Dos atrasos crónicos e galopantes
que sempre afectaram o programa apícola nacional…
Perto do fim do ano de 2013 a
ADERAVIS voltou a questionar pela enésima vez as entidades gestoras do Programa
Apícola Nacional, acerca do atraso na publicação do respectivo Despacho
Normativo e evidentemente sobre o período de apresentação das candidaturas.
Desta vez, surpreendentemente,
responderam-nos com uma missiva longa onde se procuravam justificar os atrasos
com as alegadas melhorias que neste novo diploma marcariam a diferença.
Chega a transparecer alguma boa
vontade, no meio de toda aquela retórica e desculpas que já conhecíamos. Eis
senão quando a dada altura nos deparamos com esta pérola, um parágrafo que de
tão insólito chega a parecer surreal:
“Salientamos que esta situação não é inédita,
pois nos Programas anteriores, as datas da apresentação das candidaturas no ano
inicial do programa foram: 19 de Abril de 2008 (PAN 2008 – 2010) e 24 de
Novembro de 2010 (PAN 2010 – 2013), ambas após o início das respectivas
campanhas (1 de Setembro de 2007 e de 2009, respectivamente), pelo que o
presente programa está a seguir um calendário adequado à necessidade de
preparação e definição quer de medidas quer de operacionalização, que procura
sempre melhorar o que sucedeu no programa anterior, que vai promover uma
profunda alteração do modelo de gestão, que irá certamente simplificar e
agilizar a sua aplicação aos beneficiários, e que mesmo assim está em prazos
muito de acordo com o que se registou em programas anteriores.”
Tal argumentação (que chega a ser
hilariante senão ridícula) não só assume a irresponsabilidade por mais um
vergonhoso atraso, com todas as consequências que dele advêm, como ainda faz
gala em as acentuar. Apelar à nossa tranquilidade pelo facto destes atrasos não
serem inéditos é o equivalente tragicómico de uma criança que chega a casa
tranquilizando o encarregado de educação com mais uma negativa a matemática
porque até já está chumbado a português e foi expulso da disciplina de
história.
E com isto estavam “abertas as
hostilidades” para mais um programa apícola enviesado, cujo conteúdo mais uma
vez parece feito à medida de determinados grupos e entidades. O refinamento
face aos diplomas anteriores é de tal ordem que são cada vez menos as
associações, apicultores e técnicos satisfeitos com o resultado.
Das avantajadas colheitas na
árvore das patacas em Bruxelas à devolução forçada via troika…
2.444.044 Euros destinados à
apicultura nacional para 2014, 7.330.038 Euros para o triénio, números
equivalentes nos anos anteriores. Mais umas quantas dezenas de milhões de euros
para os projectos apícolas do ProDer, entre prémios de instalação e subvenções
na aquisição de equipamentos. Noutros tempos eram os projectos Agris e Agros
que também financiaram este sector. Somam-se as centenas (milhares?) de
formações de apicultura, apoios pontuais ao sector e tantas outras ajudas.
Se perguntarem a um europeu do
Norte ele jurará a pés juntos que os apicultores portugueses utilizam colmeias
em ouro, e que a curto prazo Portugal irá inundar os mercados internacionais
com o melhor mel do mundo. Se visitarmos as explorações e atendermos às
estatísticas, à profissionalização do sector, às médias de produção,
exportações, etc, a realidade é bem diferente.
Quem beneficia afinal com esta árvore
das patacas plantada em Bruxelas?
Da burocracia, legitimidade e
confiança entre as entidades oficiais e associações de apicultores…
Por imposição do PAN, todos os
anos as associações de apicultores reúnem em Assembleia Geral para darem à respectiva
Direcção o aval para que efectuem as candidaturas ao referido programa. Lembro
que a Assembleia Geral, enquanto órgão deliberativo democraticamente eleito tem
toda a legitimidade para tais decisões. Neste ano de 2014, ou tal legitimidade
foi diminuída ou o nível de confiança das entidades gestoras do PAN nas
associações de apicultores sofreu novo abalo: todos os apicultores devem
assinar uma declaração pessoal a dar o aval à realização da candidatura ao PAN,
uma para a assistência técnica e outra para o medicamento. O mesmo aval que já
tinham dado colectivamente em Assembleia Geral.
Eu não quero ser exagerado mas
acredito que a curto prazo (até porque já não há muito mais para dificultar e
complicar) essa declaração deverá ser acompanhada de um relatório de avaliação
mental, prova de vida e registo criminal do apicultor, tal não é a desconfiança
de que somos alvos.
Devo lembrar que no dia das
eleições, com uma cruz singela num papel, avalizamos e legitimamos um chefe de
governo, ministros, secretários de estado, chefes de gabinete, directores
gerais, directores regionais, chefes de serviço, chefes de secção, acessores,
secretários, motoristas e todo um rol de sugadores de fundos sem exigir sequer
uma vulgar cópia de um Bilhete de Identidade.
Talvez seja pela nossa tamanha
ingenuidade e demais provas de insensatez que essas mesmas entidades tutelares procurem
certificar-se das nossas boas intenções e propósitos…
E isto dava um belo fim à
história, mas há mais, na apicultura infelizmente há sempre mais:
Da harmonia, boa vizinhança, espírito
de corpo e demais solidariedades entre associações…
No actual Programa Apícola foi
introduzido um pormenor digno de louvor: a preocupação de só atribuir um
segundo técnico a uma associação quando todas as outras já tivessem um. Há
muito que ansiávamos por esta regra, sobretudo as associações pequenas, fazendo
tal todo o sentido.
Mas a emenda parece estar a ser
muito pior que o soneto, tal medida pouco mais está a conseguir que algumas das
associações “politécnicas” enveredassem por autênticos raides de assédio aos
apicultores não associados (que até ver têm esse direito) e como se não
bastasse, também aos associados noutras organizações. Já vários apicultores se
nos queixaram deste novo fenómeno. Já ouvimos inclusivamente falar em ameaças, coacções,
denúncias e demais pressões sobre quem não assinar as “petições” a favor desta
ou daquela associação.
É compreensível a necessidade que
cada técnico tem em manter o emprego, tal como a da associação em manter os
técnicos, mas a continuar assim quase que seria preferível a bandalha anterior,
com estas perseguições, autênticos contar de espingardas, os apicultores
começam a desconfiar de qualquer tentativa de organização.
Da redacção e interpretação do
Despacho Normativo…
Não sei quem redige os despachos
normativos referentes aos programas apícolas, mas arrisco a dizer que estagiou
na Torre de Babel.
Se as confusões, dúvidas e
incertezas já vinham dos diplomas anteriores, a subtileza com que o escriba vai
desfiando os novos pontos, artigos, alíneas, regras e anexos, é de tal elevação
de espírito ou grandiloquência que ninguém entende rigorosamente nada. Se à
primeira vista um parágrafo parece trazer luz sobre determinada matéria, logo à
segunda há uma vírgula que nos devolve às trevas da ignorância.
Se por incúria ou desespero
solicitamos que nos clarifiquem determinada duvida ou ambiguidade de
interpretações, tentativa baldada, os alegados autores do despacho ou nunca estão
presentes ou perdeu-se-lhes o rasto, pois nem as entidades tutelares têm uma
explicação satisfatória e definitiva para o problema. O mais certo é que das
duas interpretações possíveis obtenhamos uma terceira ou uma quarta, tão claras
e objectivas como as primeiras.
E porque faltam documentos; e
porque os prazos são apertados; e porque os formulários não estão disponíveis
no site oficial; e porque… porque a beleza do Programa Apícola Nacional reside
nisso mesmo.
Da ilusão de que chega para todos
aos "numerus clausus" do medicamento…
Segundo o Programa Apícola
Nacional, em 2013 os 16.774 apicultores registados em Portugal terão declarado
566.793 colmeias.
Todas essas colmeias poderão (ou
pelo menos assim seria suposto) ser beneficiadas com a ajuda à aquisição de
medicamento na Medida 2 do referido
programa.
Segundo os folhetos dos
laboratórios, o preço dos medicamentos este ano ronda os 3,30€ por colmeia e
por tratamento. Como a dita ajuda se destina a dois tratamentos anuais por
colmeia o custo fica em 2 x 3,30€ = 6,60€.
Multiplicando os 6,60€ pelas 566.793
colmeias registadas obtêm-se a bonita soma de 3.740.833,80€.
Retirando os 25% pagos pelos apicultores ficamos com 2.805.625,35€.
Retirando os 25% pagos pelos apicultores ficamos com 2.805.625,35€.
Apesar da quantidade de
algarismos a calculadora aguenta-se, mas já o mesmo não digo da verba
disponibilizada para a Medida 2:
1.200.000,00€, menos de metade da quantia necessária.
O que dizer aos apicultores que
vão ficar sem medicamento? Ou mais interessante ainda: o que dizer aos
apicultores que vão beneficiar desta medida? De que vale tratar menos de metade das
colónias se as restantes não forem tratadas? Como é possível
controlar a varroa com medidas destas?
Doutras incongruências que nos
deixam perplexos face ao diploma que ora anima as hostes apícolas…
Na Medida 4 do programa apícola
prevê-se a realização de análises aos produtos da colmeia, onde as análises
polínicas ao mel são cruciais para a respectiva caracterização e classificação
da origem floral.
Sendo as polínicas elegíveis no dito
diploma, é inadmissível que nenhum dos laboratórios de referência apresentados
nas listagens da DGAV (vulgo os únicos disponíveis nos formulários de
candidatura, sem hipótese de optar por outros) realize tais análises. Tal
equivale a dizer que as análises elegíveis, dentro das previstas no despacho, serão
apenas as que esses laboratórios realizam.
...
7 comentários:
Boa tarde
Pela parte que nos toca, que felizmente ainda não é a Varroa, ficamos perplexos (já não deveríamos ficar mas há sempre uma réstia de esperança) com algumas respostas que nos são dadas por parte do IFAP.
A nossa questão foi a seguinte:
No formulário de candidatura à medida 4, na listagem dos laboratórios não existe nenhum que faça análises polínicas (isto de acordo com a lista de laboratórios aprovados pela DGV que está disponível no sítio da internet do GPP) que também estão contempladas no PAN 2014-2016. A mesma situação ocorreu no PAN anterior só que o formulário não era eletrónico. Neste formulário ficamos condicionados aos laboratórios que lá estão descritos.
Como fazemos?
A resposta foi deslumbrante. Ora leiam p.f.
"... as análises elegíveis são as que os laboratórios fazem. No nosso site do GPP já está publicado"
Já está publicado no site do GPP, que interessante. Como se nós não soubéssemos. (http://www.gpp.pt/MA/apicultura/Laboratorios_analises_2011.pdf).
Isto nem merecia resposta tendo em conta o alheamento dos factos manifestado nesta resposta. Mas enfim...
O anexo III do DN 1/20014 prevê a realização de análises aos produtos da colmeia, constantes da lista de análises elegíveis divulgada no sítio da Internet do GPP, da DGAV e do IFAP, I. P., antes do início do período de apresentação das candidaturas.
Nos sítios da Internet acima mencionados não consigo encontrar nenhuma lista de análises elegíveis. No entanto no sítio da internet do GPP está o programa apícola nacional 2014-2016 onde podemos ler no Anexo 1 , Medida 4 - Análises Laboratoriais o seguinte:
"Apoio à realização de análises aos produtos da colmeia:
Análises de resíduos e de contaminantes Análises polínicas, físico-químicas e microbiológicas do mel:
Análises microbiológicas decorrentes da implementação do HACCP nas melarias:
Análises sensoriais:
Análises a alcaloides
Daqui podemos concluir que as análises elegíveis não são apenas as que os laboratórios fazem.
Por outro lado no ano anterior fizemos análises polínicas num laboratório que não constava da lista publicada no sítio da internet do GPP e as mesmas foram aceites. Não percebemos porque razão desta vez não pode?
Relativamente à lista de laboratórios publicada no sítio da internet do GPP mais uma vez fica aqui demonstrado o alheamento desta malta relativamente aos factos: o laboratório da DRAALG não está em funcionamento.
António Marques
ANÚNCIO
Tenho 75 colmeias disponíveis para integrar uma candidatura.
Recebo ofertas.
Abelhasah.
Aqui eles descaíram-se :
"...que vai promover uma profunda alteração do modelo... "
Este PAN é uma autêntica roleta russa.
Vou candidatar apicultores a uma medida 2, que se não cumprir, sou penalizado na medida 1A mas, a DGAV não me garante que os apicultores que eu candidato à medida 2, a venham efectivamente a receber.
Afinal o Carnaval é quando ???
Abelhasah.
Por lapso não foram contabilizados os 25% a serem pagos pelo apicultor, alteradas as contas pouco afectam os cálculos totais uma vez que a verba disponibilizada para o medicamento não chega nem para metade das colónias...
E temos de tratar com aqueles produtos que não funcionam! Aqui este ano que tratou com o Apistan tem este ano menos colmeias povoadas que os dedos da mão de um maneta.
Mas o estado paga..e nós pagamos o resto..e as abelhas morrem com varroas gordas!
Fórmico, oxálico, Hopguard, selecção de abelhas resistentes..para quando PORTUGAL?
Abraço,
abelhasdoagreste
Fórmico, oxálico, acético, cítrico, açúcar, só quando os labs lançarem os respetivos produtos comerciais registados e homologados...vai dar ao mesmo...obrigatoriedade de tratar com homologados mais caros que as "marcas brancas". Só melhora um pouco o ambiente e acabam-se as resistências habituais da varroa.
Abraço
Pedro Mendonça
boas a minha opinião era ninguém se ter candidatado a nada há sempre uns quantos que se julgam mais espertos que os outros e em vez de resolver as coisas de uma vez por todas só andamos a adiar e a piorar a encher os bolsos dos laboratórios. já agora para que serve o técnico? sou sócio de duas associações há vários anos e ainda não sei
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