, mas ja reparei que o senhor ainda é mais que eu.
Exelente post continui assim...
Olá Lourenço Almeida,
Devo dizer que as abelhas não são o principal objectivo das viagens, mas já que lá estou... tento sempre visitar alguma exploração apícola e partilhar essa experiência aqui no blog.
É sempre muito interessante poder comparar os equipamentos, técnicas e outros aspectos do nosso "passatempo" noutras latitudes!
Abraços
Joaquim Pifano
Só tenho uma coisa a dizer: inveja. Um dia espero videnciar o mesmo mas sem as picadas ou entao só depois do tratamento me fazer melhorias. São esses "episodios" que retratam bem uma viagem, um tempo, e serão eles que ficaram na memoria.
Abraço amigo
é sempre bom ter pessoas para nos ajudar no dia a dia parabéns pelo Blog
Há algum tempo assisto vídeos, onde se comenta que a planta Nim Indiano estar provocando a morte de abelhas aqui no Brasil. Vejam o vídeo do Globo Rural, disponível em: https://globoplay.globo.com/v/5716381/
E mesmo assim ainda duvido dessa possibilidade, em virtude de:
1 - Temos uma quantidade muito grande de plantas tóxicas e nunca foi falado que abelhas não podem visitar suas flores.
2 - Deus com certeza sabe da importância das abelhas para os seres vivos. Assim é improvável que colocaria no planeta uma planta capaz de matar abelhas que visitassem suas flores.
3 - O Nim Indiano é uma planta originária da Índia. Na Índia não tem abelhas?
Olhando este blog, vir que o viajante comenta sobre a existência de abelhas na Índia, o que respondeu minha pergunta do item 3 acima.
Mesmo assim gostaria vê comentários de participantes do blog sobre este teme. A planta Nim Indiano mata abelhas que visitam suas flores?
Caro Ildimar
Na Índia há pelo menos 3 espécies de abelhas, a Apis cerana, a Apis florea e a Apis dorsata.
Quase decerto que também haverá por lá criadores das raças europeias (Apis mellifera spp).
Não me surpreende que também por lá exista a dita planta tóxica, tal como em Portugal onde
vivo haverá algumas plantas tóxicas para as abelhas.
O que sucede é que as abelhas de determinada região co-evoluem com as plantas dessa região
e evitam tudo o que lhe possa causar prejuízos.
Quando se trata de plantas exóticas (recém introduzidas numa região) não havendo
uma evolução conjunta entre essa planta e os animais dessa região se possam
verificar os problemas que mencionou...
espero ter ajudado
abraço
Joaquim Pifano
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